Caros leitores e leitoras,
Graça e Paz!
Recentemente, por ocasião da renúncia do papa Bento XVI e escolha do novo papa, assistimos a um grande interesse da mídia pelo assunto. A princípio noticiaram-se os fatos, mas, cessadas as novidades e aproveitando-se da atenção de grande parte da população, produziu-se um festival de especulações e ilações sobre o que teria levado o papa a renunciar e como se daria o conclave. Terminadas as novidades, a máquina midiática tratou de fomentá-las e requentar estereótipos sobre a Igreja. Também nos comentários de leitores em textos da Internet houve um grande fluxo de comentários negativos, preconceitos, estereótipos de todo tipo sobre a Igreja que não correspondem à realidade dos cristãos católicos em sua vida concreta nas diversas comunidades.
Entretanto, com relação à sucessão no comando da Igreja e seus problemas correlatos, se em parte houve sensacionalismo e inúmeras matérias sem provas e sem fontes confiáveis, houve também exposição de problemas reais. Não se deve apenas criticar a atuação da mídia, mas aproveitar a ocasião para examinar a atuação eclesial. Não esquecendo que posturas da instituição ajudam a fomentar o sensacionalismo: alimentação de segredos de corte, incorporação de privilégios, costumes palacianos e principescos, moralismo, exageros na centralização, autoritarismo, pouca disponibilidade para o diálogo com o mundo de hoje. Quem se sente incompreendido ou afetado pelo moralismo e intransigência, quando vê as falhas da Igreja, aproveita para responder com severidade ou mesmo aproveita para tripudiar.
Circulou nesse período trechos de um artigo da década de 80 do teólogo Yves Congar, no qual ele lembrava que o carisma do poder central da Igreja de não ter nenhuma dúvida, por um lado, pode ser magnífico, mas por outro pode ser terrível, porque, como em todos os outros lugares, em Roma, e na Igreja, estão seres humanos que têm limites, na inteligência, no vocabulário, em suas referências, no ângulo de visão, na ética. Não podemos querer atribuir a seres humanos características absolutas que só cabem a Deus. As fraquezas e pecados de membros e estruturas da Igreja que têm vindo a público nos últimos anos e que tanto se debateu ou mesmo se noticiou com certo sarcasmo por ocasião da renúncia de Bento XVI, se por um lado nos causam dor, por outro ajudam a lembrar que somos humanos, limitados e necessitados de conversão contínua e nos interpelam a, como instituição, ser mais misericordiosos, como o Pai do céu é misericordioso com as falhas e dificuldades da humanidade.
Durante o período de sucessão do papa, muito se falou sobre a necessidade de renovação e atualização da Igreja. O próprio Bento XVI abordou isso na sua carta de renúncia ao mencionar o “mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”. Entretanto, há ainda por parte de muitos, a mentalidade de um artigo de um professor de teologia que circulou no mesmo período: “não é a doutrina da Igreja católica que deve mudar. É a humanidade que necessita se converter a Cristo”. Está certo que não seria salutar a doutrina simplesmente endossar tudo que a cultura de hoje propala. Mas a humildade de reconhecer as próprias falhas e de se dispor ao diálogo atualizar os ensinamentos eclesiais poderá ser um ganho para todos, inclusive para a doutrina e sua preservação.
Entretanto, esperar apenas as atitudes das lideranças centrais pode significar cruzar os braços. Há muito que se pode fazer nos organismos e estruturas locais, com atitudes prepositivas e concretas de humildade, disposição ao diálogo, evitando o autoritarismo e o moralismo desumano, a hipocrisia e dando testemunho de solidariedade e de doação a práticas em favor da justiça social, tão defendida por Cristo. É essa a melhor contribuição que podemos dar ao novo papa, portador de grande esperança de renovação.
Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp
Editor