Atualidades

A EUCARISTIA NAS FONTES PATRÍSTICAS

08/11/2024

Por Eliseu Wisniewski*

*Presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Eis o artigo:

Sendo a Eucaristia “fonte e ponto culminante de toda a vida cristã” conforme nos lembra a Constituição do Vaticano II Lumen Gentium ( n. 11), é, evidentemente, de singular importância conhecer os ensinamentos dos Santos Padres, que, nos primeiros séculos da Igreja, são testemunhas muito qualificadas da doutrina que, desde o início, iluminou o povo de Deus sobre o mistério eucarístico e que fez com que os batizados se fortalecessem e se unissem íntima e eficazmente a Cristo. Esse é o escopo da obra A Eucaristia nas fontes patrísticas (Paulus, 2024, 136 p.), organizado por  Gillermo Pons. O referido autor nasceu em Menorca, na Espanha, em 1931, e foi ordenado presbítero em 1954. Na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, doutorou-se em História da Igreja. Foi professor no Seminário de Menorca e em Abancay, no Peru. Tem vários livros e numerosos artigos publicados, particularmente sobre mariologia e patrística.

Sabedores que a expressão “patrística” cunhada pelo teólogo luterano João Gerhard, em 1653 indica o conjunto de escritos primitivos da era cristã, registrando suas experiências, seus ensinamentos, seus rituais e a vida eclesial – o período patrístico viveu fases distintas: a) origens: consideram-se os escritos que vão da passagem da Revelação à Tradição, terminando com o Concílio de Nicéia (325). São textos com grande originalidade que trazem assimetricamente os ensinamentos da tradição; b) esplendor: é o período mais fecundo e denso da tradição patrística. Compreende o período desde o Concílio de Nicéia até o Concílio de Caldedônia (451). Neste período, as discussões tocam os tratados e os temas nucleares da tradição. Seu conteúdo, como o símbolo apostólico, organização eclesiástica, rituais e dogmas canônicos são elaborados e aprovados pelos pastores da Igreja, e, muito especialmente pelos Concílios Ecumênicos; c) declínio: engloba o período entre o Concílio de Calcedônia e o final da Patrística, com Isidoro de Sevilha (636) ou Gregório Magno (604), no Ocidente, e João Damasceno (730), no Oriente. Este período trata de questões secundárias da tradição, como a disputa iconoclasta e questões políticas, entre a sociedade civil e a comunidade eclesiástica.

Tendo em conta esta divisão Guillermo Pons salienta que no tocante a questão eucarística – observando os ensinamentos dos Padres da Igreja, torna-se evidente a fidelidade e a concordância com que professam e comunicam a fé no mistério eucarístico, partindo fielmente das palavras de Cristo e da doutrina recebida dos apóstolos e claramente manifestada nos livros do Novo Testamento – é evidente que, mesmo em meio às oscilações causadas pelas heresias cristológicas, a fé no mistério eucarístico não sofre objeções diretas, nem se experimentam oscilações ou desvios perigosos em matéria de fé no mistério eucarístico. Até a Idade Média não surgirão erros relativos à Eucaristia, os quais, quando aparecem, serão imediata e vigorosamente rejeitados e darão lugar a um aumento notável da veneração eclesial e da piedade popular para com o sacramento eucarístico.

O autor observa, ainda que, a fé no mistério da eucaristia não suscita divisões nem rupturas, mas é, simultaneamente, objeto de grande atenção e de uma progressiva análise teológica por parte dos mais significativos mestres da fé, que, ao mesmo tempo, são ilustres pastores da Igreja, que não só se dedicam ao estudo da doutrina sobre a Eucaristia, mas também promovem sua cuidadosa e eficiente celebração litúrgica, e instruem os fiéis para sua presença e participação fecunda nos sagrados mistérios do augusto sacramento do corpo e sangue de Cristo.

Concentrando a atenção nos mais destacados Padres e escritores eclesiásticos  – Guilhermo Pons apresenta 112 textos dos Padres sobre: 1) os sinais do pão e do vinho (p. 25-31); 2) a instituição da Eucaristia (p. 33-38); 3) “Fazei isto em memória de mim” (p. 39-45); 4) a Eucaristia, sacrifício de Cristo (p. 47-55); 5) o Espírito Santo e a eucaristia (p. 57-62); 6) a presença real de Cristo na eucaristia(p. 63-69); 7)  “tomai, todos, e comei” (p. 71-78); 8) os frutos da comunhão (p. 79-85); 9) a eucaristia, penhor da glória futura (p. 87-94); 10) eucaristia e martírio (p. 95-103); 11) os anjos e a eucaristia (p. 105-110); 12) a eucaristia e a Mãe do Senhor (p. 11-117).

Beber das fontes patrísticas… Tendo em conta que os ensinamentos e normas que a Igreja tem transmitido ao longo dos séculos sobre a comunhão provêm da Sagrada Escritura e da tradição apostólica o leitor está diante de uma obra na qual são apresentados belos textos dos Santos Padres relacionados à presença eucarística do Cristo sacramentado. Através dos escritos patrísticos descobrimos e apreciamos o quão fielmente a celebração eucarística foi mantida na Igreja e que grande reverência e amor os cristãos viveram sua fé no mistério da sagrada Eucaristia.

Estamos diante de um excelente livro que trata de um tema fundamental para a vida cristã. Estas belas páginas traduzidas com o maior respeito pelos originais gregos e latinos dos textos patrísticos são um testemunho de como os padres da Igreja edificaram os tópicos fundamentais da vida cristã, para crer, celebrar e viver e, no tocante à eucaristia nos ensinamentos dos Padres da Igreja, torna-se evidente a fidelidade e a concordância com que professam e comunicam a fé no mistério eucarístico, partindo fielmente das palavras de Cristo e da doutrina recebida dos apóstolos e claramente manifestada nos livros do Novo Testamento.