Caros leitores e leitoras,
Graça e Paz!
A Igreja da América Latina tem feito, desde o Vaticano II e a Conferência de Medellín, forte esforço pela “conversão pastoral”, pela renovação de estruturas ultrapassadas, pela formação de redes de comunidades e de uma Igreja toda ministerial, com presença ativa dos leigos como ministros e agentes de pastoral não ordenados. A última assembleia da CNBB voltou-se para o tema da renovação da paróquia como comunidade de comunidades, e posteriormente foi publicado um estudo sobre ele. A próxima assembleia retomará esse tema, com as contribuições feitas com base no estudo, visando à publicação de um documento. Com esta edição da Vida Pastoral, damos nossa contribuição a essa reflexão sobre a realidade das paróquias e da Igreja no Brasil.
Como se poderá ver nos artigos, há significativas orientações nos documentos do magistério para a renovação das paróquias. Trata-se, portanto, de reforçar o processo já iniciado, aplicar e aproximar esses textos da realidade das comunidades e deixar que as pessoas possam participar ativamente, dando sua colaboração, e, como Igreja, líderes, pastores, ouvir e olhar, favorecer que a realidade e os anseios de mudança venham à tona.
Uma das contribuições mais marcantes do Concílio Vaticano II diz respeito ao exercício do poder na Igreja. O documento Lumen Gentium aponta para a possibilidade de o poder ser exercido de forma colegial. Logo após o concílio, as formas colegiadas ganharam vigor e muitas experiências bonitas aconteceram. Percebe-se a necessidade de ampliar a colegialidade, dar-lhe mais força e criar conselhos onde eles ainda não foram criados. Prescindir de formas monárquicas de Igreja, de estruturas concentradas nas mãos de um só, e converter-se a uma Igreja de participação efetiva. Em seu discurso aos bispos dirigentes do Celam durante a última JMJ, o papa Francisco falava de quanto estamos atrasados nisso e quanta dificuldade há. Referiu-se à sua realidade como arcebispo de Buenos Aires, em que apenas cerca de metade das paróquias havia criado conselhos, apesar do incentivo.
Para que o processo de renovação continue e se amplie, é preciso ajudar o povo a se tornar sujeito e favorecer que a Igreja seja comunidade de comunidades, reunião de pequenos grupos de dimensões humanas, onde as pessoas se conhecem, se estimam e se tornam participantes ativas, e não meras espectadoras frias ou público para os sacramentos. Pode-se começar pela formação de pequenos grupos espontâneos, bem como pela valorização de experiências bem-sucedidas de criação de comunidades cristãs na realidade histórica recente da América Latina. Comunidades que não sejam apenas filiais dependentes da estrutura burocrática e centralizadora das paróquias.
Os padres têm sido bastante instados a “sair” das paróquias e ir ao encontro das pessoas, uma vez que a diminuição do número de católicos é atribuída, em parte, ao fechamento da Igreja nas paróquias, estabelecidas nos lugares de sempre, com dificuldade de mobilidade para as periferias. Realmente falta missionariedade. Mas não esqueçamos que o número de padres é insuficiente e que uma pesquisa da International Stress Management Association, publicada recentemente na imprensa, revelou que padres e freiras brasileiros estão entre as categorias mais estressadas. Se, por um lado, pode haver certo comodismo, por outro, há excesso de trabalho para pouca gente, assim como pode haver estresse demais por conta de estruturas pouco eficazes. Não nos esqueçamos ainda da quantidade de comunidades sem eucaristia porque não há padres. Então é preciso renovar as paróquias, mas é preciso pensar e agir também para a renovação do modelo de ministério ordenado, da qual até o Vaticano II teve dificuldade de tratar.
Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp
Editor