Carta do editor

novembro-dezembro de 2013

Caros leitores e leitoras,

Graça e Paz!

“O que vimos e ouvimos, nós agora lhes anunciamos para que vocês estejam em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo. Essas coisas escrevemos para vocês, a fim de que a nossa alegria seja completa” (1Jo 1,3-4).

A Igreja, seguindo o mandato de seu Senhor, Jesus Cristo, tem se esforçado desde o início para continuar de maneira eficaz o anúncio da boa notícia, a chegada do reino e sua ampliação na humanidade, a transformação do mundo, para que todos tenham vida em abundância. Desde os apóstolos, dentre os quais se destacou são Paulo pelo uso dos meios disponíveis em seu tempo para o anúncio da boa-nova – as estradas do império romano e as cartas –, a Igreja tem procurado as melhores maneiras de comunicar-se. Também na atualidade, sobretudo a partir do decreto Inter Mirifica (sobre os meios de comunicação) do Vaticano II, ela procura pôr-se ao mesmo passo dos meios atuais, em acelerada evolução. Comunicar bem o evangelho, no entanto, como já lembrava o apóstolo dos gentios, não significa amoldar-se às estruturas deste mundo; é necessária a transformação pela renovação da mentalidade, distinguindo qual é a vontade de Deus (Rm 12,2).

A comunicação do evangelho no mundo atual, então, precisa ter o perene cuidado de não se igualar à comunicação atual, de caráter mercantilista e muitas vezes voltada a dar suporte a estruturas econômicas e políticas injustas, colaborando para a alienação, a manipulação e a “formação” de consciências segundo interesses e objetivos inconfessos.

Ao contrário, a comunicação cristã atua para ajudar a impregnar a sociedade de valores humanos e evangélicos, para que haja mais vida e a “nossa alegria seja completa”: a alegria de anunciar e a alegria de quem consegue empreender um encontro verdadeiro e profundo com o Cristo, transformando-se e dando maior sentido à vida pessoal e social. Esse é o grande sentido da comunicação cristã, o qual é manifestado e vivenciado na liturgia, profunda comunicação entre os que se reúnem com toda a Igreja e com o Pai e o Filho, no vínculo de comunicação que é o Espírito. Na liturgia, as palavras “comunicar” e “comungar” são próximas e intercambiáveis, como se pode constatar em muitas fórmulas de orações do Missal.

Por isso é importante, além do cuidado de promover os meios de comunicação católicos e a pastoral da comunicação, não considerar a comunicação uma atividade setorial, a ser somada a todas aquelas que a obra da evangelização já inclui. Segundo a instrução pastoral Aetatis Novae, n. 17, “a comunicação tem, de fato, uma contribuição a dar a todos os aspectos da missão da Igreja”, todas as suas dimensões e estruturas precisam comunicar-se.

Para tanto, o cuidado pastoral com a comunicação nos impele a atentar ao que se passa na sociedade, estar bem informados. São necessárias atenção aos processos sociais e atenção crítica aos meios. Sabemos, por exemplo, que alguns meios hegemônicos no Brasil têm relações históricas com sistemas de poder econômicos e políticos que não se coadunam com o que pregamos como valores evangélicos. Mas é muito comum ver lideranças cristãs, sacerdotes e agentes de pastoral assumindo posições com base em pautas e informações distorcidas por esses meios. É preciso ter cuidado com a revista que se assina, com o jornal a que se assiste e com aquilo que se lê e ouve, porque fazer assinatura, promover a audiência e repetir os argumentos desses veículos ajuda a empoderá-los.

Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp

Editor