Publicado em janeiro-fevereiro de 2010 - ano 51 - número 270 - (pp. 3-7)
Paulo e a comunicação do Evangelho em seu tempo e na atual cultura da comunicação
Por Ir. Joana T. Puntel, fsp
Introdução
No contexto da celebração do Ano Paulino, Paulo foi certamente o motivo central a nos iluminar, impulsionar, questionar e, talvez, apontar aspectos imprescindíveis para a evangelização no mundo de hoje, sobretudo nas grandes metrópoles da sociedade contemporânea. Aquilo que vivenciamos durante o ano jubilar dedicado ao apóstolo das nações certamente será muito bem aproveitado pela Igreja e por todos os seus membros.
Considerar Paulo e a comunicação do evangelho em seu tempo, e também a figura do apóstolo como INSPIRAÇÃO para a evangelização na cultura da comunicação atual, impulsiona uma reflexão por demais abrangente. Faz-se necessário, então, escolher alguns “filões” percebidos na prática dessa “estrela de primeira grandeza na Igreja”, segundo a expressão de Bento XVI.
1. Comunicação: relação interna
Em que pese a existência de dezenas de definições de COMUNICAÇÃO, um ponto essencial para o recorte aqui proposto é a afirmação de que a comunicação não é um fato puramente externo. Trata-se de realidade, antes de tudo, interna. Ou seja, a comunicação é, ANTES DE TUDO, um fato interno, algo que se vive e, DEPOIS, se exterioriza, se desenvolve, se articula, usando as mais diversas formas.
Para abrir novas fronteiras para a evangelização na sociedade atual, a exemplo de Paulo, não se pode incorrer no equívoco de praticar somente um ato externo, usando os meios de comunicação. Seria um proceder desastroso, frustrante, porque não teria Jesus Cristo como o verdadeiro protagonista da missão; o evangelizador seria como um sino estridente, que faz barulho, mas se esvai com o tempo.
Estamos, portanto, falando de duas dimensões da vida de Paulo que se integram e dependem uma da outra, definidas por uma relação interna e por uma relação externa. (Geralmente, o senso comum vincula o comunicador à prática de um ato externo: fazer algo, desenvolver algo, usar um meio de comunicação etc.)
O encontro com Jesus na experiência de Damasco e no silêncio e intimidade dos anos subsequentes desenvolveu em Paulo a verdadeira comunicação como expressão interna e, portanto, tornou-se o FACHO DE LUZ a iluminar toda a comunicação externa que ele desenvolveria na sua missão. Paulo assumiu uma identidade CRISTOCÊNTRICA. É ele próprio quem diz, entre outras coisas, em seus escritos: “Até que Cristo se forme em vós” (Gl 4,19); “Já não sou mais eu quem vive, é Cristo que vive em mim” (Gl 4,20); “Por causa de Jesus Cristo perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e estar com ele” (Fl 3,8). Essa identidade cristocêntrica, que ele assume, O FAZ VIVER permanentemente no Espírito que o habita.
Paulo partilha com os filipenses o chamado que “Deus nos dirige em Jesus Cristo” e a experiência de ser transformado por esse chamado. Quando exorta a comunidade a imitá-lo, exorta-a a juntar-se a ele para responder a esse chamado e permitir que CRISTO lhe transforme a vida. E ser transformado por Cristo é “deixar para trás” muitas coisas e “lançar-se para a frente”. Tudo isso produziu total reviravolta na vida e nos valores de Paulo.
Na adoção de uma identidade cristocêntrica, faz-se presente o próprio Espírito Santo, que abriu os olhos do apóstolo. Como seu povo, até então Paulo só havia conhecido Cristo “segundo a carne”; mas, tornado cristão, conhecia e possuía Cristo segundo o Espírito.
E a eficácia do Espírito é criadora e criativa. Ele é, entre outras coisas, uma luz intelectual: “estando os olhos da vossa inteligência iluminados…” (Ef 1,18). É um DOM permanente, radicado na alma, uma vez por todas inerente a ela. Ele permanece sempre o dom de uma pessoa: o Espírito Santo pessoal está na alma para aí fazer sua morada.
Paulo, então, viveu do Espírito, agiu sob sua influência, tinha a força e a luz que vinham dele. E, sobretudo, ENXERGAVA com a luz do Espírito (aqui está algo que nos toca profundamente, pois podemos ver as realidades, e não enxergá-las). Portanto, o Espírito que agia na identidade cristocêntrica de Paulo é que o fazia enxergar, ou seja, perceber onde a evangelização precisava ser realizada, encarnada. O evangelizador, a exemplo do apóstolo das nações, não pode somente ver, mas precisa enxergar a realidade, e isso vem do Espírito. Paulo enxergava a realidade com base em uma vivência mística profunda, em UM ATO DE COMUNICAÇÃO INTERNA, que o levou a viver a MÍSTICA APOSTÓLICA — entendendo que o cumprimento da missão se faz num contato permanente e consciente com Deus. Segue-se, então, a realização do ato externo da comunicação, o ir anunciar, o ir evangelizar.
2. Comunicação: ato externo
A comunicação, além de ser algo que se vive internamente, é um fato externo, “um fazer algo — no caso, comunicar o evangelho” —, a expressão de algo que se vive, dando-lhe forma.
Apresenta-se, então, uma necessidade. Porque Paulo vive uma identidade cristocêntrica, é impelido a assumir uma identidade missionária, a ponto de afirmar: “Ai de mim se eu não evangelizar”. Isso se torna algo imperioso.
É o Espírito que faz alguém “perceber”, ser criativo, fazer-se tudo pelo evangelho. Paulo disse: “Tudo faço pelo evangelho”.
— A ABERTURA DE FRONTEIRAS PARA O EVANGELHO parte então de uma experiência profunda com Cristo (de uma identidade cristocêntrica!), e, portanto, o comunicador, como Paulo, vai não somente ver a realidade, mas também enxergá-la. O que queremos dizer com enxergar? Não somente sentir a necessidade de levar Cristo, mas enxergar os modos de percepção da fé que o contexto, a ambiência do momento atual oferece. Sabemos que a fé não muda, mas a percepção da fé, sim. Essa percepção se modifica, varia conforme as sociedades evoluem e novos sujeitos, novas “relacionalidades” surgem em decorrência de múltiplas interferências, como as novas tecnologias.
Paulo não somente viu, mas enxergou a realidade do seu tempo e, portanto, COMO comunicar o evangelho naquele contexto. Com que coragem? Com que lucidez? Com que abertura? As emanadas do Espírito que o habitava e que se tornou, a partir da experiência de Damasco, um facho de luz a enviá-lo, fazendo-o perceber como abrir novas fronteiras para o evangelho.
— Paulo olhou, contemplou, rezou e ouviu para onde o Espírito o enviava.
— Paulo iniciou as comunidades cristãs e propiciou a expansão do cristianismo; esse é um fato incontestável, que sem dúvida abriu fronteiras ao evangelho. E, para continuar se comunicando com as diversas comunidades, ele escreveu cartas, usou um instrumento de comunicação. Pois bem, sabemos quanto é necessário usar os meios. No tempo de Paulo, o uso de cartas por parte da Igreja foi, sim, uma novidade, uma forma encontrada para chegar às pessoas da comunidade. Isso é muito significativo e vale para nós, na cultura atual.
Um aspecto da atividade do apóstolo que nos surpreende fortemente é sua decisão de ESTAR PRESENTE em contextos, digamos assim, “fora da sinagoga”. A percepção de Paulo, com base na qual ele abriu novas fronteiras ao evangelho (“fiz-me tudo para todos”), está em IR aos novos centros, em meio àqueles que não tinham ouvido falar de Jesus. Ademais, percebeu quanto o ser humano é religioso no seu íntimo e com coragem foi lá, no areópago de Atenas, falar do Deus que os gregos tinham medo de adorar, por não o conhecerem. Ele foi e (aparentemente…) “fracassou”.
— Paulo, definido também como “homem de três culturas”, é sensível à realidade cultural do povo do seu tempo.
E quem era o homem do seu tempo? Quem eram os judeus? Quem eram os gregos? Enfim, quem eram os gentios? Não cabe aqui a análise e descrição de cada um desses povos. O essencial é que Paulo enxergou a realidade deles e suas necessidades, especialmente a dos pagãos, e serviu-se dos meios humanos, das invenções humanas, para levar o evangelho. Ele soube enxergar o que se passava nos grandes centros de então (as metrópoles) e foi ali que atuou, que enfrentou as situações e viveu o cotidiano das pessoas; ali ele permaneceu, fundou comunidades, chamou e formou seus colaboradores para que anunciassem Jesus, o Ressuscitado, continuando a missão.
Paulo tinha uma mensagem central: Jesus Cristo. E, como já mencionamos, usou formas de comunicação do seu tempo em proveito das comunidades. Enfrentou tribunais e audiências de alto nível, como no areópago de Atenas… Enfim, ele criava as estratégias necessárias para que o evangelho chegasse a todos.
— A exemplo de Jesus, Paulo optou por um processo inculturado e dialógico de comunicação, possibilitando ao povo que com ele convivia, que o ouvia e recebia suas cartas, entrar em relação com Deus voltado para os irmãos, em permanente espírito de acolhida. Ele usou a pregação como meio de comunicação e lhe deu continuidade, fundando as comunidades, comunicando-se pelos meios da época, especialmente os escritos, as cartas. Essa era a forma de o apóstolo manter-se em contato com cidades e lugares distantes, pois isso a distância geográfica inspirava.
Nascia e se prolongava, então, o diálogo, elemento imprescindível na comunicação. Um diálogo que aproximava os princípios fundamentais do evangelho das situações concretas, ou seja, atingia e penetrava os problemas específicos e concretos, organizava as atividades apostólicas e infundia coragem à vida das comunidades (hoje diríamos: à vida em sociedade).
3. E hoje? Na sociedade atual? Nas metrópoles hodiernas?
A necessidade de Deus permanece. A identidade das pessoas se mostra cada vez mais confusa. O mundo da comunicação se transformou. Não há dúvida de que todo o universo da comunicação foi sensivelmente influenciado, nos últimos anos, pela intervenção de novidades técnicas que revolucionaram as características das modalidades operativas, dos valores e dos aspectos culturais. O decênio 1990-2000 foi definido como década digital, e sua incidência na sociabilidade assim como as modalidades de conexão (relacionamento) no viver cotidiano se configuram como um dos desafios essenciais para pensar e compreender o lugar ocupado pela comunicação — especialmente na sua versão midiática — no mundo contemporâneo.
Hoje, vivemos uma “encruzilhada” perante os desafios da cultura midiática, pois a comunicação se apresenta progressivamente como elemento articulador da sociedade. Trata-se de desafios que ultrapassam o “uso” da tecnologia e tocam a esfera da cultura, da questão ética e, portanto, do ser cristão (discípulo e missionário, segundo o que nos aponta o Documento de Aparecida), no grande e moderno areópago das comunicações (cf. RM 37c).
Quando olhamos em volta, logo percebemos quanto a nossa sociedade está repleta, num caminho ascendente, de pequenas janelas digitais que atraem nossa atenção. “Janelas” que prometem notícias, avisos, diversão, recados de amigos. São os visores dos celulares, palmtops etc.[1] A visão atual e de futuro que se propõe à sociedade nesse momento de mudança hoje nos impele a olhar a comunicação social como um fenômeno cultural dos nossos tempos que organiza e move a globalização, a modernidade e a pós-modernidade.
Considerando o quadro evolutivo da trajetória da comunicação, mencionado brevemente, e a provocação que a cultura midiática faz e refaz à sociedade contemporânea, damo-nos conta de que algo nunca vivido antes está se passando e “forjando novo sujeito” na sociedade, onde permanecem as necessidades fundamentais do ser humano, mas modificam-se rápida e profundamente a sua forma de se relacionar. É o que constitui o aspecto antropológico-cultural da mensagem de Bento XVI, Novas tecnologias, novas relações, para o 43º Dia Mundial das Comunicações. Ele afirma: “O desejo de interligação e o instinto de comunicação, que se revelam tão naturais na cultura contemporânea, na verdade são apenas manifestações modernas daquela propensão fundamental e constante que têm os seres humanos para se ultrapassarem a si mesmos, entrando em relação com os outros”.
Inserida no contexto da “pós-modernidade”, a comunicação já não se restringe a um setor da atividade humana (o dos meios de comunicação social). Ela inaugura o advento de um complexo modo de viver, redistribui o cotidiano das pessoas e interage com ele, onde se constroem os significados por meio das formas simbólicas e da diversidade da linguagem da mídia. André Lemos já alertava sobre o ciberespaço como novo ambiente que cria nova relação entre a técnica e a vida social,[2] espaço onde se encontram as culturas e os vários modos de pensar, agir e sentir.
O fundamental reside em compreender o que significa encontrar-se diante de verdadeira “revolução” tecnológica, com sua exigência de ir além dos instrumentos, e tomar consciência das “mudanças” fundamentais que as novas tecnologias operam nos indivíduos e na sociedade — por exemplo, nas relações familiares e de trabalho, entre outras. A questão não se situa, portanto, entre aceitar ou rejeitar. Estamos diante de um fenômeno global, que se conjuga com tantos outros aspectos da vida social e eclesial. As palavras de João Paulo II na encíclica Redemptoris Missio são claras: “Não basta usar (os meios) para difundir a mensagem cristã (…) mas é preciso integrar a mensagem nesta ‘nova cultura’ criada pela comunicação social” (n. 37c).
A questão de fundo, portanto, já não é reconhecer que os meios de comunicação, em pouco tempo, deixaram de ser elementos emergentes na vida social para assumir uma posição central na maneira de estruturá-la e explicá-la. Mais do que em “reconhecer”, a questão reside na significação desses meios, ou seja, no seu lugar social.
Situa-se aqui o ponto fundamental na discussão atual da cultura digital: diante do fenômeno das novas tecnologias, é preciso atentar para não considerar a convergência somente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Trata-se, antes, de uma “cultura participativa”, que contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Em vez de falar sobre produtos e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, podemos agora considerá-los como participantes que interagem de acordo com novo conjunto de regras que nenhum de nós, realmente, entende por completo.
Refletimos, então, sobre as novas relações que as novas tecnologias vêm provocando e já realizando, como temos visto ao longo do texto. Mudam as formas, mas a necessidade humana de relacionar-se permanece. É fundamental o conceito de que o ser humano vive a dinâmica constante de autocompreensão, bem como de autoconstrução. É por isso que sempre falamos de sua necessidade intrínseca de estar em relação consigo mesmo, com a sociedade, com o outro e com o transcendente. O ser humano busca sempre a relação, o contato com o outro.
Especialmente na cultura digital, é enorme a capacidade humana de relação com os inúmeros ambientes de informação. São as famosas interfaces, pois se situam entre os usuários e tudo aquilo que eles desejam obter. O mundo, onde se encontram informações, também o excesso, a escolha, a incerteza, está a um clique; isto é, a manipulação de dados, imagens, sons, as conexões através da web, a formação de comunidades virtuais, oportunidades de protestos, de defesa de direitos humanos, convites às mais variadas formas de participação… formam o dia a dia do indivíduo hoje. Isso implica novas relações.[3]
Algo importante, porém, é preciso enfatizar no que diz respeito a essa transformação comunicacional: nas múltiplas formas de conhecer, ser e estar, portanto, nos usos das novas tecnologias, “a mente, a afetividade e a percepção são agora estimuladas não apenas pela razão ou imaginação, mas também pelas sensações, imagens em movimento, sonoridades, efeitos especiais, visualização variada do impossível, encenação de outras lógicas possíveis de construir realidades e se construírem como sujeitos”[4].
Partindo do novo mapa ou da reconfiguração do processo comunicacional na sociedade contemporânea, somos levados a pensar que a sociedade atual se rege pela midiatização, ou seja, pela tendência à “virtualização” das relações humanas, à excitação de todos os sentidos e emoções, à provocação do imaginário e dos desejos. Hoje, o indivíduo é solicitado a viver pouco reflexivamente e mais na superficialidade do que percebe, sabe e sente. No horizonte comunicacional da interatividade absoluta, põe-se em primeiro plano o envolvimento sensorial, a pura relação.
Daí a importância de, além de observar esse fenômeno, educar para a relacionalidade e trabalhar com cuidado as interações, os usos e os consumos no contexto das dinâmicas culturais. Assim, a atenção se volta, primeiramente, para os processos envolvidos na recepção, para o modo de construir significados e para os mecanismos de ressignificação e aplicação da simbologia midiática, entre outros aspectos. Aí ocorrem os processos de negociação, de significação, dos novos sentidos. Pois, como vimos, no mundo das novas tecnologias, onde estamos imersos, já não temos simplesmente novos aparatos, mas sobretudo novos espaços simbólicos, geração de significados, formas inéditas de relações, oportunidades de novas identidades, novos sujeitos. E é justamente nesse novo panorama comunicacional, por vezes assustador, que está a oportunidade de promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade. Tudo depende de uma pessoa bem formada nos princípios.
O papa João Paulo II, na encíclica Redemptoris Missio (1990), fala do mundo da comunicação, que se tornou muito mais complexo do que no tempo de Paulo, a ponto de o próprio pontífice denominá-lo como o primeiro areópago do tempo moderno. Trata-se de um setor importante da cultura moderna. Aí deve-se realizar a “pregação” à qual se devotou o grande comunicador Paulo. Comunicação que, seguindo as linguagens e a sensibilidade do homem contemporâneo, se torna um “lugar teológico” onde deve ocorrer o diálogo entre fé e cultura midiática.
Traduz-se, então, a importância da evangelização e o convite a essa missão no compromisso de conhecer, refletir e iluminar, como Paulo, esse revolucionário mundo da comunicação, que cada vez mais provoca a mudança de paradigmas, de linguagens e métodos pastorais na evangelização atual.
Nos primeiros tempos da Igreja, os apóstolos e os seus discípulos levaram a boa-nova de Jesus ao mundo greco-romano: como então a evangelização, para ser frutuosa, requereu uma atenta compreensão da cultura e dos costumes daqueles povos pagãos com o intuito de tocar as suas mentes e corações, assim agora o anúncio de Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conhecimento profundo das mesmas para se chegar a uma sua conveniente utilização (Bento XVI, Novas tecnologias, novas relações).
Por conseguinte, a Igreja encontra em Paulo a inspiração para, diante de novos olhares e novas fronteiras para a evangelização na cultura midiática, levar em consideração os desafios inerentes à conjuntura histórico-cultural do homem contemporâneo e ir ao seu encontro sem abdicar da própria identidade e com a coragem de quem vive sua vocação de educadora e comunicadora. Sobretudo na sociedade atual, em que amiúde estão a serviço de determinados interesses, os meios de comunicação costumam transmitir principalmente as mensagens convenientes aos que têm poder econômico. Como Paulo, que “enfrentou” Pedro na discussão a respeito de imposições aos pagãos, não se pode permitir que a evangelização se estabeleça como uma imitação do procedimento tantas vezes manipulador dos poderes econômico-midiáticos.
Indubitavelmente, o maior desafio atual, em que Paulo pode ser “modelo” para o comunicador moderno, “consiste em perceber com maior clareza e empatia as inquietações e necessidades profundas dos homens e das mulheres de hoje, para que se possa interpretá-las e expressá-las melhor do que outras mensagens midiáticas pouco evangélicas”[5]. Nasce, então, a urgência da preparação cultural, da competência, além da espiritualidade que leva o evangelizador a ter em conta os comunicadores, produtores de mensagens.
Oxalá Paulo seja o grande inspirador para o evangelizador nas grandes metrópoles contemporâneas, de modo que este se prepare com a devida competência, criatividade e “pastoralidade” para realizar o diálogo entre a fé e a cultura atual com base numa identidade cristocêntrica — o “facho de luz” a impulsionar a missão apostólica, segundo o Espírito de Jesus, no mundo de hoje.
[1] Rogério da Costa. Cultura digital. São Paulo: Publifolha, 2002.
[2] André Lemos. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.
[3] Costa, op. cit.
[4] Silvia H. S. Borelli; João Freire Filho (org.). Culturas juvenis no século XXI. São Paulo: Educ, 2008.
[5] Victor Manuel Fernandez. Teologia espiritual encarnada. São Paulo: Paulus, 2007, p. 194.
Ir. Joana T. Puntel, fsp