Carta do editor

Julho – Agosto de 2018

Os jovens, a fé e o discernimento vocacional

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

O papa Francisco, perguntado no livro Deus é jovem sobre o que seria a juventude, assim reponde: “A juventude não existe. Quando falamos de juventude, muitas vezes nos referimos inconscientemente ao mito da juventude. Porém, gosto de pensar que a juventude não existe e quem existe em seu lugar são os jovens”. O papa retira de cena aquilo que é discurso genérico e, como é próprio dele, toca a vida na sua dimensão mais concreta – nesse caso, a vida dos jovens.

É certo que os jovens, em todo tempo e lugar, geralmente são as principais vítimas, quando não os maiores culpados por tudo o que é desordem. Não é raro ouvir dos adultos a frase: “Estes jovens de hoje…”, como se eles também não tivessem sido jovens um dia e se comportado exatamente segundo o espírito próprio dessa fase, caracterizada por ousadia, sonhos, alegria.

A alegria, aliás, tem sido o mote do pontificado de Francisco. Em sua primeira exortação, fez da alegria o ponto de partida do seu ministério: “A alegria do evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1). Além disso, no início da exortação pós-sinodal sobre o amor na família, retoma o termo: “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja” (AL 1). A expressão do papa sinaliza para a alegria como o combustível que nos impulsiona no caminho da vida. A alegria, portanto, é o estado de estar vivo, de estar repleto do Espírito, de olhar para a vida com esperança.

Na homilia do domingo de Ramos deste ano, dirigindo-se aos jovens por ocasião da preparação do Sínodo dos Bispos a ser realizado em outubro próximo, com o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, de novo Francisco fala da alegria: “Queridos jovens, a alegria que Jesus suscita em vocês é, para alguns, motivo de aborrecimento e irritação, porque um jovem alegre é difícil de manipular”. O papa chama a atenção dos jovens para não se deixarem enganar, tampouco permitirem que se emudeçam seus sonhos. “Calar os jovens é uma tentação que sempre existiu […]. Há muitas maneiras de tornar os jovens silenciosos e invisíveis. Há muitas maneiras de os anestesiar e adormecer para que não façam ‘barulho’, para que não se interroguem nem ponham em discussão. Há muitas maneiras de os fazer estar tranquilos, para que não se envolvam, e os seus sonhos percam a altura, tornando-se fantasias rasteiras, mesquinha, triste”. O papa tem consciência de que a comunidade cristã é chamada a ser jovem e de que o presente e o futuro da missão evangelizadora estão nas mãos e na voz dos jovens.

Em um mundo marcado pela idolatria do consumo, os jovens são sempre os mais visados. Paradoxalmente, são também deixados à margem, uma vez que lhes incute a ideia de felicidade fácil, lhes tira a oportunidade de inserção no mundo do trabalho. No Brasil, por exemplo, sabe-se que é grande o número de jovens que nem trabalham nem estudam. Contudo, os que governam pouco incentivam políticas públicas de fomento e promoção da juventude.

Nesta edição de Vida Pastoral, queremos fazer ressoar nas comunidades o desejo sempre renovado da Igreja: viver e anunciar a alegria do evangelho. Em sintonia com o Sínodo dos Bispos dedicado à juventude, cada comunidade esteja atenta e aberta a ouvir e acolher os anseios dos jovens. O papa tem insistido na atitude e na capacidade que os cristãos devem cultivar, que é ouvir. Os frutos do sínodo serão férteis se nascidos dos desejos expressos e reais dos jovens.

Boa leitura e feliz missão!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor