Caros leitores e leitoras,
Graça e paz!
Nesta edição especial de Vida Pastoral, apresentamos o conteúdo do Simpósio de Pastoral e Comunicação, realizado pelos paulinos do Brasil e pela revista, em comemoração ao primeiro centenário de fundação da congregação. A equipe que preparou esse simpósio, com base nas motivações da fundação da Família Paulina, no carisma e na história das instituições fundadas pelo bem-aventurado Tiago Alberione, optou por fazer um simpósio aberto a toda a Igreja e não focado apenas em uma reflexão interna. O carisma da comunicação intuído e iniciado por Alberione, a fundamentação e a espiritualidade que lhe dão sentido e sustento, assim como os demais carismas são um dom para toda a Igreja, que, como sabemos, vem fazendo grande esforço para progredir no campo da comunicação. Também, o carisma e as fundações nasceram em ligação com a realidade pastoral de toda a Igreja e em decorrência de suas necessidades. Dessa forma, refletir juntamente com representantes dos diversos seguimentos e pastorais da Igreja é fecundo tanto para estes como para a Família Paulina.
A comunicação é transversal a toda a ação pastoral. Não diz respeito somente aos grupos especificamente ligados à pastoral da comunicação ou ao uso de alguns meios e tecnologias. A comunicação é elemento importante na liturgia; na catequese; nas mais diversas pastorais; nas homilias e mensagens escritas ou transmitidas por outros meios; nos planos de pastoral; na forma de constituição de paróquias, se centralizadas ou em redes de comunidade; nas formas de decisão em todas as instâncias eclesiais; nas concepções de Deus, de revelação, de Igreja, de moral, de magistério etc. A eficácia da ação pastoral da Igreja nos tempos atuais passa pela aplicação da racionalidade comunicativa em todos os seus âmbitos, levando em consideração que o público está imerso nas formas de existência e de compreensão da realidade gerada pela comunicação social.
As intuições carismáticas de padre Alberione e os institutos que ele fundou não nasceram de uma hora para outra. Costumamos dizer que os fundadores e as pessoas visionárias enxergam além de seu tempo, mas isso não se dá por acaso, nem simplesmente por capacidades especiais que outras pessoas não tenham. Dá-se por sensibilidades aos sinais e necessidades dos tempos, como pelo estudo e reflexão, oração. Não é possível perceber as perspectivas futuras sem conhecer bem o presente. As ideias de Alberione quanto à comunicação na Igreja surgiram aos poucos, a partir de seu estudo das encíclicas dos papas que lhe foram contemporâneos, da sociologia, da história e de sua experiência, na primeira fase de seu ministério presbiteral, como padre diocesano preocupado com as dificuldades e desafios pastorais de então. Em sua paróquia, como nas demais paróquias de sua diocese e da Europa de então, ele encontrou uma pastoral centralizada na administração dos sacramentos e no padre, o típico modelo da “pastoral de conservação”, remanescente da cristandade medieval. Ele percebia que o número de pessoas que frequentavam os templos diminuía. Percebia também a capacidade crescente dos meios de comunicação de chegar às pessoas e formar opinião. Sentiu-se então inspirado a desenvolver suas fundações para, em ligação com toda a pastoral da Igreja, evangelizar com os meios de comunicação e ajudar a desenvolver a atuação eclesial no campo da comunicação. Suas inspirações ganharam impulso quando seu bispo o fez responsável pelo jornal da diocese. De igual maneira, ainda antes de fundar os paulinos, ele fundou em 2013 a revista Vida Pastoral, a qual dirigiu por alguns anos.
No início de seu ministério presbiteral, ele também formou um grupo de reflexão com vários párocos de sua diocese para estudar os problemas e desafios da pastoral, o que resultou em seu livro Anotações de Teologia Pastoral, o qual, posteriormente, recomendava com frequência aos membros da Família Paulina, para que firmassem sua identidade pastoral e os vínculos do apostolado de cada instituto com toda a ação pastoral eclesial. Nesse mesmo período, também a partir da experiência, escreveu o livro A mulher associada ao zelo sacerdotal, no qual está a base para os institutos femininos posteriormente fundados por ele. Alberione concebeu o apostolado da comunicação como um novo tipo de sacerdócio, por isso incluiu em suas fundações um instituto com o ministério ordenado, mas esse sacerdócio foi pensado para ser exercido pelo conjunto da Família Paulina, assim como a atuação dos leigos na comunicação pastoral é uma forma de exercício do sacerdócio comum dos fiéis.
Naquela época, ainda havia muitas resistências da Igreja em relação aos meios de comunicação, também ainda era significativo o conflito eclesial com a modernidade; “uma parte do clero ainda estava parada nos antigos métodos de vida e pastoral; a outra, convencida da necessidade de sistemas, organizações e iniciativas pastorais atualizadas” (Alberione, AD 49). O fundador, no entanto, dizia que “o mundo caminha, a despeito dos laudatores do passado e saudosistas” e que era necessário desenvolver a pastoral com as pessoas que vivem hoje e não com as que viveram há séculos. As iniciativas de padre Alberione, somadas a tantas outras, desembocaram na renovação do Vaticano II, do qual ele participou e contribui com uma lista de sugestões, algumas das quais, passando pelo filtro e enriquecimento dos padres conciliares, chegaram até os documentos do Concílio. A promulgação do Decreto Inter Mirífica, do Vaticano II, reconhecendo e conclamando à evangelização com os meios de comunicação, foi uma grande alegria para ele e para toda a Família Paulina. Também foi de muita alegria o momento solene de audiência com o papa Paulo VI, em julho de 1969, na qual, dentre outras coisas, o papa diz: “Ele realizou, ante et post litteram, muitos postulados do Concílio Ecumênico no campo das comunicações sociais. De bom grado brindamos um reconhecimento, elogio e encorajamento. […] Devemos ao vosso fundador, aqui presente, ao caro e venerado padre Alberione, a construção do vosso monumental Instituto”.
Tendo presente tudo isso e a necessidade de reflexão e aprofundamento quanto à relação entre pastoral e comunicação e quanto à realidade e desafios do tempo atual e do futuro nesse campo, o simpósio e este número de Vida Pastoral reuniram estudiosos em pastoral, comunicação, sociologia, teologia, missiologia e do carisma paulino, buscando luzes e inspirações para a atuação neste tempo de constantes transformações e revoluções.
Pe. Jakson Alencar, ssp
Editor