Publicado em novembro-dezembro de 2022 - ano 63 - número 348 - pág.: 20-29
Eucaristia, ceia memorial e festiva: da ritualidade ao mistério
Por Danilo César* e Penha Carpanedo**
O texto, uma reflexão acerca da Eucaristia como sacramento central da vida eclesial, discute certas distorções quanto à vivência deste sacramento, o qual, historicamente, se distanciou de sua compreensão litúrgica, com base em fortes influxos dogmáticos e canônicos. Graças ao Concílio Vaticano II, a teologia eucarística pôde voltar às fontes litúrgicas, bíblicas e patrísticas, recuperando seu sentido comunitário, celebrativo e escriturístico.
Introdução
A Eucaristia é o sacramento central da vida eclesial. Contudo, essa valorização decorre de intensa dogmatização de seu significado, processo que acarretou alguns efeitos, como o devocionismo eucarístico, o clericalismo e o cerimonialismo, que enquadram a Eucaristia num tipo de compreensão e a distanciam de seu fundamento: ser ação memorial da Páscoa do Senhor, realizada em comunidade, na forma de uma ceia festiva. Historicamente, a Eucaristia se distanciou de sua compreensão litúrgica, o que se deu sob fortes influxos dogmáticos e canônicos (BOURGEOIS, 2005, p. 55-58). Nesse esquema, a hipervalorização da tríade “matéria, forma e ministro” enfraqueceu o valor da assembleia. Bastando o ministro, a assembleia perdeu o acesso ao sacramento, a ponto de já não comungar, ficando confinada às devoções e à adoração das espécies. O evento da morte e ressurreição do Senhor, eixo da fé cristã, foi obscurecido pela teologia da presença real, que obteve notável desenvolvimento após o período medieval. A teologia sacrifical, posterior ao Concílio de Trento, recebeu enorme difusão, mas sem as necessárias peias da noção memorial, já firmada desde Trento.
Graças ao Concílio Vaticano II, a teologia eucarística pôde voltar às fontes litúrgicas, bíblicas e patrísticas, recuperando seu sentido comunitário, celebrativo e escriturístico. A grande intuição da reforma litúrgica a respeito da Eucaristia foi voltar à simplicidade evangélica: aos gestos e palavras de Jesus na última ceia, que constituem o memorial. Urge recuperar o sentido celebrativo (festivo) desse sacramento, devolvendo-lhe as feições originais.
1. “Façam isto”: os gestos de uma festa
A reforma do rito da missa (Ordo Missae) dispôs mimeticamente o rito eucarístico em unidades rituais que correspondem aos gestos e palavras de Cristo na última ceia: o rito de apresentação das oferendas evoca seu gesto de tomar o pão e o cálice; a oração eucarística corresponde à sua ação de graças; a fração do pão e a comunhão, ao próprio ato de partir e repartir entre os discípulos (Instrução Geral do Missal Romano – IGMR –, n. 72). A Igreja cumpre, assim, o mandamento: “Façam isto como meu memorial” (Lc 22,19). Essas “unidades rituais” superam séculos de uma visão focada na narrativa da instituição – considerada exclusivamente como consagração.1 Recupera-se a noção de memorial, uma visão mais bíblica, patrística, litúrgica e orgânica da ceia, sem descartar o elemento dogmático da presença real.
Cinco são as hipóteses que tentam explicar qual teria sido o rito judaico no qual se deu a última ceia de Jesus (PENNA, 2018, p. 23-27). A mais aceita é a de que a última ceia tenha sido uma ceia pascal, como aparece no relato de Lucas: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa com vocês” (Lc 22,15). Trata-se da Páscoa hebraica, que tantas vezes Jesus já havia celebrado com sua família, com os discípulos, ou em Jerusalém. A ceia remonta a Ex 12,1-14, que narra o ritual pascal da saída do Egito, da terra da escravidão. Celebrado de forma solene em família, com traços de intimidade, fantasia e evocações da história da salvação – diversamente da sinagoga, onde era celebrado de modo austero e conciso (DI SANTE, 2004, p. 218) –, o rito incluía o cordeiro, os pães sem fermento e as ervas amargas, sinais antecipatórios do evento da libertação. A ordem de iteração, ao final da perícope (v. 14), determina que os judeus das gerações futuras o celebrem sempre, para que possam participar do evento salvífico. Mas traz um elemento que faz compreender que a festa é parte da estrutura memorial: “Este dia será para vós um memorial, e o celebrareis como uma festa [hag (hebraico); heortèn (LXX)] para o Senhor; nas vossas gerações a festejareis; é um decreto perpétuo”.
A sucessão ritual dessa narrativa é o seder (ordem) pascal, “o mais sugestivo, alegre e inesquecível de todos os ritos familiares do judaísmo. […] E consiste na participação de uma refeição simbólica […] na qual cada elemento lembra um aspecto da noite, na qual Deus […] tirou o povo do Egito e o introduziu na Terra Prometida” (DI SANTE, 2004, p. 177). O cordeiro lembra que, no Egito, o anjo exterminador passou adiante das casas dos israelitas – donde deriva o termo Páscoa –, livrando o povo hebreu da morte dos primogênitos. Os pães ázimos lembram que os pais, na pressa da saída, não tiveram tempo de deixar a massa fermentar. As ervas amargas recordam que os egípcios amarguraram a vida dos pais, no Egito. O vinho lembra o dever de agradecer àquele que tirou o povo da escravidão do Egito e o fez passar da submissão à liberdade, da dor à alegria (DI SANTE, 2004, p. 181-182).
Às vésperas da sua paixão, Jesus realiza com seus amigos uma ceia pascal, com toda carga de significado que ela tem, incluindo seu caráter pascal festivo (Mc 14,26). Ele se põe no lugar do servo que providencia que seus convidados se alegrem à mesa. Entre os discípulos, a conversa gira em torno do poder, mas Jesus ensina o serviço à mesa como sinal do Reino (Lc 22,24-30). Ele a ressignifica, com suas palavras e seus gestos serviçais, em vista do acontecimento iminente da sua morte e ressurreição. No pão e no vinho, entrega-se a si mesmo, antecipando simbolicamente sua doação na cruz. Nas palavras de Pikaza e Haya:
Jesus se prepara para morrer em um contexto de festa de ação de graças pela vida, simbolizada no vinho, evocado aqui com uma fórmula solene (“o fruto da videira”). Com isso, ele coloca seu destino a serviço da vinha de Deus, ou seja, da vida do povo israelita, e da chegada do Reino para todos os povos (cf. Mc 12,1-2). Com vinho deste mundo velho, na festa de sua entrega-despedida, ele promete a seus amigos o vinho novo do Reino, em palavras que evocam o “triunfo de Deus”, sua vitória definitiva, acima de todos os possíveis fracassos (PIKAZA; HAYA, 2018, p. 278, tradução nossa).
No primeiro relato da última ceia, Paulo está centrado nas palavras e gestos de Jesus e no modo equivocado como a comunidade está celebrando a ceia do Senhor, evidenciando completa glutoneria e indiferença em relação aos pobres (1Cor 11,23-25). Celebrar a Eucaristia é fazer o que Jesus fez, comer e beber juntos, servindo uns aos outros e esperando uns pelos outros (1Cor 11,33). São os gestos e palavras do Senhor na última ceia que estruturam a ceia eucarística das gerações sucessivas, as quais haverão de participar, por ela, de sua morte e ressurreição. O alimento espiritual, tomado conjuntamente, fortalece a relação fraterna da comunidade, no serviço e na unidade que o pão partilhado evoca (1Cor 10,16-17).
2. Em memória de mim
A ceia de Jesus é memorial porque, ao repeti-la, recorda-se o profundo significado que Jesus conferiu ao gesto de partir o pão e de entregá-lo aos discípulos, juntamente com o cálice, às vésperas de sua paixão (LENAERS, 2014, p. 240). Não se trata de um exercício mental ou psicológico, mas de um rito que, por sua virtude, conecta os participantes ao fato comemorado. Ao celebrar a ceia, os convidados se tornam presentes, em mistério, ao evento fundador, sendo transportados pelos sinais à passagem do mar Vermelho, como acontecimento histórico que já não pode repetir-se. A ceia pascal judaica (Ex 12,14) ilumina a Eucaristia como a Páscoa cristã. Não há diferença entre comer o cordeiro, o ázimo e a erva amarga daquela última ceia no Egito e comer os mesmos elementos da Páscoa atual. De acordo com Taborda (2015, p. 73), essa perspectiva da ceia judaica esclarece o sentido da Eucaristia como memorial da Páscoa de Jesus. Nas palavras desse autor:
Nos sinais do pão e do vinho deixados por Jesus, nós nos tornamos hoje contemporâneos do evento redentor da morte e ressurreição do Senhor. Em mistério participamos do acontecimento histórico único e irrepetível que trouxe a redenção para a humanidade. Por esse pão e esse vinho sobre os quais se pronunciou o memorial de ação de graças e para os quais se suplicou a vinda do Espírito Santo, somos realmente transportados na fé ao evento fundador e nos tornamos participantes dele. Também nós podemos dizer: este pão que agora partimos é aquele que Jesus partiu significando profeticamente seu corpo entregue por nós; este vinho que está agora aqui no cálice é aquele vinho que Jesus bebeu na última ceia anunciando profeticamente o seu sangue derramado (TABORDA, 2015, p. 74).
Eis por que, no coração da prece eucarística, foi introduzida pela reforma pós-conciliar uma aclamação, situada logo depois do relato institucional, a ser alegremente cantada pela assembleia: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda” (cf. 1Cor 11,26). Trata-se aqui de um anúncio litúrgico-comunitário, não apenas verbal, mas unindo gestos e palavras. Aclamar significa afirmar, sentenciosa e efusivamente, uma verdade. Os corpos, de pé, evocam a firmeza e a importância da sentença – esse é um ato solene. Contudo, o rito foi enfraquecido pelo influxo dogmático e devocional: muitos ainda permanecem de joelhos – respaldados por normas confusas do Missal (IGMR 42-44). Há que se perguntar, neste ponto: o que prescrições como essas guardam de clericalismo? Como resposta, poderíamos dizer: uma ceia íntima e festiva desnaturada em cerimônia formalista; gestos proféticos e domésticos de serviço, que denunciam a sedução do poder, transformados em atos sacrificais hieráticos; convidados ao banquete transformados em abstinentes adoradores; altares monumentais elevados e distanciados do povo; ministros “sacerdotalizados” e destacados do corpo eclesial… Que Igreja nasce daí?
O inciso “(eis o) mistério da fé”, que antecede a aclamação, é tirado de 1Tm 3,9.16: “Guardem o mistério da fé”; “Grande é o mistério da fé”. O mistério é o evento da morte e ressurreição do Senhor, evento englobante que abarca toda a vida do Servo neste mundo e sua glorificação, conforme o demonstra o antiquíssimo hino onde está inserido esse inciso (BUYST, 2005, p. 25).
3. Para um dia festivo, uma ceia festiva
O domingo apoia-se na mística do sábado judaico, o Shabat. Para os judeus, a prescrição sabática envolve o gozo, o deleite, a beleza e o prazer (HESCHEL, 2000, p. 32-35), elementos próprios da festa (PEREZ, 2002, p. 15-58). Depois da ressurreição, os discípulos e discípulas reuniam-se para celebrar, no primeiro dia da semana, em memória do Crucificado-Ressuscitado. Três passagens do Novo Testamento, citadas na Carta Apostólica Dies Domini, n. 21 (JOÃO PAULO II, 1998, p. 21), atestam esse fato.
Os três textos bíblicos citados evocam, de maneira mais ou menos explícita, a ligação do domingo com o serviço, a liturgia e o testemunho, como obras da fé celebradas na Eucaristia. A primeira carta aos Coríntios (16,1-2) trata da coleta fraterna em favor da comunidade de Jerusalém, evocando o serviço. Os Atos dos Apóstolos narram uma Eucaristia, celebrada no dia do Senhor, em Trôade (20,7-12). O Apocalipse fala de uma visão do apóstolo no dia do Senhor, à qual se segue a ordem de escrever às Igrejas da Ásia Menor (1,10-11). A liturgia é o lugar originante do serviço e do testemunho: o agir e a vida cristã decorrem da experiência celebrativa do mistério pascal de Cristo.
A descrição extrabíblica mais antiga da ceia dominical dos cristãos está na I Apologia de Justino (†165). O domingo era celebrado como festa pascal semanal, em memória da ressurreição de Cristo: “É no dia do sol que juntos nos reunimos, porque este dia foi o primeiro, no qual Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, este no qual Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos” (JUSTINO, 2006, p. 310-313, tradução nossa). O apologista conecta a ressurreição com o primeiro dia da criação, estabelecendo um nexo entre a criação, o evento salvífico cristão e a celebração da Eucaristia dominical. Celebrar o dia do Senhor remete ao evento da criação, renovado pela Páscoa de Cristo. Contudo, o mesmo Justino, após a celebração que descreve (liturgia), evoca a solidariedade da comunidade para com os necessitados (serviço), bem como o enfrentamento de perseguições, teor principal de suas apologias (testemunho).
