Publicado em março – abril de 2018 - ano 59 - número 320
Desafios evangelizadores na Amazônia
Por Cardeal dom Cláudio Hummes, ofm
Um novo tempo foi inaugurado na Igreja católica pelo papa Francisco. Muitos o consideram um verdadeiro kairós. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), um documento programático, e em vários outros documentos e pronunciamentos seus, o papa Francisco convida a Igreja para uma verdadeira reforma. A reforma, ele a pensa no sentido de uma Igreja totalmente missionária, misericordiosa, pobre e para os pobres, uma Igreja mais aberta, dialogante, acolhedora e empenhada no cuidado da nossa casa comum, o planeta Terra.
Sobre uma Igreja totalmente missionária, ele diz na Evangelii Gaudium que “a atividade missionária representa ainda hoje o máximo desafio para a Igreja […] a primeira de todas as causas […], sendo necessário passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (n. 15). Mais adiante, ao falar da necessária transformação missionária de toda a Igreja, ele diz: “Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho duma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos serve uma simples administração. Constituamo-nos em estado permanente de missão, em todas as regiões da terra” (n. 25). E ainda: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual do que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’” (n. 27).
O empenho da Igreja no cuidado de “nossa casa comum”, o papa Francisco o propôs em várias ocasiões, mas principalmente na sua encíclica Laudato Si’, de maio de 2015. Essa encíclica é um documento histórico. Trata da grave e urgente crise socioambiental e climática que em nossos dias desafia globalmente a sociedade humana. A nossa irmã, a Mãe Terra, começa a demonstrar que já não aguentará por muito tempo a desvairada e gananciosa intervenção humana de que é vítima, principalmente nos últimos dois séculos. Trata-se de grave crise ecológica mundial. Ela se torna evidente no drástico crescimento da temperatura global nas últimas décadas, causando alarmante mudança climática. Estamos nos aproximando de uma degradação irreversível da Mãe Terra. O papa Francisco afirma ser necessário e urgente sair da indiferença ou das hesitações para tomar as decisões exigidas pela crise. Não se pode esperar mais tempo. Adiar as mudanças para mais tarde seria demasiado tarde. Isso o disse também, na COP21, em Paris, o então ministro das Relações Exteriores da França, Laurent Fabius: “Plus tard, trop tard!” (mais tarde, tarde demais!).
Contudo, o papa Francisco sublinha que a questão ambiental não apresenta somente uma dimensão econômica e sociopolítica, mas também uma dimensão ética e religiosa, de tal forma que a Igreja tem o dever de nela se empenhar. A dimensão ética consiste na nossa responsabilidade pelos pobres, os mais afetados. O papa diz que o grito da natureza e o grito dos pobres são o mesmo grito, em razão do abandono a que são relegados tanto a natureza como os pobres – o abandono, a exploração, o descarte, o uso e abuso indevidos, o lixo, a sujeira, e assim por diante.
Outro aspecto ético é nossa responsabilidade para com as gerações futuras. Que tipo de mundo queremos deixar aos nossos filhos? Eles têm o direito de que lhes leguemos um planeta viável, saudável, sustentável e bonito.
A dimensão religiosa da questão se baseia na nossa fé num Deus criador. Deus criou o universo e nos entregou, como dom especial, a Mãe Terra, para dela tirarmos nosso sustento e para dela cuidarmos. A Igreja precisa hoje sublinhar esta nossa fé e nosso consequente louvar a Deus por todas as suas criaturas, nosso cuidado para com todas elas, nosso apreço por todas elas. Outro aspecto fundamental da dimensão religiosa da questão é o fato de que o Filho de Deus se encarnou e assim tomou um corpo formado pelos elementos da Mãe Terra, um corpo que depois ressuscitou e assim já está plenamente glorificado, também como profecia da nossa ressurreição e da promessa de novos céus e nova terra. O sacramento da eucaristia torna sempre presente esta misteriosa realidade da fé na vida cotidiana da Igreja. No universo criado, tudo está ligado. Há uma comunhão universal, uma espécie de família universal. Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, morto e ressuscitado, é o centro de unidade e o ápice desta comunhão.
É neste contexto que devemos identificar os desafios evangelizadores na Amazônia. Ela, com sua realidade formada de imensas águas, florestas e biodiversidade, tendo como guardiães milenares deste sistema os indígenas, é citada pelo papa Francisco na Laudato Si’, que a chama de um dos dois pulmões do planeta. O outro é a bacia do Congo, na África. Diz o papa: “Não se ignora a importância destes lugares para a totalidade do planeta e para o futuro da humanidade. Os ecossistemas das florestas tropicais tem uma biodiversidade de enorme complexidade, quase impossível de conhecer completamente, mas, quando estas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies, ou essas áreas transformam-se em áridos desertos” (n. 38).
A Amazônia ocupa não somente grande parte do Brasil (a metade do território brasileiro), mas também uma parte menor em outros oito países contíguos (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e as antigas três Guianas). É o que se chama de Pan-amazônia. É verdade que o Brasil tem 67% dessa Pan-amazônia. Ela compreende 7,8 milhões de km², 34 milhões de habitantes, cerca de 3 milhões de indígenas de 390 povos indígenas diversos, muitos dos quais (cerca de cem) ainda isolados ou não contatados, 240 línguas faladas pertencentes a 49 famílias linguísticas.
Essa Amazônia, o papa Francisco a confia de maneira especial à Igreja. Quando esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, ele falou aos bispos brasileiros e lhes disse que “a Amazônia é um teste decisivo e um banco de prova para a Igreja e para a sociedade”. E ainda: “A Igreja está na Amazônia não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início, a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”. Para a Amazônia, Francisco fala de uma Igreja “com rosto amazônico” e da necessidade de um “clero autóctone”. Igreja de rosto amazônico significa uma Igreja inculturada, encarnada, que assume a história, a identidade, os problemas, os desafios, as aspirações e os sonhos da gente da Amazônia, de modo especial dos povos originários, os indígenas. Uma Igreja profética, missionária, defensora da vida, dos direitos humanos, da preservação da natureza. Um clero autóctone significa também um clero indígena, diáconos, sacerdotes e bispos indígenas.
Para realizar melhor este trabalho missionário, de evangelização e de preservação da Amazônia, já a Conferência de Aparecida (2007) afirmava ser necessário “estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos, que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva ao bem comum. Apoiar, com recursos humanos e financeiros necessários, a Igreja que vive na Amazônia” (n. 475).
De fato, já antes de Aparecida, a CNBB havia criado em 1997 a Comissão Episcopal para a Amazônia. E há dois anos, depois de diversos encontros anteriores que reuniram, de uma ou outra forma, representantes de dioceses, prelazias, vicariatos apostólicos da Pan-amazônia, fundou-se em Brasília, em 2014, a Repam (Rede Eclesial Pan-amazônica). Os fundadores da Repam são nossa Comissão Episcopal para a Amazônia (da CNBB), o Departamento de Justiça e Solidariedade (do Celam), a Clar (Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas) e o Selacc (Secretariado Latino-Americano e Caribenho da Cáritas).
Os principais objetivos da Repam são, entre outros:
– articular todas as forças vivas, eclesiais e sociais que compõem a Repam, no sentido de um serviço eclesial ao povo da região, especialmente aos mais pobres e vulneráveis, tendo como grande referência a Laudato Si’;
– promover uma pastoral de conjunto – como propôs a Conferência de Aparecida –, uma colaboração territorial e a dinamização de ações articuladas, à luz de uma visão comum pan-amazônica;
– promover na Pan-amazônia a inculturação do evangelho, uma Igreja de “rosto amazônico” e a formação de um clero autóctone;
– colaborar na promoção integral das populações amazônicas, para que sejam sujeitos de transformação na Igreja e na sociedade;
– fazer tudo para que os povos indígenas voltem a ser sujeitos de sua história, também de sua história religiosa;
– promover e assumir o respeito às culturas, tradições, costumes, crenças, organizações e ritmos da gente da Amazônia;
– assumir a opção preferencial pelos mais pobres e excluídos desses territórios;
– defender os direitos humanos e particularmente os direitos dos povos indígenas, ribeirinhos, afrodescendentes e periferias urbanas;
– trabalhar no sentido do respeito e cuidado pelo meio ambiente, pela ecologia, na Amazônia;
– procurar ter incidência nas políticas públicas de caráter local, nacional e internacional em favor da Pan-amazônia e dos diversos territórios amazônicos;
– caminhar junto com as populações locais, com os povos indígenas e outros grupos vulneráveis para apoiar, articular, formar agentes locais e capacitar lideranças.
Esta é a Repam, que vai se desenvolvendo cada vez mais. Contudo, o caminho a percorrer é longo. Por seu lado, a Comissão Episcopal para a Amazônia, além de ser também integrante da Repam, realiza um programa próprio na Amazônia Legal do Brasil. Um dos mais recentes eventos foi o II Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, realizado em Belém (PA), de 14 a 16 de novembro passado. Ali foram apresentados os maiores desafios evangelizadores atuais da região. Eis alguns, a seguir.
Poucos operários na vinha do Senhor
Faltam missionários/as. Sobretudo, ministros ordenados, de modo particular sacerdotes. Todos nós, bispos, sabemos o que significa não ter padres ou ter poucos padres. Isso faz uma diferença substancial. Sabemos que não só os padres podem e devem ser missionários, mas também consagrados/as não ordenados e leigos/as. Mas a falta de padres torna tudo extremamente mais precário e difícil. Basta lembrar que um rebanho sem pastor corre grandes e constantes riscos de se perder. Só um padre (ou bispo) é pastor por completo. Os sacramentos do cotidiano dos cristãos – eucaristia, confissão e unção dos enfermos –, só o padre (e o bispo) pode administrar. Como os cristãos podem desenvolver uma vida cristã plena e comunitária sem esses sacramentos? Repito, são sacramentos da vida cotidiana dos nossos cristãos. Se é “a eucaristia que faz a Igreja”, se ela é “o banquete da vida”, forma a comunidade e a alimenta, então entendemos quanto se torna precária a vida de quem só a recebe uma ou outra vez na vida. A confissão dos pecados é igualmente um sacramento essencial para os cristãos. Nossos católicos querem se confessar, pois a confissão lhes dá a certeza do perdão de Deus e da paz com Deus. Jesus morreu para o perdão dos pecados, dizem as Escrituras. Segundo o Evangelho de João, Jesus ressuscitado, ao aparecer aos apóstolos, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,22-24). No Evangelho de Lucas, Jesus ressuscitado diz aos seus apóstolos: “Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que, em seu nome, fosse proclamado o arrependimento para a remissão dos pecados” (Lc 24,46-47). Também o sacramento da unção dos enfermos, instituído por Jesus, quando manda seus discípulos ungir os doentes e rezar sobre eles, é profundamente desejado pelo católico às portas da morte. Aliás, estes três sacramentos – eucaristia, confissão e unção dos enfermos –, a Igreja os oferece a quem está para morrer. É o momento decisivo da vida desta pessoa. Às vezes, tanto fazemos para converter as pessoas e as chamamos para participar da vida comunitária, mas na hora de sua morte estamos ausentes! Faltamos no momento decisivo. Ora, quando nem há sacerdotes, como em tantas situações da Amazônia, tudo é ainda mais precário e difícil para os cristãos.
Contudo, não faltam somente sacerdotes, mas também missionários leigos e consagrados não ordenados, que exerçam o ministério da Palavra e tantos outros ministérios que podem ser confiados a leigos/as.
Todos estes missionários/as precisam de formação adequada para as circunstâncias culturais, sociais e históricas daqueles povos. Faltam recursos financeiros, instituições e formadores.
A evangelização dos povos indígenas
Este é outro grande desafio para a Igreja na Amazônia. Primeiro, porque é preciso enfrentar com seriedade e sabedoria a inculturação do evangelho na história e cultura, na religião, costumes e vida cotidiana dos diversos povos indígenas. Muito pouco se conseguiu fazer até hoje. A fé cristã foi inculturada, nos primeiros séculos, na cultura europeia, originando assim um cristianismo europeu. Foi uma inculturação bem-sucedida. Porém, os missionários, que da Europa se espalharam pelo mundo e finalmente também no Novo Mundo (as Américas), implantaram esse cristianismo europeu por toda parte. As culturas originárias desses povos foram quase totalmente ignoradas, quando não destruídas pelos colonizadores. A Igreja sempre esteve consciente da necessidade da inculturação da fé em todas as culturas, mas por diversas circunstâncias, entre as quais o temor do surgimento de Igrejas nacionais separadas, muito pouco conseguiu realizar neste campo nas culturas não europeias.
O papa Francisco, na Evangelii Gaudium, levanta de novo e decididamente a questão da inculturação e diz:
“O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural, mas permanecendo o que é, na fidelidade total ao anúncio evangélico e à tradição da Igreja, o cristianismo assumirá também o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido e se radicar. […] Pela inculturação, a Igreja introduz os povos com as suas culturas na sua própria comunidade, porque cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido” (n. 116).
E mais adiante diz: “Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotadas pelos povos europeus num determinado momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos limites de compreensão e expressão duma cultura. É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério de Cristo” (n. 118).
Sobre o temor de quebra de unidade da Igreja, Francisco diz:
Se for bem entendida, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. É o Espírito Santo, enviado pelo Pai e o Filho, que transforma os nossos corações e nos torna capazes de entrar na comunhão perfeita da Santíssima Trindade, onde tudo encontra sua unidade […]. É o Espírito Santo que suscita uma abundante e diversificada riqueza de dons e, ao mesmo tempo, constrói uma unidade que nunca é uniformidade, mas multiforme harmonia que atrai (n. 117).
