Roteiros homiléticos

Publicado em julho-agosto de 2023 - ano 64 - número 352 - pp.: 43-46

9 de julho – 14º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Ir. Márcia Eloi Rodrigues*

O Messias manso e humilde

I. INTRODUÇÃO GERAL

Jesus é o Messias manso e humilde anunciado pelo profeta Zacarias. Ele veio instaurar o Reino de paz e de amor em benefício de todas as nações. Os pequenos e humildes, deixando-se conduzir pelo Espírito e não pela carne, acolhem o dom de Deus manifestado na vida simples e humilde de Jesus de Nazaré, que a eles se revela. Por isso, são chamados a carregar seu jugo, ou seja, a dar adesão incondicional a Jesus, assumindo, no cotidiano, sua vida e seus ensinamentos.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Zc 9,9-10): O rei messiânico é humilde e pacífico

Esse texto do profeta Zacarias situa-se no contexto pós-exílico, em que os judeus não tinham rei, pois estavam sob o domínio persa. Nesse ambiente, as expectativas messiânicas – a chegada do rei que irá libertar o povo e reconduzi-lo à terra de Israel – são idealizadas. É o que nos apresenta essa profecia sobre o esperado de Deus, o Messias, como rei humilde e pacífico. Esse rei é justo, porque faz a vontade de Deus. Ele trará a vitória e libertará o povo do jugo da violência.

A entrada desse rei é descrita sem a pompa que sempre caracterizou os reis da época. O rei imaginado pelo profeta é humilde e pacífico, que troca o cavalo militar por um jumentinho, animal montado pelos príncipes em tempos de paz.

O rei de Sião vem ao seu encontro. Por isso, a cidade é convidada a se alegrar. Sua chegada instaurará o reinado de Deus no meio de seu povo; será um reino de paz. Acabará com os carros e arcos de guerra, com todos os instrumentos e símbolos bélicos, e anunciará a paz às nações. Seu domínio pacífico não se restringirá à cidade de Jerusalém, mas se estenderá de um mar a outro, ou seja, será universal.

2. II leitura (Rm 8,9.11-13): Viver conforme o Espírito

Nessa exortação, Paulo expõe os critérios da vida nova em Cristo: abandonar uma existência conduzida segundo a carne para viver no Espírito. Contudo, isso não significa desprezar o corpo em favor de uma vida “espiritual”, vivida fora da realidade, fora do cotidiano – muito pelo contrário. A exortação diz respeito a viver no cotidiano a vida cristã, orientada pelo Espírito de Cristo, uma vez que a ele pertencemos. A oposição que Paulo faz entre “carne” e “espírito” diz respeito a duas modalidades de viver a vida. A “carne” significa a vida humana limitada, frágil; “espírito” refere-se à força vivificadora que vem de Deus.

Assim, viver na “carne” significa o ser humano fechar-se em si mesmo, na autossuficiência humana, no egoísmo. Isso conduz a pessoa à morte, ao afastamento definitivo de Deus. Ao contrário, viver no “espírito” consiste em nos abrirmos ao Espírito que vivificou o Cristo, deixar que o Espírito de Cristo, que nos foi dado, nos vivifique e nos transforme diariamente, para assumirmos na realidade histórica a vida divina, ou seja, vivermos uma vida conformada à vida de Cristo, aberta ao Pai e aos irmãos e irmãs.

3. Evangelho (Mt 11,25-30): A mansidão do Messias

O Messias profetizado por Zacarias na primeira leitura encontra realização em Jesus, o “Messias diferente”, manso e humilde. Esse Messias humilde, incompreendido e desprezado por muitos é acolhido pelos pequeninos. Nesse contexto, Jesus louva o Pai por revelar o mistério do Reino dos Céus não aos sábios e entendidos, mas sim aos pequeninos. Na época de Jesus, esses “sábios e entendidos” são os fariseus e mestres da Lei, que estão fechados na sua autossuficiência e, por isso, são deixados de fora. Por sua vez, os pequeninos são os simples e os ignorantes das prescrições da Lei mosaica que se abrem humildemente ao dom divino. Estes se tornam, portanto, os beneficiários do acontecimento salvífico realizado em Jesus. Ele é o Filho, aquele que conhece o Pai intimamente e pode dispor de tudo que é dele.

Por ser um Messias humilde e o revelador de Deus aos humildes, Jesus dirige um convite a todos aqueles que estão cansados e oprimidos. Usando a imagem do jugo que se coloca no animal de carga, ele se refere ao pesado fardo da Lei, com todas as suas prescrições, impostas pelos escribas ao povo simples (Mt 23,4; 15,10). O convite a tomar sobre si o fardo de Jesus e tornar-se seu discípulo estabelece um contraste entre o jugo dos escribas e o dele, significando a submissão à autoridade de Jesus. Os discípulos de Jesus são chamados a aprender dele, porque é um Mestre manso e humilde de coração (v. 29), em contraste com os sábios e entendidos (v. 25), que impõem um fardo pesado aos pequenos.

Diferentemente dos escribas, Jesus oferece aos seus discípulos um jugo suave, cujas exigências são justas e suportáveis. Para isso, concede-lhes a força espiritual para atender a todas as demandas; ele mesmo vai à frente dos seus discípulos, carregando consigo sua cruz, abrindo-lhes o caminho, com a proximidade de quem ama. Tornar-se discípulo de Jesus e carregar seu jugo suave consiste em aderir incondicionalmente a ele e imitá-lo no caminho do amor compassivo e misericordioso ao próximo, principalmente aos pequeninos.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Tornar-se discípulo de Jesus, carregar seu fardo, não significa viver uma fé cristã light, sem compromisso e sem exigências éticas. Muito pelo contrário, a fé tem suas exigências, porque é adesão livre e consciente a uma pessoa: Jesus Cristo. Significa viver e assumir os valores do Reino de Deus: mansidão, amor, compaixão, solidariedade, compromisso com os mais pobres etc. O discípulo e a discípula de Jesus, o Messias manso e humilde de coração, cultivam no mais profundo de sua interioridade a paz e o diálogo; não são a favor da violência nem da intolerância.

Ir. Márcia Eloi Rodrigues*

*é religiosa do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Possui graduação, mestrado e doutorado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – Faje (Belo Horizonte-MG). É professora de Sagrada Escritura. E-mail: [email protected]