O Vaticano II, já tendo ensinado o lugar central da liturgia na vida da Igreja (SC 10), recupera o domingo como Páscoa semanal, dia de festa e de alegria, dia por excelência da Eucaristia, da Palavra e da memória pascal de Jesus Cristo (SC 106). Reforça o caráter festivo desse dia, chamando-o de “primordial dia de festa” (primordialis dies festus), a ser assim proposto à piedade dos fiéis. O caráter festivo do domingo é elemento irrenunciável para a vivência mais fundamental da Eucaristia: a celebração dominical.
4. Do rito ao mistério
Celebrar equivale a festejar como expressão profunda da vida, distante da lógica utilitarista e sem submissão aos enquadramentos racionais e pragmáticos da sociedade. A festa é da ordem do gratuito, do inútil, do não tempo (TABORDA, 2019, p. 63-67). Ela rompe a espinha dorsal da ideologia da produção, da urgência e dos papéis sociais. Nela, a verdade mais nuclear da vida humana vem à tona. Sua linguagem é a poesia, a arte, o rito e o símbolo, capazes de descer às profundezas do ser, ao contrário do discurso, da racionalidade e da especulação. Ela traz uma profecia incômoda e, ao mesmo tempo, esperançosa, que se resume nas palavras de Paulo: “Se é para esta vida que colocamos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todas as pessoas, as mais dignas de compaixão” (1Cor 15,19). O rito, como linguagem própria da festa, antecipa um futuro de gozo e plenitude, diante do desespero e do limite desta vida. Ele faz a ligação entre o passado e o futuro, qualificando o presente. Na mesma linha, a Sacrosanctum Concilium (SC) dá importante chave para a percepção da liturgia e para a compreensão do mistério pascal de Cristo, quando afirma:
A Igreja se preocupa vivamente que os fiéis cristãos não assistam como estranhos ou espectadores mudos a este mistério de fé, mas que, por meio dos ritos e das preces, alcancem uma boa compreensão dele, participem da ação sagrada consciente, piedosa e ativamente, sejam instruídos na Palavra de Deus, se nutram à mesa do corpo do Senhor, rendam graças a Deus oferecendo a vítima imaculada, não somente pelas mãos do sacerdote, mas juntamente com ele, aprendam a oferecer a si próprios e dia a dia, por meio de Cristo mediador, se aperfeiçoem na unidade com Deus e entre eles, de modo que Deus seja finalmente tudo em todos (SC 48).
Não é a compreensão dos ritos que promove a participação, mas é a mediação do rito e das orações que viabiliza a participação ativa e consciente no mistério. Por trás disso está subentendida a compreensão do axioma lex orandi – lex credendi, isto é, “a norma da oração (liturgia) determina a norma da fé”. Por conseguinte, é preciso cuidar do rito e das orações litúrgicas como unidades fundamentais da festa cristã e, ademais, como elementos memoriais capazes de nos aproximar da boa compreensão do mistério, elemento que ultrapassa as barreiras temporais. Daí ser possível aventar a hipótese de memória do futuro (TABORDA, 2015, p. 64-69): não só o evento da salvação não está preso ao passado, mas, ao mesmo tempo, também é da natureza da festa (e do rito) remeter ao futuro. A abordagem litúrgica da Eucaristia, ao se voltar para o rito como lugar teológico, ajuda a reconhecer que a grandeza do mistério eucarístico não está nas conclusões que tiramos dele, mas no próprio ato celebrativo e na forma de realizá-lo.
5. Recuperar o caráter celebrativo
Impressiona o caráter estático ainda predominante nas assembleias, fruto de uma compreensão assaz dogmática do sacramento, a qual, por certo, não propicia a celebração, mas enrijece e “cerimonializa” a ação litúrgica. Os movimentos dos fiéis, reduzidos à procissão de comunhão, ao levantar-se, ao ajoelhar-se e ao assentar-se, conotam a concepção eucarística pré-conciliar: um espetáculo a ser assistido. Certamente, bastante se deve à configuração dos espaços (programa iconográfico), que muito pouco correspondem aos espaços litúrgicos do período clássico do rito romano.
