Publicado em novembro-dezembro de 2021 - ano 62 - número 342 - pág.: 49-51
1º DOMINGO DO ADVENTO – 28 de novembro
Por Izabel Patuzzo
A libertação está próxima
I. Introdução geral
No 1º domingo do Advento, nossa Igreja inicia novo ano litúrgico. Para nós, cristãos, é um tempo oportuno de reflexão e oração; de discernir e tomar boas resoluções em nossa vida. Há vários símbolos litúrgicos que nos acompanham ao longo do Advento e nos ajudam a ter Jesus como luz de nossa caminhada de fé. A Palavra de Deus nos insere nessa atmosfera da espera da vinda do Senhor.
Na primeira leitura, o profeta Jeremias nos fala das promessas do Deus da Aliança. Deus vai enviar um descendente da casa de Davi, cuja missão será concretizar o sonho de justiça, de paz e de vida em abundância para o povo escolhido.
A segunda leitura, da primeira carta de Paulo à comunidade de Tessalônica, é um convite aos discípulos para sair do comodismo e da mediocridade, e esperar ativamente a vinda do Senhor. Segundo a exortação de Paulo apóstolo, a prática do amor fraterno era fundamental para aqueles que esperavam a vinda de Jesus.
No Evangelho, São Lucas nos apresenta Jesus como o Messias, o Filho de Davi enviado, que anuncia, para um futuro muito próximo, a libertação pela qual todos ansiavam. A realidade antiga cede lugar aos novos tempos inaugurados por Jesus. O texto da liturgia deste domingo situa-se na última parte do Evangelho segundo Lucas, a qual narra os últimos acontecimentos que se realizarão em Jerusalém – isto é, a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
II. Comentário dos textos bíblicos
1. I leitura (Jr 33,14-16)
Jeremias exerceu seu ministério profético próximo do tempo da tomada de Jerusalém pelo exército do rei da Babilônia, Nabucodonosor. O profeta encontra-se na prisão, acusado de traição política. Sua situação parece ser de derrota, e a esperança parece estar chegando ao fim. É nesse contexto que ele sente o apelo de Deus para dirigir sua mensagem profética ao povo. É em nome do Senhor Deus que Jeremias proclama a chegada de novo tempo, no qual Deus irá curar as feridas e proporcionar paz e segurança à casa de Judá.
É surpreendente constatar que, diante de uma situação tão caótica, o profeta anuncia a vinda de um descendente de Davi, alguém fiel às promessas divinas que irá trazer a paz e a salvação a todo o povo. O centro do anúncio profético é que o enviado da casa de Davi irá restaurar a justiça na terra. Sua missão não será outra senão assegurar a justiça e o direito ao povo eleito. Um governo sem justiça não pode assegurar a paz. Por isso o rei futuro será ungido por Deus e terá como missão restaurar a ordem social, para que todos tenham vida digna em abundância. Por meio de sua mensagem profética, Jeremias deseja suscitar a esperança do povo e confortá-lo, garantindo-lhe que Deus não o abandona. Ele sempre envia pessoas escolhidas que conduzam seu povo pelo caminho da justiça e do direito, a fim de que mantenha a fidelidade à Aliança.
2. II leitura (1Ts 3,12-4,2)
Nesta leitura, Paulo se dirige à comunidade dos cristãos em Tessalônica. Paulo e Silvano fundaram essa comunidade durante sua segunda viagem missionária. Os frutos da atividade missionária foram a conversão de muitos pagãos, e aos poucos a comunidade se tornou numerosa e entusiasta. Isso provocou reações adversas da parte de alguns judeus, que fizeram fortes acusações contra Paulo, forçando-o a deixar seu trabalho missionário nessa comunidade. O apóstolo teve de fugir depois de pouco tempo de evangelização.
Posteriormente, quando já estava em Corinto, preocupado com a interrupção de seu trabalho catequético em Tessalônica, Paulo enviou seu discípulo Timóteo para receber notícias e assistir pastoralmente a comunidade. Para a alegria do apóstolo, chega-lhe a notícia de que Deus continuou seu trabalho no coração dos membros da comunidade, a ponto de esta ser considerada um modelo para todas as outras, sobretudo no exercício da caridade.
O trabalho missionário de Paulo em Tessalônica nos mostra que a caminhada cristã nunca é um processo acabado. O processo catequético de evangelização é contínuo, e o Espírito Santo é o protagonista da missão. O cristão não é alguém perfeito, mas alguém que, a cada dia, procura se aproximar sempre mais de Deus.
3. Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)
O texto deste domingo está situado na última parte do Evangelho segundo Lucas. Jesus já se encontra em Jerusalém pela última vez com os apóstolos. São os últimos ensinamentos antes de sua paixão, morte e ressurreição. Tais versículos marcam o fim do seu discurso sobre a destruição de Jerusalém e a vinda do Filho do Homem. Jesus, durante a subida para Jerusalém com seus discípulos, já havia ensinado sobre esses acontecimentos futuros.
Ele descreve aos discípulos os sinais cósmicos que irão anteceder a chegada do Filho do Homem, isto é, a vinda do Messias. O sol, a lua e as estrelas vão se escurecer, e as pessoas serão tomadas de angústia. A difícil situação deixa sem alento todos aqueles que esperam pelo enviado de Deus. Sua chegada, porém, irá trazer a libertação aos discípulos. Os sinais cósmicos se apresentarão como catástrofes na terra, mas a conclusão do ensinamento assegura a aparição gloriosa do Filho do Homem, fazendo alusão à glória da ressurreição que acontecerá em Jerusalém.
Os discípulos não devem esperar com temor, mas com esperança. Os sinais cósmicos não apontam para o fim do mundo, mas para a mudança que a ressurreição de Jesus vai realizar nos corações e na comunidade. Os discípulos devem reconhecer os sinais que precedem a redenção que o Filho do Homem traz ao mundo. Por isso Jesus faz essas recomendações aos seus discípulos, para que esperem com confiança e resistam na hora de seu sofrimento na cruz.
III. Pistas para reflexão
Ao longo do Advento, somos convidados a refletir sobre a realidade da vida humana, a rezar pelas muitas situações de sofrimento de nosso tempo. Assim como os discípulos do Evangelho, presenciamos sinais catastróficos de destruição da natureza, de tantos irmãos e irmãs vivendo em situações-limite. A preparação do Natal nos convida a abrir o coração às obras de caridade e viver a misericórdia. Milhões de pessoas diariamente são assoladas pela violência da guerra, da fome, da doença. A Palavra de Deus nos convida a perseverar na esperança; também a nós, Jesus assegura que a libertação está à porta. Ele nos ensinou o caminho para uma vida fraterna e solidária.
A fé em Jesus Cristo nos ajuda a ter presente que o novo mundo oferecido por Deus está permanentemente em construção e depende de nosso testemunho, de nossas ações a favor do Reino que ele veio instaurar. É sempre tempo de renovar o coração e nos prepararmos bem para um santo Natal, na oração e na ação solidária e caritativa.
Izabel Patuzzo
pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. E-mail: [email protected]