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Publicado em número 177 - (pp. 23-34)

O presbítero no processo de urbanização

Por Pe. Antônio José de Almeida (Comissão Nacional do Clero — 6)

(Crônica teológico-pastoral)

O V Encontro Nacional de Presbíteros (ENP), convocado pela Comissão Nacional do Clero, órgão subsidiário da CNBB, foi realizado em ltaici, SP, entre os dias 4 e 9 de fevereiro de 1994.

 

I. OBJETIVOS DO V ENP

Tendo como tema central “O presbítero no processo de urbanização”, propunha-se os seguintes objetivos:

a) tomar consciência da realidade socioeconômica em que nos encontramos e dos questionamentos éticos que dela provêm para a ação da Igreja e o ministério presbiteral;

b) refletir sobre a cultura urbana, seus condicionamentos, suas possibilidades e suas “tentações” para a pessoa do presbítero, à luz da Palavra de Deus sobre a cidade;

c) buscar respostas pastorais novas em nível da pessoa, do grupo e da sociedade, tendo em vista nova presença pública da Igreja na cidade;

d) promover instrumentos para apoiar o ministério e a vida dos presbíteros.

 

Decidido na reunião ampliada da Comissão Nacional do Clero (CNC), em Brasília, em fevereiro de 1993, o assunto do V ENP foi abordado em dois textos publicados pela CNC ainda na fase preparatória: o Instrumento Preparatório I (um livreto denso onde se abordavam a realidade socioeconômica e os questionamentos éticos, a realização pessoal e a cultura urbana, a busca de respostas pastorais e a presença pública da Igreja na cidade) e o Instrumento Prepara­tório II (um enriquecimento ao Instrumento Preparatório I a partir das contribuições dos Regionais da CNC). Na verdade, o primeiro texto visava provocar uma ampla reflexão sobre os desafios da urbanização; o segundo já recolhia os primeiros elementos desta discussão, que teve lugar nos presbitérios diocesanos e em encontros regionais de presbíteros.

Por isso, nesta crônica, não vamos retomar nem repetir coisas que já tenham sido abordadas nos textos acima, a menos que isso seja imprescindível para o tratamento da questão.

O V ENP — como se depreende imediata­mente do próprio cronograma distribuído aos participantes — organizou a sua reflexão dentro do método ver-julgar-agir, com muita liberdade, como veremos.

 

II. “VAMOS SOZINHOS PARA ALGUM LUGAR DESERTO” (Mc 6,31)

A “Iluminação do Ver”, a cargo do Pe. José Ernanne Pinheiro, do Setor Leigos da CNBB, e do Pe. Inácio Neutzling, sj, ex-assessor da CNBB para a Pastoral Social, de certa maneira sobrevoou a problemática da urbanização e se fixou nas questões conjunturais e estruturais que, no momento, interpelam a consciência nacional.

 

1. Algo se move

Em seus “Elementos para refletir a conjuntura nacional, fevereiro/94”, Ernanne Pinheiro faz, num primeiro momento, um levantamento das principais perspectivas para 1994, em âmbito internacional e em âmbito nacional; em seguida, discorre sobre alguns temas nucleares ao momento nacional; destaca, a partir daí, o crescente papel da sociedade civil e, finalmente, se interroga sobre a presença pública da Igreja neste processo.

 

1.1. No mundo

Em âmbito internacional, observa Ernanne, crescem, de um lado, a preocupação com a ética, e também, por outro lado, os mecanismos de rearticulação do capitalismo. Nesse contexto, as rebeliões de Chiapas, no México, e de Santiago del Estero, na Argentina, são vistas como sinais de insatisfação popular diante das decisões políticas de corte neoliberal, questionando as teses do absolutismo do mercado a partir da indignação que se levanta das megaexclusões sociais.

 

1.2. No Brasil

Voltando-se para o Brasil, Ernanne constata que, em relação às urgências do país, o saldo positivo de 93 foi muito modesto; mas, se comparado com os feitos dos dois governos anteriores, 93 não foi tão ruim, apesar da apatia do governo Itamar Franco. Chama a atenção para dois fatos importantes que sinalizam algo novo em 1993: a “CPI do orçamento” — na qual o Legislativo se autoavalia — e a “Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”.

No momento nacional, ressalta alguns temas nucleares: o processo eleitoral, cujos resultados defini­rão as alternativas para o país nos próximos anos; o “Programa de estabilização (FHC 2)”, que poderá, sim, baixar a inflação, mas deixa no ar sérios interrogativos sobre a “dívida social” e o papel do Estado, a revisão constitucional questionada sob diversos pontos de vista e extremamente condicionada pelo clima pré-eleitoral, pela exiguidade de tempo, pelas suspeitas éticas sobre o Congresso desencadeadas pela “CPI do orçamento”.

Diante da crise do Estado, é inegável um crescimento da participação da sociedade civil, que se manifesta, sobretudo em três áreas: a “Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”; as iniciativas para se “pensar o país” como um todo; as ações conjuntas das entidades diante dos acontecimentos maiores do país.

 

1.3. E a Igreja?

E a presença pública da Igreja neste processo? Ernanne lembra as “Diretrizes gerais” que postulam uma presença mais significativa da Igreja na sociedade (cita especificamente os números 227 e 239), e algumas intervenções mais consistentes no debate nacional: “Exigências éticas da ordem democrática”, 1989; “Ética: pessoa e sociedade”, 1993; “Em defesa da Constituição”, 1993; “A impunidade desintegra a sociedade”, 1993; a presença de representantes da Igreja nas comissões do Congresso; o diálogo constante do Presidente da CNBB com representantes do Estado; o ingente trabalho das “Semanas sociais”.

 

2. Inventar o futuro

A apresentação de Inácio Neutzling desloca a reflexão do conjuntural para o estrutural, do levanta­mento de perspectivas para a criação de prospectivas. A crise brasileira é fundamentalmente social. O que está em questionamento é o modelo de desenvolvimento que começou a ser implantado no Brasil a partir dos anos 50 e que entrou em crise a partir do final da década de 70, arrastando-se até hoje. São fundamentalmente duas — e contrastantes — as saídas propostas: a insersão competitiva na economia internacional, de um lado, e a introspecção distributiva, de outro (cf. CNBB, Sociedade brasileira e desafios pastorais, 1990, p. 51).

No debate atual, além disso, podem-se distinguir duas vertentes: uma voltada mais para questões conjunturais, trabalhando com propostas de curto prazo, lidando com questões mais setoriais e que interessam mais de perto a certos grupos influentes, e outra decididamente centrada nas questões estruturais.

 

2.1. O Brasil é viável!

Neste sentido, há algo novo perpassando os movimentos sociais. Trata-se de inverter a lógica de pensar: urge passar da ditadura da conjuntura para uma fase de prospectiva de propostas alternativas de longo alcance e de corte democrático e popular. Não basta lamentar denunciar, é preciso buscar saídas e projetos estratégicos alternativos viáveis para o país.

Está tomando vulto algo extremamente importante para despertar energias latentes no imaginário social: o Brasil é viável! Temos vantagens comparativas que nos situam favoravelmente em relação a muitos outros países: o território, com sua abundância e variedade de recursos naturais; a população, com um enorme potencial de trabalho e de criatividade; uma base produtiva moderna.

 

2.2. Uma “revolução nas prioridades”

A questão ética fundamental versa sobre a finalização das estruturas e dos processos socioeconômicos, que devem ser direcionados para o atendimento das necessidades básicas das maiorias marginalizadas. O grande desafio é construir — com a mais ampla participação da sociedade civil, especialmente das camadas populares — uma utopia centrada na reforma social, instaurando uma verdadeira “revolu­ção nas prioridades”. Na agenda da redefinição dos propósitos para o país, trata-se de definir como prioritário na organização da economia o atendimento das necessidades básicas das grandes maiorias da população brasileira: alimentação, educação, saúde, transporte público, moradia limpa e digna, acesso à justiça. O fundamento dessas alternativas é a ética, pois, para se implementar de tal estratégia, é indispensável uma profunda revolução. Como diz Cristovam Buarque: “Uma nova lógica, onde valores éticos sejam os elementos norteadores do processo civilizatório; com base neles, definir os objetivos sociais; em seguida, a racionalidade econômica e, só então, escolher as técnicas” (Revolução nas prioridades, INESC/INED, 1933, p. 46).

 

2.3. “O Brasil que a gente quer!”

Dentro deste momento nacional novo, surge a iniciativa da CNBB de realizar a II Semana Social Brasileira. A Igreja no Brasil, especialmente através das pastorais sociais, foi percebendo, cada vez com maior clareza, a necessidade de inaugurar nova fase de atuação junto e com os excluídos. A Igreja sente a urgência de desafiar a si mesma e à sociedade civil a buscar alternativas viáveis para construirmos o “Brasil que a gente quer”.

A Igreja — com as luzes do Evangelho, com a força da sua longa participação nas lutas do povo, com sua inspiração profundamente ética — quer participar e contribuir neste momento novo do país. É hora de pensar e discutir alternativas para o Brasil, levantar e definir protagonistas em condições de implementá-la!

Trata-se, na verdade, de exercer a missão profética da Igreja: denunciar os pecados sociais, as situações que degradam a dignidade humana e os direitos dos excluídos, mas, com o mesmo vigor, propor e construir alternativas que visem ao conjunto da sociedade, a partir dos excluídos, que se tornam, assim, juízes da própria validade das propostas.

Com essas duas apresentações — uma mais conjuntural, outra mais estrutural — o V ENP começava a atingir seu primeiro objetivo: tomar consciência da realidade socioeconômica em que nos encontramos e dos questionamentos éticos que dela emergem para a missão da Igreja e o ministério presbiteral.

 

3. Alargando os horizontes

Era necessário, a partir daí, alargar o “ver” para outras dimensões da realidade, particularmente para as questões culturais e religiosas. Para tanto, foram lançadas duas perguntas: 1) Quais os traços de mentalidade e forma de vida que favorecem ou que são obstáculos à construção de uma sociedade participativa e solidária?; 2) Quais os fenômenos religiosos mais significativos que emergiram nos últimos anos?, Que traços desses fenômenos favorecem ou dificultam a mudança da sociedade brasileira? Para o trabalho em grupos, os participantes do Encontro foram divididos em 21 grupos formados segundo o critério do número de habitantes da cidade em que o presbítero trabalha: 8 grupos, de cidades com menos de 50.000 habitantes; 4 grupos, de cidades entre 50.000 e 100.000 habitantes; 4 grupos, de cidades entre 100.000 e 500.000 habitantes; 2 grupos, de cidades entre 500.000 e 1.000.000 de habitantes; 2 grupos, de cidades com mais de 1.000.000 de habitantes.

 

3.1. Sinais promissores na cultura

Entre os traços de mentalidade e formas de vida favoráveis à construção de uma sociedade solidária e participativa foram apontados os seguintes:

a) Nas cidades com menos de 50.000 habitantes:

— laboriosidade do povo;

— maior participação das “minorias” (mulheres, negros, índios) na sociedade;

— atuação dos sindicatos e movimentos populares;

— solidariedade em campanhas e mutirões;

— resistência do povo (indignação e participação);

— maior transparência na administração pública;

— participação nas CEBs;

— protagonismo dos leigos;

— credibilidade da Igreja.

 

b) Nas cidades entre 50.000 e 100.000 habitantes:

— mobilização do povo em situações de emergência;

— sacrificar-se por uma sociedade nova;

— poder organizativo das comunidades (associações, cooperativas);

— possibilidade de um relacionamento mais pessoal (familiares, vizinhos, companheiros de trabalho);

— oferta de maiores possibilidades de educação, saúde, lazer;

— maior participação da mulher;

— prática da ajuda mútua em cidades recentes;

— consciência de que a religião é vida;

— formação de grupos de base;

— consciência da relação evangelização-política.

 

c) Nas cidades com mais de 100.000 e menos de 500.000 habitantes:

— florescimento de grupos de acolhida e de solidariedade, associações comunitárias, mutirões, centros culturais;

— crescimento da consciência ética;

— confronto entre culturas;

— persistência de uma religiosidade de fundo e de tradições populares;

— abertura da Igreja para a participação dos leigos e para formas assembleares de decisão;

— maior conhecimento da Palavra de Deus, graças aos círculos bíblicos, grupos de reflexão e CEBs;

— a Igreja ainda é um ponto de encontro, de referência, de unidade.

 

d) Nas cidades com mais de 500.000 e menos de 1.000.000 de habitantes:

— meios de transporte e de comunicação;

— facilidade para encontros e organizações, desde associações de bairro a grandes mobilizações de massa;

— disponibilidade de iniciativas culturais: cinema, teatro, “shows”;

— maior concentração de infraestruturas;

— mentalidade de solidariedade, sobretudo nas situações emergenciais;

— grupos superando o preconceito e o anonimato.

 

e) Nas cidades com mais de 1.000.000 de habitantes:

— maior exposição das contradições do sistema capitalista;

— aproximação entre as pessoas pela consciência dos problemas comuns;

— busca de espaços de encontro e de laços de solidariedade;

— necessidade íntima de resistir ao isolamento;

— mobilização em busca da conquista de valores sociais e coletivos;

— crescimento da consciência da justiça;

— espírito de mutirão;

— valor da cidade em si;

— despertar religioso.

 

3.2. Sinais preocupantes na cultura

Entre os traços de mentalidade e formas de vida que constituem obstáculos à construção de uma sociedade solidária e participativa, foram constatados os seguintes:

a) nas cidades com menos de 50.000 habitantes:

— analfabetismo e ignorância;

— cultura da corrupção e do “jeitinho”;

— falta de consciência histórica gerando imediatismo;

— múltipla dependência do povo (em relação ao Estado, ao político, ao patrão, ao padre) como causa e efeito de uma consciência de escravo;

— acomodação do povo, que se alimenta de — e alimenta o — patriarcalismo na família e o coronelismo na cidade;

— crescimento do consumismo, do individualismo, do relativismo, do indiferentismo;

— oposição ferrenha das autoridades e dos “grandes” ao engajamento social da Igreja e dos padres;

— ranços de um catolicismo monarquista e de autoritarismo eclesiástico;

— avanço da ideologia neoliberal;

— conselhos (que vêm surgindo em âmbito municipal) atrelados ao Executivo;

— crescente descrença nos políticos, na política e na justiça;

— medo da novidade e dos conflitos;

— desenraizamento cultural provocado pelo êxodo rural e pelo bombardeamento da indústria cultural;

— falta de consciência solidária para enfrentar os problemas comuns;

— despreparo das lideranças;

— desvirtuamento do ideal cooperativístico;

— omissão da Igreja perante as questões sociais.

 

b) Nas cidades entre 50.000 e 100.000 habitantes:

— extrema miséria e insegurança econômica em que vive o povo das periferias;

— constantes migrações atrapalhando a continuidade dos processos educativos e organizativos;

— falta de perspectivas de futuro para os jovens;

— medo provocado pela violência;

— mentalidade consumista, individualista, oportunista, espiritualista, reforçada pelos MCS;

— dicotomia entre fé e vida;

— falta de acesso à educação e péssima qualidade do ensino;

— imediatismo, incapaz de projetar e planejar;

— péssimo exercício da política (corrupção, politicagem, clientelismo);

— heterogeneidade de histórias, culturas e projetos dos vários grupos sem unificação superior.

 

c) Nas cidades com mais de 100.000 e menos de 500.000 habitantes:

— influência negativa dos MCS;

— falta de luta por uma sociedade participativa;

— falta de um projeto unitário historicamente impedido;

— anonimato;

— abandono em que se acham o trabalho, a educação e a saúde;

— crescente marginalização;

— imposição de uma “cultura de morte”;

— divisão em paróquias.

 

d) Nas cidades com mais de 500.000 e menos de 1.000.000 de habitantes:

— individualismo (condomínios);

— insegurança e medo diante da violência;

— desenraizamento cultural;

— desmoronamento dos valores morais tradicionais;

— alienação expressa no recurso à prostituição, às drogas e ao vandalismo;

— baixo nível de consciência social e política;

— pouco senso crítico diante do sistema;

— descrédito das instituições.

 

e) Nas cidades com mais de 1.000.000 de habitantes:

— ideologia dominante;

— sistema capitalista, que gera individualismo, competição, corre-corre, anonimato, superficialidade, insatisfação e perda de identidade.

 

3.3. Fenômenos religiosos mais significativos

No tocante aos fenômenos religiosos mais significativos que emergiram nos últimos anos, os vários grupos, independentemente da dimensão das cidades, convergem nos seguintes pontos:

— superação do ateísmo, mas não do indiferentismo;

— despertar do religioso, mas sem um retorno às religiões históricas;

— crescimento do pentecostalismo fora e dentro da Igreja católica;

— pulular de seitas e de movimentos esotéricos;

— crescimento de uma mentalidade sincretista;

— incremento do individualismo religioso na Igreja católica (vivência privada da religião, pregação moralista, adesão parcial);

— crescimento de determinados movimentos espiritualistas dentro e fora da Igreja;

— certo decréscimo das CEBs;

— avanço do conservadorismo na Igreja, sob as formas de ensimesmamento, proselitismo, sonho de um retorno à situação de cristandade;

— aumento das associações e de organizações voltadas para a comunhão dos vários setores da Igreja;

— maior conhecimento da Palavra de Deus, graças aos círculos bíblicos, aos grupos de reflexão e ao CEBI;

— surgimento e fortalecimento de Conselhos nos vários níveis de Igreja;

— crescente preocupação com a pastoral urbana;

— consolidação de algumas pastorais sociais;

— crescimento da liberdade religiosa e do respeito entre as religiões;

— trabalho ecumênico em vista da transformação social;

— fortalecimento da Campanha da Fraternidade;

— maior respeito pela religiosidade popular;

— desenvolvimento das organizações dos presbíteros;

— busca de melhor formação religiosa, até teológica;

— preocupação com uma liturgia inculturada;

— crescente uso dos MCS como forma de evangelização.

 

3.3.1. Traços favoráveis à mudança

Nesses fenômenos, favorecem a mudança na sociedade brasileira os seguintes traços:

— emergência da subjetividade, enfatizando valores como a liberdade de escolha, a personalização, a convicção pessoal;

— superação do cientificismo, do tecnocratismo, do economicismo, abrindo espaço para outras abordagens;

— visão antropológica mais abrangente, não reduzindo o ser humano a uma determinada dimensão;

— redescoberta da dimensão ética da política e da economia;

— resgate das culturas em sua irrenunciável alteridade;

— fenômeno agregativo, sob todas as suas formas: grupos, comunidades, associações, organismos representativos;

— mentalidade e prática ecumênicas;

— existência de conselhos e assembleias nas discussões e tomadas de decisão.

 

3.3.2. Traços desfavoráveis à mudança

Por sua vez, dificultam a mudança:

— expressões de uma cultura egoísta e individualista, reforçando a busca de soluções imediatas, dualistas, exclusivamente individuais, sem postura ética e sem compromisso social;

— intransigência, fanatismo, obscurantismo e absolutismo das seitas;

— fragmentação excessiva de grupos e movimentos;

— tendência ao isolamento, presente em alguns grupos, em sua busca de identidade e de segurança;

— busca de autorrealização sem nenhuma articulação com o social;

— descrédito em que caíram muitos pregadores, somando-se ao descrédito dos políticos;

— despreocupação com a inculturação por parte de muitas seitas e de alguns movimentos “importados”;

— utilização da Igreja católica como religião civil, degradando seus ritos a formalidades sociais com roupagem religiosa;

— falta de conversão interior, de conversão ao pobre e de atenção aos “sinais dos tempos”;

— manipulação da imagem e Deus e da religião;

— persistência de práticas autoritárias na Igreja.

 

III. “… PORQUE ESTAVAM COMO OVELHAS SEM PASTOR” (Mc 6,34)

Introduzindo o “Julgar”, Pe. Alberto Antoniazzi antecipou que sua exposição visava estabelecer uma conexão entre o “ver” (presente nos “Instrumentos preparatórios I e II, nas duas exposições anteriores e nos trabalhos de grupo) e o “agir” (a ser apresentado pelo Pe. A. J. de Almeida) e que não era sua intenção desenvolver uma “teologia da cidade”, mas tão somente indicar “critérios” para se passar do “ver” ao “agir”.

 

1. A nova realidade urbana

Antoniazzi começou dizendo que não se pode afirmar, como fazia Comblin em sua “Teologia da Cidade”, em 1968, que os problemas do homem urbano são substancialmente os mesmos de 2.500 anos para cá. Muito pelo contrário: os últimos 25 anos trouxeram mudanças profundas à cidade e às culturas urbanas!

Quais mudanças? Antoniazzi aponta três grandes mudanças: 1) a compressão do espaço e do tempo; 2) a diferenciação das cidades e nas cidades; 3) o dualismo entre “sistema” e “mundo vital”.

 

1.1. A compressão do espaço e do tempo

Em primeiro lugar, o homem atual se desterritorializa: cada vez mais está menos ligado ao lugar onde nasceu; cada vez mais está ligado com o mundo inteiro (meios de transporte e meios de comunicação). A cidade atual é uma cidade-cultura ou uma cidade-comunicação (cf. M. Canevacci, A cidade polifônica, São Paulo, 1993). Mais amplamente, pode-se dizer que estamos vivendo uma fase de “compressão” do espaço e do tempo: as distâncias diminuem; os acontecimentos se sucedem num ritmo acelerado. Tudo isso cria nas pessoas insegurança e desorientação. Diante da incerteza, elas têm três reações principais: o tradicionalismo — fundamentalismo — paroquialismo; a conduta atomizada, típica de uma identidade fraca e fragmentária (cf. Ilse Scherer-Warren, Redes de movimentos sociais, São Paulo, 1993, pp. 111-123); a não elaboração de projetos coletivos para o futuro. E possível individuar essas três reações também nas religiões e na Igreja católica.

 

1.2. As diferenças das/nas cidades

Uma segunda novidade no fenômeno urbano é uma tendência à diferenciação das cidades entre si, pela qual muitas cidades se especializaram em certo tipo de atividade (econômica, política e cultural) (cf. D. Harvey, A condição pós-moderna, São Paulo, 1993; M. Santos, A urbanização brasileira, São Paulo, 1993). Não só. As grandes cidades, nos últimos 10 a 15 anos, diferenciam-se internamente, reproduzindo a fragmentação da sociedade moderna e as gritantes diferenciações sociais. De onde o desafio de se pensarem muitas “pastorais urbanas”, e não simplesmente “a” ou “uma” pastoral urbana.

 

1.3. Sistema versus cultura

Por último, mas não menos importante, não se pode perder de vista que é impossível compreender a realidade urbana sem considerar suas duas faces: o “sistema” (= as macroestruturas técnicas, econômicas e políticas) e o “mundo da vida” (= relação, comunica­ção, cultura e língua). Enquanto o primeiro funciona segundo a lógica de cada subsistema sem vinculação com a religião e a ética, o segundo é pluralista, incentiva o individualismo, a liberdade de escolha, a vida privada. O grande conflito atual está entre o sistema — que quer fazer das pessoas objetos de seus interesses — e o mundo vital — que tenta resistir a esta dominação e colocar a economia e a técnica a serviço da humanidade, através de uma vontade ético-política.

Por isso — concluía Antoniazzi a primeira parte de sua reflexão — nunca como agora a dimensão ético-política da vida humana foi tão importante: o mundo está em nossas mãos; tudo depende das escolhas humanas; dispomos dos meios técnicos e econômicos para mudar o mundo, mas falta-nos suficiente vontade ética e política!

 

2. Por uma nova ética

A segunda parte da reflexão foi dedicada ao estabelecimento de critérios para a cidade de amanhã: que ética pode e deve orientar-nos na construção da “cidade” (“civitas” em sentido estrito e amplo) humana?

 

2.1. Universal e ecumênica

Segundo Antoniazzi, esta ética deve ser universal (= válida para todos) e ecumênica (= aberta às dimensões culturais e religiosas da humanidade e às suas diferenças). Seu pressuposto é a igual dignidade de toda pessoa humana, e suas características são a não violência e o respeito do outro em sua diferença e alteridade (cf. CNBB, Ética: pessoa e sociedade; M. A. Oliveira, Ética e racionalidade moderna, São Paulo, 1993; Idem, Ética e socialidade, São Paulo, 1993; R. Mancini, Comunicazione como ecumene, Brescia, 1991). E, diante do fato que os seres humanos são diferentes por cultura, condição social, gênero etc., a ética deve respeitar e acolher as culturas, não reprimi-las ou combatê-las em nome da razão. Em sua universalidade, esta ética se encontra com o universo cristão (cf. Gl 3,28); em sua ecumenicidade, se encontra com o compromisso da Igreja com a “inculturação” (cf. Documento de Santo Domingo).

 

2.2. Consensual e solidária

É viável a ética universal e ecumênica, que a razão diz ser válida e necessária?

Se considerarmos o nível de desigualdade, discriminação e violência, parece que não; de outro lado, porém, aumenta a interdependência. Como numa greve ou numa guerra, a um certo ponto, as partes em conflito percebem que não tem sentido a prolongação indefinida e buscam um acordo, também em nossa sociedade estamos numa encruzilhada semelhante: numa situação “desesperada e cheia de esperanças”, percebe-se que é preciso mudar, enfrentando os conflitos reais com o diálogo, a discussão, a negociação. Evidentemente, isso não se faz elaborando uma teoria da nova sociedade ou fazendo um discurso ético, mas pela ação, pela mudança de postura. E aí é essencial o esforço por ouvir o outro, compreendê-lo, reconhecer seus direitos. Nesse sentido, é exemplar a “Ação da cidadania”. Na mesma linha a Campanha da Fraternidade de 1995, sobre os “excluídos”, será uma oportunidade extraordinária de mobilizar o Brasil para “ouvir” o outro. É preciso, porém, ter consciência de que o conflito é profundo e complexo, sobretudo considerando o predomínio que a economia exerce sobre a sociedade, deixando pouco espaço para outras racionalidades. Daí a necessidade de muita persistência e competência!

 

3. Critérios para uma pastoral urbana

Qual a missão da Igreja na cidade? Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que a cidade não tem mais um centro onde a Igreja possa reunir todos os cidadãos; as paróquias não têm mais condições de atuar segundo um esquema territorial rígido; nem é pensável tentar criar uma sociedade cristã fechada sobre si mesma.

 

3.1. Ser sinal do Reino

Pressuposto isso, é preciso ter clara consciência de que a Igreja deve ser sinal profético e germe do Reino na cultura urbana, apontando e buscando algo novo e diferente. Mas, para tanto, há dois desafios que brotam dos dois lados da sociedade atual: o lado da “cultura” e o lado do “sistema”.

 

3.2. Inversão de rumos

Diante do “mundo da vida urbana”, marcado pelo pluralismo religioso e pela busca de uma religiosidade fortemente subjetiva, a Igreja deve ser capaz de oferecer as condições não de uma “rotina” religiosa, mas de uma “experiência religiosa” pessoal autêntica de Deus em Cristo e no Espírito. O que exige, de um lado, uma inculturação gradativa nas culturas urbanas e, de outro, uma inversão de rumos em nossa pastoral, ou seja, se a pastoral tridentina esteve centrada no “objeto” (reta doutrina, ritos corretos, rígida disciplina, fiéis passivos), a nova pastoral deverá re-centrar-se sobre o “sujeito”. Hoje, os “fregueses” exigem que o presbítero seja, antes de tudo, alguém capaz de falar de Deus a partir da sua experiência, a partir da vida, não “burocraticamente”; os fiéis tornam-se sujeitos ativos da fé, do testemunho, da evangelização; o autoritarismo, além de contra testemunho do Cristo Servo e Pastor, é contraproducente, pois afasta. Nesse novo contexto, o presbítero deve dedicar-se, antes de tudo, ao crescimento da comunidade sem imposição, sem autoritarismo.

 

3.3. Estar com as mãos na massa

Em relação ao “sistema” (economia, técnica e política), a Igreja não poderá suscitar atitudes éticas adequadas se se limitar a discursos genéricos. É indispensável entrar na especialização moderna e fazer um discurso competente no campo econômico, técnico e político. Para isso, a Igreja precisa da mediação dos “leigos”, isto é, dos fiéis envolvidos nas realidades terrenas. Mas aí nos deparamos com um problema sério: a divisão clérigos-leigos deixou os leigos sem teologia e os clérigos sem experiência! Como estabelecer uma ponte entre esses dois mundos, para possibilitar uma reflexão e uma ação de inspiração cristã nos campos da economia, da ciência, da técnica e da política?

 

3.4. Uma andorinha só não faz verão!

Para finalizar, Antoniazzi ressaltou a responsabilidade da Igreja local em face destes dois desafios: a ação não é responsabilidade de um indivíduo (pessoa ou grupo), mas da Igreja local, que deve “articular” as respostas: passar progressivamente da organização paroquial para uma ação articulada pelo presbitério em toda a cidade; valorizar o desempenho e a autonomia de cada um (“pensar globalmente, mas agir localmente”, através de pessoas e grupos específicos); buscar a unidade entre fé (experiência religiosa) e vida (dimensão ética); manter trocas de informações e experiências dentro da cidade e entre as cidades; discutir (não camuflar ou abafar) os problemas e conflitos eclesiais.

 

4. Qual o papel da Igreja?

Após a palestra do Pe. Antoniazzi, os participantes, divididos em grupos, discutiram duas questões: 1) Qual o papel específico da Igreja na construção de uma cidade mais humana e solidária? 2) Diante das rápidas mudanças do mundo urbano, o que deve mudar em nossa pastoral?

Para os participantes do V ENP, a missão específica da Igreja consiste em: defender a vida, ser sinal de esperança, servir, evangelizar, fazer-se presente em todas as situações, ser voz profética, refazer a práxis de Jesus, implementar uma pastoral orgânica para servir a todos, articular as forças que se colocam a serviço dos movimentos populares.

 

5. O que deve mudar na pastoral?

Diante das rápidas mudanças no mundo urbano, nossa pastoral tem de passar por profundas mudanças: superar o esquema paroquial (transformar a paróquia em rede de comunidades e centro articulador de serviços); investir na pastoral de conjunto; fazer uma nova leitura da cidade para, a partir daí, repensar a ação da Igreja; fortalecer o diálogo dentro do presbitério e entre os presbíteros e os leigos; fazer do diálogo pastoral o cerne da nova pedagogia pastoral; criar condições para o protagonismo dos leigos; encarar a cidade como um todo e participar efetivamente da vida da cidade para não se esclerosar; valorizar a Igreja como “vivência” e “serviço”; encontrar um equilíbrio entre leigos a serviço da comunidade e leigos presentes no mundo; superar o eclesiocentrismo, colocando a Igreja a serviço da construção de uma nova sociedade; enfatizar a dimensão missionária da Igreja e o diálogo religioso; desenvolver a pastoral do acolhimento; pensar o caminho (processo) em termos de experiência do Reino, não só a meta; valorizar as culturas e inculturar o Evangelho; utilizar mais e melhor os meios de comunicação social; ser capaz de ouvir; valorizar o relacionamento interpessoal; priorizar a pastoral da juventude; repensar as nomeações de bispos e as ordenações presbiterais.

 

6. E o presbítero, como fica?

Tudo isso repercute na figura do presbítero, cujo modelo precisa ser repensado. Em nível mais pessoal, estamos diante de um apelo para uma profunda conversão pessoal e para uma espiritualidade que seja o motor de toda a vida do presbítero. Em nível mais pastoral, o presbítero deverá ser capaz de inventar uma pedagogia pastoral em que a autoridade seja vivida como serviço, em que o presbítero não monopolize as ações, mas saiba animar o conjunto, formar os leigos, despertar comunidades, trabalhar colegialmente. A formação precisa ser revista para que o presbítero não seja um mero “funcionário” eclesiástico, mas um “evangelizador” do complexo mundo moderno. Nada disso, porém, se fará se não estivermos dispostos à autocrítica, a rever nossas atitudes e atividades em profundidade, a reciclar-nos permanentemente.

 

IV. “VOCÊS É QUE TÊM DE LHES DAR DE COMER” (Mc 6,37)

A “Iluminação do Agir” coube ao Pe. Antônio José de Almeida, que, num primeiro momento, insistiu na necessidade de se tomar consciência de que a Igreja vive um processo de redefinição de sua atuação devido a mudanças profundas no seu contexto de ação; num segundo momento, insistiu em que esta nova realidade exige reflexão teológico-pastoral séria, para que a ação da Igreja não repita os esquemas pastorais tradicionais, herdados do mundo pré-moderno ou en­tão desatentos à complexa e móvel realidade contemporânea.

 

1. O mundo mudou

Com efeito, o mundo mudou e mudou num sentido diferente em relação ao que muitos esperávamos; não se compreende o que está acontecendo: “hoje a Igreja não está sabendo ler as mudanças do mundo” (R. Valle). Na verdade, o impacto das mudanças é agravado pela falta de um quadro conceitual que permita analisar a realidade brasileira e apontar caminhos de reconstrução pastoral! A incompreensão dos desafios provoca perplexidade, e a perplexidade leva à paralisia… em que muitos efetivamente se encontram.

Em um primeiro nível de análise — voltando para o levantamento de alguns fenômenos emergenciais — podemos verificar algumas mudanças significativas:

a) no contexto internacional: a “queda do muro de Berlim” (com a crise das visões socialistas tradicionais, haverá ainda alternativas, ou teremos chegado ao “fim da história”?; a nova ordem mundial: qual a situação da América Latina diante dos novos blocos econômicos?;

b) mudanças no contexto nacional: a longa recessão econômica cria dificuldades muito grandes para as propostas de mobilização dos mais pobres; após a redemocratização do país e a volta da legalidade jurídica, como participar da construção do espaço público?; com a crise do Estado, quais agentes sociais ocuparão o espaço por ele cedido na elaboração de políticas sociais?; diante da crise da esquerda, surge um violento ataque ideológico do neoliberalismo e seus argumentos influenciam;

c) mudanças no contexto eclesial: a orienta­ção fixada pelo Vaticano, com suas críticas à teologia da libertação e seu apoio aos movimentos nacionais; a expansão crescente e o êxito do pentecostalismo nos meios populares, paralelamente ao decréscimo de participa­ção nas CEBs.

 

2. A religião na sociedade atual

Em um segundo nível de análise — mais atento à percepção das transformações profundas por que passa o campo religioso — desenha-se um quadro mais complexo, cujos componentes principais poderiam ser assim sintetizados:

a) estamos diante de uma crise da religião de Igreja e da emergência da chamada “religião invisível”, situada na esfera das escolhas pessoais: as grandes instituições primárias de socialização não são capazes de dar sentido à existência pessoal e, assim, aumenta a distância entre a instituição e os fiéis;

b) a longo prazo, deverá haver uma diminuição da influência da religião na vida social; a curto prazo, porém, não se pode negar um peso significativo da religião na vida social, se se compara a capacidade de influência da Igreja com a de outras instituições;

c) vivemos num mundo pluralista, ou melhor, numa pluralidade de mundos, cada um com sua cultura, seu discurso, sua lógica: não dispomos mais de teorias totalizantes que expliquem a totalidade do real para todos os homens; o mundo pré-moderno, homogêneo e unitário, explodiu e se fragmentou; a crise da “grande narrativa” é também a crise da Igreja, que a encarna.

 

As expressões mais imediatas e empíricas deste quadro — ao lado, evidentemente, de outros fatores — no campo religioso são:

a) o impressionante crescimento dos novos movimentos religiosos, religiões alternativas e seitas;

b) o “despotenciamento” da religião: ao lado da permanência de uma religiosidade de fundo, observa-se que está perdendo força o modelo tradicional de religiosidade, caracterizado pela congruência entre as várias dimensões em que se articula um referimento de fé (= crença nas principais verdades religiosas; participação nos rituais; adesão às orientações da Igreja…); toma vulto o fenômeno de uma interpretação subjetiva da referência de fé (= a verdade religiosa se transforma em opinião; adesão descontínua às concepções e dogmas religiosos; subjetivização da religião ao sabor das necessidades e da busca de satisfação pessoal), devido à emergência da subjetividade e à transformação da subjetividade em subjetivismo;

c) no plano subjetivo dá-se uma montagem religiosa que mistura elementos de várias proveniências: afinal, numa sociedade fragmentada que se trans­forma num mercado onde se vendem os mais variados “saberes vividos”, os indivíduos são constrangidos a construir sua própria identidade como “artistas da liberdade”; no plano objetivo, assiste-se ao fenômeno do trânsito religioso: transita-se de uma religião a outra; cada religião dá ao indivíduo o que ele quer encontrar; os — fundadores” escolhem nas grandes religiões estabelecidas as verdades e os ritos que interessam: numa época em que as esferas de saber e de sentido são autônomas e concorrentes, o indivíduo é obrigado a buscar segurança… e não falta quem lhes venda!

 

3. Tempos de reconstrução pastoral

Este novo contexto exige um redimensionamento profundo da ação da Igreja, uma verdadeira reconstrução pastoral.

Neste exigente e delicado processo de reconstrução da ação evangelizadora da Igreja, o Pe. Almeida chamou a atenção para alguns aspectos:

— necessidade de se repensar a questão da presença da Igreja na sociedade;

— necessidade de se ajudar os indivíduos a elaborarem, num processo coerente e dinâmico, sua identidade pessoal;

— necessidade de se cultivarem novas atitudes pessoais e pastorais nos agentes eclesiais;

— necessidade de se estabelecer a Igreja local como sujeito privilegiado da comunhão e da missão eclesial, sob a presidência do presbitério;

— necessidade de novos modelos de articulação pastoral;

— necessidade de se apostar com determinação nos cristãos leigos como “protagonistas” da evangelização da sociedade e “colaboradores” na edificação da comunidade eclesial;

— necessidade de nova espiritualidade.

 

3.1. A presença da Igreja na sociedade

A presença da Igreja na sociedade é um imperativo de nossa fé cristã. A Igreja que brota do anúncio do Reino de Deus só é Igreja à medida que testemunhe esse Reino e colabore na construção de uma sociedade justa e solidária, solidarizando-se com os pobres e sustentando sua esperança, a exemplo de Jesus, Messias pobre e dos pobres.

Isso, evidentemente, não está em discussão. Mas essa presença não pode ser pensada como na sociedade pré-moderna, em que a religião desempenhava o papel de interpretação/determinação global da existência e agia em simbiose com o Estado; nem se pode aceitar resignadamente o papel que lhe destina a modernidade, relegando-a ao âmbito privado da vida; nem pode ela limitar-se a puro misticismo, como em certas franjas pós-modernas e em alguns movimentos; no contexto atual também, não se dão as condições em que, na década de 70, a Igreja canalizou os protestos da sociedade civil, desmantelada pelo Estado autoritário e monolítico; nem é aceitável a pressão daqueles — de direita e de esquerda — que gostariam de vê-la confinada na sacristia…

Onde situá-la, então?

— Uma primeira indicação nos vem do caráter religioso da Igreja: “A missão própria que Cristo confiou à sua Igreja por certo não é de ordem política, econômica ou social. Pois a finalidade que Cristo lhe prefixou é de ordem religiosa” (GS 42). A missão da Igreja é de ordem religiosa. Um primeiro nível da definição de sua especificidade é exatamente este: a religião se define por sua relação a uma realidade última, transcendente, incondicionada (é sua dimensão mística). Mas, “desta mesma missão religiosa decorrem benefícios, luzes e forças que podem auxiliar a organização e o fortalecimento da comunidade humana segundo a lei de Deus (GS 42). A religião tem um potencial inovador, transformador, humanizador (é sua dimensão ético-profética).

— Uma segunda indicação nos vem de sua especificidade cristã, de sua referência histórica e existencial à pessoa e à missão de Jesus: a Igreja é chamada a atuar nas condições concretas de cada sociedade e de cada cultura a práxis histórica de Jesus, que é teologia e moral, histórica e escatológica, pessoal, social e cósmica: neste nível, a Igreja é sinal e instrumento da prática libertadora, redentora e divinizadora de Jesus Cristo.

— Uma terceira indicação nos vem da consideração dos modernos ordenamentos jurídicos: a Igreja não detém um espaço privilegiado, definido “a priori” e garantido por origem e fundamentos divinos, mas deve conquistar, como outros grupos, comunidades e instituições, seu espaço de vida e liberdade.

— Uma quarta indicação nos vem do caráter histórico da Igreja e do caráter plural, dinâmico e conflitivo da sociedade e da cultura: a agenda da Igreja não será definida pelo contexto (problemas que afetam a vida e a liberdade das pessoas, especialmente dos pobres), mas só pode ser definida no contexto de uma dialética reciprocamente fecunda entre a presencialidade do Reino que se aproxima e a “concreteza” dos desafios que são gestados historicamente, sem nenhum reducionismo intraterreno e sem nenhum escapismo apocalíptico.

— Uma quinta indicação é dada pela estrutura carismática e ministerial da Igreja: os indivíduos e os grupos organizados realizarão a presença da Igreja na sociedade a partir de seus carismas e ministérios próprios, podendo esta presença quase que “se diluir” por sua “concreteza” (no caso dos leigos) ou mal “se definir” por sua radicalidade e “absoluteza” (no caso dos ministros ordenados), num amplo espectro de possibilidades; as modalidades concretas de atuação dependem não só das estruturas eclesiais (= carismas e ministérios, ou hierarquia e leigos), mas também e sempre das conjunturas (sociais).

— Uma sexta indicação advém do caráter presente e escatológico do Reino de Deus: a presença do Reino de Deus na caducidade da história humana deve ser designada e celebrada, sem que nunca, nos limites da história humana, a sociedade se transforme em Reino de Deus.

— Uma sétima indicação nos vem do caráter universal do desígnio de salvação, o que exige que a Igreja colabore com os demais cristãos, com as grandes tradições religiosas, com as buscas e lutas humanas, como, por exemplo, na construção de uma ética (universal, não violenta e ecumênica) capaz de incidir no sistema (cf. A. Antoniazzi).

— Uma última indicação vem da afirmação de Santo Domingo sobre o “protagonismo dos leigos” na transformação do sistema econômico, técnico e político, à medida que se superar a intransitividade entre pastores/teólogos e leigos, segundo as reflexões já feitas pelo Pe. A. Antoniazzi.

 

3.2. A elaboração da identidade pessoal

Na sociedade tradicional, dava-se pouco espaço para a identidade pessoal. O indivíduo nascia, crescia e morria sem grandes crises num mundo homogêneo. Sua identidade pessoal era uma identidade já dada. Na sociedade moderna, pelo contrário, o indivíduo livre é constrangido a elaborar sua identidade pessoal. Essa situação abre para a Igreja um desafio e uma oportunidade: contribuir para a elaboração da identidade pessoal dos indivíduos a partir da proposta convincente e envolvente do ideal cristão de vida. Temos de ser capazes de oportunizar aos indivíduos situações, processos e programas que possibilitem uma experiência religiosa cristã que seja decisiva para a construção de sua biografia pessoal. A Igreja tem de ser competente numa área em que o Estado e a família se mostram impotentes, e onde as seitas atuam com desenvoltura e, na sua fragilidade programática, com sucesso.

Nessa linha, precisamos tomar consciência de que grande parte dos católicos necessita de uma verdadeira e própria mistagogia, que os ajude a introduzir-se no mistério cristão e nas exigências éticas com ele conexas. Esse processo incluirá, sim, num dado momento, o anúncio global existencial de Cristo e da mensagem cristã (que muitos fiéis ainda não receberam de forma adequada), mas dará especial atenção às várias formas de presença, à solidariedade, ao testemunho, à acolhida do outro em sua diferença e em suas demandas, ao acompanhamento dos já iniciados, ao aconselhamento dos que de alguma forma já se integraram na comunidade cristã.

 

3.3. Novas atitudes dos agentes eclesiais

Em todas as instâncias e modalidades de nossa atuação, é urgente cultivarmos novas atitudes pessoais e pastorais:

a) Se a pastoral tradicional esteve centrada na “objetividade da fé” (= reta doutrina, rubricas, disciplina), a nova pastoral deverá re-centrar-se no “sujeito da fé”, para que o homem urbano possa dar pessoalmente o passo da fé, ou então, vivê-la significativamente nos contextos diferenciados em que a complexa realidade atual o coloca.

b) Por isso, na ação pastoral, trata-se de deslocar o acento do “emissor” (guardião da fé, dos sacramentos e da disciplina) para o “receptor” (com toda a sua carga de experiências pessoais, de necessidades, de anseios, de interpretações subjetivas do mundo…).

Trata-se — muito concretamente — de substituir o processo autoritário de comunicação vertical e unidirecional de “catequização” por um processo democrático de participação, diálogo e intercomunicação.

c) Na prática, isso significa que se deve respeitar, levar a sério e tomar como sinal de busca e ponto de partida (e não de chegada!) a experiência religiosa subjetiva de cada um, mesmo que ela se apresente em formas bastante afastadas dos conteúdos objetivos da experiência cristã. A experiência religiosa subjetiva não será reprimida, condenada ou corrigida “a priori”, mas trabalhada dialogicamente pelo agente e pelo fiel num contexto tendencialmente comunitário. As consequências dessa postura, para a superação de barreiras e muralhas entre tendências e linhas dentro da Igreja, não são de se desprezar. Amor à pessoa e amor à verdade são chamados a conviver em fecunda tensão no relacionamento pastoral como busca comum no Espírito.

 

3.4. A Igreja local e seu presbitério

Ainda que não se possa — por ser anacrônico — restaurar o princípio teológico-pastoral da Igreja antiga (“uma cidade, um bispo, uma eucaristia”), a Igreja local tem de ser vista e vivida como o sujeito privilegiado da comunhão e da missão eclesial, sob a presidência do presbitério.

Nesse ponto, deve-se lembrar que o que constitui e constrói a Igreja é o Espírito Santo através das mediações privilegiadas da Palavra, dos sacramentos e dos carismas e ministérios, expressões do amor-serviço.

E a Igreja — por razões antropológicas, pneumatológicas e eucarísticas — se dá sempre num lugar, numa cultura e numa sociedade determinada, ou seja, como Igreja local (cf. LG 23 e 26).

Dado o fato que as cidades se tornam cada vez mais diferentes umas das outras, cada Igreja local deverá — evidentemente, na comunhão solidária com todas as Igrejas — ter sua fisionomia própria na comunhão e na missão. Nesse sentido, caberá à Igreja local definir, com a participação mais ampla possível de seus membros, seu próprio projeto pastoral.

No seio da Igreja local e a seu serviço, não estão padres isolados, agindo paralelamente e anulando-se mutuamente, mas o presbitério. O ministério presbiteral será exercido cada vez mais colegialmente. Não é questão de boa vontade. E exigência “da estrutura sociocomunitária da Igreja e dos desafios que cada vez mais ultrapassam os limites geográficos e as nossas próprias forças enquanto isoladas. Por isso, nossa ação pastoral deve partir do princípio de que devemos somar forças, e não definir limites” (cf. C. Caliman, A evangelização na cidade hoje. Algumas reflexões pedagógico-pastorais, 1993, p. 28, mimeo).

 

3.5. Articular é preciso!

A pastoral urbana exige, por isso, uma prática inteligente, efetiva e afetiva, de “articulação”.

As Diretrizes gerais da ação pastoral 1991-1994 apresentam alguns destes princípios-chave da “articulação”:

a) princípio da diversidade, complementaridade e reciprocidade de carismas e ministérios;

b) princípio da autonomia (autoregulação);

c) princípio da subsidiariedade;

d) princípio da participação responsável (cf. 287-299).

 

Esses princípios podem nos ajudar a superar alguns vícios de nossa organização pastoral, como o funcionalismo, a pastoral de resultados, o individualismo pastoral, o centralismo pastoral e outros (cf. C. Caliman, op. cit., p. 29).

 

3.6. A hora e a vez dos leigos!

Todas essas indicações passam por uma transformação da pessoa, da vida e do ministério do presbítero, de um lado, e por uma efetiva participação dos leigos, de outro, sobre o que já se referiu ampla­mente o Instrumento Preparatório (cf. pp. 26-27).

 

3.7. Nas fontes do Espírito

Neste momento de profundas transformações na cultura e na Igreja, somos interpelados a esvaziar-nos de nossas rotinas, de nossas certezas, de nossas receitas… e buscar, juntos, saídas e alternativas para evangelizar o urbano. Nesse processo, só uma espiritualidade do amor pastoral, do seguimento de Jesus, da quenose e da cruz, da comunhão trinitária, pode sustentar nossa caminhada. Estamos apenas nos primeiros passos!

 

V. “VAI A NÍNIVE, A GRANDE CIDADE” (Jn 1,2)

Após essa apresentação do Pe. Almeida, os participantes do V ENP, divididos por grupos de interesse (política, economia, culturas, trabalho, educação, comunicação), debruçaram-se sobre o “agir”: na sua área de interesse, como encaminhar uma pastoral à altura dos desafios atuais?

 

1. Campos diversificados

a) Em relação à política, sugere-se apoiar trabalhos de base dos movimentos populares e sociais; ajudar o povo a ocupar os espaços políticos disponíveis; apoiar novas práticas políticas. Mais conjunturalmente, propõe-se um dia nacional de protesto contra a corrupção, o fortalecimento do lobby contra a revisão constitucional em curso; uma pesquisa para avaliar a ação da Igreja na política, a apresentação dos perfis dos candidatos.

b) No campo da economia, os grupos distinguiram duas áreas de atuação: na Igreja e na sociedade. Dentro da Igreja sugerem: levar a sério a pastoral de conjunto em todos os níveis; instalar e/ou manter os conselhos econômicos em funcionamento; ter transparência administrativa (prestação de contas); desenvolver uma autocrítica quanto ao uso do dinheiro; levar um padrão de vida simples e austero; divulgar projetos econômicos alternativos; educar para o dízimo; valorizar as semanas sociais. No conjunto da sociedade, indicam: acreditar no protagonismo dos leigos; acompanhar a elaboração e a execução dos orçamentos municipais; participar dos comitês da “Ação da cidadania”; discutir a ética na economia; promover e apoiar iniciativas inovadoras, como a “venda direta ao consumidor”, a formação técnica de trabalhadores rurais e as lutas dos sem-terra.

c) A questão da(s) cultura(s) encontra os participantes geralmente despreparados, pela sua vastidão, complexidade e novidade. Mesmo assim, sugerem algumas iniciativas para fazer frente à massificação, ao anonimato e ao pluralismo cultural: a valorização dos contatos pessoais; a criação de centros de acolhimento e atendimento; a valorização das pastorais específicas; a dinamização das CEBs; uma inteligente abertura “aos” e “dos” movimentos; a criação de grupos e comunidades eclesiais não territoriais. Devem merecer mais atenção: o impacto cultural das migrações (desenraizamento, perda de identidade, conflitos de gerações), as novas concepções de família, a pastoral sacramental (especialmente batismo, matrimônio e reconciliação).

d)   A pastoral do mundo do trabalho deve ser assumida pelo presbitério, e não apenas por presbíteros isolados! A partir desta tese, alinham-se as demais propostas: levar a sério os ensinamentos da Igreja nessa matéria; apoiar as reivindicações dos trabalhadores; apoiar os colegas presbíteros em situação de conflito; conscientizar sobre a legislação trabalhista e seu correto uso; estar atentos aos desafios da terceirização; procurar atingir os empresários; resgatar o valor humano e religioso do domingo.

e) No tocante à educação distinguiram-se dois níveis: os desafios da educação; a pastoral da educa­ção. Em relação ao primeiro, chamam a atenção dos presbíteros o desafio da educação das “massas sobrantes” e as iniciativas nesse sentido que precisam de nosso apoio: a educação informal, a educação popu­lar, as cooperativas educacionais. Quanto à pastoral da educação, sugerem: prosseguir no esforço para que a educação trabalhe a globalidade da pessoa; usar o método ver-julgar-agir como processo de conhecimento, de avaliação e de intervenção na realidade; valorizar os agentes da educação; estabelecer canais diretos de ligação com as escolas (visitas regulares); trabalhar criticamente os meios de comunicação social; melhorar a qualidade da educação religiosa; avaliar permanentemente as escolas católicas.

f) No campo dos meios de comunicação social, há muita coisa por ser revisada e implementada. E preciso continuar o trabalho de formação do senso crítico dos consumidores e dos comunicadores. Mas isso não basta. A Igreja deve, positivamente, descobrir pessoas com dom para a comunicação; investir seria­mente na sua formação; usar os meios alternativos de comunicação; preparar os agentes eclesiais de comunicação para ocupar bem o espaço disponível; articular melhor os comunicadores e os veículos de comunica­ção católicos, de modo que se garanta melhor qualidade e maior eficácia. Especificamente em relação aos presbíteros, a formação para a comunicação deve começar nos seminários e prosseguir ao longo do ministério. A Igreja deveria ter a coragem de rever aquelas “obras” que pouco contribuem para a evangelização, e priorizar a comunicação!

 

2. Um projeto concreto

Na tentativa de se dar mais “concreteza” ao momento do “agir”, o Pe. Carlos Fragoso apresentou o projeto pastoral “Construir a esperança”, da Arquidiocese de Belo Horizonte.

 

2.1. Por quê?

Por que um projeto pastoral? Porque a cidade mudou com a rápida industrialização, com o desenvolvimento do comércio e dos serviços, com a moderniza­ção, com a velocidade do fluxo migratório e com a desorganização de todos os serviços públicos.

Porque a cultura se transformou bruscamente. Porque, sobretudo, graças ao Vaticano II, a Igreja se conscientizou de que os instrumentos pastorais tradicionais tomaram-se inadequados para a cultura urbana. Era preciso superar a crise de identidade dos agentes de pastoral e o “laissez-faire” da ausência de propostas para um trabalho conjunto.

 

2.2. Como?

Onde o projeto pastoral “Construir a esperança” se integra com a temática do V ENP?

Justamente na busca de respostas pastorais (cf. CNC, Instrumento preparatório, 21-27) em nível de pessoa, de grupo, e de presença pública da Igreja na cidade (valorizando o protagonismo dos leigos, propondo uma postura ética na política, engajando-se nos serviços aos empobrecidos).

 

2.2.1. Nível da pessoa

Com efeito, o projeto pastoral Construir a esperança tenta valorizar a pessoa e a participação de todos, dá ênfase especial à formação dos cristãos, tenta elaborar uma espiritualidade leiga e empresta destaque, especial ao acolhimento das pessoas.

 

2.2.2. Nível do grupo

Neste nível, o projeto parte da constatação de 4 grupos que precisam ser atingidos pela ação evangelizadora: os cristãos militantes, os cristãos praticantes, os cristãos afastados, os não católicos. O projeto procura diversificar as frentes de trabalho da Igreja na tentativa de atingir a todos, mas, estrategicamente, está investindo preferencialmente nos militantes e nos praticantes, para que estes se tornem cada vez mais capazes de assumir o complexo e urgente trabalho da evangelização dos demais. Os não praticantes e os não católicos são atingidos, sobretudo pelos meios de comunicação social, em momentos fortes da vida religiosa e civil e em momentos não ocasionais da vida pessoal.

As paróquias encaram o desafio da renova­ção. Estão cada vez mais conscientes da necessidade de renovação; sabem que devem descentralizar-se internamente e projetar-se externamente na dimensão missionária e no engajamento social; estão trabalhando a questão da renovação dos sacramentos e criando novos ministérios leigos.

 

2.2.3. Nível da sociedade

A presença pública da Igreja na cidade está sendo garantida, sobretudo através das pastorais sociais, aproveitando sobretudo a experiência da Campanha da Fraternidade e articulando-se com os movimentos sociais e populares.

 

VI. PROPOSTAS À COMISSÃO NACIONAL DO CLERO (CNC)

Na manhã do penúltimo dia, os participantes do V ENP foram convidados a apresentar, a partir de um trabalho em grupos, propostas de ação às organizações dos presbíteros nos níveis regional e nacional.

As propostas para o nível regional ficam sob a responsabilidade das comissões regionais dos presbíteros, que têm sua dinâmica e seu calendário próprios de trabalho.

À CNC foram encaminhadas as seguintes propostas conclusivas:

1) promover a circulação de reflexões sobre o fenômeno da urbanização e troca de experiências da pastoral urbana, criando, se possível, um centro de assessoria e informações, ou, pelo menos, recorrendo a meios de publicação, como o Boletim da CNC, valendo-se também da colaboração da Linha 1, do CERIS e do INP;

2) promover cursos de formação permanente sobre urbanização e pastoral urbana;

3) dar continuidade ao tema no plano bienal da CNC e no VI ENP, levando em conta, além do problema geral da urbanização, os desafios à pessoa do presbítero e a pastoral da comunicação;

4) estimular experiências de superação das estruturas paroquiais e experiências de ajuda mútua e missionarismo, visando melhor distribuição do clero, contando, para tanto, com a colaboração também da Associação Nacional de Presbíteros do Brasil (ANPB).

 

VII. NO CORAÇÃO

À margem do tema da urbanização, mas bem no coração do V ENP e das preocupações dos presbíteros do Brasil, merecem destaque: as celebrações durante o encontro; o retiro pregado por nosso querido D. Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB; o painel formado por um presbítero, um diácono permanente e uma leiga sobre a II Assembleia dos Organismos do Povo de Deus, que teve como tema “Nova evangelização, promoção humana e inculturação”; a presença da diretoria da ANPB; a palavra de D. Mauro Morelli sobre a “Ação da cidadania contra a fome, a miséria e pela vida”; o testemunho dos presidentes dos organismos da CNBB; a confraternização na noite do penúltimo dia; a mensagem final, inspirada no livro de Jonas: “Vai a Nínive, a grande cidade…”.

 

Pe. Antônio José de Almeida (Comissão Nacional do Clero — 6)