O segundo grande desafio para a evangelização dos indígenas é a falta de sacerdotes que convivam com eles. Parece cada vez mais difícil encontrar missionários que aceitem morar com os indígenas. Antigamente, isto era normal. Hoje, os índios se sentem cada vez mais distantes e carentes de uma convivência com os missionários. Isso os faz sentirem-se esquecidos, abandonados e fragilizados. É o que facilita a entrada dos evangélicos pentecostais, que ali vão, fazem uma semana missionária sem que o padre saiba (porque não vive ali) e, no fim, fazem um dos indígenas pastor e toda a comunidade passa a ser evangélica – agora, sim, com um pastor residente com eles! Até os sociólogos alertam a Igreja Católica, dizendo que grandes contingentes de católicos das periferias continuarão passando para os pentecostais porque há poucos padres católicos residentes com os pobres das periferias da cidade e do campo ou com os indígenas. Assim, vamos perdendo muitos frutos do enorme esforço e sacrifício de vidas inteiras dos antigos missionários na Amazônia.
A urbanização crescente e desordenada (o índio urbano)
A Amazônia, mesmo no meio da imensa floresta, registra hoje um processo crescente de urbanização. Já não são apenas rios e matas, com as populações indígenas e ribeirinhas, os seringueiros e outros grupos da floresta que compõem a realidade amazônica do Brasil. Há uma onda de migração do interior para a cidade. Também de índios, o que cria um novo grupo urbano: o índio urbano, totalmente desenraizado e despreparado para competir na vida da cidade. A migração se dá principalmente em razão do abandono do interior e das comunidades indígenas pelo poder público. Todos tentam buscar soluções na vida urbana. De fato, porém, a grande maioria terá na cidade condições igualmente péssimas, quando não piores e irreversíveis. A Igreja tem suas estruturas e sua presença maior nas cidades, grandes ou pequenas. Sente-se envolvida e exigida fortemente pelas necessidades do povo urbano, e assim sua presença no interior e junto aos índios se fragiliza. E como a Igreja consegue lidar com o fenômeno do índio urbano? Eis aí grandes desafios!
Os megaprojetos de desenvolvimento (hidrelétricas, mineração, desmatamento, soja e gado), a crise ecológico-climática e a profecia.
Outro grande desafio evangelizador é a postura profética da Igreja na Amazônia diante dos megaprojetos de desenvolvimento (hidrelétricas, mineração, desmatamento, agronegócio: soja, gado, milho etc.), provenientes do governo e da iniciativa particular. Há décadas a Igreja na Amazônia decidiu posicionar-se criticamente diante desses projetos. Sofreu perseguições e mortes. Hoje, os megaprojetos se multiplicaram e seguem aceleradamente. A questão se agrava, pois buscam lucros a qualquer preço, seja social, seja ecológico: desmatam, contaminam solo, rios, atmosfera, destroem e degradam a natureza. E isso quando sabemos hoje, mais do que antes, seja pela Laudato Si’, seja pela COP21, que a crise ambiental é real, grave e urgente. No recente II Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, já citado, os participantes (bispos, sacerdotes, religiosos/as, leigos/as) dizem na Carta Compromisso:
Os projetos predatórios que aqui se alastram, pelos rios e pelas matas, não levam em conta os direitos da natureza, dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, que, desde sempre, convivem em harmonia e respeito com o ambiente, na casa comum, dádiva milenar. O mito do progresso sem limites e do lucro a qualquer custo continua prometendo o sonho do paraíso aqui na terra, ao alcance de todos. Na realidade, assistimos à exclusão, à discriminação dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, ao inchaço das periferias pobres de nossas cidades. Unimos a nossa voz a tantos que denunciam que “este sistema exclui, destrói e mata”. Estamos conscientes da nossa responsabilidade de denunciar os males e de anunciar a esperança do reino de Deus.
Conclusão
Termino com a palavra do papa Francisco, no encontro que teve com os bispos brasileiros por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 2013:
A Amazônia é como um teste decisivo, um banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileira. […] Desde o início a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. […] Faz falta consolidar os resultados alcançados no campo de formação de um clero autóctone, inclusive para se ter sacerdotes adaptados às condições locais e consolidar, por assim dizer, “o rosto amazônico” da Igreja. Sobre isto peço, por favor, para serem corajosos, para terem ousadia.
Cardeal dom Cláudio Hummes, ofm
Cardeal dom Cláudio Hummes, ofm, nasceu em Montenegro (RS). Foi bispo da Diocese de Santo André (SP) de 1975 a 1996, ano em que foi nomeado arcebispo de Fortaleza (CE). Em 1998 foi nomeado arcebispo de São Paulo. Foi criado cardeal, em 2001, pelo papa são João Paulo II. Em 2006, foi nomeado prefeito da Congregação para o Clero. Em 2010, o papa Bento XVI aceitou seu pedido de renúncia por limite de idade. Desde 2011 exerce a função de vigário-geral da Arquidiocese de São Paulo e acompanha as coordenações pastorais do mundo do trabalho, dos movimentos sociais e das novas comunidades no âmbito diocesano.