Publicado em maio-junho de 2019 - ano 60 - número 327 - Pág. 35-42
A santidade no mundo de hoje: das distorções ao autêntico chamado de Deus
Por Lino Batista de Oliveira
A santidade exige de cada um mais que conhecimento e vontade, pois, antes de tudo, é um chamado gratuito de Deus a, pela ação do seu Espírito, conformar nossa vida à de Cristo, que nos convida ao amor incondicional a Deus e ao próximo, especialmente aos sofredores: “tive fome e me destes de comer…” (Mt 25,35-36).
Introdução
Na solenidade de São José, em 19 de março de 2018, o papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai – cf. Mt 5,12), uma reflexão a respeito da santidade nos tempos hodiernos. O objetivo do papa, segundo ele, é humilde: “[…] fazer ressoar mais uma vez o chamado à santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades […]” (FRANCISCO, 2018, n. 2).
Para enfrentar a discussão sobre a possibilidade da santidade no mundo de hoje e para ajudar na reflexão sobre o modelo de santidade em nossa sociedade, o papa inicia seu pensamento falando sobre o chamado à santidade. Destaca o papel dos que já são santos, que aparecem como encorajadores de novos santos e santas, e lembra que santos não são somente os dos altares, pois a santidade é uma graça concedida a todos por iniciativa de Deus.
O papa faz referência a dois inimigos sutis da santidade em nosso tempo: o gnosticismo e o pelagianismo. O gnosticismo liga-se ao conhecimento como autossuficiência, isto é, à ideia de que é pelo conhecimento que o ser humano deve buscar a sua salvação. A pessoa se resume na imanência da sua subjetividade e dos seus sentimentos, tornando-se autorreferencial. Quanto ao pelagianismo, associa-se à ideia de atribuir à vontade do ser humano a causa de sua salvação, esquecendo que, antes de tudo, não há “eu me salvo”, mas sim “Deus me salva” – afinal, a salvação é de pura iniciativa divina.
O objetivo desta reflexão é retomar o primeiro e segundo capítulos da exortação papal e responder às inquietações sobre a concepção de santidade no mundo contemporâneo, principalmente no que diz respeito ao lugar que o ser humano e Deus ocupam na construção do ser santo. Qual é o papel de Deus e qual é o papel do ser humano?É com o fito de responder a essa questão que se refletirá sobre as distorções gnóstico-pelagianas e sobre a santidade como um chamado de Deus.
1. O chamado à santidade e suas distorções
O papa não mede esforços ao refletir sobre as concepções equivocadas acerca da santidade presentes em nosso mundo. Concepções que não nasceram em nossos dias, mas já são conhecidas, ganhando apenas nova linguagem: gnosticismo e pelagianismo. “São duas heresias que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas continuam a ser de alarmante atualidade. Ainda hoje os corações de muitos cristãos, talvez inconscientemente, deixam-se seduzir por estas propostas enganadoras” (FRANCISCO, 2018, n. 35).
1.1. A distorção gnóstica
Gnósticas eram algumas correntes filosóficas que se difundiram, nos primeiros séculos depois de Cristo, no Oriente e no Ocidente. O gnosticismo foi uma primeira tentativa de filosofia cristã, feita sem rigor sistemático, com a mistura de elementos cristãos míticos, neoplatônicos e orientais. Em geral, para os gnósticos, o conhecimento era condição para a salvação. Os principais gnósticos dos quais temos notícia foram Basílides, Carpócrates, Valentim e Bardesane, cujas doutrinas eram conhecidas pelas refutações feitas por Clemente de Alexandria, Irineu e Hipólito (ABBAGNANO, 2000, p. 485). O gnosticismo foi combatido por uma série de Padres gregos e latinos, desde Santo Irineu, no século II, e seus contemporâneos até Agostinho de Hipona, na obra A verdadeira religião (389).
O papa, no segundo capítulo da exortação, estigmatiza o gnosticismo como um dos inimigos da santidade no mundo atual. Segundo ele, o gnosticismo é a autocelebração de “[…] uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros, engessada numa enciclopédia de abstrações” (FRANCISCO, 2018, n. 37). Trata-se de vaidosa superficialidade, que pretende reduzir o ensinamento de Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo. Ao desencarnar o mistério, prefere “[…] um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo” (FRANCISCO, 2016, n. 11).
Além de alertar sobre um tipo de santidade baseada numa mente sem Deus e fria, o papa afirma ser o gnosticismo uma ideologia que quer convencer o ser humano de que a sua visão sobre o mundo é plena e perfeita. O gnóstico, “[…] ao mesmo tempo que exalta indevidamente o conhecimento ou uma determinada experiência, considera que a sua própria visão da realidade seja a perfeição” (FRANCISCO, 2018, n. 40). Trata-se da pessoa que, pela via do conhecimento, quer esgotar tudo e todos ao seu eu pensante, aprisionando a realidade aos conceitos. Como nos lembra Lévinas (1906-1995), em sua filosofia da alteridade, trata-se do pensamento do idêntico, que nega a diferença, o diferente, que quer dar ao todo uma única identidade, transformar toda realidade numa “mesmeidade”.
Assim como busca a redução do real ao racional no que se refere ao mundo das coisas, também o pretende fazer em relação ao mundo de Deus. Com efeito, o gnosticismo, “[…] por sua natureza, quer domesticar o mistério” (FRANCISCO, 2015, n. 11), tanto o do mundo como o do outro e o de Deus. No entanto, “Deus supera-nos infinitamente, é sempre uma surpresa, e não somos nós que determinamos a circunstância histórica em que o encontramos, já que não dependem de nós o tempo, nem o lugar, nem a modalidade do encontro” (FRANCISCO, 2018, n. 41).
Segundo o papa, alguém que arvore ter as respostas para todas as perguntas que a realidade apresenta, também as sobre Deus, “[…] é possível que seja um falso profeta, que usa a religião para seu benefício, a serviço das próprias lucubrações psicológicas e mentais” (FRANCISCO, 2018, n. 41). A consequência direta, por se colocar como aquele que conhece e pode explicar Deus com lógica, é pensar que por isso já se é santo, perfeito e melhor do que a massa ignorante. Lembra-nos o papa que São Francisco preocupava-se com a ideia de que saber de Deus significava necessariamente ser de Deus – portanto, santo. Ensinou São Boaventura, diz-nos o pontífice, que “[…] a verdadeira sabedoria cristã não se deve desligar da misericórdia para com o próximo” (FRANCISCO, 2018, n. 46). Não é sendo somente intelectuais de Deus que seremos os seus santos. Esse é o maior equívoco do gnosticismo de ontem e de hoje.
1.2. A distorção pelagiana
Estágio importante na história do cristianismo, sobretudo no tratado da teologia da graça, foi a controvérsia pelagiana, resolvida com o Concílio de Cartago em 418 (BAUMGARTNER, 1982, p. 101-105). Pelágio, monge de origem irlandesa, asceta e diretor espiritual em Roma, ensinava que o ser humano podia cumprir os mandamentos de Deus por suas próprias forças, sem que para isso tivesse necessidade de um auxílio divino interior (AGOSTINHO, 1999, p. 199-317).
No século V, Pelágio havia debatido com Santo Agostinho sobre esse assunto. Agostinho sustentava que o pecado original de Adão fora herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para buscar a Deus por si mesmo, ele está escravizado ao pecado e não pode não pecar. Por sua vez, Pelágio insistia que a queda de Adão afetara apenas a Adão e que, se Deus exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que possam fazê-lo. Ademais, na concepção dos pelagianos, embora Adão fosse um mau exemplo para a sua descendência, suas ações não trariam consequências para ela, tendo Jesus o papel de dar um bom exemplo fixo para o resto da humanidade (contrariando assim o mau exemplo de Adão), bem como proporcionar a expiação dos seus pecados, e tendo a humanidade, em suma, total controle das suas ações.
As sentenças pronunciadas pelo papa Inocêncio I contra tal tese acabaram por classificá-la como heresia. Heresia que sustentava basicamente a ideia de que todo ser humano é totalmente responsável pela própria salvação e, portanto, não necessita da graça divina. Segundo os pelagianos, toda pessoa nasce moralmente neutra, sendo capaz, por si mesma, sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar.
No pelagianismo está presente a ideia de que tudo se pode pela vontade humana, como se esta fosse algo puro, perfeito, onipotente, a que se acrescenta a graça. A graça aparece como acréscimo à vontade humana. No fundo, como nos faz refletir a Gaudete et Exsultate, “a falta dum reconhecimento sincero, pesaroso e orante dos nossos limites é que impede a graça de atuar melhor em nós, pois não lhe deixa espaço para provocar aquele bem possível que se integra num caminho sincero e real de crescimento” (FRANCISCO, 2018, n. 50).
O que há é uma vontade sem humildade: “Com efeito, se não reconhecemos a nossa realidade concreta e limitada, não poderemos ver os passos reais e possíveis que o Senhor nos pede em cada momento, depois de nos ter atraído e tornado idôneos com o seu dom” (FRANCISCO, 2018, n. 50).
O problema daqueles que caem no pelagianismo é o esquecimento dos ensinamentos da Igreja a respeito da justificação e do papel da graça: “A Igreja ensinou repetidamente que não somos justificados pelas nossas obras ou pelos nossos esforços, mas pela graça do Senhor que toma a iniciativa. Os Padres da Igreja, já antes de Santo Agostinho, expressavam com clareza esta convicção primária” (FRANCISCO, 2018, n. 52).
Os novos pelagianos que têm se apresentado em nossos dias são cristãos que insistem em trilhar outros caminhos:
[…] o da justificação pelas suas próprias forças, o da adoração da vontade humana e da própria capacidade, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor. Manifesta-se em muitas atitudes aparentemente diferentes entre si: a obsessão pela lei, o fascínio de exibir conquistas sociais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de autoajuda e realização autorreferencial (FRANCISCO, 2018, n. 57).
O pelagianismo assume hoje características modernas: o individualismo da cultura (“eu sei, eu quero, eu posso, eu consigo, eu faço!”); a autossuficiência liberal-capitalista; a ambição do progresso absoluto; a ênfase no sucesso a todo custo; a pretensão do poder e do controle da mente; o interesse pelos movimentos neognósticos, como o espiritismo; o planejamento controlado; a ética civil; a idolatria do mercado; o mercantilismo religioso. No campo eclesial e pastoral, fazem-se presentes: a moral do legalismo, do ritualismo e do juridicismo; expressões jansenistas de rigorismo; o carreirismo e o clericalismo eclesiásticos; devocionismos de tendência mágico-fundamentalista; o apelo fácil aos exorcismos; a satanização da vida; o apego às tradições e leis do passado; o hiperativismo; a confiança nos planos e projetos humanos, que fazem crer que a Igreja é resultado da ação humana (BINGEMER; FELLER, 2003, p. 48-56).
Para evitar isso, o papa nos lembra a existência de uma hierarquia das virtudes. Nessa hierarquia, a primazia pertence às virtudes teologais, que têm Deus como objeto e motivo. E, no centro, está a caridade. Segundo o papa:
[…] no meio da densa selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar dois rostos: o do Pai e o do irmão. Não nos dá mais duas fórmulas ou dois preceitos; entrega-nos dois rostos, ou melhor, um só: o de Deus que se reflete em muitos, porque em cada irmão, especialmente no menor, frágil, inerme e necessitado, está presente a própria imagem de Deus. De fato, será com os descartados desta humanidade vulnerável que, no fim dos tempos, o Senhor plasmará a sua última obra de arte (FRANCISCO, 2018, n. 61).
2. Santidade: antes de tudo, um chamado de Deus
Quando se toma a Palavra de Deus, do Antigo ao Novo Testamento, ecoa de maneira constante o convite à santidade. No Antigo Testamento, no livro do Levítico, fala-nos Deus: “Pois eu sou o Senhor, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo. Não se tornem impuros com qualquer animal que se move rente ao chão. Eu sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso, sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44-45). No Novo Testamento, em 1 Pedro, recorda-se o chamado a ser santo porque Deus é santo: “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’” (1Pd 1,15-16).
Quando se volta para a tradição da Igreja, já no século IV se verifica uma preocupação teológica em estabelecer o real lugar dos santos e santas de Deus. Teólogos como Santo Agostinho rejeitam a ideia de os santos poderem ser vistos como sucessores dos deuses ou como deuses independentes:
Eles [mártires] não são deuses: o Deus deles é o nosso Deus. É certo que veneramos as suas “memórias” como santos homens de Deus, que até a morte combateram pela verdade para fazerem conhecer a verdadeira religião, provando a falsidade, a mentira do paganismo (AGOSTINHO, 1991, p. 788).
Decorre do pensamento de Santo Agostinho a definição de quem são os santos e de qual o papel e a importância deles no serviço da Igreja.
É tratando os santos não como deuses, mas reservando-lhes um lugar bem definido na história da humanidade, que o Magistério eclesiástico afirma ser a santidade uma vocação universal dos batizados, conforme nos fala o Concílio Vaticano II, ao versar sobre a Igreja: “Todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: ‘esta é a vontade de Deus, a vossa santificação’ (1Ts 4,3; cf. Ef 1,4)” (LG 39).
É na esteira da história da salvação e da Igreja que o papa Francisco reflete sobre quem é chamado à santidade nos dias atuais. Em sua exortação apostólica sobre a santidade, no capítulo primeiro, sobre o chamado à santidade, o papa lembra o importante papel dos que já chegaram aos altares; daqueles que, já sendo santos, encorajam os que ainda estão a caminho. São os que já chegaram à presença de Deus e mantêm conosco laços de amor e comunhão (FRAN-CISCO, 2018, n. 4).
A santidade não se esgota naqueles que já foram beatificados e canonizados, pois o Espírito Santo de Deus sopra sem cessar e para todos os lados, derramando a graça da santidade. Sem barreiras, o Espírito vai suscitando os santos e santas de hoje, que se encontram, segundo o papa, não necessariamente em pessoas que vivem longe, mas naquelas que estão perto e são um reflexo da presença de Deus. Muitos são santos, e o são perto de nós, vivendo, trabalhando e partilhando a vida.
A santidade é um chamado do Senhor feito a cada um de maneira particular. Muitos são os caminhos através dos quais somos convidados a vivê-la. “Todos estamos chamados a ser testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho” (LG 11). Lembra-nos o papa:
[…] uma pessoa não deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho, único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo […] (FRANCISCO, 2018, n. 11).
O que não se pode desconsiderar é o fundamento da santidade, seja ela em qual modo de vida for escolhida para ser vivida. A raiz de toda santidade está em Cristo, pois a missão do santo e da santa de Deus é a missão de Cristo. No fundo, a santidade decorre da profunda união com Cristo e com o mistério da sua vida;
[…] consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspectos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor (FRANCISCO, 2018, n. 20).
O ser santo com Cristo, por Cristo e em Cristo remete-nos a uma vida de serviço que santifica. No entanto, um serviço movido pela ansiedade, pelo orgulho, pela necessidade de aparecer e dominar certamente não será santificador. Sendo assim, o desafio é viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo. Afirma o papa: “Não é saudável amar o silêncio e esquivar-se do encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e menosprezar o serviço” (FRANCISCO, 2018, n. 26).
Os santos de hoje nascem no mundo, pertencem a Cristo, vivem no mundo, não são do mundo, mas nele estão para a santificação do mundo. Assim nos instrui o sucessor de Pedro: “Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo” (FRANCISCO, 2018, n. 33).
Conclusão
A santidade que o papa propõe vai na contracorrente do intimismo gnosiológico e pelagiano. Segundo Francisco (2018, n. 63), ela parte de Jesus, que
[…] explicou, com toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as bem-aventuranças (cf. Mt 5,3-12; Lc 6,20-23). Estas são como que o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre “como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a resposta é simples: é necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos chamados a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida.
O rosto do Mestre, que devemos deixar transparecer no dia a dia da vida para alcançar a santidade, passa pelo comportamento. Para ser santo, há uma regra de comportamento, como lembra o evangelho: “Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25,35-36; cf. FRANCISCO, 2018, n. 95). Ser santo não significa revirar os olhos num suposto êxtase. Se partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-lo sobretudo no rosto daqueles com quem ele mesmo se quis identificar. Reconhecer Cristo nos pobres e atribulados revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos e as suas opções mais profundas, aos quais se procura conformar todo santo.
Referências bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
AGOSTINHO. A graça de Cristo e o pecado original. São Paulo: Paulus, 1999. (Patrística, 12).
______. Cidade de Deus. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991. v. 1.
BAUMGARTNER, Ch. La gracia de Cristo. Barcelona: Herder, 1982.
BINGEMER, M. C. L.; FELLER, V. G. Deus-Amor: a graça que habita em nós. Valência: Siquem; São Paulo: Paulinas, 2003.
CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>. Acesso em: 12 dez. 2018.
FRANCISCO. Carta ao Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica Argentina no centenário da Faculdade de Teologia (3 mar. 2015). L’Osservatore Romano, ed. portuguesa, 12 mar. 2015.
______. Evangelii Gaudium: a alegria do evangelho. Sobre o anúncio do evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus/Loyola, 2013.
______. Gaudete et Exsultate. Sobre o chamado à santidade no mundo atual. Tradução de Flávia Reginato. São Paulo: Paulinas, 2018.
______. Homilia da Missa na Casa de Santa Marta (11 nov. 2016). L’Osservatore Romano, ed. portuguesa, 17 nov. 2016.
Lino Batista de Oliveira
Lino Batista de Oliveira é padre da Diocese de Apucarana, doutor em Filosofia (Ética) pela Universidade Santo Tomás (Roma, Itália); professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e do Seminário de Filosofia da Diocese de Apucarana (IFA); avaliador do MEC. E-mail: [email protected]