Por isso, a reforma da liturgia e do Ordo Missae requer mais passos para se efetivar. Por exemplo: voltar o altar para o povo, embora tenha sido um passo importante, não foi suficiente. O rito supõe que os fiéis circundem o altar para oferecer o sacrifício de louvor ao Pai, juntamente com aquele que preside (cf. Orações Eucarísticas I e IV). A expressão omnium circumstantium (literalmente, “todos [os fiéis] que, de pé, circundam” o altar) não se refere a uma metáfora, mas à condição sacerdotal do povo, a qual se apoia nesse testemunho antigo da tradição romana (séculos IV-VII), reafirmado pela SC 48 e pela Lumen Gentium, n. 11: o povo oferece a oblação juntamente com o presidente e concorre com ele na ação sagrada.
Outro dado que sinaliza o baixo índice de recepção da reforma conciliar diz respeito à “verdade dos sinais” (IGMR 321): que o pão se pareça alimento verdadeiro e se possa realizar a fração do pão para manifestar mais claramente a importância do sinal da unidade de todos num só pão e da caridade fraterna. As partículas podem ser adotadas tão somente quando o número de participantes e outras razões pastorais o exigirem. Segundo Lenaers:
O pão partido e distribuído, revelação do modo pelo qual Jesus está presente no mundo, perde muito do seu sentido quando transformado em puro objeto de adoração. O encontro com Jesus se restringe, neste caso, a um recordar meditativo, enquanto as palavras imperativas de Jesus convocam justamente para comer e beber (LENAERS, 2014, p. 242).
Também de acordo com o autor: “Eis por que é tão importante que tudo seja verdadeiro, pois só o que é verdadeiro pode ser simbólico” (LENAERS, 2014, p. 242). Assim, em grandes assembleias com comunhão sob duas espécies, cuide-se de guardar o simbolismo do único cálice, usando, para a distribuição, cálices em tamanhos bem menores, para não se igualarem ao cálice principal. E ainda:
É muito recomendável que os fiéis, como também o próprio presidente deve fazer, recebam o corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma missa e participem do cálice nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a comunhão se manifeste mais claramente como participação no sacrifício celebrado atualmente (IGMR 85).
Os dois breves exemplos não são apresentados como soluções para a questão proposta. Pretendem, sim, contribuir para a verificação do caminho ritual como possibilidade de aproximação das fontes da liturgia, da Tradição e das Escrituras. Permanece a tarefa de recepcionar, promover e aprofundar a reforma da liturgia da Igreja, partindo sempre do rito, de modo que a ação sacramental não seja condicionada por uma ideia que fazemos do sacramento, mas, ao contrário, seguindo a intuição conciliar (SC 48), que a ação ritual e orante da Igreja promova um bom conhecimento e participação do mistério.
Referências bibliográficas
BOURGEOIS, Henri. O testemunho da Igreja antiga: uma economia sacramental. In: SESBOÜÉ, Bernard (org.). Os sinais da salvação: séculos XII-XX. São Paulo: Loyola, 2005.
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DI SANTE, Carmine. Liturgia judaica: fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo: Paulus, 2004.
HESCHEL, Abraham Joshua. O Shabat: seu significado para ao homem moderno. São Paulo: Perspectiva, 2000.
JOÃO PAULO II. Dies Domini: Carta Apostólica sobre a santificação do domingo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1998.
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PENNA, Romano. A ceia do Senhor: dimensão histórica e ideal. São Paulo: Loyola, 2018.
PEREZ, Léa Freitas. Antropologia das efervescências coletivas. In: PASSOS, Mauro (org.). A festa na vida: significado e imagens. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 15-58.
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TABORDA, Francisco. O memorial da Páscoa do Senhor: ensaios litúrgico-teológicos sobre a Eucaristia 2. ed. São Paulo: Loyola, 2015.
TABORDA, Francisco. Sacramentos, práxis e festa. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2019.
Danilo César* e Penha Carpanedo**
Danilo César* e Penha Carpanedo***presbítero da arquidiocese de Belo Horizonte, liturgista formado pelo Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e doutorando pela Faje/Capes (BH). Professor de Liturgia na PUC Minas, no Ista, na Unisal e na Facasc. Membro do Secretariado Arquidiocesano de Liturgia. Membro da Rede Celebra de animação litúrgica. E-mail: [email protected]
**religiosa da Congregação Discípulas do Divino Mestre, mestra em Liturgia, membro da Rede Celebra de animação litúrgica. E-mail: [email protected]