Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2023 - ano 64 - número 354 - pp.: 53-55

17 de dezembro – 3º DOMINGO DO ADVENTO

Por Izabel Patuzzo*

O Espírito do Senhor me ungiu e me enviou!

I. INTRODUÇÃO GERAL

A liturgia deste domingo se caracteriza pela alegria. Todas as leituras ressaltam o projeto de Deus de nos retirar das trevas para sua luz. Elas nos encorajam a entrar no clima de alegria, porque a salvação está próxima.

Na primeira leitura, o profeta do pós-exílio proclama sua mensagem quando o povo de Judá tinha acabado de retornar do exílio babilônico para a Terra Prometida. Os deportados que retornaram precisam retomar o ânimo e reorganizar-se. O profeta, apresentando-se como uma boa notícia, anuncia ter sido ungido e enviado como mensageiro da salvação que Deus oferece aos pobres. Na segunda leitura, Paulo orienta a comunidade de Tessalônica, para que aguarde a vinda do Senhor com espírito de alegria, louvor e adoração, aberta ao Espírito Santo.

No Evangelho, o evangelista João completa a apresentação de João Batista, lembrada pelos outros evangelistas. Sua breve narrativa confirma que o profeta foi uma voz que veio preparar as pessoas para acolher a luz do mundo. O Batista acentua não ser nem profeta, nem Moisés, nem Elias, nem o Messias. Ele é apenas a voz que clama no deserto, convidando o povo para preparar o caminho da chegada do Senhor.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Is 61,1-2a.10-11)

A liturgia deste domingo volta a nos propor um texto do Trito-Isaías, que situa a realidade do povo escolhido na época posterior ao exílio, quando Jerusalém está em fase de reconstrução. Esse texto é expressão da alegria de um povo que acredita na sua renovação. E a razão dessa grande alegria é descobrir que Deus está no meio do povo, independentemente de qual seja a situação. O cenário de pós-exílio é de incertezas, são poucos os recursos para retomar a vida. A população da cidade é pouco numerosa, a reconstrução é modesta e lenta; há impérios vizinhos que querem aproveitar-se do momento de fraqueza de Jerusalém para colonizar o povo da terra, mas aos poucos a vida vai se reorganizando.

Em meio às dificuldades para retomar a vida e reconstruir o que foi destruído pela invasão babilônica, surge a voz do profeta que anuncia ter vindo como ungido do Senhor para restaurar os corações atribulados, cuidar dos pobres, proclamar a redenção dos cativos e a liberdade dos prisioneiros. Tudo o que o povo ansiava. A vocação e missão do profeta consistem em pôr-se a serviço da Palavra para animar e encorajar o povo e curar os corações feridos por uma situação tão difícil. O povo volta a celebrar o tempo da graça, da libertação da escravidão imposta pelas dívidas cobradas pelos inimigos do povo. Os destinatários da mensagem profética são todas as categorias de pessoas que mais sofreram com a guerra e o exílio. E, para o povo escolhido, ter profetas em seu meio era um grande sinal de que Deus olhou para sua miséria. Por meio de seus mensageiros, Deus continua o cuidado amoroso do resto de Israel; por meio de seus profetas, Deus continua presente na vida de seu povo escolhido.

2. II leitura (1Ts 5,16-24)

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo nos convida a viver na alegria da presença do Senhor e dá orientações de como fazê-lo. A comunidade de Tessalônica, como as demais comunidades cristãs da primeira geração, vivia à espera da volta gloriosa de Jesus, a parúsia, como um acontecimento iminente. Nesse contexto, Paulo exorta a comunidade a viver na alegria dessa certeza de que o Senhor um dia virá e, ao mesmo tempo, buscar a santidade.

Segundo os ensinamentos de Paulo, essa expectativa da vida com Cristo distingue os cristãos como pessoas que têm esperança. A vinda de Cristo será inesperada, não se pode estabelecer quando se dará. Para os cristãos, essa segunda vinda é não só motivo de esperança, mas também a motivação fundamental para o modo correto de vida e edificação da comunidade. Depois dos ensinamentos sobre a segunda vinda do Senhor e de forte convite a esperar vigilantes esse momento final da história humana, Paulo apresenta alguns elementos concretos que os tessalonicenses devem ter sempre em conta e que devem marcar a vivência cristã nesse tempo de espera, deixando-se guiar pelo Espírito Santo.

3. Evangelho (Jo 1,6-8.19-28)

A apresentação joanina de João Batista insere-se na dinâmica permanente do ser humano de encontrar-se entre trevas e luz. A missão conferida ao profeta consiste em ajudar o povo a descobrir a presença escondida do enviado de Deus. O Batista afirma não ser a luz, mas ter vindo a este mundo para dar testemunho da luz, isto é, avivar a percepção de sua existência. Implicitamente, sua missão profética denuncia as obras das trevas.

Visto que a luz é o resplendor da vida, João recebe a missão de apontar a possibilidade de vida, despertando em todos o desejo por ela e a esperança. Sua missão evidencia que há trevas, mas existe uma luz que não se deixa abafar pela escuridão. Essa luz é Jesus, o enviado de Deus para iluminar as trevas. Então, dar testemunho da luz significa estar em favor da vida. Segundo o Evangelho de João, o primeiro testemunho de que Jesus é o enviado do Pai vem de João Batista. Portanto, seu batismo de água simboliza a ruptura com a treva, ou seja, com a situação mantida pela instituição judaica, cujo centro de poder era o templo de Jerusalém. Jesus, como vida e luz da humanidade, inaugura um novo tempo, eliminando o pecado do mundo.

João Batista revela com clareza sua identidade e missão. Embora tenha sido enviado por Deus, ele não era a luz, no sentido de que não era o Messias. A luz sempre existiu, porque é Deus, enquanto o profeta tem plena consciência de sua natureza humana. Ele, porém, não atua por sua própria iniciativa, e sim em resposta à escolha divina, para concretizar o que Deus lhe confiou. Por não ser a luz, não tem a autoridade e o poder de eliminar as trevas. Ele também compartilha do espírito daqueles que aguardavam pela luz da vida e, por isso, reconhece os sinais precursores de sua vinda.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Como anuncia o profeta Isaías, o Deus em quem acreditamos não é indiferente nem compactua com o racismo, a exclusão, a violência, a exploração, o terrorismo, o imperialismo e a prepotência, só para citar alguns males do mundo contemporâneo. É, sim, o Deus dos pobres, dos explorados, dos injustiçados, dos pequenos e abandonados. E como ele atua neste mundo? Chamando pessoas sensíveis à sua presença, que aceitam a missão profética de cuidar daqueles que mais necessitam de sua proteção. E Isaías aceita colaborar com Deus.

Segundo a mensagem de Paulo, o cristão é alguém que ora sem cessar, louva e dá graças, em todas as circunstâncias, pelo dom de Deus, pela sua presença amorosa, pela salvação oferecida. Sabemos encontrar espaços em nossa vida para um compromisso verdadeiro com a causa do Reino de Deus?

A atitude simples e discreta de João Batista é muito sugestiva: ele não procura atrair para si as atenções, não usa de sua missão para a busca de aplausos, honras ou promoção pessoal. Apenas empresta sua voz para dar visibilidade à luz, Jesus Cristo. Como nos pomos a serviço da Palavra, da luz que brilha em meio às trevas de nosso tempo?

Izabel Patuzzo*

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada - PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. Doutoranda em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. em São Paulo. E-mail: [email protected]