Publicado em número 137 - (pp. 39-43)
Meditações bíblicas sobre a Eucaristia
Por Pe. Luís Alonso Schökel, sj
(As meditações I-II, III-IV, V-VI, VII e VIII-IX foram publicadas também em 1987, respectivamente, nos números 132, 133, 134, 135 e 136 de Vida Pastoral.)
X. SACRIFÍCIO
Sobre a eucaristia como sacrifício pesquisou-se e discutiu-se com fervor e escreveu-se torrencialmente. Isto foi necessário pela importância do tema e pela dificuldade de explicar em que sentido a eucaristia é sacrifício, em que relação se encontram as múltiplas celebrações, todas e cada uma, com o sacrifício único e irrepetível de Cristo na cruz.
Minha tarefa é modesta: oferecer algumas reflexões bíblicas sobre o tema para enriquecer a nossa participação.
1. A comunidade de Israel elabora um sistema complexo e diferenciado do culto, que dá origem também a uma terminologia diferenciada. A primeira coisa é distinguir entre sacrifício e oferenda (zebah e minhá): no primeiro se oferece uma vítima animal, no segundo se oferece pão ou farinha preparados de formas diversas e acompanhado segundo os casos de óleo, sal, vinho. Partindo do ofertório, nossos dons se parecem mais com a “oferenda” do que com o sacrifício. A palavra minhá significa tributo, ou seja, a entrega do vassalo ao soberano: é ao mesmo tempo ato de reconhecimento e de oferenda. Nossos dons só podem exprimir reconhecimento, nada aportam a Deus. A palavra zabah significa matar um animal para a alimentação, e o substantivo pode significar banquete. Este aspecto aparece em nosso banquete eucarístico.
Outra distinção importante faz-se entre holocausto e sacrifício de comunhão, ‘ôla e zebah šelamim. No primeiro se queima a vítima inteira (‘ôla vem da raiz ‘lh = subir: porque sobe ao altar ou porque sobe ao alto em forma de fumaça ou aroma?); a cinza é lançada num desaguadouro especial. Nos sacrifícios de comunhão uma parte pertence ao Senhor: o sangue é derramado em torno do altar, a gordura e outras partes são queimadas; a carne é assada e repartida entre os participantes ou comensais do banquete sagrado. Nossa eucaristia reproduz traços de ambos os tipos. A entrega total de Cristo ao Pai é como um holocausto; metaforicamente “queima-se” e sobe qual aroma para o Pai. Por sua morte livremente aceita “queimou-se”, a partir dela subirá gloriosamente ao Pai (ascensão-subida = ‘ôla). A partir dessa glorificação pode comunicar-se aos seus em banquete sagrado. Nossa eucaristia desemboca num banquete, muito semelhante aos sacrifícios de comunhão do AT.
Os sacrifícios de ambos os tipos são oferecidos em circunstâncias diversas e com várias finalidades. Há, por exemplo, o sacrifício de aliança: é um sacrifício de comunhão e um holocausto; o sangue é repartido, aspergindo o altar e o povo; a carne é comida em banquete sagrado. Assim, fica “selado o pacto com um sacrifício” (Sl 50). Nossa eucaristia é explicitamente sacrifício da “nova aliança”, selada com o sangue de Cristo e também rubricada com o banquete do seu corpo que nos torna comensais de Deus. Também se oferecem sacrifícios para “expiação de pecados”; o mais importante é o que se oferece no dia da expiação (yom kippur). Nossa eucaristia o menciona expressamente: “será derramado por vós e por todos para o perdão dos pecados”. A liturgia penitencial fica vinculada ao banquete eucarístico. Precede-o, porque ninguém que esteja manchado deve sentar-se a esta mesa; por outro lado, o banquete compartilhado ratifica a reconciliação. Dando um passo a mais, me atreveria a dizer que o sacrifício da cruz, enquanto expiação, está ordenado à eucaristia enquanto banquete. Outra finalidade pode ser a ação de graças (Lv 7,12s): é evidente que neste grupo entra a eucaristia, como o indica o nome, que significa ação de graças (beraká).
Embora não se trate de sacrifícios, vale a pena recordar aqui a oferenda de primícias (Dt 26). Sendo Cristo primícia da criação, primogênito da humanidade e dos ressuscitados (ver 1Cor 15,20; Rm 8,29; Cl 1,15.18), segue-se que na eucaristia oferecemos ao Pai a nossa primícia absoluta.
A pluralidade cúltica do AT serve-nos para iluminar aspectos diversos de nossa celebração.
2. Toda essa instituição fica de alguma forma relativizada por outra série de textos que mergulham em seu sentido profundo ou o transladam para outros atos.
Antes de tudo o sacrifício humano, conhecido na antiguidade e em várias culturas. O AT é categórico contra os sacrifícios humanos (costumavam ser meninos primogênitos, “primícias da virilidade”): Lv 20,2; Dt 12,30s; 2Rs 16,3; 17,31; 23,20; Sl 106,37s; Jr 7,30ss; 19,3ss; Ez 16,20s; Sb 12,4s. Sobre essa condenação unânime sobressai o chamado sacrifício de Isaac. Legalmente é o primogênito; o rito será praticado da maneira prescrita, isto é, a vítima é morta e depois queimada na pira. Holocausto, inteiro para Deus. Deus o rejeita? Substitui-o por um animal. Isto é, Deus aceita como sacrifício de Abraão o que buscava: a submissão e entrega pessoal do patriarca. Quanto à sua expressão externa, consuma-se numa vítima animal. Definitivamente, ficam abolidos os sacrifícios humanos. Contudo, a tradição unânime aplicou essa passagem ao Pai e a Cristo, como se Deus no final aceitasse o que rejeitou anteriormente: um sacrifício humano. É preciso ler com distância crítica. Se a morte de Cristo é sacrifício, não segue o ritual do culto, antes o contradiz. Um “criminoso” pendente de um patíbulo é abominável a Deus (Dt 21,23). A forma parece negação, ponto por ponto, do ritual: não no templo, mas na colina dos sentenciados; não há altar, mas cruz ignominiosa; não um animal perfeito, mas um homem condenado; também não pode haver combustão e nem banquete. E com semelhante negação ritual parece salvar-se o sentido autêntico do sacrifício, que é reconhecimento e entrega.
Aqui não vou falar da polêmica profética contra sacrifícios oferecidos em situação de injustiça, ou do seu produto. Seleciono dois textos clássicos que buscam uma correção ou ampliação do sentido do sacrifício. Um é o salmo 51, que seria necessário explicar unitariamente com o precedente, como dois tempos de uma liturgia penitencial (ver meu livro Treinta Salmos, pp. 189-230). Respigo três versículos: “Seja teu sacrifício a Deus confessar teu pecado. Confessar o pecado é sacrifício que me honra. Sacrifício a Deus é um espírito contrito” (Sl 50, 14.23; 51,19).
Com a confissão compungida, o homem se humilha diante de Deus, o qual aceita essa atitude profunda como sacrifício valioso que o honra. Não se deve “romper-quebrar” nenhum osso da vítima da Páscoa; um espírito ou consciência “contrita” pelo arrependimento é sacrifício que Deus aceita. Cristo não pode confessar pecados próprios; pode solidarizar-se com os homens pecadores e entregar-se compassivamente por eles. Entrega que pode ter valor sacrifical, segundo os textos aduzidos.
O salmo 40 nos oferece alguns versículos que a carta aos Hebreus (10,5-10) cita e comenta: “Não quiseste sacrifício nem oferta, abriste o meu ouvido; não pediste holocausto nem expiação, e então eu disse: Eis que eu venho. No rolo do livro foi-me prescrito realizar tua vontade; meu Deus, eu quero ter a tua lei dentro das minhas entranhas” (Sl 40,7-9). A plena aceitação do desígnio concreto de Deus sobre a pessoa equivale a um sacrifício de si mesmo; e substitui com acréscimos holocaustos, sacrifícios e oferendas. A entrega plena de Cristo ao desígnio do Pai, até à morte, até à morte na cruz, é sacrifical em sentido profundo, e pode abolir e substituir com sobras todos os sacrifícios anteriores. Pois bem, essa oferta e entrega de Cristo ao Pai, nós a oferecemos como sacrifício eucarístico. Somente podemos unir-nos a ele se assumimos o desígnio de Deus sobre nós, sacrificando também o nosso radical interesse e egoísmo.
Não é difícil relacionar esse texto com o mencionado de Abraão e também com a citação clássica de Samuel a Saul (1Sm 15,22): “Sim, a obediência é melhor do que o sacrifício, a docilidade mais do que a gordura dos carneiros”. A diferença consiste em que o salmo 40 não compara, ou se o faz, é para afirmar o sentido profundo de algumas práticas desvirtuadas.
3. De nossa cultura
Este dado não é propriamente bíblico, embora se coadune com um aspecto do pensamento de Israel. Em muitas línguas modernas chama-se sacrifício qualquer renúncia que uma pessoa faz por um valor superior. É frequenteo uso quando se refere ao bem dos outros.
Maria Moliner define: “Renunciar a algo ou impor-se uma privação ou um trabalho para beneficiar a outro…”. Os pais se sacrificam pelos filhos, é uma profissão muito sacrificada etc. Uma primeira reação pode considerar tal uso como um secularizar o sagrado: chama-se sacrifício sem ser sagrado. Uma reflexão atenta nos faz descobrir um aspecto muito valioso do sacrifício de Cristo e de sua celebração eucarística.
Com efeito, não se tratava apenas de uma formalidade, de submeter-se ao desígnio do Pai, fosse ele qual fosse; o conteúdo também contava. O desígnio do Pai é que seu Filho se sacrificasse pelos homens: “Por nós e para nossa salvação desceu do céu… padeceu e foi sepultado”.
O AT conhece a ideia de uma personagem inocente que padece por causa e em benefício de outros (Is 53), mas não chama a isso de sacrifício. Pelo contrário, a carta aos Hebreus, que trata amplamente do tema do culto judaico e cristão, aconselha: “Por meio dele ofereçamos continuamente um sacrifício de louvor a Deus, isto é, o fruto dos lábios que confessam (bendizem) o seu nome. Não vos esqueçais da beneficência e da comunhão, porque são estes os sacrifícios que agradam a Deus” (Hb 13,15-16). Os lábios que “bendizem” (beraká) “oferecem um sacrifício de louvor”, e fazer o bem é “sacrifício” que Deus aceita. Há aqui uma notável concentração de linguagem cúltica. Não vale minimizá-la a pretexto de que são metáforas, pois pode acontecer que esta prática cristã mereça o nome de sacrifício melhor do que práticas puramente rituais.
Creio que este aspecto do sacrificar-se pelo próximo, juntamente com outros aspectos mais bíblicos, nos ajuda a compreender a eucaristia como sacrifício.
4. Os dois momentos
Em todo sacrifício podemos observar um momento de destruição e outro de exaltação. Queimar e elevar-se transformado em aroma; renunciar a um bem e vê-lo aceito por aquele a quem estimamos sumamente; sacrificar-se e ver consagrado, ou seja, tirado de minha esfera humana interesseira e vê-lo transportado para a esfera divina.
O primeiro é realidade e expressão. O israelita degola a vítima, queima-a sobre a lenha do altar, e com isto exprime seu aniquilamento diante de Deus, reconhece que todo o seu ser vem, depende e é de Deus. Não algo que possui, mas ele mesmo; ou ele mesmo que se possui pela consciência e liberdade. Dá-se como um holocausto interior que se exprime no holocausto real da vítima oferecida. O homem sente-se “pó e cinza” (Gn 18,27; Jó 30,19; 42,6): o pó que era antes de ser homem, a cinza em que acaba uma combustão. Nesse reduzir-se espiritualmente a pó e cinza, o homem se abre à transcendência e é arrastado por Deus. Como a vítima aceita em forma de aroma (rehnihoh Gn 8,21; frequente em Lv e Nm).
O homem, uma comunidade humana, busca relações estáveis com a divindade; ou melhor, Deus se adianta para oferecê-las. Deus se compromete de maneira livre e soberana; o homem aceita livremente. Vamos selar ou marcar o compromisso. O homem põe sua vida à disposição, a serviço de Deus; a vida que está no sangue. E o exprime derramando e oferecendo o sangue de uma vítima. Deus a recebe e consagra, e com ela marca as duas partes: marca o altar, que é sua mesa exclusiva, marca o povo, aspergindo-o (Ex 24,5-8). Lê-se em voz alta o documento do pacto, pronuncia-se em voz alta a aceitação, e o pacto fica selado com sangue de sacrifício. Na nova aliança esta função é cumprida pelo sangue de Cristo, oferecido ao Pai, na cruz, e aos homens na eucaristia.
O “aliado” de Deus quer ser anfitrião e comensal de Deus. Para isto “sacrifica” alguma posse valiosa, por exemplo, de seu gado. Dessa forma anula seu valor útil, renuncia à sua posse, oferece-a com prazer à divindade que a aceita. Nesse ponto fica consagrada, não pode ser destinada a usos profanos. Aqui não há dúvida de que vale mais a vontade do que o dom; porque Deus não vai se alimentar com essas oferendas: “Acaso comeria eu carne de touros, e beberia sangue de cabritos?” (Sl 50,13). Ao aceitar com agrado a vontade e o gesto do homem, Deus estabelece uma comunicação ou comunhão. Nesse sentido se torna convidado, comensal do homem. Porque Deus não se alimenta; ou se alimenta de si mesmo, porque o seu ser é a plenitude sem limites (notemos que o espírito humano pode alimentar-se e enriquecer-se com seu pensar, sentir e querer). O homem quer ser também comensal de Deus, como consequência de ter convidado a Deus; isto só pode acontecer por uma comunicação-comunhão de Deus, a qual se exprime convidando ao banquete da vítima sacrificada.
No Novo Testamento o sacrifício de comunhão é a eucaristia. Há uma renúncia do homem aos dons, como expressão. Há sobretudo uma renúncia total de Cristo como vítima. Somente atravessando este momento, Cristo pode comunicar sua nova vida consagrada, e o faz consagrando os dons oferecidos. Aqui retorna o momento da glorificação. É o momento correlativo do anulamento da morte. É, além disso, a condição para comunicar-nos sua vida, coisa antes impossível: “Como este homem pode dar-nos a sua carne a comer… Esta palavra é dura, quem pode escutá-la?” (Jo 6,52.60). A glorificação é como um vértice: correlativo da morte e correlativo de alguns dons.
Participando do banquete, também a comunidade fica consagrada. Renunciando à sua vida puramente biológica, pode participar da vida de Cristo e fazer-se cristã. Este é o sacrifício de comunhão.
5. Fórmulas litúrgicas
Vejamos agora como é formulado este aspecto nos textos da nova liturgia. É comum a todas, como parte do chamado ofertório, este convite e resposta: “Orai, irmãos, para que o nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso. — Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para glória do seu nome, para nosso bem e de toda a santa Igreja”. Por duas vezes se chama sacrifício, indica-se a oferta e aceitação, indica-se sua dupla finalidade (com algo de aliança), para Deus e para os homens, afirma-se seu sentido eclesial.
Todas as fórmulas, ao se referirem expressamente à morte e ressurreição, ou ao mistério pascal, implicam o tema do sacrifício.
O Prefácio da Santíssima Eucaristia I reúne com admirável concisão o mais importante: “Ele, verdadeiro e eterno sacerdote, oferecendo-se a vós pela nossa salvação, instituiu o Sacrifício da nova aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. Sua carne imolada por nós é o alimento que nos fortalece; e o seu sangue, por nós derramado, é a bebida que nos purifica”.
A anáfora primeira pede: “Dignai-vos, ó Pai, aceitar e santificar estas oferendas”; e o repete de forma afirmativa depois da narração da instituição: “O sacrifício perfeito e santo, pão da vida eterna e cálice da salvação”.
A anáfora segunda exprime isto de outro modo, que ficará claro à luz das explicações anteriores: “Ele, para cumprir a vossa vontade… estendeu os braços na hora da sua paixão… Estando para ser entregue e abraçando livremente a paixão…”.
A anáfora terceira soa: “Nós vos oferecemos em ação de graças este sacrifício de vida e santidade… reconhecei o sacrifício que nos reconcilia convosco… Que este sacrifício da nossa reconciliação…”.
Da anáfora quarta cito: “Para realizar o vosso plano de amor, entregou-se à morte e, ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou a vida… nós vos oferecemos o seu corpo e sangue, sacrifício do vosso agrado…”.
É peculiar desta oração eucarística vincular como duas vítimas Cristo e a Igreja: “Olhai, com bondade, o sacrifício que destes à vossa Igreja e concedei a nós que vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, nos tornemos em Cristo um sacrifício vivo para o louvor da vossa glória”.
Assim ressoa o ensino antes citado da carta aos Hebreus.
O sacrifício eucarístico que celebramos nos inculca o sentido de sacrifício que tem a vida cristã, em sua dupla vertente de renúncia e consagração.
6. Vou reunir e completar os dados propostos. O sacrifício de Cristo é o despojamento total de si para oferecer-se integralmente ao Pai: “Não minha vontade, mas a vossa”. Para ser íntegra, a entrega deve incluir a morte. Não se busca a morte para pôr à prova (Sb 2); aceita-se a morte como prova de amor: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”. Aceitar um desígnio do Pai que inclui a morte é despojamento total de si. Anulando-se a si mesmo, oferece-se inteiro ao Pai: é seu sacrifício (Salmo 40). Ao aceitá-lo, o Pai o transforma: introduzindo-o na esfera divina? Cristo já pertencia a ela. Divinizando a humanidade? As naturezas não se confundem nem transmutam. O Pai o transforma glorificando a humanidade pela ressurreição. O sacrifício consagra enquanto translada de maneira nova para a esfera sagrada, divina.
Reconhecemos que recebemos tudo de Deus, até a raiz do ser. Somos e existimos à medida que recebemos ser de Outro. Agora, enquanto pessoas possuímos o nosso ser: o conhecemos e o realizamos livremente. Para reconhecer a nossa dívida de gratidão total nos despojamos disto. Não por aniquilação, que não honraria a Deus, mas renunciando à posse, para sermos possuídos totalmente pelo doador. Isto é sacrificar-nos. Quando Deus o aceita, o transporta à esfera divina, o consagra.
Para exprimir o nosso despojamento-sacrifício, desprendemo-nos de coisas úteis e as oferecemos a Deus. Desprendemo-nos de seu desfrute ou consumo. Anulamos seu valor útil, as enchemos de significado ou expressão; as ofertamos. Assim alguém pode sacrificar suas flores para enfeitar uma festa; os “pães apresentados” no tempo de carestia significam “tirar o pão da boca”. Se Deus aceita as nossas oferendas, as consagra ou sacrifica, as conduz à sua esfera. Como o aceita Deus? Não materialmente, pois não o come nem o bebe (Salmo 50). Aceita-o como expressão válida e pode empregar símbolos que indiquem a aceitação: consumindo no fogo, que é elemento da divindade. Em forma de aroma, que é menos material do que comer, mais ligado ao alento vital, à respiração. Assim o incenso transformado em perfume ao queimar-se.
Mas acima de todas as nossas oferendas, numa ordem diversa, a comunidade cristã, que é o corpo de Cristo, oferece de novo ao Pai o sacrifício de seu Filho: a entrega total, o sacrifício por amor, a morte, a glorificação. E se oferece a si mesma para o desígnio do Pai, para a vida cristã do amor fraterno.
Pe. Luís Alonso Schökel, sj