Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!
O papa Francisco tem insistido numa ação pastoral que leve em conta a periferia, não somente a geográfica, mas também a existencial. Francisco está convocando a Igreja a se posicionar na perspectiva da complexidade, a não se reduzir ao vício do binarismo, mas ser capaz de interagir com as diferenças. A beleza e o êxito de nossa pastoral estão na interação.
Esta edição de Vida Pastoral objetiva colocar em interação quatro artigos pertinentes à nossa ação pastoral. O ponto de partida é a vida em comunidade. Eliseu Wisniewski comenta as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023), considerando especificamente a ação comunitária na vida e missão eclesial. O autor enfatiza a insistência dos bispos do Brasil sobre a necessidade fundamental da comunidade como o eixo, a “casa dos cristãos”, aquilo que impulsiona todo apostolado. Na complexidade da cultura urbana, as comunidades se tornam o melhor espaço para a escuta e o discernimento da vontade de Deus.
A comunidade, porém, necessita de buscar sempre a santidade, e esta tem que ver com a saúde integral: corpo e mente sãos, de modo que nada seja empecilho para o anúncio pleno da boa notícia. Espera-se, portanto, uma comunidade saudável. O artigo de Arilço Chaves Nantes evidencia que a religiosidade/espiritualidade cultivadas no dia a dia das pessoas produzem emoções positivas, solidariedade, esperança, motivando a saúde mental.
Uma comunidade bem formada pensa além dos slogans e do senso comum. É corajosa, tem segurança de sua condição e dá razão da fé (cf. 1Pd 3,15). É o que Lino Batista de Oliveira aborda em seu texto: “Uma palavra sobre ‘ideologia de gênero’ à luz da fé cristã”. O autor chama a atenção para o risco do dualismo, que insiste em pensar a pessoa apenas como ser biológico ou apenas como ser espiritual. A pessoa humana é um todo, uma única realidade, composta de matéria e forma, corpo e consciência, objetividade e subjetividade. As dimensões corporal e espiritual devem se harmonizar, pois, para o humanismo cristão, não há lugar para dualismos.
Por fim, um dos aspectos importantes da vida comunitária é a celebração, a festa. Benedito Prezia oferece-nos um precioso estudo sobre as incorporações da cultura indígena na beleza e na alegria das festas juninas, que tanto alegram nosso povo. Trata-se de algo pouco conhecido, uma vez que, no geral, os brasileiros não se interessam em conhecer e estudar a cultura dos povos originários. Os santos comemorados em junho trazem marcas não só das culturas ibéricas, como também apresentam traços dos povos tupis, com os quais os portugueses conviveram por muito tempo. De acordo com Prezia, as festas juninas continuam sendo as mais indígenas das festas populares e precisam ser mais bem conhecidas e valorizadas.
Para iluminar e aprofundar nossa experiência e meditação na celebração litúrgica, contamos com a valiosa colaboração do biblista Francisco Cornélio Freire Rodrigues, que preparou os roteiros homiléticos.
Desejamos a todos excelente experiência pastoral e comunitária, na esteira da “Igreja em saída” tão querida pelo papa Francisco, de modo que o Reino de Deus seja realidade no meio de nós, nestes tempos em que somos sempre mais interpelados ao testemunho radical do evangelho.
Boa leitura!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor