Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

O Bem-aventurado Tiago Alberione (1884-1971), fundador da Pia Sociedade de São Paulo – Paulus (1914) – e da Família Paulina, instituiu na Igreja um carisma que tem sua razão de ser no amor à Palavra de Deus, na sua vivência e anúncio. Inspirado no apóstolo São Paulo, Alberione desejava que a Palavra corresse veloz. “Para que a Palavra do Senhor se espalhe rapidamente” (2Ts 3,1). Por isso, intuiu que a melhor forma de fazer a Palavra correr rapidamente seria utilizando-se dos meios de comunicação. Hoje, diríamos “na cultura da comunicação”. No seu tempo, isso significava a imprensa, o rádio, o cinema etc. De olho no horizonte, ele percebeu que a Igreja tinha a obrigação de fazer bom uso da tecnologia da comunicação emergente.

Tiago Alberione, desde cedo, sentiu-se “obrigado a se preparar para fazer algo de bom pela humanidade”. Sim, porque não bastaria entrar no ritmo de um ativismo sem bases espirituais profundas. Para as coisas de Deus se exige sempre o maior zelo e profundidade. Isso Alberione o fez com afinco.

Tendo a missão principal de evangelizar na cultura da comunicação, Alberione antecipa o que mais tarde fará o Concílio Vaticano II (1962-1965), especificamente com o decreto Inter Mirifica: “A Igreja católica, fundada por nosso Senhor Jesus Cristo para levar a salvação a todas as pessoas, e por isso mesmo obrigada a evangelizar, considera seu dever pregar a mensagem de salvação, servindo-se dos meios de comunicação social, e ensina as pessoas a usar retamente estes meios” (IM 3).

Para viver, comunicar e proclamar a Palavra de Deus, são necessários estudos, meditação e coração aberto, de modo que essa Palavra seja semente lançada em terra boa (Mt 13,8.23).

Este número de Vida Pastoral é um contributo à animação bíblica da pastoral. Toda pastoral deveria estar permeada pela Palavra de Deus. Por isso, é fundamental insistir com a novidade do desejo de Tiago Alberione, tão incentivado pelo Concílio Vaticano II: “Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos” (DV 7).

Se, no tempo de Alberione, o grande desafio era conceber a imprensa como projeto de verdadeira evangelização, para nós, hoje, o ambiente digital e suas redes constituem campo fértil e não menos desafiador para a comunicação da Boa Notícia. Certamente o ambiente em que mais se trai e se deturpa a Palavra de Deus são as redes sociais digitais. Ali se camufla versículo bíblico com fake news e, ao invés do amor e da verdade, frequentemente imperam o ódio e a mentira. O problema, porém, não é das redes em si. Sabe-se que há uma indústria – a propósito, com altos patrocínios – para disseminar maldades e lucrar à custa de mentes anestesiadas.

Sem saudosismo, há boas práticas do passado que ainda persistem de forma reduzida e podem intensificar a riqueza da Palavra de Deus em nossas comunidades – por exemplo, os círculos bíblicos. Em épocas em que as oportunidades eram bem menores, o povo, em torno da Palavra, fazia a experiência de Deus e da alegria da vida comunitária.

Pe. Alberione viu em Paulo apóstolo a inspiração para levar adiante seu projeto de “boa imprensa”. Nisso consiste o ponto de partida de um novo jeito de ser Igreja. O apóstolo colocava Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado, no centro. Esse também deveria ser nosso modo de ser na pastoral. “ Sem o Senhor, que nos introduz na Sagrada Escritura, é impossível compreendê-la em profundidade; mas é verdade também o contrário, ou seja, que, sem a Sagrada Escritura, permanecem indecifráveis os acontecimentos da missão de Jesus e da sua Igreja no mundo” (papa Francisco, Aperuit Illis, n. 1)

O entusiasmo de Alberione pela comunicação da Boa Notícia e sua paixão pelo apóstolo Paulo no anúncio do Divino Mestre sejam inspiração para a animação bíblica da pastoral em nossas comunidades.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor