Caros leitores e leitoras,
Graça e paz!
Em sua fala de conclusão do Sínodo sobre a Família, o papa Francisco ressaltou que “o primeiro dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor”. O anúncio, a misericórdia, a Igreja em saída, a alegria do evangelho, a atenção às periferias geográficas e existenciais, o esforço de renovação da Igreja têm marcado o atual pontificado e podem ser resumidos na expressão “cultura do encontro”, muito cara ao papa.
Em seu ministério, de maneira intensa, Francisco tem exortado toda a Igreja à cultura do encontro – não apenas com os membros da instituição, mas com pessoas afastadas e segmentos diversos da sociedade. Constata-se que o papa tem favorecido muito o reencontro da Igreja com o mundo e cativado setores resistentes ou que a rejeitavam. Por exemplo, o filósofo italiano Gianni Vattimo, em recente entrevista à imprensa de seu país, afirmou que “Francisco me reconciliou com muitos aspectos da Igreja”. De forma semelhante, vemos personalidades ou setores da imprensa anticlericais e ateus ser alcançados pela cultura do encontro e pela disposição ao diálogo do papa Francisco, comentar e ressaltar positivamente suas palavras e atitudes e ser cativados por elas.
A misericórdia à qual o papa anima a todos por meio do Jubileu passa pela cultura do encontro. Por muitos anos, na Igreja se ressaltou mais o remédio do rigor que o da misericórdia: condenações; posturas intransigentes; enfoque quase obsessivo em temas que causam irritação e fortes rejeições; códigos morais estritos. Ficaram em segundo plano ou até meio esquecidos os aspectos cativantes do evangelho: a misericórdia, a capacidade de perdoar, reintegrar e não excluir ninguém, demonstradas por Jesus no Evangelho.
Com a liderança do papa Francisco e com o Jubileu da Misericórdia, a Igreja tem a oportunidade extraordinária de renovar sua aptidão para ser misericordiosa como o Pai, para cativar, perdoar e reintegrar, ajudando assim o mundo – dilacerado por competição, ódio, intolerância, divisões, barreiras e exclusões – a ser mais misericordioso e inclusivo. Não sejamos nós, cristãos, a criar e favorecer barreiras, e sim a ajudar a diminuí-las.
Lembremos, no entanto, que o papa sozinho não faz a Igreja. Francisco, como ressalta João Décio Passos em seu artigo a seguir, é fruto maduro do Vaticano II e de sua recepção na América Latina. Levou ao papado a experiência da colegialidade vivenciada na periferia do mundo, a prática da Igreja dos pobres e com maior participação efetiva dos leigos. Desde o período de eleição do papa, fala-se em reforma da Cúria Romana, mas o que Francisco tem reformado em primeiro lugar é o papado, com gestos, atitudes e inciativas concretas que permitem maior colegialidade e diálogo franco com toda a Igreja e o mundo. O próprio papa, em sua forma de liderança e de ministério, tem procurado suscitar um “caminhar juntos” de forma gradual. A institucionalização e efetivação das reformas e renovações dependem, portanto, não só dele, mas também de todo o episcopado, do clero e de todo o povo de Deus.
Pe. Jakson de Alencar, ssp
Editor