Publicado em maio-junho de 2010 - ano 51 - número 272 - (pp. 29-34)
O papel da assessoria pastoral nas CEBs
Por Pe. Nelito Dornelas; Pedro A. Ribeiro de Oliveira; Tereza P. Cavalcanti
INTRODUÇÃO
A nova forma de ser Igreja nascida do Concílio Vaticano II e Medellín vem criando funções e serviços inexistentes na forma tridentina de Igreja — institucionalizada no Direito Canônico — e por isso não são formalmente contemplados pela instituição. As próprias comunidades eclesiais de base, alicerce de toda essa nova estruturação eclesial, não são juridicamente reconhecidas, salvo como subdivisões da paróquia — as “pequenas comunidades” —, algo que elas evidentemente não são.
Este texto, elaborado em mutirão, tem por finalidade esclarecer o papel, função e missão do(a) assessor(a) nas CEBs. Ele recupera ideias formuladas em outras ocasiões (particularmente o texto de José Sanches O papel do assessor de CEBs) e sugestões apresentadas durante o Seminário de Assessores(as) e Equipe Nacional Ampliada de CEBs em Porto Velho (RO), em janeiro de 2009, tendo em vista a definição de seu lugar nas CEBs (e nas pastorais em geral). Diante da complexidade do tema, é preciso ter claro que vamos nos ater especificamente à figura do assessor (infelizmente ainda não há uma palavra que caiba a ambos os gêneros), só nos referindo a outras figuras para marcar as distinções.
Queremos então compreender o papel desse “agente de pastoral” e a especificidade do trabalho de assessoria na caminhada da Igreja. Sabemos que o(a) “agente de pastoral”, figura surgida no período pós-Vaticano II, rompe o dualismo hierárquico que dividia a Igreja entre ministros ordenados e “simples” batizados, substituindo-o por um pluralismo ministerial em que cada membro exerce sua missão evangelizadora e seu serviço à Igreja conforme seus dons e seu compromisso de batizado.
Faz-se importante ter clareza do papel e da missão desse “agente de pastoral” que é chamado de “assessor”. Qual é o seu lugar na Igreja? O que diferencia a sua prática de outras práticas sociais? O que inspira e sustenta a sua missão?
1. O assessor no conjunto do(da) “agente de pastoral”
O assessor faz parte de um conjunto maior de pessoas que, por sua opção de fé, atuam junto e prestam serviço a uma comunidade eclesial ou grupo específico, que se torna para ele ou ela espaço de vivência e experiência do compromisso de batizado. É, pois, uma pessoa que exerce a atividade pastoral movida pelo compromisso com o projeto de Jesus, assumido pelos discípulos (cf. Mt 28,16s) e experienciado ao longo da história por quem professa a fé no Ressuscitado. São homens e mulheres, jovens e adultos que, a seu modo, ajudam outras pessoas a crescer na fé cristã e na vivência eclesial.
Em outras palavras, a assessoria é um dos “ministérios” exercidos pelos “agentes de pastoral” em geral. Pode ser exercida por leigos e leigas, religiosos e religiosas, diáconos, presbíteros e bispos.
O ideal cristão do reino de Deus tensiona a prática de todo “agente de pastoral”, que precisa entender “os sinais dos tempos” para concretizar o Reino na história humana. Essa esperança alimenta a ação evangelizadora e se configura como mística e espiritualidade. O agente se faz seguidor(a) de Jesus, o Verbo encarnado (Jo 1,1), historizado nas lutas humanas, na busca por um mundo melhor, sinal do Reino vindouro. Então sua prática pastoral é um ato social, mas também, e principalmente, um ato de compromisso de fé e de amor, virtudes que projetam e iluminam a sua missão. Esse ideal que tensiona a prática é também grande reserva de força e coragem diante das dificuldades que o(a) “agente de pastoral” sempre encontrará em suas atividades.
Quando o “agente de pastoral” lê a sua prática, analisa ou partilha com outras pessoas, ele a vê na sua relação com o contexto ou com a realidade, com o grupo com que interage (comunidade) e também com a sua opção de fé. Este último elemento pode se chamar de graça ou de ação do Espírito de Deus. Compreende-se a oportunidade de agir na comunidade e na sociedade como graça de Deus (cf. 2Tm 1,9). Quando dialoga sobre a sua prática pastoral, considera a graça, a presença de Deus, como algo que influencia nos resultados do trabalho desenvolvido. Os desdobramentos dessa convicção são profundos, pois determinam o processo, as relações estabelecidas, a avaliação do trabalho, o enfrentamento dos conflitos e dificuldades. É uma transversalidade mística.
Quando se deixa iluminar pela experiência de fé, quando percebe a graça de Deus atuando no seu trabalho, o agente de pastoral age convencido de que o projeto de Jesus é a realidade da vida em abundância (cf. DGAE 2008). O princípio e a finalidade do trabalho não o afastam da realidade; ao contrário, põem-no em diálogo com ela, pois ali reside o sentido da sua missão. O mandado de Jesus (Mt 28,1ss), a encarnação de Deus (Jo 1,1), a ação do Espírito Santo (Jo 20,22ss) impulsionam o agente a atuar em nome de algo maior que a sua própria vida, pois, como dizia são Paulo, quando agimos pela fé, é Deus que age em nós (Ef 4,6). Daí a razão de compreendermos nossas práticas como atividades feitas em nome do Pai.
2. A especificidade do trabalho de assessoria pastoral
A palavra “assessor” relaciona-se ao campo do poder decisório, em que “assessor” é a pessoa de confiança de quem toma decisões — políticos, administradores ou empresários. Neste sentido, assessor é a pessoa perita em algum campo de conhecimento que dá sua contribuição específica a quem deve tomar decisões. Ele mesmo não toma decisão, mas certamente influencia no processo à medida que interage com o tomador de decisões, oferecendo-lhe o quadro da realidade ou mostrando-lhe as consequências previsíveis das várias alternativas de ação. (A palavra é também usada como equivalente a “auxiliar” ou “secretário”, mas não é neste sentido que foi incluída na terminologia pastoral.) Provavelmente, na terminologia pastoral, o “assessor” foi a tradução brasileira para os “expertos” que acompanharam os bispos no Concílio Vaticano II.
Na condição de “assessor”, o(a) agente de pastoral é alguém que participa da caminhada da Igreja, dando-lhe a contribuição do seu campo de conhecimento. Aí reside a distinção entre o “assessor” e outros “agentes de pastoral”. Vejamos, com mais vagar, a distinção entre o “assessor”, a “animadora de comunidade” (vamos usar a palavra no feminino, porque a maioria dos animadores são mulheres) e o(a) “agente de pastoral” no sentido estrito.
• Animadora é a pessoa que presta o serviço de animar, coordenar, representar e, de modo geral, induzir o processo de desenvolvimento das CEBs. Normalmente, é uma leiga ou leigo; em certos casos, as religiosas podem exercer supletivamente essa função. Seu espaço próprio de ação é a comunidade de base à qual pertence. Deve exercer esse ministério de modo colegiado, por participar da equipe de animação da comunidade.
• Agente de pastoral é a pessoa responsável pelos serviços de articulação, formação e representação de um conjunto de CEBs (paróquia, setor, vicariato, região, diocese etc.). Não está afeita a uma única comunidade, para que possa dedicar-se a todas as comunidades do setor que lhe cabe. Normalmente, o “agente de pastoral” é uma pessoa liberada para essa atividade, quando sua ocupação pastoral a impede de exercer um ofício profissional. Por isso, em geral, os agentes de pastoral são religiosas, diáconos ou presbíteros, e menos frequentemente leigos e leigas.
• Assessor é a pessoa perita em determinado campo de conhecimento que presta serviços eventuais ou esporádicos a uma comunidade ou a um conjunto de comunidades. Seus serviços podem ser no campo da reflexão ou formação (teologia, Bíblia, liturgia, análise da realidade, história, sociologia etc.) ou no campo da metodologia (pedagogia, educação de base, espiritualidade, planejamento, arte etc.). Os serviços de assessoria podem ser prestados por leigas, leigos, religiosas, religiosos, diáconos, presbíteros e bispos, desde que dominem bem sua área de conhecimento. Isso não significa que tenham alta escolaridade, pois também é valioso o conhecimento advindo da prática.
• A rigor, como o assessor tem uma função eminentemente “técnica”, pois é um perito naquela área, ele ou ela não precisa ser necessariamente alguém da mesma confissão religiosa e nem mesmo, no limite, uma pessoa de fé cristã. Certos assessores, como o Betinho, são um bom exemplo disso: seu amor ao povo e sua dedicação à causa da libertação o levaram a dedicar-se ao trabalho de assessoria aos grupos populares (dentro e fora da Igreja católica romana) até o final de sua vida. Se a fé cristã não é indispensável, é, contudo, fonte valiosa de energia e de comunhão com a comunidade que recebe o serviço de assessoria.
3. Qualidades a serem cultivadas no trabalho de assessoria pastoral
Embora as qualidades abaixo mencionadas não devam ser exclusivamente de quem exerce o ministério de assessoria, elas são de grande importância nesse exercício. São elas:
• Irmanar-se, fazer-se irmão ou irmã do povo. Isso é difícil porque supõe um esvaziamento de si mesmo, assim como Jesus, ao encarnar-se no seio da humanidade (cf. Fl 2,6). É um esforço para encarnar-se na vida real do povo ao qual se deseja prestar serviço.
• Ser educador do povo, pedagogo, no sentido que lhe dava Paulo Freire: ninguém ensina e outro aprende, mas aprendemos quando tomamos consciência do que somos e fazemos. O(A) pedagogo(a) apenas ajuda a tirar os óculos ideológicos para que a verdadeira consciência de si aflore naturalmente. O assessor sabe que não poderia substituir cada membro da comunidade nesse processo de autoeducação e por isso deve dispor-se a caminhar com a comunidade. Sabe fazer as perguntas certas, as que ajudem a comunidade a encontrar suas respostas dentro do próprio processo. Fará como João Batista: “É necessário que ele cresça e eu desapareça” (Jo 3,30).
• Avaliar sempre o processo. Toda comunidade encontra diante de si forças e oportunidades, desafios e ameaças. É função da assessoria ajudar a comunidade a fazer o discernimento (Lc 24,13ss) e descobrir a hora de avançar ou recuar para alcançar seus objetivos. Sendo alguém de fora, que vê a comunidade como um observador, e não como membro envolvido no cotidiano, o assessor deve ser sempre um questionador que ajude a comunidade a se ver melhor.
• Apostar na comunidade. O assessor é muito diferente do perito ou do consultor que prestam seus serviços técnicos à CEB como o fariam a qualquer outra organização que os convidasse. O assessor deve acreditar que a CEB representa nova forma de ser Igreja e um instrumento valioso para a transformação da nossa sociedade e em defesa da vida do planeta. Por isso, as CEBs são seu espaço de atuação militante, e não um espaço de serviços profissionais. A opção pelas CEBs não se dá porque vai encontrar vantagens no trabalho, mas porque vê nelas um espaço onde presta sua colaboração para a construção de outro mundo possível.
4. Indicações práticas para o trabalho de assessoria pastoral
Já foi dito que o assessor é a pessoa que domina determinada área de conhecimento e o põe a serviço da Igreja. Foi dito também que essa especialização ou estudo podem ter sido adquiridos na escola ou na experiência vivida em alguma área na qual poderá dar uma contribuição mais específica e aprofundada. Ele não deve permanecer muito tempo na comunidade à qual presta assessoria. Seu trabalho é, por natureza, transitório, eventual, esporádico ou passageiro. Nada impede que se criem laços afetivos com a comunidade, desde que eles não se tornem obstáculo à objetividade da observação e que o assessor não se torne membro da comunidade nem tome parte nos momentos de conflito. Algumas indicações práticas estão aqui relacionadas:
• Opção de fundo. O assessor sabe que existem vários modelos de Igreja e busca sempre aquele que mais a ajudará a manter-se fiel ao projeto do Nazareno. Na relação com o grupo, demonstra sua opção em seus gestos, atitudes, comportamentos e expressões. Também revela a opção pelo modelo de Igreja que ilumina o seu trabalho: o que se expressa nas CEBs com base na eclesiologia de comunhão de todo o povo de Deus a serviço do seu reino.
• Conhecimento do processo. O assessor deve conhecer a história e a caminhada da comunidade (seus momentos mais importantes, seus projetos, suas conquistas, seus desafios) para formar uma imagem o mais real possível do rosto daquela comunidade. E, assim, fazer um diagnóstico que lhe permita interferir adequadamente nos rumos tomados por ela.
• Discernimento. Muitas vezes a comunidade se encontra tão envolvida com seus próprios problemas e desafios, que se perde e já não sabe discernir entre propostas e projetos diferentes ou até mesmo contrários. Nesse momento, o assessor é fundamental para, à luz da fé, ajudá-la a compreender o projeto de Deus. Às vezes é necessária a visita de Jetro ao trabalho (cf. Ex 18), para convidar a um olhar diferente. O assessor deveria então revestir-se da perspicácia de Jetro.
• Abrir horizontes. Uma visão de futuro é indispensável ao assessor, para ajudar a comunidade a fazer pontes entre seu passado e o futuro que ela está construindo no hoje de sua existência.
• Colaborar na formação dos membros da comunidade. A formação permanente dos membros de uma comunidade é fator importante para o seu crescimento. Esta é uma tarefa da qual o assessor não pode abrir mão.
• Questionamento. O assessor deve saber discernir os pontos fracos e as debilidades da comunidade e fazer-lhe os devidos questionamentos. Tomar cuidado para não desanimá-la, mas empurrá-la para a frente. Saber encontrar o foco ou a raiz dos problemas que impedem o avanço da comunidade (cf. Ap 2,1-6).
• Trabalho em equipe. O trabalho de assessoria deve ser dialógico, confrontado com outros que o ajudem no discernimento de suas propostas. O trabalho de equipe é indispensável como forma de autoformação e autocrítica. Aqui aparece o desafio de dialogar e compreender que há outros sujeitos envolvidos no mesmo trabalho. A relação deve ser entre sujeito e sujeito, e não entre sujeito e objeto. É envolta em tensões, porém enriquecedora e inserida na dinâmica do reino de Deus.
• Atitudes. O assessor deve evitar atitudes que atrapalhem seu trabalho educativo, como populismo, subestimação do valor do povo, autoritarismo, impaciência, paternalismo e irresponsabilidade. Ao contrário, deve buscar ser democrático, aberto, organizado, criativo, otimista, respeitoso ao processo, desinteressado, crítico, compreensivo, amigo e cortês, valorizando as conquistas e avanços da comunidade.
5. Campos em que se necessita de assessoria
Já foi dito que a assessoria pastoral pode ser aplicada tanto na reflexão e na formação (teológica, bíblica, sobre a realidade etc.) quanto na metodologia (pedagogia, planejamento etc.). Assinalamos aqui os campos mais relevantes hoje:
• Conhecimento bíblico. A palavra de Deus é também palavra humana inserida em um contexto determinado o qual é indispensável conhecer, a fim de tirar os seus frutos para a realidade de hoje. Devolver a Bíblia ao povo e fazer dela o centro do trabalho pastoral é a forma principal de garantir a perseverança da comunidade.
• Reflexão teológica. A fé professada tem de ser traduzida de forma compreensível e direta. Como há vários modelos de Igreja, também há vários modelos de teologia. É indispensável que, aliado ao modelo de Igreja dos pobres, se desenvolva um modelo de reflexão teológica no qual a libertação dos pobres e excluídos seja contemplada, de modo que eles tenham suporte teológico para suas lutas em busca da justiça, da paz e da harmonia planetária.
• Planejamento pastoral. Os passos de um plano de pastoral e sua execução exigem muita sabedoria e muita luz do Espírito Santo, mas isso não dispensa a racionalidade na adequação dos meios aos fins almejados. A assessoria deve traduzir os anseios da comunidade em projetos viáveis.
• Conhecimento das realidades humanas. Conhecer a pessoa humana desde as profundezas do ser até as estruturas da sociedade e o desenrolar da história é indispensável ao amadurecimento e ao avanço da caminhada da comunidade. A assessoria pastoral tem aí amplo campo de atuação, para ajudar a comunidade a entender seus condicionamentos socioeconômicos, culturais e históricos bem como todos os fatos conjunturais.
• Conhecimento do contexto ecológico global. Cada vez mais fica claro que a realidade em que vivemos não é apenas humana, mas é parte de uma realidade global — a grande comunidade de vida que faz da Terra um planeta vivo, diferente de todos os outros. Este campo que ora se descortina é hoje um dos grandes desafios para o trabalho de assessoria, uma vez que é envolvido por interesses opostos: de um lado, as empresas e o mercado, que insistem no desenvolvimento produtivista-consumista, e, de outro, os povos que querem viver na simplicidade, na paz e em harmonia com a Terra.
Na meditação da parábola do Bom Pastor está a mística que deverá sustentar a caminhada do agente de pastoral:
⇨ O bom agente de pastoral dá a vida pelas ovelhas. Ele as ama e não trabalha pensando em recompensas, senão porque é o pastor das ovelhas.
⇨ O bom agente de pastoral conhece o processo e os membros o conhecem. Não é um conhecimento frio, mas tem o calor do amor e da ternura.
⇨ O bom agente de pastoral não se prende em sua comunidade, mas aponta horizontes amplos e abertos. Encanta e entusiasma outras pessoas para que vivam a alegria da Igreja dos pobres. Ama esse modelo de Igreja e dá a vida por ele.
⇨ O bom agente de pastoral tem a inquietude de construir a comunidade, em comunhão.
⇨ O bom agente de pastoral defende o processo e a comunidade contra todos os que querem atentar contra ela.
6. O que marca o testemunho do agente de pastoral
Muito mais poderia ser dito sobre o papel da assessoria pastoral, mas este artigo já é o suficiente para um primeiro passo. Como conclusão, apresentamos abaixo um texto de dom Pedro Casaldáliga, Os traços do homem novo e da mulher nova.
6.1. A lucidez crítica
a) Decodifica a realidade à luz da fé e por meio das mediações sociais, políticas e econômicas.
b) Estuda, avalia, é dialética.
c) Não se deixa enganar pelas aparências, nem pelas promessas, nem pelas esmolas.
d) Sabe ler a conjuntura local, continental e mundial e penetra na parte oculta das estruturas de dominação e alienação.
e) Caminha com os pés no chão da realidade, com o ouvido atento ao clamor dos pobres e aos sofismas dos ricos, com os olhos abertos aos processos da história e ao horizonte da utopia.
f) É lúcida e é luz.
6.2. A contemplação sobre a caminhada
a) Vive aberto ao mistério do Deus que é vida e amor
i) em sua Trindade, que é a melhor comunidade;
ii) na história, que também é seu reino;
iii) e no universo, que é também sua casa.
b) “Tropeça com Deus nos pobres”, professa-o na prática da justiça e da caridade e o celebra na oração pessoal, familiar e comunitária.
c) Caminha enamorado da esposa natureza; acompanha todos os caminhantes no diálogo intercultural e com a ternura da gratuidade; ama sua gente, sua terra e seu tempo com um coração ecumenicamente jovem.
d) Sonha, ri, canta, dança, vive.
e) Veste-se de símbolos e de ritos antigos e novos, conserva a memória subversiva e exerce a criatividade alternativa.
f) Cultiva a identidade étnico-cultural, a sensibilidade social e a historicidade política.
g) Tem como tela de televisão a mirada da consciência, a sabedoria da realidade e a revelação da Bíblia.
6.3. A liberdade dos pobres
a) Despojado de privilégios e de acumulação, e jogando sua sorte com a sorte dos pobres da terra, promove a civilização da pobreza humanizadora contra a civilização da riqueza desumana.
b) É pobre para ser livre e é livre para libertar.
c) Partilha da pobreza solidária e combate a pobreza injusta.
d) Da liberdade faz seu alento e sua canção, e da libertação seu combate e sua vitória.
e) É parcial como o Deus dos pobres, radical como o Jesus das bem-aventuranças, livre como o Espírito de Pentecostes.
6.4. A solidariedade fraterna
a) Faz da solidariedade o nome novo da paz, a nova práxis do amor e a nova dinâmica da política.
b) Acolhe, compartilha, serve.
c) Compadece, coindigna-se, comilita, concelebra.
d) Não discrimina nem pelo sexo, nem pela raça, nem pela crença, nem pela idade.
e) Porque sabe que é filho de Deus, procura ser irmão de todos.
f) Luta por fazer dos vários mundos um só mundo humano.
g) Promove a organização em todos os níveis, mas sem fanatismo, sem dogmatismo e sem proselitismos.
6.5. A cruz e a conflituosidade
a) Sabe que a existência é milícia, que o reino sofre violência e que na cruz está a vida.
b) Abraça a cruz salvadora de Cristo, mas destrói todas as cruzes opressoras.
c) Nunca foge da renúncia pelo reino, nem se esquece do domínio de si, nem se nega à convivência, ao trabalho, à libertação.
d) Assume as grandes causas sem medo da conflituosidade, apesar da perseguição e até a entrega do martírio.
6.6. A insurreição evangélica
a) Pela boa-nova do evangelho e na incansável construção da utopia, rebela-se contra os mecanismos do lucro e das armas, do consumismo e da dominação cultural, do fatalismo e da conivência.
b) É opção, militância, profecia.
c) Luta contra todos os ídolos da sociedade e da religião, em rebelde fidelidade a Deus e à humanidade.
d) Insurge-se constantemente, pela conversão pessoal, para a renovação comunitária e ecumênica da Igreja e para a revolução democrática da sociedade.
6.7. A teimosa esperança pascal
a) Espera “contra toda esperança”, no meio das decepções, na monotonia diária, apesar dos fracassos e contra as evidências do triunfo do mal.
b) Mantém a coerência das testemunhas fiéis, propaga a “perfeita alegria” dos utópicos e organiza a esperança dos pobres.
c) Na alegria e na dor, no trabalho e na festa, na vida e na morte, vai se fazendo páscoa na páscoa.
d) Avança na conquista da Terra Prometida, pelos caminhos da Pátria Grande, para a Pátria Maior.
Pe. Nelito Dornelas; Pedro A. Ribeiro de Oliveira; Tereza P. Cavalcanti