Carta do editor

maio-junho de 2013

Caros leitores e leitoras,

Graça e Paz!

O modo de vida atual, marcado por competitividade, imediatismo, insegurança nos postos de trabalho, enfraquecimento dos laços afetivos e religiosos, ansiedade pelo sucesso econômico, individualismo e uma série de outras transformações que diminuem a estabilidade e rompem o fio da tradição sem colocar nada de substancioso no lugar, tem causado muitos desajustes e problemas psicológicos que afetam também a saúde do corpo. Todos podemos constatar, seja pelas notícias, seja no nosso próprio contexto, o incremento do número de pessoas que sofrem com depressão, desânimo, sintomas hipocondríacos, ansiedades, estresse físico e mental, insônia, fobias sociais, solidão, síndrome do pânico, problemas psicossomáticos, entre outros.

Na prática pastoral e no dia a dia, deparamo-nos constantemente com quadros assim. As pessoas procuram na religião, junto a sacerdotes e agentes pastorais, orientação e ajuda para a superação de seus problemas emocionais. Há um diálogo ancestral entre religião e saúde, e sabemos que a religião bem vivida pode auxiliar no equilíbrio e na maturidade. Em um volumoso livro da editora da Universidade de Oxford, vários estudiosos apresentaram pesquisas científicas que mostram como a vivência religiosa contribui para a saúde psicológica e biológica, para a imunidade e para a superação de doenças. Nas atividades religiosas e pastorais podemos ajudar a promover a saúde psicológica das pessoas de diversas maneiras. É isso que Vida Pastoral procura subsidiar e facilitar com os artigos dessa edição.

Não é necessário que padres e agentes de pastoral se tornem também agentes ou profissionais de saúde, dentre as diversas atribuições que já têm. Mas muitas das demandas de seu trabalho envolvem conteúdos psicológicos e problemas psicopatológicos que justificam a necessidade de termos noções e condições de dar alguma orientação nesse sentido, ou mesmo recomendar a procura de profissionais da área. As patologias e dificuldades mais graves requerem ajuda profissional, mas as ansiedades existenciais e espirituais merecem também a assistência dos sacerdotes, sem confundir funções nem querer substituir psicólogos ou psiquiatras. Isso pode até mesmo colaborar para evitar que pessoas em dificuldade se tornem massa de manobra de lideranças religiosas inescrupulosas que se aproveitam de situações de crise para ganhos econômicos.

A nossa missão pastoral diz respeito à pessoa humana como um todo, e a transmissão e a vivência da fé dizem respeito não apenas a uma aceitação de doutrinas, mas perpassam todo o ser, emoções, mente, corpo e espírito. Portanto, para evangelizar de maneira eficaz é importante conhecer o público mais a fundo, seu imaginário, seus anseios e dificuldades na situação específica em que vivem.

O cuidado pastoral com o emocional e a psique das pessoas ajuda a lidar também com o excesso de culpas e escrúpulos, com as neuroses, medos, dificuldades de perdoar, de elaborar adequadamente a raiva e demais sentimentos. Em poucas palavras, ajuda-as a não transferir para a religião as fantasias, frustrações e conflitos do inconsciente e as torna mais aptas para a descoberta do verdadeiro Deus, o Deus do perdão, da misericórdia e do amor. Cuidando da nossa saúde emocional e ajudando os fiéis a cuidar da sua estaremos mais abertos e aptos para sentir e viver Deus em tudo e em todos.

 

Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp

Editor