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Publicado em número 220 - (pp. 12-14)

A formação dos agentes da catequese com adultos

Por Inês Broshuis

I. Responsáveis pela catequese com adultos

Quando se fala sobre a necessidade da catequese com adultos, a primeira pergunta que surge é: Quem são os responsáveis por esta catequese? Quem vai se encarregar desta missão?

 

O papel da comunidade

A responsabilidade da catequese com adultos não é só de algumas pessoas que se dispõem para este tipo de trabalho. Toda a comunidade, de algum modo, é responsável. Pouco se fala sobre essa responsabilidade. Mas, como diz o documento “Catequese Renovada” (nº 26 da CNBB), “toda a comunidade é catequizadora”. Ela catequiza por seu modo de viver como comunidade cristã, por seu testemunho de oração e celebração, de solidariedade e de engajamento nos problemas do mundo.

A educação da fé também compete à comunidade. Ela é responsável pela formação cristã dos seus membros, sejam crianças, jovens ou adultos. Nem todo mundo tem o dom e a vocação para ser catequista, mas todos devem se envolver neste processo e assumir a sua parcela de responsabilidade na educação da fé. Certo é que, sem comunidade viva, será difícil viver o que se aprende na catequese.

 

O papel do pároco

Muito importante para o processo de educação da fé é o papel do pároco. Seu estímulo é indispensável. Ele deve tomar conhecimento da caminhada, estimular os catequistas ou agentes, planejar junto com eles, avaliar. Onde o pároco está presente na catequese, dentro da visão de uma catequese atualizada, a educação da fé se torna mais eficiente. Uma das finalidades da catequese é iniciar o catequizando numa participação efetiva na comunidade. Mas, como poderá tornar-se um membro ativo quando não existe comunidade?!

 

A responsabilidade do Conselho paroquial

O setor da catequese deve estar representado no Conselho paroquial para se chegar a um trabalho em conjunto com outros setores da pastoral com uma dimensão catequética, como a pastoral familiar, vocacional, juventude, missionária, bíblica… O que se vê, na realidade, é que cada setor trabalha desligado dos outros. Assim temos catequese de iniciação (preparação à Penitência, Eucaristia e Crisma), catequese de Batismo para os pais e padrinhos dos batizandos, Catequese com adultos, preparação para o Matrimônio, formação de ministros da Comunhão, catequese com doentes (pastoral da saúde), deficientes e outras. O importante é que cada um saia um pouco do seu próprio mundo e assuma a educação da fé como um grande esforço e testemunho de união da comunidade para a formação dos seus membros.

O Conselho paroquial deve sentir-se responsável pelo funcionamento de uma catequese bem organizada em todos os níveis. Deve possibilitar aos agentes da catequese o aperfeiçoamento na sua função, proporcionando cursos e treinamentos. Também deve fornecer os recursos materiais como local e material didático.

 

A missão do Bispo

O primeiro responsável pela catequese em todos os níveis, dentro de uma Igreja local, é o Bispo. É necessário que ele acompanhe o processo de atualização da catequese e que cuide da formação de uma equipe catequética em nível diocesano. Conforme a extensão da diocese, podem ser formadas equipes regionais. É importante manter intercâmbio entre os coordenadores paroquiais, regionais e da diocese. O coordenador diocesano, por sua vez, fará o intercâmbio com a comissão de catequese do Regional da CNBB.

 

A função dos agentes de catequese com adultos

A responsabilidade da comunidade é assumida, em grande parte, pelos catequistas. O que se pode esperar de um(a) catequista ou agente de catequese com adultos? É o que veremos a seguir.

 

II. Agentes da catequese com adultos

 

Qualidades humanas

Para poder lidar com adultos é necessário que o agente seja uma pessoa madura. Isso supõe que não seja muito jovem e já tenha razoável experiência de vida.

Além de boa formação humana, pode-se esperar certa capacidade de liderança e organização.

 

Estar engajado na comunidade

O agente de catequese esteja engajado e comprometido com sua comunidade, dê verdadeiro testemunho de vida cristã e seja portador de profunda espiritualidade.

O agente deve estar a par do Plano de Pastoral da sua diocese e da sua paróquia. A catequese com adultos nunca seja algo desligado dessa pastoral. Não pode ser catequese de movimento ou congregação. É necessário sempre andar com a Igreja local, e nunca à parte.

 

Saber dialogar

Trabalhar com adultos supõe que o agente entenda as dificuldades, as perguntas e dúvidas deles, que tenha alguma palavra de orientação que brota da própria experiência. Catequese com adultos quer dizer catequese de igual para igual em que ninguém seja o mestre, mas onde todos caminham juntos na procura de uma resposta, um rumo a seguir. Isso exige do orientador capacidade para dialogar, escutar, colocar-se no lugar do outro. Ele não vem com respostas prontas, mas, junto com os outros, procura o melhor modo para caminhar.

 

Ser bom comunicador

O agente deve ser um bom comunicador e se relacionar bem com seu grupo. Ele deve saber trabalhar em equipe, delegar tarefas e ter confiança na capacidade dos outros.

 

Ter boa formação bíblica e doutrinal

Espera-se do agente de catequese com adultos que tenha boa formação bíblica e doutrinal. As perguntas que podem surgir podem ser muito sérias e exigem do agente uma boa visão no campo de doutrina e da moral. Será necessária uma constante atualização do agente, e a paróquia ou diocese deve oferecer isso através de cursos e treinamentos.

 

Conhecer o processo de uma catequese renovada

Para que o agente caminhe junto com a Igreja, deve ter um bom conhecimento das renovações que o Concílio Vaticano II trouxe. Precisa conhecer as principais características de uma catequese renovada, como falam os documentos e estudos da CNBB (Catequese Renovada — Documento nº 26 da CNBB; Catequese para um mundo em mudança — Estudo nº 73; O hoje de Deus em nosso chãoEstudo nº 78; Com adultos, catequese adulta — Estudo nº 80).

Outro texto importante para o agente de catequese com adultos é o livro de Emílio Alberich Catequese de Adultos — elementos de metodologia (Editora Salesiana).

Uma catequese atualizada se caracteriza por um processo permanente de educação da fé que, superando a mera doutrinação, se marca por uma profunda experiência de Deus e uma espiritualidade engajada no dia a dia, na vivência na comunidade eclesial e no engajamento na transformação do mundo. A catequese tem uma dimensão libertadora do “homem todo” e de “todos os homens”, como dizia o Papa Paulo VI.

Essa catequese é profundamente bíblica e deve levar a uma interação da fé com a vida concreta.

Os documentos da Igreja sobre catequese frisam ainda muito o aspecto da inculturação, as dimensões cristológica, litúrgica, missionária, ecumênica, antropológica, política e outras.

Catequese nunca consiste só numa formação individualista e intimista. Sempre abrangerá o individual, o comunitário e o social. Essas três dimensões são inseparáveis.

 

 

Estar engajado no mundo secular

Outra exigência para o agente de catequese com adultos é que tenha certa visão da situação socioeconômica do país e que saiba julgá-la com senso crítico. A catequese tem por finalidade não somente introduzir à vida da comunidade, mas deve formar para uma ação consciente do cristão no mundo do trabalho, da família, da cultura, da política. A Igreja é chamada a ser instrumento do Reino de Deus. Isso quer dizer que ela deve trabalhar para que a sociedade seja impregnada de valores evangélicos como justiça, paz, fraternidade, partilha, honestidade, procurando o bem comum de todos os cidadãos. A grande missão do leigo está aí e ele deve considerar sua presença no mundo com todas as lutas, sofrimentos, decepções, corpo também com suas alegrias e conquistas, como sendo a missão confiada a ele por Deus a fim de construir aquele Reino de que Jesus falava. É muito importante infundir o grande valor da presença do cristão no mundo. Faz parte integrante de uma boa catequese ou educação da fé.

 

Conhecer os destinatários da catequese

Quanto aos destinatários da catequese, o agente deve conhecer sua situação, a realidade da sua vida, mas também os motivos que levam a procurar uma formação mais aprofundada. Muitos são os motivos e estes devem ser seriamente levados em conta. Esses motivos vão determinar o tipo de catequese que deve ser dada.

É importante também ter certa visão psicológica das diversas etapas de crescimento pelas quais os adultos passam. O adulto não é um ser acabado, mas um ser em constante crescimento. Há grande diferença entre o adulto jovem e o adulto idoso, e entre as etapas intermediárias. O livro do E. Alberich (acima citado) dá excelentes orientações a respeito.

 

Conhecer os métodos

É necessário que o agente conheça os diversos métodos mais apropriados para uma catequese com adultos (para ajudar, pode-se ler o artigo de Mariza Tavares nesta mesma revista, pp. 7-11).

 

 

III. Destinatários

 

Quem são os destinatários de uma catequese com adultos?

Há grande variedade entre aqueles que procuram maior formação religiosa. É bom conhecer os motivos que levam a procurar maior formação cristã, porque cada grupo exige uma abordagem específica.

Hoje em dia, há muitos adultos que não foram batizados ou, sendo batizados, não foram preparados para os outros sacramentos. Não têm muita vivência de fé. Para eles é necessária uma iniciação mais sistemática, levando em conta sua situação, maturidade, escolaridade etc.

Há outros que foram iniciados na vivência dos sacramentos na infância, mas pararam aí. Esses cristãos vão à igreja por ocasião de casamento ou falecimento de um ente querido. Também para eles se torna necessária uma boa catequese sistematizada.

Há pessoas que vêm de outras Igrejas cristãs ou outras religiões. Precisam de uma catequese que leve em conta a formação religiosa que já receberam e que deve ser valorizada.

Muitos são os adultos afastados da Igreja por diversas razões. São os que se tornaram indiferentes à questão religiosa, ou aqueles que passam de uma religião para outra sem se encontrar realmente. Querem experimentar de tudo um pouco. Ou se afastaram da Igreja por alguma experiência negativa por parte da comunidade ou do clero.

Há pessoas para quem a religião é uma coisa rotineira, sem compromisso, sem muita convicção. Precisam ser motivadas para uma vivência mais comprometida e um aprofundamento do conhecimento das razões da fé.

Há os católicos que realmente participam, que se engajam em pastorais e movimentos da sua comunidade. Mesmo para esses, um aprofundamento sistemático da fé pode ser uma necessidade e uma riqueza.

Encontramos católicos sinceros, com espírito crítico, que têm dificuldade em aceitar certas normas, doutrinas e comportamentos propostos pela Igreja. Eles precisam de um esclarecimento substancial, respeitando seu senso questionador.

Há ainda os que exercem grande liderança no mundo político e social. De grande importância seria uma atuação da Igreja junto a essas pessoas.

Podem ser acrescentados muitos outros grupos. Ninguém escapa à necessidade de uma sólida formação que leve ao compromisso. A formação religiosa é algo permanente e abrange toda a nossa vida. A catequese sistemática pode ser mais necessária para grupos que estão iniciando. Porém, a formação religiosa precisa continuar sempre.

 

O que já está acontecendo

Muita coisa já está acontecendo. Temos os grupos de reflexão, círculos bíblicos, Campanha da Fraternidade, novenas de Natal, missões populares, cursos para noivos, preparação dos pais e padrinhos para o Batismo dos filhos e afilhados, cursos para ministros da Comunhão, iniciação para a primeira comunhão eucarística e para a Crisma de adultos, participação dos pais no processo catequético dos filhos, formação de catequistas de iniciação, encontros e cursos de formação de leigos, escolas de fé, formação dada nos movimentos, catequese realizada através dos Meios de Comunicação etc.

Temos os grandes projetos de pastoral da Igreja do Brasil, como atualmente o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio, que envolve todas as comunidades, grupos e movimentos num único esforço de aprofundamento de uma fé comprometida com a comunidade e a transformação da sociedade. É uma “catequese” organizada, com rico material de reflexão e com a vantagem de ter o estímulo oficial e insistente da CNBB.

Como se vê, há muitos tipos de catequese, cada um com suas características que o agente deve conhecer. O que se está procurando? O que motivou? Qual o objetivo de determinada catequese?

 

IV. Questão conclusiva

 

Onde estão os nossos agentes de catequese com adultos?

De tudo o que foi dito pode-se concluir que o trabalho de um agente de catequese com adultos é abrangente e exigente. Onde eles estão? Como formá-los?

Eles estão, geralmente, em nossas comunidades, mas não levam o nome de catequistas. Devemos procurá-los no meio das diversas pastorais onde os adultos participam. Talvez precisem de algum aperfeiçoamento. Podemos organizar cursos e treinamentos para tais pessoas. Também não podemos esquecer as nossas catequistas da catequese de iniciação. Entre elas há muitas com uma excelente formação catequética e que correspondem às exigências mencionadas neste artigo.

O melhor modo de despertar a vocação para tal trabalho é o convite pessoal que lhe é dirigido pelo pároco ou outra pessoa de liderança. O chamado pessoal tem grande força. Por si mesmo, a pessoa, muitas vezes, não tem coragem de se apresentar. Duvida de suas capacidades. Mas, quando recebe o convite pessoal, começa a pensar e, encorajada por aquele que o chama, terá a coragem de enfrentar ar o desafio.

Terminamos nossa reflexão com as palavras de João Paulo II na sua Exortação apostólica sobre a Vocação e Missão dos Leigos:

“Em vista de uma pastoral verdadeiramente incisiva e eficaz, deverá fomentar-se, mesmo com a organização de cursos oportunos ou escolas específicas, a formação dos formadores. Formar aqueles que, por sua vez, deverão ocupar-se da formação dos fiéis leigos, constitui uma exigência primária para assegurar a formação geral e capilar de todos os fiéis leigos” (nº 63).

Inês Broshuis