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Publicado em número 196 - (pp. 29-33)

Presbíteros na década de oitenta

Por Pe. Manoel José de Godoy (Comissão Nacional do Clero — 21)

No presente artigo propomo-nos a fazer rápida análise da situação dos presbíteros no Brasil ao longo da década passada[1]. Num próximo número desta revista trataremos dos “presbíteros na década de noventa”.

A década de oitenta trouxe como saldo, em termos numéricos, uma sensível reação positiva dos presbíteros no Brasil. Começamos a década em declínio e chegamos ao seu final em curva ascendente. Todavia, levar em conta somente esse aspecto pode acarretar uma visão falseada da realidade. Inúmeros foram os problemas e desafios enfrentados pelos presbíteros na Igreja e fora dela, nesse período.

Os pontos referenciais para a presente reflexão foram o documento 20 da CNBB — Vida e ministério do presbítero do Brasil – Pastoral vocacional[2] — e os textos preparatórios e conclusivos dos Encontros Nacionais de Presbíteros (ENPs). O primeiro tem como suporte uma pesquisa realizada junto aos presbíteros, cuja síntese foi publicada no início da década de oitenta[3], e vários encontros acontecidos, nessa época, envolvendo agentes de pastoral, formadores e presbíteros. Os ENPs têm sido momentos ricos para se sentir o pulsar da caminhada presbiteral no Brasil.

 

1. No limiar da década

Era sensível, no início dos anos oitenta, um princípio de caminhada nova na vida e ministério dos presbíteros da Igreja no Brasil. Embora não se pudesse dizer que a crise sacerdotal tivesse sido totalmente superada, vislumbrava-se já alguns passos concretos para isso. Com o protagonismo eclesial na sociedade, tão marcada pelo regime militar, os padres começavam a perceber novos campos de trabalho vinculados ao processo evangelizador. A articulação entre fé e vida, ou fé e política, aparecia cada vez mais clara. A defesa dos direitos humanos ultrajados por um regime político autoritário e excludente. A luta por melhores condições de vida do povo brasileiro. As grandes mobilizações civis em vista de uma maior participação no processo social e político. Tudo isso passou a ser parte integrante do ministério de muitos presbíteros. Essa nova prática pastoral reforçava as bases para a teologia da libertação, reflexão que iluminava a vida e o ministério dos presbíteros que vinham lutando por definições mais adequadas aos desafios da realidade de então. Prática e reflexão caminhavam numa dialética que, a cada síntese, desvendava uma imensa estrada a percorrer. Não se sentiam ainda os efeitos da política do centralismo romano[4]. O pontificado de João Paulo II dava seus primeiros passos. Por fim, como queria o Concílio, a caridade pastoral começava a se tornar o grande eixo integrador da vida e ministério dos presbíteros e o caminho para concretizar a opção preferencial pelos pobres.

Na pesquisa supracitada, dos 12.641 padres que trabalhavam no Brasil em 1980, 4.104 responderam ao questionário enviado. Desses, 73,2% trabalhavam em paróquia, 5,3% em pastoral ambiental ou especial, 4,9% em coordenação pastoral. É significativo que 84,8% declaravam estar satisfeitos quanto à sua atividade pastoral. Outro dado relevante era a situação de insegurança, sobretudo do clero diocesano, quanto à maneira de encarar o amparo econômico diante de situações de doença, velhice ou impedimento ao trabalho. Enquanto 88,6% do clero religioso pesquisado se dizia suficientemente amparado, apenas 56% do clero diocesano se manifestava dessa mesma forma. Na mesma perspectiva, 8,9% dos religiosos se revelavam com garantia insuficiente no campo econômico e, junto com os diocesanos, essa porcentagem alcançava a casa dos 40,3%[5]. Mesmo assim era notável o grau de satisfação dos padres em relação à sua opção de vida: 90,1% do clero religioso e 80,8% do diocesano afirmava que optaria outra vez pelo sacerdócio. Sem dúvida, a pesquisa serviu para revelar um clero bastante atuante e que começava a encontrar o seu lugar na Igreja e na sociedade. A atuação firme e profética da Igreja, durante o período militar, constituiu um elemento importante na definição do papel do clero junto ao povo. Inúmeros presbíteros assumiram a causa dos sem-vez e sem-voz, de forma expressiva­mente destemida, a ponto de alguns testemunharem esse compromisso com a própria vida.

Essa participação expressiva e comprometida dos presbíteros nos destinos da nação acarretava, naturalmente, um anseio de poder repetir no seio da Igreja o que se tornava comum na esfera social. Não foram poucos os conflitos nesse particular. Era comum se ouvir reclamações de que membros da hierarquia com fama de avançados ad extra não o eram ad intra. Quanto mais se destacavam algumas figuras proeminentes do episcopado nacional, firmavam-se, de outro lado, bispos totalmente avessos a quaisquer mudanças. Quanto mais aumentava o número de bispos que viviam o seu ministério profundamente ligados aos seus presbíteros, apresentando-se como verdadeiros amigos de seus padres, mais se ressaltava o pedantismo daqueles que insistiam na figura principesca e distante dos seus padres e do povo. Estes, porém, de forma alguma, chegaram a representar a maioria do episcopado nacional. A pesquisa junto aos presbíteros revelava, no início da década, “um clero comprometido e solidário com o bispo da diocese onde trabalha um clero que se sente bem integrado no presbitério diocesano. São poucos os casos de padres que se sentem separados de seu bispo, dos colegas”[6].

A mesma pesquisa classificava, como segunda área de problemas, o relacionamento do clero entre si e com o bispo. Isso os ENPs foram comprovando ao longo da década, pois em diversos lugares surgiam descontentamentos devido à falta de senso evangélico no agir de parte do episcopado[7], e, sobretudo, a falta de diálogo[8]. Do mesmo modo também havia queixas de bispos em relação ao agir de muitos presbíteros.

Esses conflitos emergiam da busca ansiosa da parte de muitos em encontrar o verdadeiro caminho de realização humana no exercício de seu ministério. Não era briga de poder no sentido de carreira eclesiástica. O nó da questão estava no como servir melhor e mais autenticamente o povo de Deus. O presbítero como servidor do povo crente e pobre começa a se tornar uma marca fundamental na Igreja católica do Brasil. Muitos presbíteros, assim, foram superando a chamada crise de identidade sacerdotal.

A eclesiologia de comunhão e participação vai se firmando profundamente, questionando os modelos piramidais e monárquicos até então predominantes. O presbitério recupera o seu sentido mais primitivo e original de colegialidade e sinodalidade. O presbítero começa a perceber que sua caminhada deve ser feita em conjunto com seus irmãos de ministério, em comunhão com o bispo diocesano e com a participação dos cristãos das comunidades. A estrutura da Igreja é sinodal — ecclesia — povo de Deus reunido em assembleia, definindo seu destino, à luz da palavra de Deus e da história. A definição do lugar do presbítero é simultânea à descoberta do lugar da Igreja na caminhada histórica do povo de Deus.

Imensos desafios, porém, ficavam à espera de respostas mais concretas, tanto da parte pessoal do presbítero quanto da parte da estrutura eclesial. Esta foi ganhando contornos nitidamente conservadores ao longo dos anos 80. Os presbíteros defensores de novos rumos na vida eclesial passaram a conviver com um forte clima de desconfiança e suspeita por parte da Sé Apostólica.

É certo que as condições políticas nacionais também sofriam mudanças profundas. Da distensão à abertura, dos militares aos civis, a política nacional vai abrindo espaços para outras forças sociais. A Igreja no Brasil padece um duplo movimento de mão única: o da abertura da sociedade, em nível político, e o do fechamento eclesial orquestrado pela Cúria Romana. Tudo isso ajudou a empurrá-la para dentro de si mesma. Essa postura eclesial — refletida também nos documentos e pronunciamentos oficiais — poderá provocar nova crise de identidade presbiteral, diferente daquela do final dos anos 60. Os presbíteros que se encontraram na articulação fé e vida, e assumiram o compromisso de transformação da sociedade como dimensão inerente de seu ministério, podem se sentir incomodados com a onda do neoclericalismo, emergente de movimentos espiritualistas e fechados na vida interna da Igreja[9].

 

2. Os presbíteros e os ENPs

É nesse clima de busca e retrocesso, de esperança e angústia, que se realiza o I Encontro Nacional de Presbíteros (I ENPs), em Itaici, de 21 a 25 de outubro de 1985, sob o olhar desconfiado de parte da hierarquia. Os presbíteros, por sua vez, alimentavam grande expectativa quanto ao encontro. Seria boa ocasião de mostrar sua força como grupo social. Depois do chamado período da crise, era a primeira vez que se reuniriam para tratar de temas relevantes para a sua vida e ministério.

Sob o tema “O presbítero na Igreja, povo de Deus, servidora do mundo”, o I ENPs reuniu cerca de quinhentos padres, vindos das mais diversas regiões do país, representando suas dioceses. O objetivo do encontro era avaliar a caminhada dos presbíteros da Igreja no Brasil, nos últimos 20 anos, à luz da palavra de Deus e das Diretrizes da ação pastoral da Igreja no Brasil, visando à animação e à articulação dos presbíteros diante dos desafios do presente e do futuro. O tema já definia um modelo de Igreja: povo de Deus a serviço do mundo. É nessa Igreja que o presbítero encontra definições para o exercício do seu ministério. Uma Igreja com os pés na realidade, com missão precisa de ser fermento no mundo, através do serviço. Igreja da inserção, se dizia na época. Os presbíteros participantes desse I ENPs apresentavam características bem homogêneas quanto à problemática pessoal e à expectativa em relação às mudanças eclesiais em curso. Esse fato é muito significativo se consideramos que, sendo eles religiosos e diocesanos, brasileiros e estrangeiros, jovens e idosos, constituíam uma excelente amostra do presbitério nacional. Por isso eram motivo de destaque no meio de todos um presbítero de batina e outro de bermuda.

Na busca de identidade do presbítero, durante esse encontro veio à tona o impasse gerado por aqueles que acentuavam quase exclusivamente o aspecto cristológico da teologia do presbiterato: “Agere in persona Christi capitis” e “Sacerdos alter Christus”. Dessa concepção decorre a tentação de concentrar em si mesmo todas as atenções e ministérios, fazendo do presbítero a síntese dos ministérios ao invés de facilitar-lhe o exercício do ministério da síntese. Outros presbíteros, porém, afirmavam que o ministro deve apontar para Cristo, não substituí-lo. Não negavam que os presbíteros são, na Igreja e para a Igreja, uma representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor, mas acentuavam que a eclesiologia de comunhão torna-se decisiva para explicar a identidade do presbítero. Apresentavam como argumentos:

— O exercício incorreto do ministério, segundo modelos humanos de autoridade, já aparece na primeira geração cristã (cf. Mc 10,41-45; Lc 22,26- 27).

— Os presbíteros evitarão uma compreensão unilateral de seu ministério se o assumirem, antes de tudo, numa perspectiva colegial.

— A dimensão cristológica se complementa com a eclesiológica.

— A missão apostólica foi confiada aos doze e Jesus costumava enviar seus discípulos dois a dois.

— O apóstolo Paulo sempre trabalhou em equipe.

— Desde sua origem, não existe o presbítero isolado, mas um presbitério, ou seja, um grupo ou colégio de presbíteros, dentro dos quais emerge aquele que o preside, o bispo[10].

Nesse encontro também se tratou da temática do celibato. Significativa parcela dos presbíteros presentes questionou a forma autoritária como é definida essa disciplina eclesiástica, e apresentou moção dirigida à Cúria Romana, em defesa do celibato optativo.

Na linha de continuidade, o II ENPs, realizado de 20 a 25 de outubro de 87, teve como tema: “A pessoa do presbítero”. Esse encontro visava a refletir sobre o ser padre, sua identidade como pessoa humana numa sociedade em mudança e numa Igreja toda ministerial, seu presbitério e sua organização. Tema e objetivo que refletiam bem a caminhada presbiteral no Brasil. Depois de tanta luta e desafios, era evidente que a pessoa do presbítero aparecesse profundamente marcada. O ser do padre tornava-se, assim, o eixo dos debates do II ENPs. Sem cair num intimismo inócuo, esse encontro enfrentou os problemas existenciais dos padres da forma que não se discutia há muito tempo. A irrepetibilidade de cada um, sua intimidade, sua dignidade como pessoa foram debatidas e valorizadas. Relacionou-se tudo isso com o papel sacerdotal nas sociedades ao longo da história e constatou-se que é “um dos papéis sociais antropologicamente mais esvaziadores do núcleo íntimo da pessoa”[11]. Se a pastoral contribuiu para firmar a identidade do padre, o ativismo o devorou, roubando-lhe o espaço da sua intimidade. Evitando, porém, um possível narcisismo e individualismo nessa reivindicação, o documento preparatório matiza: “Intimidade inclui pudor, direito à privacidade, não redução à função. Intimidade é aprimoramento da autoconsciência como reserva desde a qual um ser humano, permanecendo ele mesmo, pode se abrir inteiramente ao outro e a Deus”[12]. Fundamental, antropologicamente falando, é o papel da mulher na vida do homem, do padre. Daí que, outra vez, fez-se necessário enfrentar o tema do celibato. “Tal questão não pode nem deve ser iludida, sob o pretexto da existência de uma lei que obriga o presbítero ao celibato”[13]. Assim, buscou-se redimensionar o celibato como um carisma que supõe uma base natural sólida, uma vez que o levamos em vasos de argila. Nas críticas ao celibato, nunca se deixou de valorizar o carisma, pois a que os presbíteros aspiravam era à abertura para outras formas de exercício do ministério presbiteral. Diante de uma realidade que apontava 70% de comunidades católicas espalhadas pelo país, reunidas todos os domingos, e privadas da Eucaristia, os presbíteros apontavam a ordenação dos “viri probati como uma das pistas de superação. Porém, percebeu-se que não havia clima na Igreja para um debate amplo, aberto e irrestrito. O documento preparatório, tomando consciência disso, afirmava: “Como presbíteros precisamos aprender a expressar com muito mais liberdade este e outros aspectos da graça e da cruz que nossa vocação na Igreja nos impõe. Tantos irmãos presbíteros vivem individualisticamente esta realidade”[14].

A temática da identidade sacerdotal ganhava novos contornos. “O que se pretende é precisar as questões existentes em sua realização de homem, de cristão e de padre, seja no nível da instituição e da ação pastoral, seja na dimensão de sua vida pessoal”[15]. O documento preparatório do II ENPs, ao se referir à identidade do padre, afirmava “não poder ser resolvida apenas no foro interno da consciência de cada um”[16]. Sem negar essa dimensão pessoal, o II ENPs apontava para soluções mais coletivas. “A identidade do padre passa em sua definição pela comunhão dos presbíteros entre si e com o bispo no serviço à comunidade”[17].

O encontro ainda enfrentou as questões referentes aos desafios da participação e da transcendência evangélica. Crescia já a inquietação sobre uma espiritualidade e mística que respondessem aos anseios mais profundos da vida e ministério dos presbíteros.

Desde o I ENPs, apareceu a necessidade de uma vida mais fraterna entre os padres. Falava-se, até, da pertinência de uma pastoral presbiteral. Esse tema foi crescendo, influenciando na escolha do tema para o III ENPs: “Ministério e fraternidade dos presbíteros numa Igreja Comunhão e Missão: condições, organização e formação”. Sob a inspiração desse tema, definiu-se o objetivo do encontro: “Fortalecer a fraternidade na vida e ministério dos presbíteros, promovendo formas e condições para a comunhão e participação”[18]. Realizado no final da década de oitenta, de 17 a 22 de outubro de 89, esse encontro já mostrou uma preocupação que emergia como novos desafios a serem enfrentados: a dimensão cultural e a pastoral urbana. A atuação da Igreja nas grandes cidades causava muita insatisfação a um bom número de presbíteros.

No instrumento preparatório do III ENPs, no capítulo que apontava os novos desafios, depois de uma rápida abordagem de cunho sociopolítico-econômico e cultural, levantava-se a questão da inadequação das estruturas eclesiais diante desses novos desafios. Interrogava-se: “Estará a Igreja à altura de enfrentar pastoralmente a questão do ministério presbiteral nas comunidades eclesiais, da ordenação de homens casados, respeitando o carisma do celibato; do lugar e da participação da mulher na Igreja e toda a diversidade dos ministérios, as questões ligadas à religiosidade popular, o problema de comportamentos religiosos na linha do consumismo (Igreja eletrônica/seitas de um lado, sacramentalismo católico de outro); o desafio dos Meios de Comunicação Social; os novos problemas ético-religiosos colocados pelas ciências (fecundação ‘in vitro’, engenharia genética)?”[19].

Esse texto sintetiza bem os questionamentos que emergiam das discussões dos presbíteros, no final da década de oitenta, e tentava acenar para a impossibilidade de se enfrentar tais desafios no estilo “super-homem” ou do presbítero franco-atirador. Conduzia o debate para a urgência de instituições e espaços que garantissem a fraternidade presbiteral.

No final do texto preparatório, apareciam algumas condições exigidas pela fraternidade e espiritualidade presbiteral:

— a criação de novas formas de manutenção;

— um psiquismo sadio, uma vida afetiva equilibrada;

— o celibato assumido como opção, carisma;

— um processo de formação mais sólido e continuado;

— uma espiritualidade profunda e comprometida.

Vale a pena, ainda, ressaltar a pesquisa que foi realizada junto aos presbíteros em preparação deste III ENPs e o seu documento final. Esse texto, como já nos referimos anteriormente, levanta uma interrogação — “uma nova crise?”— que expressa bem a situação dos presbíteros no final da década de 80. Afirma-se que a crise dos anos 60, em meio a muito sofrimento e angústia, trouxe aos padres, como contributo, a descoberta de “uma nova consciência e identidade do presbítero, sob o impulso do Concílio e das Conferências do Episcopado latino-americano em Medellín e Puebla”[20]. O documento indicava alguns pontos básicos dessa nova consciência: “1) a redescoberta da subjetividade, mas agora marcada pela referência à comunidade eclesial e ao novo sujeito social e eclesial, os empobrecidos; 2) a nova visão e prática de Igreja como povo de Deus perseguido, no horizonte do Reino; 3) a teologia do presbiterato como serviço qualificado a esse mesmo povo de Deus”[21]. Já a possível nova crise é “provocada por fatores vários, entre os quais o refluxo da instituição eclesial sobre si mesma”[22]. Todo o esforço de uma real articulação entre fé vida, fé e compromisso social, se vê ameaçado por uma onda neoconservadora oriunda de movimentos espirituais, de corte fundamentalista. Estes desvinculam a existência cristã da dimensão social e política. Os presbíteros reunidos nesse III ENPs apontaram, também, como motivo gerador da possível nova crise, o processo formativo dos novos padres: “Certas modalidades de formação presbiteral, inspiradas pelas novas manifestações religiosas e novas formas do sagrado, despertam, por um lado, o entusiasmo religioso dos presbíteros, mas podem também preparar o terreno para um ‘neoclericalismo’, que afetaria o clero de suas responsabilidades sociais e o fecharia no âmbito da vida interna da Igreja”[23].

 

3. Palavras conclusivas

Neste rápido olhar retrospectivo sobre algumas questões que mais preocupavam os presbíteros na década de oitenta, há temas que, devido à brevidade, não puderam ser aprofundados. Ficam, todavia, essas pistas iniciais que podem nos ajudar a entender os passos seguintes dados ao longo desta década de noventa.

A título de conclusão, gostaríamos de sugerir que a abordagem da realidade presbiteral sempre leve em conta não só as limitações de foro interno, pessoal dos presbíteros, mas também as externas, as institucionais. A mudança do ser é do agir dos presbíteros passa, necessariamente, pelas transformações do ser e do agir da Igreja.



[1] O presente artigo retrata a situação presbiteral no Brasil ao longo dos anos 80, partindo de dados provenientes da última sólida pesquisa de campo feita nessa área. Em breve tencionamos retratar a situação dos “presbíteros na década de noventa”. Para quem desejar verificar qual era a situação dos seminaristas maiores no Brasil no início dos anos 80, poderá consultar A. Antoniazzi, “Seminaristas de hoje: Padres de amanhã”, in Vida Pastoral, nº 112 (set.-out. de 1983), pp. 23-29.

[2] Coleção “Documentos da CNBB”, nº 20. Vida e ministério dos presbíteros — Pastoral Vocacional. Ed. Paulinas, São Paulo, 1982.

[3] Coleção “Estudos da CNBB”, nº 29. Situação do clero no Brasil, Paulus, São Paulo, 1981.

[4] Documento final do III ENPs, Vida e ministério do presbítero, publicado pela Comissão Nacional do Clero (CNC): “Como não ficarmos perplexos diante do crescente centralismo romano, em contraste com a pregação e pronunciamentos do Papa em defesa da justiça e da liberdade?”, p. 21.

[5] “Por razões evidentes, o temor ante as incertezas do futuro é mais acentuado no clero secular, cuja subsistência depende mais diretamente da capacidade de trabalho de cada sacerdote tomado individualmente. (…) O problema não é apenas de natureza econômica. Há outras variáveis em jogo. O padre secular se preocupa com questões que atingem muito menos o religioso, como: Onde morar? Com quem conviver? Onde encontrar assistência? Como dignificar e valorizar a velhice sacerdotal?” (Documento da CNBB nº 20, op. cit., pp. 46-47).

[6] Op. cit., Pesquisa — CNBB.

[7] Cf. Documento final do III ENPs: “Como não ficarmos perplexos diante da falta de fraternidade de alguns dos nossos bispos, que usam os meios de comunicação para levantar suspeitas e denunciar colegas?”, p. 21.

[8] “Também no tocante a esse aspecto, não podemos deixar de encarar com seriedade o número significativo de presbíteros que, em relação ao bispo, aos colegas de presbitério e, em menor escala, aos leigos, se ressentem de um penoso distanciamento” (cf. Documentos da CNBB nº 20, op. cit.).

[9] Cf. Documento final do III ENPs, Presbíteros: fraternidade e serviço, publicação da CNC, 1989, p. 13.

[10] Retirado da Documentação da CNC.

[11] Retirado da Documentação da CNC.

[12] Retirado da Documentação da CNC.

[13] Retirado da Documentação da CNC.

[14] Retirado da Documentação da CNC.

[15] Retirado da Documentação da CNC.

[16] Retirado da Documentação da CNC.

[17] Retirado da Documentação da CNC.

[18] Retirado da Documentação da CNC.

[19] Retirado da Documentação da CNC.

[20] Retirado da Documentação da CNC.

[21] Retirado da Documentação da CNC.

[22] Retirado da Documentação da CNC.

[23] Retirado da Documentação da CNC.

Pe. Manoel José de Godoy (Comissão Nacional do Clero — 21)