Carta do editor

novembro-dezembro de 2016

A alegria do amor

Prezados irmãos e irmãs,

Graça e Paz!

Antes de tudo, o amor. Aquele amor paciente, prestativo, que não se vangloria. Não se alegra com a injustiça. Alegra-se com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1Cor 13). Nada de palavreado rebuscado ou uso da língua com termos arcaicos, por vezes distantes do cotidiano da vida, com suas alegrias, tristezas, angústias e esperanças. Muito rebuscamento, bom sinal não é. O que conta, de verdade, é o amor. Tudo mais são enfeites. E enfeitar em demasia cansa a visão e enjoa o coração. O amor é simples. Por isso, marca a existência com o gosto da eternidade. O amor tem íntima relação com a alegria. Quem tem amor tem alegria, e vice-versa. E isso não quer dizer ausência de problemas e sofrimentos.

O papa Francisco, em sua primeira exortação, fez da palavra alegria o ponto de partida do seu ministério como bispo de Roma: “a alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1). No início da exortação após o Sínodo da Família, retoma o termo: “a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (AL 1).

A alegria, pois, é o combustível que nos impulsiona no caminho da vida. Ser alegre tem que ver com ser animado, vivaz! Tem que ver também com ânimo, isto é, ter alma. A alegria, portanto, é o estado de estar vivo, de estar repleto do espírito. “Deus modelou o homem com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida” (Gn 2,7). O sopro divino nos enche de entusiasmo, isto é, torna-nos seres viventes repletos de Deus. O pecado, porém, é o que estraga a alegria. Mas não tem poder sobre quem está entusiasmado, sobre quem tem em si o sopro de Deus.

Jesus ressuscitado, a plenitude da alegria, dá aos discípulos o dom da verdadeira alegria: soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo” (Jo 20,22). O mesmo espírito, presente na criação, renova e impele a comunidade no caminho. Os que seguem Jesus são guiados pelo espírito da paz, da ternura, da misericórdia. “Deus não nos deu um espirito de covardia, mas de força, amor e sobriedade” (2Tm 1,7).

Por meio do espírito, a comunidade é feliz, é fértil. É produtiva. E produtividade aqui não se relaciona a esta coisa que o mercado tanto explora. Trata-se de produzir no sentido de gerar coisas boas para o mundo. Não permitir que o nosso coração se endureça, mas seja sensível. E haja mais amor às pessoas do que às máquinas. Mais amor à natureza do que às máquinas. Mais amor às formigas do que aos aviões, aos carros velozes.

Nesse sentido, concluindo mais um ano, renovemos em nós a alegria verdadeira. No início, no meio e no fim do caminho, a liberdade é a meta. Somente os livres são felizes, e quem tem a alegria do alto é livre. Nada nem ninguém pode deter quem se deixa guiar pelo espírito. Por isso o caminho é aberto, é horizonte de amor. Quem persiste nesse horizonte espera atento a chegada do amor. O amor bate à porta. Acolhê-lo é ser plenamente feliz.

Nosso sincero desejo de alegria verdadeira para você!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor