Carta do editor

Março – Abril de 2018

Viver e anunciar o evangelho em tempo de crise

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

O que a vida nos pede a todo momento é coragem. E coragem tem que ver com o coração, que tem que ver com o sentido. Uma vida verdadeiramente plena de sentido é uma vida que pensa com o corpo todo e não somente com a cabeça. Isso quer dizer que, para além de todas as crises, a saída exige muito mais do que calculismo. Exige que estejamos integrados, unidos, dispostos a ler a história e os acontecimentos na perspectiva da complexidade. Às vezes, é mais fácil encarar a vida e os fatos de forma simplista, baseada simplesmente em dualismo: o bem e o mal, a esquerda e a direita, a elite e a ralé, o branco e o preto e assim por diante.

Ocorre que a realidade é complexa. Exige esforço para compreendê-la.

Em tempos de crise se ouve tudo que é previsão. Geralmente as mais catastróficas. O economês, por exemplo, é o que mais sobressai. Porque o tal do mercado, esta entidade que ora fica nervosa, ora se acalma, ora faz alarde, ora se cala parece interferir na vida de todo mundo. Sem falar que há sempre quem, mesmo não tendo lido ou conversado nada sobre determinados temas, tem sempre uma opinião formada sobre tudo e sobre todos. E geralmente só percebe o negativo. O pior é se deixar cair no jogo de que nada mais tem jeito e o melhor mesmo seria entregar os pontos.

Nada disso. É hora de avançar, de seguir em frente. Os discursos pessimistas têm interesses escusos. Geralmente querem nos encher de tristeza ou raiva. Isto é, fazem o jogo do opressor: pretendem nos tornar iguais ao inimigo. Se nos deixamos envolver, corremos o risco da derrota, dando a vitória a eles. Agora é que é necessário fortalecer as festas de bairro, as reuniões de pessoas, as ações coletivas e criativas. Vejam que as estas não estão diminuindo; estão aumentando. Sartre, que não era um otimista, disse certa vez: “A França nunca esteve tão livre como durante a invasão alemã”. É nos momentos difíceis que nossa criatividade desbrava horizontes novos. Melhor mesmo é evitar os preconceitos, as rixas, as discriminações, os pequenos e grandes ódios. Deixando tudo isso de lado, podemos nos unir contra o inimigo comum.

Jesus também viveu numa realidade de crise e opressão. Pairava sobre o povo o braço pesado da política opressora do império romano, bem como uma religião oficial fechada, que se autorreferenciava e, ao invés de motivar os fiéis, impunha fardos pesados sobre eles. A obsessão pela Lei era tamanha que havia 613 mandamentos para serem decorados e seguidos à risca. Algo impossível de viver. O que deveria ajudar, ao contrário, atrapalhava. Jesus foi direto ao ponto: “Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros, assim como eu amei a vocês” (Jo 15,12).

Jesus observava tudo, meditava, fez suas as dores dos sofredores; e aos seus discípulos e discípulas conclamava: “Vocês são o sal da terra […]. Vocês são a luz do mundo” (Mt

5,13-14). A comunidade cristã é chamada a testemunhar a alegria do evangelho.

Esta edição de Vida Pastoral é um convite a renovarmos a esperança. Apesar de todas as crises, principalmente da crise humanitária pela qual o mundo passa, vivemos um momento de primavera na Igreja. O renovado ardor eclesial do papa Francisco é um grande sinal do Espírito. Todas as nossas iniciativas e projetos, tendo o evangelho como fundamento e guia, nos darão luzes para nossa fidelidade pastoral. O Espírito Santo, que tudo renova, nos ilumine na caminhada.

Boa leitura e feliz missão!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor