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Publicado em maio-junho de 2015 - ano 56 - número 303

Presbítero, uma vocação a ser vivida à altura do evangelho

Por Dom Pedro Brito Guimarães

A Palavra de Deus, a cruz de Cristo, a eucaristia, a comunhão com Cristo e com o Reino, a alegria, a atenção aos sinais dos tempos dão consistência à identidade, fundamentam a espiritualidade e indicam o caminho da missão do presbítero na Igreja no Brasil. Viver a vocação presbiteral à altura do evangelho de Cristo significa viver esse ministério tendo diante dos olhos o ser e o agir de Jesus, e não modas culturais efêmeras.

Dou graças ao meu Deus, cada vez que me lembro de vós nas minhas orações por cada um de vós. É com alegria que faço minha oração, por causa da vossa comunhão no anúncio do evangelho, desde o primeiro dia até agora. Eis a minha convicção: aquele que começou em vós tão boa obra há de levá-la a bom termo, até o dia do Cristo Jesus. É justo que eu pense isto a respeito de todos vós, pois vos trago no coração […] e isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça ainda, e cada vez mais, em conhecimento e em toda percepção, para discernirdes o que é melhor (Fl 1,3-11).

 Faço minhas essas sábias palavras de são Paulo, para dedicá-las aos meus caríssimos irmãos, presbíteros do Brasil. Chamado por Deus para apascentar o seu rebanho, todo presbítero deve dizer em primeiríssima pessoa ao povo de Deus que lhe foi confiado: “Trago-vos no meu coração”. Essa deve ser a sua consolação e a razão do seu ser e do seu viver. Cuidar do rebanho de Cristo, dando a este tudo o que tece a existência: amor, afeto, ternura, consolação, perdão, encorajamento nos momentos difíceis. A própria vida deverá ser a verdadeira alegria de um coração consagrado.

Evidenciar a grandeza da vocação presbiteral e a necessidade imperiosa da conformidade desta com o evangelho de Cristo é o intento deste artigo.

  1. Presbítero, homem da Palavra

Ao presbítero, homem da Palavra, por conta da especificidade da sua vida, vocação e missão, muito se atribui, dele muito se pede, se exige e se espera. Uma coisa, no entanto, é-lhe pedida solenemente: “Viver à altura do evangelho de Jesus Cristo” (Fl 1,27a). Quando isso acontece, ele atinge o estado de homem perfeito, à estatura da maturidade de Cristo (cf. Ef 4,13). E pode dizer como são Paulo: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21).

A Bíblia acompanha e marca, sacramentalmente, as várias etapas da vocação, da formação, da vida e da missão de um presbítero. Quando ainda candidato, o seminarista, ao ser-lhe conferido o ministério de leitor, recebe o livro da Sagrada Escritura com as seguintes palavras: “Recebe este livro da Sagrada Escritura e transmite com fidelidade a Palavra de Deus, para que ela possa frutificar cada vez mais no coração das pessoas” (Pontifical Romano, Paulus, 2008, n. 250). No rito da ordenação diaconal, é entregue novamente ao candidato o livro dos evangelhos, com estas palavras: “Recebe o evangelho de Cristo, do qual foste constituído mensageiro: transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar aquilo que ensinas” (idem, n. 174). Na ordenação presbiteral, o candidato é interrogado se quer, “com dignidade e sabedoria, desempenhar o ministério da Palavra, proclamando o evangelho e ensinando a fé católica” (idem, n. 126). E, por fim, na ordenação episcopal, sob a cabeça do bispo, é colocado o evangelho com as palavras seguintes: “Recebe o evangelho e anuncia a Palavra de Deus com toda a constância e desejo de ensinar” (idem, n. 94).

O cuidado com a Palavra é a marca do ministro ordenado. Certamente é do conhecimento de todos que, na mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, os padres sinodais apresentaram os horizontes da Palavra de Deus a partir dos quatros pontos cardeais: “a Palavra tem uma voz: a revelação; um rosto: Jesus Cristo; uma casa: a Igreja; e um caminho: a missão” (cf. Mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra).

O presbítero é considerado, na Igreja, o homem da Palavra: da vivência, do anúncio e da missão da Palavra. A Palavra de Deus e a palavra da Igreja são tudo na sua vida e na sua missão. Ele deve estar atento e obedecer à Palavra do Mestre, como Pedro: “Duc in altum” (Lc 5,4). Da atenção à Palavra nasce a missão de “Duc in docendo”: “prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, censura e exorta com bondade e doutrina” (2Tm 4,2). Quando cuidamos bem da Palavra, ela também cuidará bem de nós, como dizia são Jerônimo. Por isso, precisamos nos perguntar diuturnamente: “O que tem a ver o que estou fazendo com o evangelho?” (MARTINI, O bispo, Paulus, 2014, p. 25). O presbítero deve também obedecer à palavra da Igreja que, ao mesmo tempo, é verdadeira, “empenhativa” e eficaz. Verdadeira porque não contém mentira; “empenhativa” porque compromete; eficaz porque aquilo que diz acontece.

Segundo o papa Francisco, “nota-se hoje nos agentes de pastorais, mesmo pessoas consagradas, uma preocupação exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia e relaxamento, que leva a viver os próprios deveres como mero apêndice da vida, como se não fizessem parte da própria identidade” (Evangelii Gaudium, n. 78). E ele nos conclama para que “não deixemos que nos roubem o evangelho” (idem, n. 97). Quem está roubando o evangelho de nós? Quem está deixando roubá-lo? Como é que se rouba ou se deixa roubar o evangelho? Encontramos nas palavras de Francisco três respostas:

1) O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja e significa buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal (idem, n. 93). Ele se alimenta, sobretudo, de duas maneiras profundamente relacionadas: o fascínio do gnosticismo, da fé fechada no subjetivismo, em que apenas interessa determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos; e o neopelagianismo autorreferencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas próprias forças e se sente superior aos outros, por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a certo estilo católico próprio do passado (idem, n. 94).

2) A vanglória, de quem se contenta com ter algum poder e prefere ser general de exércitos derrotados, em vez de simples soldado de um batalhão que continua a lutar. Quantas vezes sonhamos planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem traçados, típicos de generais derrotados! Assim negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso. Em vez disso, entretemo-nos vaidosos a falar sobre “o que se deveria fazer” como mestres espirituais e peritos de pastoral que dão instruções ficando de fora (idem, n. 96).

3) A rejeição da profecia: quem cai no mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É tremenda corrupção, com aparências de bem. Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres. Deus nos livre de uma Igreja mundana, sob vestes espirituais ou pastorais! Esse mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de ficarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus (idem, n. 97).

  1. Presbítero, homem atento aos sinais dos tempos complexos

Após 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, hoje temos um panorama dos presbíteros da Igreja no Brasil mudado e diversificado: 22.119 presbíteros, mais brasileiros, mais do clero diocesano e mais novos;[1] 276 dioceses e em torno de 486 bispos; 10.760 paróquias e mais de 100 mil comunidades eclesiais católicas, espalhadas pelo território brasileiro. Por esses dados estatísticos, trata-se de uma Igreja viva, rica de carismas, serviços e ministérios.

No entanto, ela já se ressente da drástica diminuição das vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada. Ainda não estamos à beira do limite do tolerável, como em outras partes do mundo, mas já se sente na pele essa crise vocacional. Não é mais possível simplesmente ignorá-la ou relativizá-la.

Ao presbítero, na Igreja católica, é reservada, destinada e confiada uma missão especial e crucial de renovação e edificação da Igreja. Por isso, faz-se necessária a apreciação e compreensão da sua identidade, espiritualidade e missão e dos meios para tornar o seu ministério mais eficazmente possível. O presbítero participa da missão de Jesus. Não se devem esquecer nunca estas palavras de Jesus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Só com Jesus podemos realizar o nosso ministério, deixando-lhe a total e soberana iniciativa. Não temos nada nosso para oferecer às pessoas; não somos nada sem o Senhor; nada podemos fazer sem obedecer ao Senhor e comungar com ele.

A exemplo de Cristo, o presbítero deve falar ao coração das pessoas e anunciar-lhes as alegrias do Reino; apontar para as realidades do céu. Ver o que há de positivo em cada ser humano e encontrar ali um caminho para comunicar-lhe a ternura do coração de Deus. Não deve andar à procura das fraquezas das pessoas, para explorá-las pastoralmente. É melhor deter-se no que existe de grande, de nobre, de belo e de sublime na vida e despertar o gosto pela beleza das coisas de Deus. Todos queremos ser felizes, mas somente Deus, revelado no rosto de Jesus de Nazaré, pode preencher a grandeza, a altura, a profundidade e a largura do nosso coração. “Só Deus basta”, dizia santa Teresa. Santo Agostinho resume a experiência de sua vida com estas palavras: “Criaste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração até que repouse em ti” (AGOSTINHO, Confissões I, 1).

O serviço presbiteral, mesmo com todas as cruzes que naturalmente essa missão comporta, é circundado pela luz transfigurante da ressurreição de Cristo. Tenhamos a coragem de dizer ao mundo que a vida daqueles que acreditam na força da ressurreição já está escondida com Cristo em Deus (cf. Cl 3,3). Ele é a nossa força, o nosso canto e a razão do nosso viver. O amor de Deus será sempre capaz de transformar as tempestades da vida em brisa leve e suave. Como dizia são Jerônimo: “Ninguém deve desesperar-se nesta vida. Tens Cristo e estás com medo? Será ele a nossa força, ele o nosso pão, ele o nosso guia” (SÃO JERÔNIMO, Breviarium in Psalmos, PL 26, 1224).

