Publicado em número 234 - (pp. 27-28)
Missão da Igreja na Amazônia
Por Dom Jayme H. Chemello (Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia)
1. Para início de conversa
Tudo na vida tem o seu curso para chegar à maturidade e garantir a sua perpetuidade por intermédio das sementes produzidas e das gerações que dão continuidade à raça e às tribos. É normal a sociedade, as instituições e os organismos quererem repetir o que está implícito na própria natureza, pelo esforço em assegurar a sua expansão e continuidade. O “multiplicai-vos” (Gn 1,28) aplica-se também a todos os setores da vida como sinal de dinamismo, de vitalidade, de valor duradouro no tecido existencial de tantas pessoas e expressões culturais.
Como é natural para uma árvore produzir frutos, assim deveria ser normal, natural para os cristãos ser missionários, pois missionariedade é a expressão da maturidade da fé. A fé de um cristão está sujeita a morrer quando não vai além das portas de sua casa. Nesse sentido, o Papa João Paulo II mede a vitalidade ou a saúde de uma Igreja pelo termômetro da missionariedade, dizendo: “Uma Igreja fechada sobre si mesma, sem abertura missionária, é Igreja incompleta ou está doente”. O “encolhimento” de muitas Igrejas deveria ser um sinal de alerta para encontrar remédios que assegurem a sua vitalidade.
É chegada a hora, para muitas Igrejas no Brasil, de entrar no mesmo barco da missão na Amazônia. À interpelação provinda da Amazônia há décadas a Igreja no Brasil responde como colegiado episcopal, com programas bastante arrojados, para dar sequência ao Projeto Igrejas-Irmãs assumido há anos por algumas Igrejas particulares.
Uma área que ocupa quase 50% do território nacional, considerada como pulmão do mundo pela presença da imponente floresta tropical, com o rio mais extenso e de maior volume de água potável do mundo, com fauna, flora e minérios, é ferida mortalmente pela ganância de muitos. Amazônia há décadas agoniza. A depredação, o desmatamento, a biopirataria, as queimadas, o narcotráfico, o inchaço nas periferias urbanas, o desrespeito pelas áreas indígenas e sua invasão são alguns desafios que clamam pela intervenção de homens e mulheres conscientes.
Há décadas pede-se pela justiça na redistribuição da presença da Igreja no território brasileiro, diante da disparidade numérica entre o Norte e o Sudeste. Se não se opta pela desconcentração, por uma redistribuição equitativa, pelo menos é pedido um gesto de solidariedade entre as Igrejas. A densidade demográfica e populacional não é a mesma no Norte, Sul e Sudeste, mas o ritmo determinado pelo hábitat do Norte exige um reforço que amenize o sentimento de isolamento dos missionários.
2. O que a comissão objetiva
O primeiro objetivo da Comissão Episcopal para a Amazônia é sensibilizar a todos para a questão dessa região. É fazer com que o Brasil todo volte o seu olhar para a Amazônia. Que todos amem esse pedaço do país, defendam o que lhes é próprio, saibam de suas riquezas e dos riscos que estão aí, diante da cobiça de muitos. Conheçam, sobretudo, as causas do empobrecimento do nosso povo e ajudem a expulsar as forças do mal que deixam rastros em tantas situações desumanas que ferem o direito de cidadania de nossa gente.
O segundo objetivo é consequência do primeiro. Por onde passa a proposta da Igreja senão pela evangelização? A comissão deseja favorecer o despertar e o aprofundar da consciência missionária, atendendo ao apelo provindo da Igreja que se encontra na Amazônia: “Dai-nos de vossa pobreza”, com projetos de solidariedade e programas afins, mediante a participação corresponsável e fraterna de todas as dioceses.
A evangelização da Amazônia, do ponto de vista sociotransformador, visa à promoção integral da pessoa humana, o que implica a defesa da vida em todas as suas formas:
— a VIDA HUMANA em perigo, diante da lógica de exploração e da violência, o que exige a defesa dos povos indígenas, dos seringueiros, das populações ribeirinhas;
— a BIODIVERSIDADE, ameaçada de extinção pelo desmatamento desenfreado, trazendo desequilíbrios ambientais e sociais, e pela biopirataria de material genético e extravio do conhecimento ancestral das populações nativas por parte dos laboratórios estrangeiros;
— o grande patrimônio nacional da fauna, da flora e da ÁGUA, fontes naturais de vida, o que exige atenção à ecologia para preservar o meio ambiente.
3. Metas previstas
— Incentivar a realização do Projeto Igrejas-Irmãs entre as dioceses do Leste e Sul do País e as Igrejas da Amazônia, promovendo uma relação de entreajuda com o envio de recursos humanos, materiais e financeiros para atender as carências nos seminários, comunidades e paróquias.
— Colaborar na construção de uma Igreja toda ministerial e missionária, oferecendo suporte para a realização de cursos de formação para catequistas, agentes de pastoral, padres e consagrados.
— Favorecer a sensibilização dos amazônidas para o dever de cuidar das vocações, mediante um projeto de Curso de Capacitação para Animadores e Animadoras Vocacionais, garantindo o acompanhamento inicial e a sua continuidade.
— Despertar a sensibilidade missionária nos seminários mediante o processo formativo, implementando um projeto de estágio pastoral dos seminaristas e teólogos na Amazônia.
— Criar um Centro Nacional de Documentação da Amazônia, possibilitando a todos o conhecimento e a obtenção de informações sobre a Amazônia, para lutar e preservar o que é próprio.
— Criar a Universidade Católica na Amazônia e/ou centros de formação superior que incentivem alguns campos do saber, como teologia, filosofia e outras ciências humanas e sociais, conferindo um cunho ético a todo o processo de formação e pesquisa e contemplando a antropologia, a cidadania e a exclusão social, a espiritualidade e a ecologia.
— Criar uma instituição de coordenação da cooperação da Igreja no Brasil, dos institutos religiosos e de organismos de voluntariado existentes, a fim de promover, dando-lhe consistência, a ação de voluntariado missionário na Amazônia.
4. Formas de participação no projeto
A Comissão Episcopal para a Amazônia precisa de parceiros e parceiras para tornar realidade as metas, com projetos bem concretos. Isso significa que precisa de pessoas disponíveis que se enquadrem nos projetos, passando por uma imersão na cultura amazônica e por formação prévia que assegure uma missão inculturada. Outras pessoas, que não disponham de tempo para se dedicar à missão na Amazônia, poderão participar igualmente, de modo indireto, mediante colaboração financeira — participação necessária e imprescindível para realizar qualquer ação, e muito mais para dar sustentação ao projeto, assegurando a sua continuidade.
Para participar desse projeto basta entrar em contato com a Secretaria da Comissão Episcopal para a Amazônia. Antes, porém, é oportuno o contato com o seu pároco e a sua diocese, pois todo o envio de missionários voluntários é feito pela própria comunidade que os envia.
Dom Jayme H. Chemello (Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia)