Artigos

Publicado em janeiro-fevereiro de 2025 - ano 66 - número 361 - pp. 4-13

Entrevista – Jubileu de Esperança 2025: A esperança não decepciona nem engana

Por Dom João Justino de Medeiros Silva*

Dom João Justino, poderia nos falar um pouco de sua vida: onde o senhor nasceu, sua família, vocação, estudos…?

João Justino: Nasci na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Sou o quarto filho de uma família de cinco filhos; tenho duas irmãs e dois irmãos. Nasci em 1966, um ano após o Concílio Vaticano II. Fui tomando consciência do que era a Igreja por meio da catequese, em preparação à primeira Euca­ristia. Ali, na comunidade paroquial Nossa Senhora do Líbano, na cidade de Juiz de Fora, pude fazer todo o itinerário de cresci­mento de fé e crescimento vocacional, tendo ido, em fevereiro de 1984, para o Seminário Arquidiocesano Santo Antônio, onde estu­dei Filosofia e Teologia. Também estudei Ciências Sociais, na Universidade Federal de Juiz de Fora, e tive ainda a oportunidade de estudar Pedagogia. Fui ordenado padre em dezembro de 1992. Trabalhei dezesseis anos na formação presbiteral, no seminário arquidiocesano em Juiz de Fora. Atuei em três paróquias. Fui nomeado bispo auxiliar de Belo Horizonte em dezembro de 2011. Em Belo Horizonte fiquei até 2017, quando fui nomeado arcebispo coadjutor de Mon­tes Claros, norte de Minas. Ali fui arcebispo metropolitano e, em dezembro de 2022, fui nomeado arcebispo de Goiânia. Na CNBB, tive a oportunidade de presidir dois man­datos: a Comissão Episcopal para Cultura e Educação e, em maio de 2023, fui eleito primeiro vice-presidente. Neste momento, estou também coordenando a Comissão Es­pecial para o Jubileu do ano 2025.

A Igreja se prepara para viver o “Jubileu de Esperança”, que será inaugurado em 24 de dezembro de 2024. Por que o papa Francis­co escolheu o tema da esperança e afirma que todos somos “peregrinos de esperança”?

João Justino: É importante lembrar que o papa Francisco foi eleito em março de 2013. E logo ele quis oferecer à Igreja a oportunidade de um jubileu extraordiná­rio, fora das datas mais comuns dos jubileus. Teve início, em dezembro de 2015, o Jubi­leu Extraordinário da Misericórdia. Naquele momento, o papa nos deu uma bula com o título: “Jesus, o rosto da misericórdia do Pai” [Misericordiae Vultus]. E foi um Ano Santo be­líssimo, marcado inclusive por uma lembran­ça muito forte: a indicação do papa de que, em todas as dioceses, os bispos diocesanos estabelecessem portas santas, para visibilizar a experiência da passagem, da mudança na vida, a partir da experiência da misericórdia. Pois bem, o papa celebrou o Ano Santo da Misericórdia e agora se aproxima o Jubileu de 2025, quando celebraremos 2.025 anos do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Em si, o jubileu já era esperado, previsto, mas o papa Francisco nos dá essa novidade que é caracterizar, tematicamente, esse jubileu, propondo como eixo o tema da esperança.

O papa, em fevereiro de 2022, escreveu uma carta a Dom Rino Fisichella, que é hoje pró-prefeito do Dicastério para a Nova Evangelização. Nessa carta, o papa apresenta a esperança como tema do Jubileu de 2025. O tema “Peregrinos de esperança”, apre­sentado em 2022, inscreve-se no contexto pós-pandemia. Naquele momento, ainda estávamos com muitos reflexos da pande­mia do coronavírus, que ceifou, só no Bra­sil, praticamente setecentos mil vidas e, no mundo, mais de dez milhões de vidas. Foi um impacto, uma experiência muito dura, que tocou o coração das pessoas, trazendo desesperança, a muitos o desânimo, muitas perdas em vários âmbitos da vida. Além disso, outro fator é o contato direto que o papa tem com a realidade múltipla de sofrimento no mundo inteiro, países em que a fome ainda é uma realidade muito dura, as situações das guerras. Recentemente, tive acesso a um relato de que há, neste momento, no mundo inteiro, 52 países em situações de conflito. Quando são consideradas guerras entre países ou nacionais, fala-se de 92 países envolvidos. Há muita gente sofrendo com guerras. Há, também, o problema seriíssimo da migração. Então, o papa Francisco, vendo essa reali­dade, reconhece que é preciso manter acesa a chama da esperança. Essa esperança nos foi dada já na experiência da fé batismal, no amor de Cristo que foi derramado em nossos corações, como diz o apóstolo Paulo: “a esperança que não decepciona”, ou “que não engana”. Aliás, é este o título que o papa escolheu para a bula que publicou no dia 9 de maio de 2024: Spes non Confundit (“A esperança não engana, não decepciona”). Um convite a que nós, cristãos, retomemos e renovemos a esperança, que é e está direta­mente associada à fé e à caridade como uma das virtudes teologais. Por isso “Peregrinos de esperança”.

O papa reconhece que todos nós espera­mos; faz parte da condição humana, da na­tureza humana, a experiência da esperança. Pode estar, às vezes, num nível meramente terreno, mas, do ponto de vista da fé, se abre ao transcendente, à dimensão sobrenatural, à dimensão divina, o que é próprio de nós, que celebraremos o jubileu. Não se esquecendo de que viver é peregrinar. A peregrinação é uma metáfora da história, da vida de cada um de nós e da própria história humana. A gente pode dizer “peregrinar humano sobre esta terra”, para dizer que a vida é uma peregrinação.

Para Paulo Freire, a esperança não é um substantivo, mas um verbo: “esperançar”. Segundo Santo Agostinho, “a esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”. Como definir a esperança?

João Justino: Se olharmos o Catecismo da Igreja Católica, há um conjunto de pará­grafos, depois você pode conferir, parágrafos 1.817 a 1.821. Lá se fala da esperança como uma das virtudes teologais. De um modo muito simples de entender, ela corresponde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de toda pessoa. Isto é, toda pessoa que vem a este mundo tem, em seu coração, uma aspiração à felicidade. Isso corresponde à esperança. É por isso que, no caso, Paulo Freire, criando o verbo “esperançar”, para traduzir a ideia de “mais do que esperar, mas viver permanentemente movido pela esperança”, corresponde à palavra que você, padre Antonio Iraildo, recordava de Santo Agostinho. A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão. En­tão, a esperança tem forte acentuação no agir, pois, se é preciso ter coragem para mudar as coisas que não estão bem, isso significa que a esperança está ligada à ordem do agir, da ação. E essa ação há de ser movida pela aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de toda pessoa. Lembrando que é a felici­dade do Reino, não é a felicidade terrena, não é a felicidade que corresponde apenas à posse dos bens materiais. Essa felicidade é fugaz, passageira. Trata-se daquela feli­cidade da qual experimentamos lampejos

neste mundo, mas está aberta à vida eterna, à vida definitiva. Nesse sentido, a esperança é o próprio Senhor: nós esperamos nele, esperamos ele, esperamos com ele. E toda expressão de comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo haverá de suscitar em nós, reno­var em nós, fortalecer em nós a esperança. Há uma frase de Charles Péguy, um escri­tor católico francês, da passagem do século XIX para o século XX, que é muito bela, muito simples. Ele diz que “a caridade ama aquilo que é, e a esperança ama o que será”. Repito, Charles Péguy diz: “A caridade ama aquilo que é, e a esperança ama aquilo que será”. E aí entendo, por exemplo, por que as pessoas se dão em casamento. Elas se amam e depositam grande amor uma na outra, e a esperança de que aquele amor que estão vivendo será ainda mais fecundo no futuro. Por isso as pessoas se dão em casamento; por isso os casais acolhem o dom da vida, acolhendo os filhos; por isso os pais educam seus filhos, na esperança de que amanhã eles serão jovens, adultos, estarão amadurecidos, realizarão em sua vida tantos projetos. Então, a esperança nos move nesse sentido de amar aquilo que será. Isso nos faz agir hoje. Não esperamos de braços cruzados, mas esperan­çamos. Agimos com esperança.

O tema do jubileu – “Peregrinos de esperança” – faz-nos lembrar que estamos sempre a caminho e que a esperança é nosso horizonte. Olhando para nossa realidade brasileira, marcada por contrastes sociais e econômicos, onde, no espaço da política, vivemos uma sensação constante de polarizações, que influi também nas relações humanas, como alimentar a esperança de uma sociedade mais fraterna?

João Justino: Creio que aqui estamos falando do tema da esperança no horizonte do Jubileu do ano de 2025, estamos no re­gistro da fé. Eu diria assim: uma esperança meramente terrena poderá enganar-se, po­derá ser fonte de engano para muitos, poderá não conduzir a um caminho em que a pessoa experimente fazer parte de uma história que não termina em nós, mas está aberta ao definitivo, está aberta ao céu, po­demos dizer assim. E aí, para os que têm fé, a esperança está conectada ao mistério pascal. Cremos que a vida vence a mor­te, porque a vida venceu a morte em Jesus Cristo. Jesus acolheu a cruz, aceitou a cruz, entregou sua vida nela e a venceu por den­tro. Ora, podemos, nesse sentido, dizer que, para os cristãos, a própria cruz é sempre sinal de esperança. E aí compreendemos que somos chamados a alimentar a esperança em uma sociedade mais justa, mais fraterna, que supere as desigualdades que diminuem a dignidade das pessoas, ou lhes roubam a dignidade, ou as humilham em sua condição humana. A esperança em uma sociedade re­conciliada pede de nós, cristãos, a coragem de viver de modo pascal. O que é viver de modo pascal? É perceber que todos os dias somos chamados a alimentar-nos da fé no mistério da Páscoa, lembrando que as difi­culdades que podemos viver, os momentos difíceis, as tristezas, as angústias, tantas formas de sofrimento, tudo isso poderá ser trans­formado e é transformado cada dia. Então, viver de modo pascal é entender que todos os dias estamos passando por esse processo de transformação. É bela a natureza quando nos dá o exemplo da borboleta, não é? A lagarta se transforma em borboleta. Mas há um processo ali, processo que pede algum tempo. Nossa vida pede atenção, porque às vezes precisaremos de pequenos períodos, às vezes de períodos mais longos, mas sempre alimentando em nós a fé e a esperança de que alcançaremos aquilo que é o melhor, que viveremos e experimentaremos a vitó­ria da vida sobre a morte, da alegria sobre a tristeza, da esperança sobre a desesperança. Nesse sentido, nós, que somos cristãos, somos movidos pela esperança do Reino. E essa esperança do Reino de Deus nos alimenta, em cada dia de nossa vida, uma espiritua­lidade pascal. A liturgia da santa missa nos ensina isso todas as vezes que exclamamos: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e pro­clamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus”. A esperança está alicerçada aí. Somos semeadores dessa alegria pascal, dessa cora­gem pascal, e isso é que alimenta em nós o desejo de fazer o mundo ser melhor, de modificar as relações, de buscar a prática da justiça, de ser mais criteriosos no exercício das nossas escolhas, para que estejam em conformidade com o Evangelho, os valores que Jesus Cristo nos ensina.

Em um cenário global ferido por ódio, guerras, crises humanitárias e eventos climáticos extremos, qual o lugar da esperança nesse contexto?

João Justino: O lugar da esperança é um lugar especialíssimo, para que não deixemos que o desânimo, a falta de anima, de alma, tome conta de nós. Ao contrário, somos cha­mados à esperança diante de tantas situações difíceis, de ódio, guerras, crises humanitárias, eventos climáticos como estes que estamos vivendo. Tudo isso pede de nós, em primei­ro lugar, a coragem, o ânimo, a paciência. É interessante porque o papa Francisco associa, na bula Spes non Confundit, a esperança à pa­ciência, dizendo explicitamente (lembrando o apóstolo Paulo): “gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; a paciência, a firmeza; e a firmeza, a esperança”. Então, o papa diz que, em tais situações, através da escuridão, vislumbra-se uma luz. Descobre-se que a evangelização é sustentada pela força que brota da cruz e da ressurreição de Cristo, de que falávamos há pouco, no sentido do mistério pascal. E conclui essa parte, dizendo que isso faz cres­cer uma virtude que é parente próxima da esperança: a paciência, a capacidade de dar tempo (não de modo, vamos dizer assim, inerte; não estejamos parados). Podemos di­zer, uma paciência ativa, que, nesse sentido, se associa muito a uma palavra a que hoje se recorre, “resiliência”, a capacidade de a pessoa superar seus problemas com mais tranquili­dade, com mais serenidade, com leveza, com sabedoria. Se quisermos citar a música ou a poesia: “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Viver essa resiliência, que pede de nós a coragem, a paciência, tudo isso são facetas da esperança. Se perdemos a esperança, quando caímos, não queremos levantar. Mas a esperança é aquilo que nos atrai, lembra aquilo que falávamos antes, a aspiração de felicidade colocada por Deus no coração humano. Mesmo nas dificuldades, lembrar sempre que Deus já semeou em nosso coração esse desejo pela felicidade. Portanto, é algo que precisamos puxar lá de dentro, disso que o Senhor semeou em nós, para superarmos essas situações tão adversas que vivemos em nosso tempo.

A esperança cristã é nosso guia. Essa esperança não decepciona, como ensina o apóstolo Paulo e o lema do jubileu ilumina: “A esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações” (Rm 5,5). Como viver o jubileu em um

“Toda pessoa que vem a este mundo tem, em seu coração, uma aspiração à felicidade. Isso corresponde à esperança.”

Brasil tensionado pelo discurso de ódio, muitas vezes disseminado inclusive por boa parte da parcela que se diz cristã?

João Justino: Nenhum de nós pode se esquecer de que toda celebração do jubileu traz em si um apelo à conversão. Original­mente, na Sagrada Escritura, sabemos que o jubileu é um tempo de recomeço. Mas não é possível recomeçar sem revisão de vida. Portanto, celebrar o jubileu é estar atento àquilo que precisamos fazer de modo dife­rente em nossa vida. Repito, todo jubileu traz em si um apelo à conversão, ou um apelo a renovar nossa adesão de fé; por conseguin­te, traz um apelo ao perdão. Ora, ninguém poderia celebrar o jubileu sem disposição para tornar mais intenso, mais sólido, mais forte, mais fecundo seu vínculo de fé, que faz da pessoa, do crente, um fiel discípulo missionário do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, a celebração do jubileu é para experimentarmos a graça do perdão, da conversão, da misericórdia, da clemên­cia de Deus. Deus é indulgente conosco, é clemente, é misericordioso, em vista da nossa conversão. Portanto, cada um de nós precisa escutar, no tempo do jubileu, este apelo de voltarmos mais para o Senhor. Isso significa aprofundar nossa experiência de fé, nossa adesão a Jesus Cristo, ponderar se não estamos nos deixando levar por aquilo que é periférico na nossa fé e deixando o que é mais essencial de lado. O jubileu é também tempo para um recomeço, que supõe uma purificação; traz também o apelo à unidade. E esse em especial, pois estaremos celebran­do os 1.700 anos do Concílio de Niceia, recordando que, infelizmente, tivemos di­versas experiências de separação ao longo destes 1.700 anos; recordando que o apelo à unidade é apelo já presente no Evange­lho de Jesus Cristo: “Pai, que todos sejam um, como eu e tu somos um”. Jesus ora ao Pai pela unidade dos seus discípulos. Por Providência divina, no ano de 2025, todos aqueles que celebram a Páscoa a celebrarão no mesmo dia, pois a data da Páscoa, no ano de 2025, coincidirá para todos os cristãos. Trata-se certamente de um sinal de Deus para nos convidar a intensificar o sentido da nossa comunhão, da busca por unidade e, reitero, por uma vivência mais coerente da fé cristã, dos valores cristãos.

O que podemos fazer, em nossas comunidades e paróquias, para vivenciar o jubileu em comunhão com toda a Igreja?

João Justino: Primeiro, seria muito in­teressante que, para compreender o sentido deste jubileu, as pessoas todas pudessem se dedicar à leitura da bula. Embora o nome “bula” não seja muito conhecido, trata-se de um documento do Santo Padre que indica a promulgação do jubileu: em latim, Spes non Confundit, ou seja, “a esperança não engana” (Rm 5,5). São poucas páginas, 25 parágrafos, mas é um texto muito importante de ser conhecido, de ser lido; portanto, de ser me­ditado. É uma fonte de meditação, uma fonte de oração. Quem ler vai encontrar muitas inspirações para viver e celebrar o Jubileu de 2025. Segundo, é importante estar atento aos vários exercícios que vão ser oferecidos, as atividades na sua comunidade de origem, na sua paróquia ou na sua diocese. Muitos são os eventos que acontecerão em Roma. Mas a Roma irão, aproximadamente, duzen­tos mil brasileiros como peregrinos. O papa sabe que os milhões e milhões de brasileiros que não irão a Roma celebrarão o jubileu em terras brasileiras, nas suas dioceses, nas suas comunidades. Então, é importante estar atento à programação que sua comunidade estará vivendo. Veio-me também sugerir que cada um se prepare para o jubileu fazendo uma espécie de pequeno projeto pessoal para vivê-lo, considerando as dimensões da vida, como a pessoal, a eclesial e a social. Ou aque­les três níveis que, em muitos documentos da nossa Conferência Episcopal, costuma­mos trabalhar: a pessoa, a comunidade e a sociedade. Cada um poderia se perguntar: “Como vou renovar minhas esperanças? Como vou cuidar da esperança, entendi­da como aspiração à felicidade que Deus semeou em meu coração, considerando a mim mesmo, minha pessoa, considerando minha comunidade, considerando a socie­dade?” Aí cada um poderá fazer seu projeto pessoal, como às vezes fazemos no tempo quaresmal, em vista da Páscoa, ou no tempo do Advento, em vista do Natal. Agora po­demos fazer um projeto pessoal, que você pode guardar no seu coração como proje­to, em que você poderá investir seu tempo, suas energias, sua atenção, enfim, sua vida, para alcançar aqueles horizontes que estão ali, inspirados no tema do jubileu. E em relação às redes sociais, eu indicaria assim: vamos todos fazer um voto pessoal. Qual? De utilizar as redes sociais para comunicar a esperança. Não façamos das redes sociais um lugar para semear ódio, mentiras, fake news, calúnias, mas vamos comunicar a esperança, vamos animar as pessoas a colocar seu lado bom, que é sempre maior dentro de cada um de nós, para atuar na vida onde esteja­mos; que ali seja o espaço de deixarmos a bondade que está em nós, que somos nós, ganhar mais espaço, mais visibilidade. Fazer um voto pessoal para utilizar as redes sociais e comunicar a esperança, sempre. Creio que isso será muito importante. São coisas que pensei naturalmente, não quis aqui entrar em muitas atividades que são próprias do Ano Jubilar: as peregrinações, a abertura, que acontecerá solenemente em cada diocese no domingo, 29 de dezembro, os momentos penitenciais que poderão ser vividos… Quis destacar, sobretudo, este aspecto de como, conhecendo a bula, também vamos nós fazer um projeto pessoal para viver o jubileu.

O senhor poderia nos deixar algumas palavras de incentivo e uma bênção para todo o povo de Deus das comunidades, especialmente no sentido de alimentarmos sempre mais a esperança, em comunhão com o papa Francisco, que tem insistido conosco para uma Igreja em saída, uma Igreja sinodal, que verdadeiramente caminha unida?

D. João Justino: Nesta palavra final, recorro à ajuda do cardeal José Tolentino. Ele tem um livro belíssimo, O poder da esperança, e em uma das páginas ele diz: “Os cristãos vivem a esperança em trânsito pascal, em saída. A esperança não se esgota nunca no presente, ela é tensão, emergência do futu­ro”. Então, se queremos viver, se queremos olhar para a frente, se temos diante de nós tantos horizontes, às vezes horizontes que estão com algum obstáculo, alguma nuvem, alguma sombra, não tenhamos medo; pelo contrário, tenhamos coragem, paciência, re­siliência e esperança para continuar nosso caminho, lembrando que o amor de Deus foi derramado em nossos corações. Esse amor, a esperança na forma de viver, de amar aquilo que será, para citar Péguy novamente, sus­tentem nosso caminho. Quero concluir fa­zendo uma brevíssima oração que está em nosso Missal Romano, na nova edição, uma oração de bênção. O ordinário da missa tem várias orações sobre o povo para o fim da celebração. E temos, no número 19, uma bela oração. Eu a faço e peço a bênção de Deus para todos: “Atendei, Senhor, os que vos suplicam e acompanhai os que colocam sua esperança em vossa misericórdia, para que sigam firmes no caminho da santidade e, conseguindo o necessário para esta vida, possam tornar-se herdeiros das vossas pro­messas eternas. Por Cristo, nosso Senhor”. Que o Senhor abençoe a todos, a você, meu irmão, a sua família e a sua comunidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Dom João Justino de Medeiros Silva*

*Conversa com dom João Justino de Medeiros Silva sobre o Jubileu de 2025, transcrita da live realizada com Pe. Antonio Iraildo, pelo canal do Youtube da Paulus, em 26 de junho de 2024, às 15 horas (https://www.youtube.com/watch?v=DjKJGEDiV18). Dom João Justino é arcebispo metropolitano de Goiânia e o primeiro vice-presidente da CNBB.