maio – junho de 2017
Prezados irmãos e irmãs, graça e paz!
O povo brasileiro sempre teve um grande amor por Nossa Senhora. Do Oiapoque ao Chuí, as devoções, com os mais variados títulos, amplificam esse amor. Está na alma de nossa gente o carinho, o respeito, a fé e a devoção incondicional à Mãe de Deus. Ela é presença em todos os momentos da vida, nas alegrias e tristezas, dores e esperanças. É Maria, companheira noite e dia.
É companheira na vida de todas as Marias em seus inúmeros partos. Que o diga dona Mí- rian, sertaneja que tem no nome a variante do nome da jovem de Nazaré “prometida em casamento a um homem chamado José” (Lc 1,27).
Mírian significa o mesmo que Maria: pureza, virtude, virgindade. No nome e na vida, a expressão da garra, coragem, determinação e entrega total nas mãos do Todo-poderoso e misericordioso. Só Deus é grande, e se fez pequeno no ventre de Maria. Em Jesus, Deus se fez em tudo semelhante a nós, menos no pecado (Hb 4,15). Mírian, mãe de 12 filhos, todos nascidos em casa sob o olhar bondoso e leve de Nossa Senhora do Bom Parto e dos cuidados atentos da parteira solidária, também de nome Maria. Naquele tempo parto natural não era opção nem estava na moda; era a única saída. Partos à luz de lamparina a querosene. Eletricidade era luxo de grã-finos da cidade grande. O galo cantava rasgando a madrugada. A criança chorava anunciando que a vida supera toda precariedade.
O Filho de Deus nascido de Maria, naquela noite fria, na plenitude do tempo (Gl 4,4), também chorou, superando o silêncio da indiferença e da exclusão dos mais pobres dos pobres. Seu choro ressoou por toda a terra, lá onde os pequenos são humilhados e esquecidos pelos prepotentes do mundo, que se consideram poderosos. Poderoso é Deus, e se faz criança.
Em Maria está provado que a humanidade é capaz de receber o dom de Deus, não obstante sua precariedade. Toda a narrativa bíblica mostra que a pobreza e a insuficiência da vida humana não são nada diante do poder do amor, porque tudo o que Deus fez é muito bom (Gn 1,31). Ele ama incondicionalmente a humanidade e toda a sua criação. Por amor, enviou seu Filho ao mundo – não para condenar, mas para que o mundo seja salvo por meio dele (Jo 3,17).
Maria de Nazaré deu à luz seu filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala (Lc 2,7). Não havia também lugar nos salões dos grandes do Brasil de 1917 para os pescadores Domingos, Filipe e João. Naqueles dias e nas noites infindas, o rio não estava para peixe. Os três pescadores haviam recebido ordem: abastecer a mesa já farta dos ricos. Eles tinham fome, mas antes tinham de doar o suor do trabalho aos que são abastados. Maria vem em seu socorro, desfigurada como eles, partida de dor igualmente. “Meu filho, eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). A alegria se faz. A pesca foi milagrosa (Lc 5,1-11). Os três representam todos os brasileiros deixados à margem. A eles são impostos os fardos mais pesados para alimentar o luxo dos mais ricos.
Maria, Mírian, Domingos, Filipe, João são todos os humildes exaltados pela bondade e misericórdia de Deus (Lc 1,53). Deus, ao escolher Maria – mulher pobre e humilde, de um lugar quase perdido (Galileia) –, especificamente na figura de Nossa Senhora Aparecida, escolhe os pobres e humilhados do Brasil. Que ela continue a nos abençoar.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
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