Não temos, portanto, nenhum motivo para anunciar somente e sempre mensagens de derrota e pessimismo, tocar marcha fúnebre e entoar cânticos de lamento. Não temos o direito de sermos profetas do mau agouro. Devemos proclamar a mensagem da ressurreição, da alegria e da esperança. Sejamos presbíteros destemidos e corajosos, capazes de contagiar o mundo com a boa-nova do evangelho de Cristo ressuscitado. Olhemos para o futuro com confiança e otimismo, mesmo em meio a todas as dificuldades, não obstante as trevas que nos rodeiam. Cristo já venceu o mundo e com ele seremos mais que vencedores (Rm 8,37; 1Jo 5,4).

Como Jesus, sejamos presbíteros dispostos a dar sempre o primeiro passo: indo ao encontro dos excluídos e marginalizados, oferecendo e pedindo perdão. A Igreja é hóspede das casas alheias. Quando uma paróquia faz muito sucesso, tenhamos o cuidado para não cometer o erro de pensar que o Reino de Deus chegou e confundir o pároco com o Messias. O presbítero deve viver em sua própria pele as contradições, as fragilidades, as expectativas e as esperanças do seu tempo, com todas as suas complexidades. O importante é não fazer um pacto com a mediocridade, mas viver na medida alta do evangelho. É necessário então que sejamos presbíteros enamorados do nosso sacerdócio, conquistados pelo ideal de serviço, a exemplo de Cristo Pastor, bom e servo por amor. O tempo e a vida não nos pertencem: são de Deus e dos irmãos. Viver a espiritualidade presbiteral desse modo implica sermos presbíteros 24 horas por dia. Grave erro em nossa vida cometemos quando separamos os momentos ministeriais litúrgicos do resto de nossa vida: presbítero no altar, homem no mundo. O povo de Deus nos quer ver como presbíteros em qualquer lugar; quer sempre encontrar em nós homens cheios da vida de Deus e entusiasmados pela opção de vida que fizemos.[2]

  1. Presbítero, pai espiritual, por amor e no amor

O amor é o sentimento mais difundido no mundo. O amor é o mandamento mais conhecido em todo o mundo. O amor é a ação mais praticada no mundo, mais do que o ódio, a vingança, a violência e outros mais. O amor é o nome do Deus cristão (1Jo 4,8). Os românticos tem o amor em suas canções como palavra preferida. As mães e os pais vivem para amar. Os sábios têm o amor como a palavra-chave. Os mártires morrem por amor. O amor é a seiva de uma vida autêntica e verdadeira. Só o amor constrói e liberta para a vida plena. Só o amor conduz à vida feliz junto de Deus. O amor é a única virtude que permanecerá para sempre.

O presbítero vive por amor ao evangelho de Jesus Cristo. O amor é a síntese de tudo na sua vida e na sua missão. A tradição cristã convencionou chamar o presbítero de “padre”. Padre é uma tradução literal da palavra pai. O presbítero é, de fato, pai espiritual da comunidade eclesial. Chamar o presbítero de pai é uma das expressões de amor, de carinho e de reconhecimento de seus filhos. Além da paternidade biológica, existe a paternidade existencial e espiritual. “O padre é o amor do coração de Jesus” (são João Maria Vianney). É pai porque ama e ama porque é pai. E o amor que nasce do coração do presbítero é um amor generativo e regenerativo. Ainda que não se case, o padre não é estéril. O padre gera filhos para Deus. Os filhos de Deus são gerados nas entranhas do amor do padre. São Paulo expressou essa sua paternidade, chamando os irmãos de “meus filhos queridos”, pois, segundo ele, os gerou em Cristo, pelo anúncio do evangelho (cf. 1Cor 4,15). Por incrível que possa parecer, o presbítero (há quem pense o contrário!) tem seus amores: a Jesus, à Sagrada Escritura, à Igreja, à Virgem Maria e ao povo de Deus. O padre Ibiapina, o santo do sertão nordestino, tinha três amores declarados: à eucaristia, a Maria e aos pobres retirantes.

O presbítero então forma filhos para Deus, para a Igreja e para a sociedade por amor. O papa Francisco nos pede que “não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno” (Evangelii Gaudium, n. 98-101). Quanta guerra entre nós! Às vezes, tem-se a impressão de que reproduzimos na Igreja o que a sociedade tem de pior: desunião, contenda, rixa, fofoca, murmuração e competição. Ele tem um livrinho, escrito ainda quando era cardeal em Buenos Aires, que aborda, com maestria, o que veementemente tem combatido na Igreja como papa: a fofoca, a murmuração e a crítica. Ele chama o murmurador de “homem sem remédio”.[3] Toda vez que perdemos de vista a grandeza do mistério da comunhão da Igreja, para ficarmos presos à mesquinhez de uma pessoa, à fragilidade de determinado grupo, ao erro de determinado período histórico, perdemos a capacidade de contemplar o mistério de Deus agindo em nós.

  1. Presbítero, Cireneu das alegrias do mundo

O segredo da vocação presbiteral está no encantamento por Jesus, sua Igreja e seu povo. Ninguém segue fielmente, por muito tempo, alguém por quem não tenha admiração e encanto. A perseverança do presbítero na missão depende da contínua adesão ao estilo de vida missionária de Jesus. O vigor da espiritualidade presbiteral se expressa na capacidade de se reencantar cada dia por seu Mestre e partir, sem olhar para trás (cf. Lc 9,62). O segredo da fidelidade presbiteral está no fascínio por Jesus, por sua pessoa, por seu evangelho e projeto de vida. Em quem vive desse modo a chama da vocação se mantém acesa, a vida não perde o sentido nem se torna fadigosa e rotineira.

E um dos sinais mais evidentes desse encantamento é a alegria. Conhecemos a cena segundo a qual, “enquanto levavam Jesus, tomaram certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e impuseram-lhe a cruz, para levá-la atrás de Jesus” (Lc 23,26; Mc 15,21; Mt 27,32-33). Esse texto sempre inspirou místicos e ascetas a se tornar, como o Cireneu, socorredores dos sofrimentos do mundo. Por que também não inspirar o presbítero a carregar, além das dores, as alegrias do mundo? Somos chamados a carregar as cruzes do mundo, que, ao mesmo tempo, são sinais de dor e sofrimento, mas também de esperança e alegria, pois, afinal, a cruz de Cristo é sempre pascal. A “sequela Christi” exige isto: somos portadores de algo maior do que simplesmente a dor. “Somos Cireneus das alegrias do mundo.”[4] Muitos querem um cristianismo sem cruz. Querer um cristianismo sem dor, sem cruz e sem morte é uma das maiores tentações do nosso tempo. Mas não existe um cristianismo sem cruz. E, se existe, é insuficiente (cf. Gabino URIBARRI, Três cristianismos insuficientes, disponível na internet). Não queiramos um Cristo sem cruz nem uma cruz sem Cristo. Queiramos, ao contrário, a nossa cruz na cruz de Cristo e Cristo na nossa cruz.

O Documento de Aparecida fala 30 vezes de alegria. Entre elas: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossa vida, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29). O papa Francisco diz que “há muitos cristãos que parecem ter escolhido uma Quaresma sem Páscoa” (Evangelii Gaudium, n. 6). E ainda: “um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral” (idem, n. 10). Diante das ações proféticas simbólicas que manifestam a chegada do Reino, a começar pelo próprio Jesus, a primeira reação é a alegria. A alegria de Jesus (Lc 10,20-24) diante da realidade do Reino é algo que ainda não foi suficientemente valorizado pelos exegetas, teólogos e pastoralistas. A alegria é verdadeira ação profética, reação lógica diante da chegada do Reino. Jesus é o primeiro a ser transformado por essa alegria, porque vive plenamente o mistério do Reino. A alegria manifesta a sua compreensão fascinante no momento em que o Reino se avizinha. Porém a causa central da alegria e da felicidade de Jesus é o convencimento do amor de Deus para com o mundo. Portanto, a alegria não é um sentimento emocional, momentâneo e descomprometido. É, ao contrário, o sinal da presença do Reino.

  1. Presbítero, homem unido a Jesus como o ramo à videira

Em seu discurso, ocorrido no cenáculo, na última ceia, Jesus conta a parábola da videira para comparar a sua relação com o Pai e com os discípulos, pela eucaristia, à que existe entre a videira, os ramos e o agricultor (cf. Jo 15,1-11). A videira, no Antigo Testamento, indica o povo de Israel: a videira que Deus plantou com muito carinho nas encostas das montanhas da Palestina (cf. Is 5,1-7; Sl 80). A videira também é considerada a árvore da vida para os gregos e para os romanos. No entanto, essa videira não correspondeu ao que Deus esperava. Em vez de uvas boas, deu uvas azedas, que não prestam para nada. Agora, com Jesus, há uma mudança: o Pai continua sendo o agricultor, Jesus é a videira verdadeira e nós, os ramos dessa videira verdadeira. Quem permanece unido a Jesus produz frutos de evangelização e de missão.

A parábola da videira é uma parábola da existência humana e, por que não dizer, da vida, da identidade e da missão presbiterais. Dessa parábola, como parábola da existência presbiteral, destacaremos três elementos:

Primeiro, a unidade. Videira sem ramos não existe. Nem ramos sem tronco. Para que um ramo possa produzir frutos, deve estar unido à videira. Só assim consegue receber a seiva. “Sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15,5b). O presbítero, pelo sacramento da ordem, se une e se incorpora a Cristo como o ramo no tronco da videira. O sacramento da ordem incorpora o presbítero aos atos de autodoação de Jesus[5] e o transforma em servidor do Reino e fiel gerador de vida, de amor, de fidelidade e de serviço. Enquanto estiver ligado a Jesus, o Tronco, recebe dele a seiva que vem do Pai e produz frutos de vida, paz e justiça. Ao se desligar e se distanciar de Jesus, o Amor do Pai, sua vida perde sentido e encantamento, seca e morre. Ao contrário, unido a ele, glorifica ao Pai com suas ações pelo Reino. E é essa unidade que constitui a identidade, fundamenta a espiritualidade e indica a missão do presbítero.

Segundo, a poda. Todo ramo que em Jesus não produz fruto, o Pai o corta. Ramo que não produz fruto é cortado, seca e é recolhido para ser queimado. Não serve para mais nada, nem para lenha. Assim como o agricultor limpa e purifica a videira pela poda, Deus nos purifica pela Palavra de Jesus Cristo. O que acontece com uma videira acontece também na vida do presbítero, que também deve passar por boas podas para produzir frutos. A poda é dolorosa, mas necessária. Ela purifica o presbítero, para que cresça e produza mais frutos. Para que o presbítero permaneça na Igreja unido a Cristo e produza fruto, é preciso um trabalho manual e artesanal de poda de um agricultor zeloso e dedicado. “A vocação é como um ‘diamante bruto’ a ser lapidado, para que brilhe em meio ao povo de Deus. […] A formação é uma obra artesanal, e não policial. O objetivo é formar religiosos que tenham um coração tenro, e não azedo como o vinagre”.[6] E esse trabalho artesanal de poda e de lapidação deve ter as ferramentas e as marcas do sacrifício, da humildade, da simplicidade e da obediência. Caso contrário, não produz frutos. É preciso investir mais nesse tipo de poda para produzirmos frutos de unidade, reconciliação e curarmos as feridas das insatisfações, das rejeições, dos ressentimentos, dos sentimentos contraditórios e dos dinamismos opostos. O celibato, vivido com amor, é também uma forma de poda na vida de um presbítero.

Terceiro, os frutos. Outro aspecto muito importante da parábola da videira para a vida de um presbítero é dar frutos. O resultado natural quando um ramo permanece ligado à videira é dar frutos. Dar frutos significa que a salvação não deve ser nem ficar limitada somente a nós. Quando a videira dá frutos, eles servem para alimentar e, consequentemente, são úteis para as pessoas. Assim é o presbítero que dá frutos. Sua vida, quando ligada à videira verdadeira, que é Jesus, será fonte inesgotável do amor, pronta para ajudar a todos os que necessitem de uma palavra de ânimo.

Como então produzir bons frutos, para não nos tornarmos videiras improdutivas? Primeiro, a alegria de sentir-se “servo inútil”, isto é, servidor não de um projeto pessoal, subjetivo, mas de um projeto objetivo, de Deus. Segundo, a alegria de servir a Igreja em comunhão com o papa, o bispo, os outros presbíteros e o povo de Deus. Terceiro, a liberdade de sentir-se livre, desapegado, independentemente de qualquer reação das pessoas. Em geral ainda não somos nem alegres nem livres por causa da nossa suscetibilidade: ou somos preguiçosos, ou levamos adiante um projeto e nos ligamos a ele como se fosse nosso, e não de Deus. Enfim, produz bons frutos para o Reino aquele que é colaborador e servidor de um projeto não pessoal, mas de Jesus e da sua Igreja, em comunhão e união com ele. E, produzindo frutos, temos certeza de que o Pai cuidará ainda mais, limpará e fará de tudo para continuarmos cada vez mais produzindo bons frutos.

Por fim, faço minhas as palavras do padre Adroaldo: “Esta videira albergará milhares de nomes: chama-se esperança para aqueles que sonham outro mundo possível; chama-se amada paz para aqueles que vivem em meio à barbárie dos conflitos; chama-se liberdade para aqueles que foram privados dos seus direitos fundamentais; chama-se justiça para aqueles que vivem continuamente sendo espoliados e explorados; chama-se beleza, porque tudo o que foi criado é bom e precioso; chama-se humanidade, porque é neste ‘húmus-chão’ que a presença do Ruah transforma a existência” (Adroaldo PALAORO, Somos terras do Espírito, disponível na internet). Desse modo, nosso caos (desordem, feiura, sujeira) existencial se transformará em cosmos (harmonia e beleza) eclesial.

  1. Presbítero, homem “consumido” como eucaristia

“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). Escolhemos dois símbolos eucarísticos para finalizarmos esta breve dissertação sobre a identidade, a espiritualidade e a missão do presbítero da Igreja no Brasil: a “videira-vinho” e o “trigo-pão”. Além de serem símbolos eucarísticos, são símbolos da vida e da missão de um presbítero. Porque, como disse o padre Chevrier, “o padre é um homem consumido”.

Para entender a eucaristia, é preciso, antes de tudo, entender sete elementos essenciais (cinco pães e dois peixes) sem os quais a sua compreensão fica prejudicada, imprecisa e incompleta:

1) Quem é Jesus Cristo. A eucaristia é Jesus, sua pessoa, sua vida, seu corpo e seu sangue, entregues por nós. Na eucaristia estão contidas toda a vida e toda a missão de Jesus. A eucaristia é cristofania: é Cristo e fala de Cristo (“Eu sou o pão da vida”, Jo 6,35). O lugar da eucaristia é a cristologia.

2) O significado do mistério pascal: a autodoação, memorial da autoentrega, total e irrestrita, do seu corpo e do seu sangue. A eucaristia é a pró-existência de Jesus: “Isto é o meu corpo doado e meu sangue derramado por vós” (Lc 22,19).

3) O significado do pão e do vinho, frutos da terra e do trabalho humano. A eucaristia é o pão e o vinho transubstanciados no corpo e no sangue de Jesus, memorial da morte e da ressurreição de Jesus: o trigo caído por terra e a videira podada. O pão corresponde ao sentimento de fome e o vinho ao de sede. A eucaristia é pão da vida eterna para matar a fome do mundo: “O pão que eu vos dou é a minha própria carne para a salvação do mundo” (Jo 6,51).

4) O que é a Igreja. A eucaristia é o grande presente que Cristo, o esposo, deixa de herança à Igreja, sua esposa, no dia da sua despedida (SC 47). A Igreja sempre foi concebida como o corpo de Cristo. Jesus, por meio da eucaristia, funda a Igreja como comunidade da nova aliança. A Igreja vive da eucaristia. Ela sempre foi considerada o “sacramento da Igreja”: a eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a eucaristia. Não se edifica nenhuma comunidade se não tiver a sua raiz e o seu centro na eucaristia (PO 6). Comer o pão eucarístico é construir comunhão com a comunidade, participar, servir e viver o compromisso de fraternidade comunitariamente.

5) O que é liturgia (SC 5 e 7). A Igreja celebra o memorial litúrgico do mistério pascal de Jesus na eucaristia como um grande hino de ação de graças (eucaristia = ação de graças) ao Pai. A eucaristia é o memorial litúrgico da aliança de Deus com seu povo, por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus (SC 10). Foi ele mesmo quem disse: “Fazei isto em minha memória”. Na força do Espírito Santo (SC 6; GS 38), a Igreja celebra a eucaristia como uma fonte que brota e jorra graças e provoca em nós ação de graças.

6) O sacerdócio. Cristo se oferece na eucaristia como sacerdote e mediante o ministério do sacerdote. O sacerdócio de Jesus não é cultual, mas existencial, ou seja, a doação de sua vida. Quem dá a sua vida como Jesus é sacerdote e vive plenamente um estilo de vida sacerdotal-eucarístico. A eucaristia está no centro da vida, do ministério e da espiritualidade do presbítero. A ele se dirige o convite: “Vive o mistério que é colocado em tuas mãos” (Pastores Dabo Vobis, n. 24 e 26). O celibato é uma forma de o sacerdote se consumir pelos irmãos.

7) Amor social. A eucaristia é o gesto mais sublime da solicitude, da estimulação e da imperiosa caridade de Jesus por nós: Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim…” (Jo 13,1ss).

O Concílio Vaticano II fala da eucaristia como o tesouro da Igreja e como a fonte e o cume de toda a evangelização (Presbyterorum Ordinis, n. 5). É impossível compreender o ministério presbiteral sem o mistério da eucaristia. Em um só ato, Jesus instituiu a eucaristia e o sacerdócio. A unidade entre eucaristia e sacerdócio é intrínseca e indissolúvel. Sem sacerdócio não há eucaristia, e sem eucaristia o sacerdote não pode realizar plenamente a sua missão.

Na eucaristia, somos convidados, cada dia, a seguir o Senhor com doação total, a reconhecê-lo na palavra e na fração do pão, a acolhê-lo no mistério da fé. Toda eucaristia é renovado convite ao discipulado, ou seja, a estar na escola de Cristo, para viver como ele e testemunhar a sua real presença entre nós. Viver a nossa vida como discípulos significa aceitar o escândalo da cruz. Também a eucaristia, máxima celebração da glória da cruz, é “escândalo” para ser vivido. O nosso radicar-se na eucaristia nos liberta da lógica da eficiência: pondo-nos em comunhão pessoal com o corpo e o sangue de Cristo, aprendemos a viver a lógica da cruz e amadurecemos para a ressurreição. Participando cotidianamente do sacrifício eucarístico de Cristo, o presbítero se faz realmente seguidor de Cristo e se liberta do risco do intimismo e do formalismo exterior. Desse modo, sua vida se torna, como a vida de Cristo, submissão ao Pai e acolhimento do seu juízo e do seu projeto para a nossa vida. Esse seguimento se realiza na escuta atenta da Palavra de Deus, na oração, no sacrifício cotidiano, na atenção aos sinais dos tempos, nos quais Deus se manifesta ao mundo e a nós. Essa espiritualidade eucarística se torna, realmente, uma encarnação nas vicissitudes do tempo, único meio possível de realizar o caminho da santidade.

A espiritualidade presbiteral é intrinsecamente eucarística. A semente dessa espiritualidade encontra-se já nas palavras que o bispo pronuncia na liturgia da ordenação: “Recebe a oferenda do povo santo para apresentares a Deus. Toma consciência do que virás a fazer; imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor”. Desse modo, vemos que o presbítero é chamado a ser continuamente um autêntico perscrutador de Deus, embora, ao mesmo tempo, permaneça solidário com as preocupações humanas. Uma vida eucarística mais intensa permitirá ao presbítero entrar mais profundamente em comunhão com o Senhor e o ajudará a deixar-se possuir pelo amor de Deus, tornando-se sua testemunha em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas difíceis e obscuras.

Comungar do corpo e sangue de Cristo implica um compromisso sério de comunhão com Deus e com a vida dos irmãos. Caso contrário, a eucaristia permanece um sacramento incompleto. Se esta não entra, de verdade, na vida, permanece um episódio acontecido; um mistério de uma resposta rejeitada, de um convite não acolhido, como revela a parábola do banquete nupcial.

As realidades celebradas no altar da eucaristia devem também ser celebradas diariamente no altar da vida. A eucaristia que celebramos não nos traz para o interior da Igreja simplesmente para nos congregarmos por alguns instantes, mas nos remete à missão, ao mundo que deve ser transformado. A atitude e as disposições requeridas por parte dos que participam ativamente da celebração eucarística decorrem do conteúdo e significado mesmos do mistério celebrado. Trata-se da celebração do mistério pascal, ou seja, da morte e ressurreição do Senhor, fonte de nossa salvação. Trata-se da celebração da encarnação de um Deus que entra na nossa história e em nossa vida cotidiana. Trata-se de cantar a vitória desse Deus sobre a morte, que se abateu sobre ele por força de seu amor pela humanidade. Trata-se, também, e não menos, de celebrar sua entrega à morte, que será o selo da vida por ele vivida, em pró-existência amorosa, e resgatada do poder das trevas pelo Pai, que o proclama vivo para sempre na força do Espírito Santo. É o momento mais densamente sagrado da vida cristã e requer atitudes condizentes por parte dos que dele se aproximam.

Portanto, a presença real de Jesus Cristo se estende a todas as formas da autêntica vida cristã, com a qual os batizados fazem a salvação acontecer na história. Não somos cristãos para ir à missa, mas vamos à missa para ir à vida e a suas periferias. Celebrar a eucaristia é participar do sacrifício da Páscoa e da aliança nova, vivenciá-lo e dele viver, para ser, de verdade, discípulos de Jesus. No final de cada missa, começa a missão cristã: isto é, o envio para a vida, para a prática do amor e da partilha, para o testemunho da solidariedade e da esperança entre as pessoas, começando por aquelas que estão mais próximas a nós, familiares e amigos, até atingir a todos, sobretudo os mais distantes e afastados. “Façam isto em minha memória” significa fazer o que Jesus fez, para que a sua presença permaneça atual. Significa fazer de nossa vida alimento para que outros tenham vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10,10).

O presbítero é, por excelência, o homem da eucaristia. Por meio dele, o Espírito Santo realiza o grande milagre do Infinito que se faz migalha de pão para a vida do mundo. O Espírito Santo é a fonte da espiritualidade eucarística e o grande impulsionador da construção do corpo de Cristo.[7]

Concluindo

Palavra, cruz, alegria, videira e trigo dão consistência à identidade, fundamentam a espiritualidade e indicam o caminho da missão do presbítero na Igreja no Brasil. Viver a vocação presbiteral à altura do evangelho de Cristo significa viver esse ministério tendo diante dos olhos o ser e o agir de Jesus. É essa espiritualidade que consiste em viver em íntima comunhão com Deus e, ao mesmo tempo, leva o presbítero a comprometer a sua vida em favor dos irmãos. Esta deve estabelecer um justo equilíbrio entre o ser e fazer sacerdotal. A ação do presbítero deve ser expressão de sua vida interior ou, em outras palavras, da experiência pessoal de Deus que ele faz no dia a dia de sua vida.[8] A esse propósito, são iluminadoras as palavras de são João Maria Vianney: “Quanto é infeliz um sacerdote que não tem vida interior […] mas para isso temos a tranquilidade, o silêncio, o retiro […] Aquilo que impede a nós, padres, de sermos santos é a falta de reflexão. Não entramos em nós mesmos, não sabemos o que fazemos. É da reflexão, da oração, da união com Deus que precisamos” (Bernard NODET, Il pensiero e l’anima del Curato d’Ars, Turim: Gribauldi, 1967, p. 130-131).

[1] Estamos realizando uma pesquisa para termos os dados atualizados sobre os presbíteros no Brasil.

[2] “É preciso ser sacerdotes que falem de Deus ao mundo e que apresentem o mundo a Deus; homens não sujeitos a modas culturais efêmeras, mas capazes de viver autenticamente aquela liberdade que somente a certeza da pertença a Deus é capaz de dar […]. A vida profética com a qual serviremos Deus e o mundo, anunciando o evangelho e celebrando os sacramentos, favorecerá o advento do Reino de Deus já presente e o crescimento do povo de Deus na fé. […] Os fiéis leigos encontrarão em tantas outras pessoas aquilo de que humanamente precisam, mas somente no sacerdote poderão encontrar aquela Palavra de Deus que deve estar sempre em seus lábios: a misericórdia do Pai, que se prodiga de maneira abundante e gratuita no sacramento da reconciliação; o pão de vida nova, ‘verdadeiro alimento dado aos homens’” (PAPA BENTO XVI, Alocução dirigida aos participantes do Congresso Teológico sobre o Sacerdócio, Roma, 12 mar. 2010. Disponível em: <www.zenit.org>).

[3] “Santo Agostinho chama o murmurador de ‘homem sem remédio’: os homens sem remédio são aqueles que deixam de cuidar de seus próprios pecados para reparar os dos outros. Não buscam o que se há de corrigir, e sim o que podem criticar. E, ao não poder escusar a si mesmos, estão sempre dispostos a acusar os outros” (Jorge M. BERGOGLIO, Sobre a acusação de si mesmo, Ave Maria, 2013, n. 8).

[4] Essa frase é retirada de um livro que descreve a peregrinação a Lourdes de alguns padres idosos e doentes, guiados espiritualmente por dom Tonino Bello, então bispo de Molfetta. Tonino Bello é, para a Itália, o que muitos bispos são para o Brasil: poeta, profeta e pastor dos pobres. Nessa peregrinação, como se anunciasse um presságio, dizia: “Eu estou doente também!” Aparentemente não estava. Mas, depois de dois anos dessa peregrinação, morreu de câncer no pulmão. Hoje seu túmulo é lugar de romaria.

[5] Para o tratamento mais detalhado dessa questão, cf. Pedro BRITO, Os sacramentos como atos eclesiais e proféticos – um contributo ao conceito dogmático de sacramento, à luz da exegese contemporânea, Tesi Gregoriana, 46, Roma: Pontificia Università Gregoriana, 1998, 19ss).

[6] PAPA FRANCISCO, em duas ocasiões: primeiro, aos participantes da 82ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais, em Roma, 29/11/2013; segundo, na Reunião Plenária da Congregação para o Clero, também em Roma, no dia 3/11/2014.

[7] “Então, o que devemos fazer com a nossa vida? ‘Eucaristizar’. Transformar tudo em eucaristia, para podermos ter o homem eucarístico, a Igreja eucarística, e assim toda a vida será eucaristia. O mundo eucarístico da Igreja que crê, que espera, que guia, que está destinada à Restauração, que proclama a Trindade, que sempre renova o mundo, a sociedade” (J. F. VAN THUAN, “O dom da eucaristia”, Revista Sacerdos, maio-jun. 2003).

[8] É interessante ressaltar aqui o que afirma o Diretório para o Ministério e Vida dos Presbíteros no n. 44: “[…] quando nos presbíteros se rompe a unidade interior, não existe mais caridade pastoral, se provoca uma espécie de curto-circuito entre o ser e o agir do sacerdote. É grande o risco de cair no funcionalismo”.

Dom Pedro Brito Guimarães

Arcebispo metropolitano de Palmas, presidente da Comissão Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada; doutor em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, compositor de várias canções religiosas. E-mail: [email protected]