Carta do editor

Março-Abril de 2025

Campanha da Fraternidade 2025:
Fraternidade e Ecologia Integral
"Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31)

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Há uma tendência disseminada nas cons­ciências de nosso tempo. Trata-se da mentalidade segundo a qual devemos ter uma vida sempre acelerada. Ocorre que nosso corpo não é uma máquina e sua complexidade não se resolve em um clique.

As máquinas movidas a inteligência artifi­cial por meio de um clique ou de um comando de voz nos oferecem textos e imagens à exaus­tão. Por ser tudo tão rápido, já não temos tem­po para esperar. O conceito exige paciência. No entanto, são mais cômodos vídeos breves e textos rasos. Leituras demoradas são coisas raras. A paciência se abala se a mensagem do WhatsApp não for respondida imediatamente. Nas ruas, os humanos dentro de suas máquinas potentes não suportam o passo lento e cansado de um idoso de muitos anos. A faixa de pedestre é risco. A sabedoria ancestral não encontra assento na velocidade.

Estamos todos em uma grande correria, sabe-se lá para onde. Isso é muito real no corre-corre das multidões nas compridas escadas rolantes do metrô da cidade de São Paulo. Se alguém é pisado, não espere desculpas. A velocidade não tem espaço para a delicadeza. Para quem queira correr ainda mais, há o aviso “deixe a esquerda livre”. E todos correm em um ritmo insano, sem o mínimo de senso para se perguntarem o porquê de tanta agitação.

Corremos porque precisamos marcar o ponto no relógio da empresa. Corremos porque o pe­queno que nasceu precisa de fraldas. Corremos para não perder o emprego. Corremos porque já estamos há mais de duas horas no trânsito e a tarifa vai subir. Corremos porque a companhia elétrica nos deixa no escuro e nos endivida com suas altas taxas de cobranças. Corremos.

Que paradoxo: ensinam-nos a entrar no rit­mo veloz, mas nos estancam a vida. Nessa pressa desenfreada, a vida se esvai. A conta não fecha, e quase sempre estamos tateando, a fim de ganhar o pão suado e pagar uma infinidade de boletos. Tudo parece instantâneo; atesta isso o celular em nosso bolso e ao alcance de nossos dedos e olhares. O lume frio da tela parece nos absorver. A instantaneidade, porém, não estanca as contas e elas nos custam tempo, o tecido da vida.

Bem ensinou o mestre Antonio Cândido (1918-2017): “Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida, é esse minuto que está passando. Daqui a dez minutos eu estou mais velho, daqui a vinte minutos eu estou mais próximo da morte”. O tênis, o relógio, a roupa não custam apenas dinheiro; eles são o suor de nosso rosto, o tecido da vida.

“Fraternidade e ecologia integral” é sobre o tecido da vida. O ritmo acelerado e desu­mano nos expulsa do jardim do Éden. Em seu projeto primordial, Deus nos colocou em um jardim (Gn 2,8) e nos encarregou de guardá-lo e cuidar dele. Infelizmente, ao invés do cui­dado, há exploração e abusos. O aquecimento global e os eventos climáticos extremos são o grito do jardim.

Pensemos no nosso jardim chamado Brasil, que o poeta Jorge Ben Jor declama como “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natu­reza, mas que beleza”. Maior beleza terá quando os mais sofredores que o habitam puderem usu­fruir das sombras, dos frutos, da orquestra dos passarinhos e do colorido deste Éden.

Tenhamos claro: na vida a gente aprende muito mesmo é com o vento, os cantos dos passarinhos, os movimentos das árvores, das águas, das variedades de bichos, as cores e os aromas dos dias. Das noites. As estrelas.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor