Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!
Dona Hermínia sempre desconfiou dos discursos exaltados sobre o progresso e mais ainda dos arroubos dos modismos, imputados pelos que têm a mania de desconsiderar a sabedoria dos antigos. Quando recebeu de presente a primeira televisão em sua casa, ela não a viu com bons olhos. Acolheu o presente agradecida, afinal, o seu neto a tinha presenteado com tanto carinho. Mas ficou desconfiada com aquele instrumento de imagens em movimento na sala. Não combinava com seu oratório antigo, nem com o belo quadro do Coração de Jesus. O rádio não destoava tanto. Mas a TV parecia mais intrometida.
A primeira reação que a TV provocou em dona Hermínia foi a falta de paciência para ficar sentada vendo aquela programação de gente desconhecida, e seus olhos já não enxergavam tão nitidamente. Foi se acostumando aos poucos. Porém, com o tempo passou a ligar a TV só para assistir à missa. Depois também notou que havia alguns padres que mais pareciam “cantores do mundo” do que propriamente padres. Dona Hermínia até achava algumas coisas bonitas. Porém, sentia lá no íntimo que aquilo não alimentava sua fé.
Certa vez, em uma novena em casa, no mês de maio, ficou impressionada com certo clima de inquietação das pessoas para terminar logo a celebração. Depois soube que o motivo daquela pressa era por causa do capítulo final de uma novela. Dona Hermínia ficou decepcionada com tal comportamento. Não porque o pessoal gostasse de novela. Ela mesma tantas vezes também acompanhara as novelas radiofônicas e, com a chegada da televisão, as telenovelas. Mas nada substituía o aconchego da família, suas práticas religiosas e comunitárias.
Outra coisa que deixava dona Hermínia triste era certo desleixo dos pais na criação dos filhos. Cada vez mais as crianças, os adolescentes e os jovens iam perdendo o costume tão bonito, que era pedir a bênção aos pais, aos avós, aos tios e aos mais idosos da comunidade. Isso na cabeça de dona Hermínia se constituía numa perda de valores e referências.
Em relação à televisão, dona Hermínia, com sabedoria, intuiu que o novo instrumento em si não era problema. O conteúdo, sim, trazia problemas. Por isso, aos poucos foi filtrando as possibilidades que a televisão oferecia e deixando de lado o que não agregava aos seus hábitos. Ela não deu espaço para que a novidade passasse feito rolo compressor sobre as relações comunitárias, marcadas pelos afetos.
O exemplo de dona Hermínia diz respeito a um olhar de sabedoria frente aos costumes dos antigos. Não quer dizer que tudo do passado foi bom. Mas há coisas das quais não se deveria abrir mão. É justamente esta uma das perspectivas do tema desta edição de Vida Pastoral: o livro bíblico da Sabedoria. Conforme os artigos sugeridos, o escritor sagrado se preocupa em instruir as novas gerações a não se deixarem seduzir cegamente pelas propostas de felicidade oferecidas pelos sistemas dominantes. A sabedoria é o caminho da justiça e da felicidade.
Além do rico conteúdo sobre o livro da Sabedoria, a revista resgata a memória dos 50 anos da Conferência de Medellín, documento referencial da pastoral latino-americana, com as grandes e necessárias inspirações do Concílio Vaticano II. Conjuntamente com o tema específico, as comunidades também podem usufruir dos relevantes conteúdos bíblico-pastorais dos roteiros homiléticos. Compõe ainda esta edição uma resenha, dirigida a quem queira degustar uma novidade da Editora Paulus sobre a importância da oração do Rosário.
Esperamos que toda essa riqueza se reverta em entusiasmo, profecia e esperança para o povo de Deus.
Boa leitura e feliz missão!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor