Publicado em número 232 - (pp. 26-31)
A OSIB e os desafios da formação presbiteral
Por Pe. Alberto Antoniazzi (Comissão Nacional de Presbíteros — 48)
1. A fundação da OSIB e suas principais atividades[1]
A OSIB (Organização dos Seminários e Institutos Filosófico-Teológicos do Brasil) foi fundada há 25 anos, em 2 de julho de 1978. Desde então tem prestado serviços relevantes aos seminários e especialmente aos formadores. Basta lembrar: os catálogos dos seminários e institutos; o cadastro de professores[2]; os cursos para formadores[3]; a elaboração de orientações para os estudos filosóficos e teológicos, com os relativos ementários[4]; o boletim “OSIB-informa”[5]; os Cadernos OSIB, as pesquisas sobre a vida e situação dos seminaristas do Brasil[6].
A OSIB colaborou com o episcopado na elaboração das diretrizes da formação. Após amplo processo de consulta aos seminários, as primeiras Diretrizes básicas da formação dos presbíteros na Igreja do Brasil foram aprovadas pela Assembleia Geral da CNBB em abril de 1984[7]. De 1993 a 1994 a OSIB empenhou-se na renovação das Diretrizes da formação presbiteral, à luz da Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, as quais foram aprovadas pela Assembleia da CNBB e promulgadas em 1995 com o reconhecimento da Santa Sé[8].
Seria preciso evocar o contexto, muito diferente do atual, em que a OSIB foi fundada. No espaço de que dispomos, limitar-nos-emos a registrar alguns dados sobre a evolução do número e da origem dos presbíteros, o que vai dar uma ideia das mudanças acontecidas. Certamente não foi a OSIB que mudou o quadro, mas ela não deixou de trabalhar para que aumentassem as vocações ao presbiterato e os vocacionados recebessem uma formação de melhor qualidade.
2. A evolução da formação presbiteral no Brasil
Esses dados que, deveriam ser bastante conhecidos, receberam recentemente uma bela apresentação que mostra, ao mesmo tempo, as mudanças nas estruturas da Igreja, no número dos agentes de pastoral (em primeiro lugar, presbíteros) e no crescimento da população brasileira[9].
Lembramos que houve aumento significativo, de 1970 a 2000, no clero diocesano, estagnação do clero religioso e diminuição do clero missionário, vindo do exterior (baixando de 42% para 18% do total). Em números:
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Em resumo, pode-se dizer que o clero no Brasil se tornou, nos últimos 30 anos, mais diocesano, mais brasileiro e mais jovem (sobretudo entre os diocesanos), mas também menos numeroso relativamente à população.
Tal evolução não teria sido possível sem um significativo aumento do número de seminaristas maiores (que entre 1975 e 2000 cresceram 241% entre os diocesanos e 72% entre os religiosos) e das ordenações (que na década de 90 foram, em média, 401 por ano para os diocesanos e 181 para os religiosos, em um total de 5.823 ordenações entre 1991 e 2000).
Há, contudo, um aspecto preocupante no período. O aumento da população foi maior: de 95.137.800 em 1971 para 169.799.170 em 2000 (último censo do IBGE), o que equivale a um aumento de 78,4%. Logo, havia um padre para 7.351 habitantes em 1971, e um padre para 10.124 habitantes em 2000. O número de habitantes por padre cresceu nos anos 70 e 80, mas se estabilizou nos últimos dez anos. De fato, os padres eram 14.419 em 1991; cresceram desde então 16,3%, ou seja, com o mesmo ritmo de crescimento da população (15,5%).
3. A mudança da mentalidade e da motivação
As pesquisas promovidas pela CNBB e pela OSIB em 1982 e 1993 não fornecem dados que permitam entender as motivações que levam os candidatos a acolher (ou discernir) a vocação presbiteral[10]. Mas diante das grandes mudanças, da sociedade e da Igreja, dos anos 60 para cá, é preciso se perguntar o que terá havido nas motivações vocacionais. Os jovens de hoje encaram o presbiterato da mesma forma que os seminaristas dos anos 50 ou 60? Pode-se admitir, por muitas razões, que as motivações não são mais as mesmas. Em consequência, também a formação não pode ser mais a mesma, e o trabalho dos formadores deve ser repensado num novo contexto.
Na falta de dados sobre a evolução da mentalidade dos seminaristas, podemos oferecer uma hipótese de trabalho sobre a evolução do catolicismo desde Pio XII (†1958) até recentemente[11]. Um pouco em todo o mundo ocidental, predominantemente cristão, incluindo o Brasil, a religião católica passou do primado ou predomínio da instituição para a primazia do indivíduo. Passou também, ao mesmo tempo, da orientação clara para Deus ou a transcendência para a busca de soluções imediatas, às vezes quase mágicas, dos problemas humanos de todos os dias.
Podem-se distinguir quatro etapas: 1) a Igreja católica se apresenta como sólida instituição tradicional, onde os fiéis (salvo exceções) aceitam a autoridade da hierarquia eclesiástica para orientar a sua fé; 2) um novo acento é posto sobre as comunidades: comunidades relativamente pequenas, de “dimensão humana”, de relacionamento direto e próximo entre as pessoas (basta pensar no grande desenvolvimento que tiveram no Brasil as comunidades de base e, em anos mais recentes, os “novos movimentos”, que não deixam de ser um tipo de comunidade, menos presa ao território e às relações de vizinhança). Alguns sociólogos, retomando Weber, falam neste último caso de “comunidades emocionais”[12]; 3) dando mais um passo em direção ao individualismo, o indivíduo procura orientar sua fé pelo exemplo de outro, que acredita mais experiente e sobretudo autêntico em sua experiência religiosa (a mídia contribui para exaltar figuras referenciais: o Papa João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, os padres cantores… e, frequentemente, também trata com superficialidade e banaliza as experiências religiosas); 4) enfim, hoje, muitas vezes, o indivíduo procura a legitimação de sua fé dentro de si mesmo. É seu sentimento subjetivo que decide: “A minha religião sou eu”. Não há mais procura da comunidade, embora possa haver busca de experiências religiosas diversas, procuradas e adquiridas na tradição ou no mundo religioso, como se este fosse um supermercado em que o cliente escolhe o que quer e compra produtos de marcas diversas[13].
As questões que os formadores devem aprofundar são, portanto, duas: essa evolução do catolicismo (que aceitamos como hipótese geral, mesmo que nos casos concretos a evolução não tenha sido tão linear quanto na exposição acima) teve efetiva repercussão na percepção da vocação por parte dos seminaristas? A geração atual dos candidatos ao presbiterato busca predominantemente a segurança de sua fé e de sua vocação num sentimento interior, pessoal, subjetivo?[14]
O nosso trabalho de formadores está ainda fortemente marcado pela concepção do seminário pensado para formar servidores obedientes e fiéis da instituição eclesiástica[15] ou leva seriamente em conta as características psicológicas e os condicionamentos culturais da juventude de hoje?
4. Desafios atuais
4.1. Pluralismo dos modelos de ministério presbiteral
Uma confirmação do “subjetivismo” com que os novos presbíteros pensam e realizam sua vocação creio encontrá-la no evidente pluralismo de “modelos” que inspiram hoje o ministério presbiteral. Minha atenção para o fato do pluralismo, que já estava presente nas discussões recentes sobre o presbiterato no Brasil, foi aguçada por um recente artigo, em que um reitor de seminário se pergunta: por que nós procuramos formar os novos presbíteros segundo um modelo, que nos parece correto e conforme às indicações da Igreja, e os padres jovens exercem seu ministério de forma muito diferente, segundo outros modelos?[16]
Desconheço pesquisas recentes sobre a tipologia do ministério presbiteral exercido no Brasil[17]. Temos, contudo, rica coleção de análises e reflexão nos “instrumentos preparatórios” dos Encontros Nacionais de Presbíteros (ENPs), de 1985 a 2002[18].
Não dispondo de pesquisas, arrisco-me a propor — para exame crítico e discussão — algumas hipóteses e observações. Que tipos ou “modelos” de padres encontramos hoje atuando na Igreja, no Brasil? A descrição não pretende ser rigorosa, mas indicativa.
O primeiro modelo, talvez o mais comum (graças a Deus!), o que se encontra mais frequentemente nos ENPs é o padre-pastor, mais exatamente o padre caracterizado pelo ativismo pastoral. É alguém que se dedica com muita generosidade ao serviço da comunidade[19]. A generosidade, porém, tem seus riscos ou seus limites. Antes de tudo, há pressão muito forte, hoje, para que o padre (especialmente o pároco[20]) assuma múltiplas tarefas, que não são todas necessariamente de sua competência, mas impostas ou solicitadas pelo bem da comunidade. Daí muitas atividades sociais, muitos pedidos de atendimento a casos pessoais, muitas celebrações rotineiras de sacramentos. Se for levado em conta o tamanho muito grande da maioria das paróquias, compreender-se-ão outras consequências inevitáveis.
Uma consequência da sobrecarga é a situação de estresse do padre. Provavelmente o estresse era maior em 1985 (no tempo do 1º ENP), mas há sinais alarmantes de um peso excessivo das atividades pastorais (e/ou sociais) que o padre assume, em prejuízo de maior equilíbrio pessoal, físico e emocional[21]. Um padre cansado, às vezes exausto, nem sempre conseguirá dar a devida atenção aos seus fiéis e, principalmente, pode cair na tentação de recusar tudo o que é novo, sob a alegação de que não tem mais tempo. Daí o risco, numa época de mudanças como a nossa, de se afastar das categorias sociais mais dinâmicas e menos atraídas pela pastoral tradicional: jovens, formadores de opinião, empresários pequenos e grandes… No limite, o padre pode ficar atrasado no tempo e afastado da “modernidade”. Pode faltar-lhe também “alimento” para a pastoral tradicional: pouco estudo, pouca oração, pouca oportunidade de aprofundamento e de escutar com maior atenção os anseios dos que o procuram.
Uma forma de se libertar da sobrecarga e do estresse é, para o pároco, repartir muitas de suas tarefas pastorais com outros ministros ou equipes de colaboradores: animadores de comunidades, catequistas, equipes de liturgia, pastorais sociais, ministros extraordinários dos sacramentos… A pesquisa da CNBB no início do PRNM revelou, porém, que os párocos confiam frequentemente as comunidades rurais a ministros ou animadores leigos, mas dentro da paróquia continuam centralizando, se não monopolizando, grande parte das atividades[22].
Outra forma que os padres descobriram mais recentemente é a de operar uma espécie de divisão entre o tempo dedicado ao ministério e o tempo dedicado à sua vida particular. Alguns “somem” tão somente na segunda-feira, “dia de descanso” do padre. Outros são difíceis de encontrar durante a semana toda (não apenas às segundas-feiras): passam a morar longe da paróquia, não deixam número de telefone, não estão disponíveis a não ser em poucos horários etc.
Pe. Edênio Valle tinha levantado, já em 1995, os sinais da presença do “padre light”[23]. Descreve-o de forma delicada, preocupado em não jogar uma imagem preconceituosa sobre ele. Em suas palavras: “O padre light é alguém que ama a Igreja viva e serve aos seus irmãos e irmãs. Ele cultiva honestamente a espiritualidade e a oração; trabalha para superar suas limitações e fraquezas; condivide com o presbitério e a comunidade suas riquezas, preocupações e projetos pessoais. Relaciona-se ‘bem’ com as pessoas, assume a causa dos pobres, estuda, reza, crê. Numa palavra, não pretende acomodar-se à ‘áurea mediocridade’ de uma vida ainda bastante respeitada e respeitável. No entanto, paradoxalmente, algo o torna ‘um homem perplexo’, uma pessoa dividida entre a coragem e o medo de arriscar-se ‘para dentro’ do que escolheu e quer ser. Sente, por isto, a tentação de retrair-se, de preservar-se, de manter ‘abstrata’ a sua adesão aos valores estruturantes de sua vida. Esses valores estão ainda lá, são objeto de seu desejo e de sua preocupação. Não deslancham, porém, o dinamismo que leva mais além. O padre light entra na média comportalmente correta de quem vive na civilização urbana”. E Pe. Edênio esclarece ainda: “O parágrafo acima não pretende descrever padres em crise, frustrados e infelizes… Não alude, tampouco, aos casos patológicos… Fala é do padre comum, do ‘bom-padre’ que, devido às circunstâncias tensas e aos desafios da cultura urbana, entra em ‘stress’ espiritual, pastoral e psíquico”. E continua lembrando que as grandes cidades (até segundo uma pesquisa da OMS daquele mesmo ano) são um lugar em que o estresse e a tensão emocional são muito frequentes.
Outros tipos de padres estão aparecendo, ou reaparecendo. Entre as novidades temos o padre midiático-carismático ou pop star, descrito por Clodovis Boff num “excursus” final do instrumento preparatório do 8º ENP (fevereiro de 2000). Citemos só o início de sua reflexão: “Vemos surgir hoje um novo tipo de padre, que adota novas formas — dir-se-ia ‘carismáticas’ — de anunciar Cristo e que, para isso, ocupa os ‘areópagos modernos’ da mídia. Será que atualmente não estaria surgindo o gênero do ‘evangelista moderno’? É o que parecem indicar alguns presbíteros que estão recebendo razoável espaço nos meios de comunicação social, principalmente na TV. A imagem pública desses presbíteros pop star deve mexer com a cabeça de muito seminarista e induzir à imitação. Os próprios fiéis, fascinados por esse tipo de culto e de linguagem, vividos com alta intensidade emocional, passam a cobrar dos outros presbíteros mudanças na maneira de celebrar e de se comunicar. E, assim, o novo processo parece penetrar pelo corpo inteiro da Igreja, causando naturalmente perplexidades”.
O fenômeno não é apenas brasileiro[24]. Também em outros contextos se percebe “uma tendência emocional e espetacularizante”, na qual alguns “redescobrem o sentido da ação do presbítero na afirmação do sagrado ‘estético-emocional’, que vem substituir o sagrado tradicional que se apresentava como separado e hierático”[25].
Em outro extremo, reaparecem também formas mais tradicionais do ministério presbiteral, que se inspiram no exercício do sacerdócio antes do último Concílio. Essa procura de “recuperação das formas exteriores que caracterizavam a experiência sacerdotal antes do Concílio Vaticano II” expressaria “a busca de formas seguras, certas, no meio de um fervilhar de propostas e modelos mutáveis e volúveis” e conotaria particularmente “sujeitos frágeis, necessitados de certezas, que copiam modelos sacerdotais que se contrapõem a tudo aquilo que tem sabor de ‘novidade’”. E às vezes esses sujeitos teriam dificuldades de relacionamento, pobreza de conteúdos na homilia e na catequese, dificuldade de colaborar com outros.
Outra característica da atualidade é a valorização da competência “profissional”. O mundo atual exige, sempre mais, especialização nas atividades profissionais. Também os presbíteros podem se tornar “especialistas”, aprofundar sua preparação (pastoral) em determinado campo? Entre nós é ainda bastante raro encontrar esse tipo de presbítero, porém alguns veem com bons olhos o desenvolvimento de sua formação num campo específico e tendem a pensar seu ministério de forma análoga à de um “especialista” em outros campos. Por que um professor de teologia, por exemplo, não poderia ser semelhante a outro professor universitário ou pesquisador? Até seria desejável um presbitério que dispusesse, ao mesmo tempo, de vários especialistas, que cobrissem os campos principais de sua responsabilidade pastoral[26]. Por outro lado, se o presbítero escolhe a especialização somente por gosto (ou “vocação”) pessoal, sem considerar as necessidades do presbitério — ou da diocese ou da congregação —, poderíamos deslizar para opções subjetivas que perderiam muito do seu sentido eclesial.
Aliás, a valorização das qualidades pessoais parece ser tendência forte e difundida entre os novos presbíteros.
4.2. Outros desafios no limiar do novo milênio
O formador, que hoje não pode ignorar que os seminaristas são atraídos — interior e exteriormente — por esses diversos modelos de “ministério presbiteral”, terá de levar em conta outros condicionamentos da formação presbiteral atual. Em agosto de 2001, num seminário promovido pela OSIB[27], procurei acenar a alguns deles.
Primeiro desafio: levar a sério o Concílio. “Apesar de seus limites, Optatam Totius é uma orientação equilibrada, sábia, em grande parte ainda não efetivamente realizada em nossos seminários. Creio que se nos esforçássemos para tornar a nossa formação realmente mais condizente com as indicações do Concílio teríamos muito a ganhar. Antes de sonhar com o Vaticano III, ou de ceder à tentação de voltar ao Vaticano I, realizemos o Vaticano II!”
É imperativo levar a sério “as novidades do (nosso) tempo, as mudanças — não pequenas — que na sociedade, na cultura e na Igreja aconteceram de 1965 para cá”. Naquela ocasião, lembrava alguns fatos que me parecem incidir fortemente sobre os formandos e o processo de formação:
— antes de tudo, a personalidade e a formação humana dos que hoje ingressam no seminário maior. Eles não carecem tanto de experiência do mundo (como os seminaristas que ingressavam meninos no seminário menor) quanto de uma vivência de fé e de comunidade eclesial. Eles têm maior dificuldade de alcançar sua identidade e são mais expostos ao subjetivismo religioso e à tentação do anti-intelectualismo;
— em segundo lugar, o processo de explosão do conhecimento e de fragmentação do saber. Os próprios professores, formados no meio universitário, tendem a tornar-se especialistas, distantes das questões básicas e vitais dos estudantes. O desejo do Concílio de uma formação intelectual integrada e harmoniosa parece raramente realizado; as nossas diretrizes para a formação presbiteral no Brasil não parecem ser observadas;
— a multiplicação dos ministérios e a consciência de que é preciso edificar comunidades eclesiais exigem que os futuros presbíteros sejam educados não para reproduzir, mais ou menos fielmente, um ideal universal e estereotipado de presbítero válido em qualquer parte do mundo (como, de algum modo, era pressuposto por uma eclesiologia gregoriana, que concebia as dioceses ou Igrejas locais como “partes” da única Igreja ou filiais da agência central)[28], mas para construir, em diálogo com outros ministros e fiéis (em comunhão com a Igreja diocesana e o bispo, vínculo de união com a Igreja toda), uma comunidade eclesial em que se expressam a personalidade, a liberdade e as tradições culturais de seus membros;
— o desafio, enfim, da evangelização de uma sociedade em rápida mudança, que gera comportamentos humanos inéditos e suscita problemas éticos inteiramente novos, exige um presbítero particularmente capaz de escutar e discernir os “sinais dos tempos” e de adquirir ele mesmo uma experiência mística sem a qual (nas previsões de Karl Rabner) não subsistirá nem como cristão, tanto menos como pastor do povo de Deus.
Enfrentar todos esses desafios é hoje a responsabilidade dos formadores, que para isso precisam ainda mais de ajuda mútua, de comunhão fraterna e dos, bons serviços da OSIB.
[1] Uma versão mais extensa deste texto foi apresentada na Assembleia da OSIB realizada em Belo Horizonte de 27 a 31 de janeiro de 2003, que comemorou os 25 anos de fundação da organização. Para a história da OSIB, cf. a tese de doutorado do Pe. André Marmilicz em O ambiente educativo nos seminários maiores do Brasil, Curitiba, Gráfica Editora Vicentina — 2003, especialmente a parte II (pp. 215-257), e a tese de mestrado do mesmo autor, da qual provêm alguns dados citados abaixo.
[2] Publicação interna da OSIB, 1981, 44 páginas (contém informações sobre residência, formação e disciplinas lecionadas de quase 500 professores de seminários e institutos).
[3] Além dos cursos de 1979 e 1981, o Pe. André Marmilicz registrou entre 1985 e 2000 outros 21 cursos da OSIB, realizados em várias capitais do País (desde Fortaleza até Campo Grande).
[4] Cf. Estudos da CNBB, 51: Orientações para os estudos filosóficos e teológicos, Paulus, S. Paulo, 1987.
[5] Pe. André Marmilicz registrou 30 números do boletim publicados entre 1984 e 2000.
[6] Cf. Estudos da CNBB, 40: Situação e vida dos seminaristas maiores no Brasil, Paulus, S. Paulo, 1984, e 74: Situação e vida dos seminaristas maiores no Brasil (II), Paulus, S. Paulo, 1995.
[7] Publicadas na coleção Documentos da CNBB, 30, Paulinas, S. Paulo, 1984.
[8] Cf. CNBB, doc. 55: Formação dos presbíteros da Igreja no Brasil. Diretrizes básicas, Paulinas, S. Paulo, 1995.
[9] Cf. CERIS, Caderno 3: Dinâmica populacional e Igreja católica no Brasil 1960-2000, CERIS/Loyola/Paulus, 2003.
[10] As pesquisas foram citadas acima, na nota 6. Os resultados da pesquisa de 1993 receberam “observações psicopedagógicas” do psicólogo Pe. Edênio Valle (cf. Estudos da CNBB, 74, pp. 39-56), as quais são de real interesse. Mas ele mesmo ressalva que “os dados (…) não permitem ilações do tipo psicológico direto, uma vez que são predominantemente sociográficos” (p. 40).
[11] Essa hipótese foi elaborada pela socióloga francesa Danièle Hervieu-Léger em: Le pélerin et le converti. La religion em mouvement, Paris, Flammarion, 1999. Mais acessível é seu artigo: “Du pratiquant au pélerin. L’institution catholique au défi de Ia religiosité pélerine. Elements d’une réflexion sociologique”, in Etudes (2000), 392, 55-64. Breve resumo em meu capítulo na obra do CERIS: Desafios do catolicismo na cidade, Paulus, S. Paulo, 2002, pp. 260-262.
[12] Cf. Daniéle HERVIEU-LÉGER, “Representam os surtos emocionais contemporâneos o fim da secularização ou o fim da religião?”, in Religião e Sociedade, 18/1 (1997), 31-47.
[13] Sobre as mudanças na relação entre indivíduo e “tradição”, cf. também as perspicazes observações de Anthony GIDDENS, Mundo em descontrole, Rio de Janeiro, Record, 2000, pp. 47-60 (ed. original: Runaway World, 1999).
[14] Uma contribuição importante à questão da atual geração de novos presbíteros foi dada por Luiz Roberto BENEDETTI no artigo: “O ‘novo clero’: arcaico ou moderno?” in REB 59 (1999), 88-126. Avalio, porém, que as conclusões deveriam ser mais matizadas e que o autor foi excessivo em pôr grande parte da responsabilidade da formação dos novos presbíteros sobre os formadores dos seminários.
[15] A formação dos padres como “funcionários de Deus” foi analisada (com traços fortes, quase caricaturais) por Eugen DREWERMANN; para um resumo de suas ideias, cf. o verbete Leigo/Clero, B, in: Peter EICHER (org.), Dicionário de conceitos fundamentais de teologia, Paulus, S. Paulo, 1993, pp. 455- 464.
[16] Cf. A. CAELLI, “Prete: é ancora possibile” (Chiesa in Italia — La formazione dei giovani preti), Il Regno-attualità 16/2002, pp. 563-570.
[17] Importante e ampla pesquisa sobre o clero, prevista pelo “Plano de Pastoral de Conjunto 1966- 1970”, foi realizada pelo CERIS em 1968, mas não foi publicada. Dela dão breve notícia Carlos Alberto de MEDINA e Pedro Ribeiro de OLIVEIRA: Autoridade e participação, Vozes/CERIS, 1973, pp. 135-168. Uma pesquisa europeia recente (‘Priester 2000”) foi relatada em artigo por P. M. ZULEHNER e A. HENNERSÈRGER, “Preti nella cultura contemporanea”, Il Regno-attualità 14/2001, pp. 483-498. Os autores encontram quatro tipologias da compreensão do ministério presbiteral: 1) O clérigo atemporal (fora do tempo); 2) O homem de Deus aberto ao tempo; 3) O homem da Igreja próximo do tempo; 4) O guia da comunidade adequado ao tempo. A pesquisa se refere à Mittel-Europa de fato: Alemanha, Áustria, Croácia, Polônia e Suíça.
[18] Publicados no volume: CNP — Presbíteros do Brasil construindo história, Paulus, S. Paulo, 2001. Tentei breve resumo desses documentos no artigo: “Construindo a história dos presbíteros no Brasil. A contribuição dos nove ENPs (1985-2002) através de seus documentos”, in Vida Pastoral 224, maio-junho de 2002, pp. 26-30.
[19] Melhor seria dizer: “das comunidades”. Impressiona-me encontrar padres do interior (mais raramente das periferias urbanas que atendem não apenas a 4, 5 comunidades, mas a 20, 30, 40, às vezes 80 ou 100!
[20] Mais da metade dos padres do Brasil são párocos. No fim de 2000, tínhamos 16.772 padres e 8.787 paróquias.
[21] Algumas sondagens que fiz, com a ajuda dos alunos do Curso de Especialização em Pastoral do ISPAL (PUC-Minas, Belo Horizonte), mostraram-me, por exemplo, que os párocos não reservam quase nenhum tempo para atividades físicas (caminhada, ginástica etc.) ou esporte.
[22] É o que me parece se pode concluir dos dados coletados, que são as respostas de 1.137 paróquias (seriam hoje 13% do total) de 37 dioceses diferentes. Nelas trabalhavam 1.706 padres (média de 1,5 padre por paróquia), 2.318 religiosas e cerca de 128.600 ministros leigos, assim distribuídos (em média, para cada padre): 32 catequistas; 23,5 animadores de comunidades; 13,5 ministros extraordinários da comunhão ou eucaristia; 4 coordenadores de grupos de jovens; 1,4 ministro das exéquias; 0,63 ministro extraordinário do batismo (ou seja, em média, um ministro por paróquia); 0,4 testemunha qualificada do matrimônio (ou seja, uma testemunha para duas paróquias). Os animadores de comunidades (sem padre) são mais de 23 para cada padre ou 35 para cada paróquia. Os ministros extraordinários do batismo e as testemunhas do matrimônio são muito poucos, em comparação.
[23] Cf. Instrumento preparatório do 6º ENP (2 a 7/2/1996), O presbítero missionário, profeta e pastor no mundo urbano, cap. IV, item I.1.
[24] Alguns dos mais conhecidos padres “midiático-carismáticos” têm site próprio na internet. Muitos deles (em ordem alfabética: Pe. Antônio Maria, Pe. Cleodon, Pe. Hewaldo Trevisan, Pe. João Carlos, Pe. José Eduardo, Pe. Marcelo Rossi, Pe. Quevedo, Frei Rinaldo, Pe. Zezinho) são acessíveis na coluna à esquerda, no item “Grande Família”, da página de Católica-Net dedicada aos sites católicos: veja <http://www.catolicanet.com.br>.
[25] Cf. A. CAELLI, art. cit. Il Regno-attualità, 16/2002, pp. 563-564.
[26] Também ZULEHNER e HENNERSPERGER observam que o presbítero “homem da Igreja próximo do tempo” (a terceira das quatro tipologias analisadas pelos autores) “faz da vocação um trabalho, como homem que entra a serviço da Igreja. (Ele) cria uma distância protetora entre o seu eu e as tarefas exigentes do presbiterato, entre si mesmo e o seu papel de padre. A profissionalidade é para ele mais importante que a espiritualidade; encontra-se em dificuldade face às figuras tradicionais do ministério como representação (de Cristo ou da comunidade); por outro lado, considera importante separar bem trabalho e tempo livre (lazer): ele não está ‘sempre em serviço’”. Compare-se essa descrição com a do padre light de Edênio Valle (cf. acima, nota 23).
[27] Cf. Estudos da CNBB, 83: Metodologia do processo formativo…, Paulus, S. Paulo, 2001, pp. 32-36.
[28] Sobre o tema da “identidade”, cf. revista Concilium (nº 285, 2000/2).
Pe. Alberto Antoniazzi (Comissão Nacional de Presbíteros — 48)