Caros leitores e leitoras,
Graça e Paz!
A cada ano a Quaresma abre o ciclo pascal, renovando em nós a consciência da necessidade de reafirmar nossa conversão, nosso batismo e buscar maior coerência com o evangelho. Não se trata simplesmente de repetir os mesmos ritos, mas de buscar progressivamente maior união com Cristo e intimidade com o mistério pascal. Não é apenas preparação penitencial para a Páscoa, mas para a vida como um todo.
Durante estes 40 dias, procuramos reviver a experiência do povo de Deus no deserto, que amadureceu sua fé em meio às dúvidas, hesitações, confiança e exercício contínuo de caminhada rumo à terra prometida, deixando para trás a escravidão do Egito, o que a ocasionava e todas as suas mazelas. E procuramos também reavivar em nós a experiência de Jesus, que, no jejum e na oração no deserto, supera as tentações e assume com determinação sua missão solidária em prol do Reino e de tudo o que ele significa.
Percorremos com Cristo o caminho que vai do deserto e das tentações e tensões à vitória, celebrada na Páscoa, sobre o mal e a morte. Assim, mais fortalecidos e iluminados pelo mistério pascal de Cristo, buscamos enfrentar as tentações, sofrimentos, escravidões, formas de idolatria esquemas [f1] que dificultam ou destroem a vida em nossa realidade atual.
Pelos exercícios quaresmais, pela dedicação de maior tempo à oração, à meditação, à caridade e ao jejum em contraposição às tentações de consumo e esbanjamento fomentadas pela cultura capitalista, buscamos fortalecer as razões de nossa esperança cristã de um mundo transformado, humano, fraterno, justo e solidário. O Concílio Vaticano II recorda que “a penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (SC 110).
A realidade atual permanece marcada pelo individualismo, pela aviltante desigualdade social – seja no contexto interno dos países, seja na disparidade entre eles –, pelo “capitalismo selvagem” e pela “tirania do dinheiro”. Até que ponto nos deixamos levar por essas negações da solidariedade, da fraternidade e da justiça do Reino, valores ensinados por Jesus? Que a Quaresma nos ajude a fortalecer-nos contra elas.
Em sintonia com o convite à conversão quaresmal e com a proposta penitencial deste período, a Igreja no Brasil apresenta cada ano um tema para a conversão social. Neste ano o tema da Campanha da Fraternidade é o tráfico humano.
Talvez para a maioria de nós seja um tema distante e de pouca atenção. Mas, quando passamos a conhecer melhor o problema, somos tomados de perplexidade. O tráfico internacional de pessoas é a terceira atividade ilegal mais lucrativa do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas e de armas, e há quem suspeite que já esteja superando essas outras duas formas de tráfico. Não é algo que aconteça apenas em lugares distantes, em muitos casos, estão perto de nós. Em lugares [f2] como, por exemplo, a Grande São Paulo, têm sido constantes as descobertas de estrangeiros trabalhando em condições de escravidão em confecções de grifes bastante chiques e caras que comercializam seus produtos nos shoppings. Também em ricas fazendas espalhadas por todo o Brasil são constantemente descobertos grupos de trabalhadores escravizados.
Que em nome de Jesus de Nazaré, que deu a própria vida na cruz para nos resgatar de todo tipo de escravidão, nós, cristãos, nos conscientizemos e nos empenhemos de verdade em dar nossa colaboração para que todas essas formas de degradação e exploração de vidas humanas sejam superadas.
Pe. Jakson Alencar, ssp
Editor