Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!
Ao entardecer do dia 27 de março de 2020, o papa Francisco promoveu uma liturgia na praça São Pedro, no Vaticano, intitulada: “Momento extraordinário de oração em tempo de epidemia”. A praça estava vazia, em virtude das restrições sanitárias ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus. O vazio da praça, no entanto, é provável que tenha sido um dos mais eloquentes e emocionantes meios de comunicação naquelas vésperas doloridas. Tudo transmitido ao vivo, acompanhávamos pelos nossos smartphones ou pela TV. Nosso coração ardia. Os planos de câmeras, a fotografia, a música, o crucifixo de São Marcelo, a chuva transformaram o ato de Francisco em um grande quadro de beleza, dor e também esperança. Trata-se de um dos gestos mais proféticos de Francisco. Diante de um mundo carente de líderes próximos de seu povo, o papa se faz presença na travessia das incertezas. À semelhança do Crucificado, ele parecia carregar nos ombros as dores do mundo.
Esta edição de Vida Pastoral foi preparada numa atmosfera de muita dor. Desde o anúncio do primeiro caso positivo para Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, a realidade do país ficou envolta ainda mais por uma névoa de incerteza. Nem haviam cessado os tambores do carnaval, o brilho das purpurinas e as ruas ainda respiravam o clima da maior festa popular brasileira; de repente, o cinza se abateu sobre nós e as palavras “pandemia” e “coronavírus” passaram a fazer parte de nosso vocabulário cotidiano, quase à exaustão.
Em poucos dias, com o alto número de infectados e de óbitos, a população foi convocada ao isolamento social. Decretos estaduais e municipais suspenderam as aulas e as adaptaram ao sistema de ensino remoto; igrejas e templos tiveram de fechar as portas; no comércio, funcionaram somente os chamados serviços essenciais, como farmácias e supermercados. Nesse contexto, enquanto a população temia o presente e as consequências futuras, a autoridade do Executivo Federal minimizava os efeitos do vírus, omitindo-se no enfrentamento da crise e colaborando para uma divisão entre os seus adeptos e as outras parcelas da população.
Esta revista foi escrita, portanto, em um clima de efervescências políticas, econômicas, sociais, de provas, vazios, medos e mortes. Certamente também em um momento de transição, uma vez que a pandemia nos obriga a tomar novas rotas. O mundo pós-Covid-19 será diverso daquele vivido e exigirá o resgate de uma nova humanidade, capaz de conviver e cuidar da casa comum, considerando que tudo está interligado, como lembra o papa na Laudato Si’.
Nada melhor para nos iluminar nestes tempos de noites escuras do que a Palavra de Deus. É dela que nos vem força e inspiração para seguirmos o caminho com esperança. Como recorda a Dei Verbum: “O ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter lugar principal, encontra alimento são e vigor na palavra da Escritura” (DV 24). É nessa perspectiva que está em nossas mãos este precioso estudo sobre o Deuteronômio, livro escolhido para estudo e meditação neste ano. Além disso, os roteiros homiléticos nos oferecem possibilidade de aprofundamento e vivência da Palavra de Deus na liturgia e na vida.
Boa leitura!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor