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Publicado em número 263 - (pp. 10-15)

Xingu, Igreja ameaçada e perseguida: entrevista com Dom Erwin Krautler

Por Ir. Cecília Tada, cmst

Com uma extensão de 365.086,2 quilômetros quadrados, a Prelazia do Xingu é a maior circunscrição eclesiástica do Brasil e, talvez, do mundo. Com sede em Altamira (PA), a prelazia se distribui em 15 paróquias com mais de 800 comunidades eclesiais de base (CEBs) espalhadas por 13 municípios, nos quais habitam 350.000 pessoas, numa diversidade que realça a riqueza cultural característica de uma das regiões mais belas do país. São indígenas e seus descendentes; ribeirinhos espalhados ao longo do caudaloso Rio Xingu e afluentes, além de migrantes de todas as partes do Brasil que, a partir de 1970, com a abertura da Rodovia Transamazônica, se mudaram para a região.

O enorme tapete verde que encanta nosso olhar é agora motivo de preocupação. Como outras regiões amazônicas, também aqui já se veem grandes áreas tornar-se campos abertos, ocupados com a grilagem das terras e o agronegócio. Os interesses de latifundiários, grileiros e madeireiros é que provocam os conflitos com os extrativistas, com populações ribeirinhas e com indígenas. Há, ainda, os projetos de obras do governo para a Amazônia, desenvolvidos sob a argumentação de que são importantes para o desenvolvimento do País. E não é só isso. A grande área do Alto, Médio e Baixo Xingu continua sendo palco de graves problemas sociais, como o trabalho escravo, a exploração do trabalho infantil, o tráfico de crianças, o narcotráfico e os assassinatos de líderes sindicais e comunitários.

Os crimes acontecem à luz do dia, à vista de todos, mas ninguém pode, absolutamente, revelar o que viu e ouviu para não ser incluído na lista dos que serão executados. Para salvar a própria pele, passa a vigorar a lei do silêncio. O Estado e o Judiciário não têm conseguido dar respostas suficientes a tão grande demanda. Para piorar a situação, alguns órgãos tornam-se coniventes com os mandantes dos crimes, a Justiça fica à mercê de quem tem o poder e a desordem se instaura na região, gerando insegurança, pavor e medo. Como em outros municípios do país, o coronelismo é evidente. “Infelizmente esta terra é sem lei”, constata o bispo da prelazia, dom Erwin Krautler, que trabalha na região há mais de quarenta anos.

Ignorando todo esse quadro desfavorável, o governo ainda incentiva as migrações sem oferecer condições para que os municípios possam acolher, com moradia e emprego, toda a multidão que chega. Por falta de infraestrutura e políticas públicas, muitos colonos abandonam os seus lotes e aumentam o cinturão da pobreza nas periferias das cidades.

Diante disso, a Igreja tem se colocado ao lado das populações pobres e sofredoras. A Prelazia do Xingu acompanha atenta a caminhada do povo, solidarizando-se com ele na luta pela defesa da vida e da justiça. A ela se unem outras dioceses do Brasil, como a Arquidiocese de Porto Alegre, além de Igrejas de outros países e congregações religiosas. Essa presença solidária confirma o perfil de uma Igreja comprometida com os pobres e excluídos no Xingu e mantém viva a esperança de que o bem prevalecerá sobre o mal.

 

VP — A Igreja no Xingu é perseguida e ameaçada por identificar-se com Jesus, o Bom Pastor, por ser um pastor que cuida de seu povo e o defende, sobretudo os mais pobres. O que mais preocupa o senhor como bispo desta Igreja, como líder não só nesta região, mas também no Brasil, por meio da Comissão para a Amazônia e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do qual o senhor é presidente?

Dom Erwin: Primeiro, teria de explicar o que significa perseguição e ameaça. Ela não cai do céu. Quando a gente é perseguido, ameaçado, é por causa de um empenho em favor de causas justas. No nosso caso, é em favor dos menos favorecidos, em favor dos pobres, em favor daquelas pessoas que sempre estão sendo postas à margem da sociedade. A perseguição propriamente dita começou quando tomamos posição em favor dos migrantes, das famílias que vieram de outros estados à procura de um chão para plantar e colher. A maneira de encarar a Amazônia a partir da visão de um capitalismo selvagem impede que essas pessoas possam se desenvolver e ter o seu meio para sobreviver. Então, há sempre uma luta entre aqueles que têm direito, inclusive pela Constituição, e são assentados pelo próprio governo, e aqueles que querem se portar como donos da Amazônia. A grilagem é um fato aqui em nossa região. O pessoal se apodera de vastas extensões de terras e, se o governo coloca famílias nessa mesma terra, então o conflito está programado. Os grandes proprietários não admitem a presença de famílias e, então, começam com ameaças, começam com a perseguição. E quem se põe do lado dessas pessoas perseguidas é também perseguido, é ameaçado, porque eles entendem que as pessoas não iriam reagir por conta própria. E identificam padres, irmãs, bispos, sindicalistas, pessoas que se empenham exatamente em favor dos direitos humanos, como cabeças de um levante, de uma revolução, contra as ambições e a ganância desses autodenominados proprietários, que, na realidade, não o são. Eles não têm direito, mas se autodenominam proprietários. O que isso tem que ver com a Igreja? Não podemos distinguir entre o povo que está, no dia de domingo, no culto dominical ou na eucaristia e o povo que, durante a semana, está no lote, na área rural. É o mesmo povo, o povo que frequenta nossas comunidades, e exatamente esse povo menos favorecido, esse povo expulso, maltratado. Eu não posso dizer: “Olha, sou responsável por vocês apenas na hora em que estão aí reunidos em uma comunidade para celebrar o culto”. Não. Sou responsável, como bispo, por esse povo também durante a semana e diante de todos esses desafios que ele enfrenta, diante de toda essa luta, desse sofrimento. Que pastor é esse que, na hora da dificuldade, da noite escura da luta acirrada, abandona seu rebanho? Exatamente aí, quando as coisas estão mais difíceis para o povo, o pastor tem de ficar ao lado dele e também demonstrar que se entende como alguém solidário na luta, nobre luta, pelos direitos humanos e pela dignidade humana.

 

VP — Outros problemas sociais exigiram do senhor uma presença bastante profética. O que o senhor diz a respeito?

Dom Erwin: Bom, desde que me entendo como bispo aqui, sempre me engajei, me apeguei em favor dos povos indígenas. Aqui, no Xingu, ainda temos vários povos que sobreviveram aos massacres, e entendo que a Igreja tem um dever, uma missão toda especial na defesa da sobrevivência física e cultural desses povos. Não adianta agora dizer: “Olha, nos séculos passados tantos erros se cometeram”. Nós temos de acertar hoje. Nós temos de ajudar para que esses povos possam viver. Na Amazônia está a maior parte dos povos indígenas do Brasil, e, aqui no Xingu, até por ser a maior prelazia do Brasil, também há um número considerável de povos diferentes, inclusive com línguas diversas.

 

VP — Diante desses desafios todos, o senhor tem conseguido envolver muitas lideranças, as comunidades. Como o senhor tem se sentido nesse processo de ação pastoral e evangelizadora durante todos esses anos? Com quais perspectivas o senhor se vislumbra?

Dom Erwin: Bem, eu me entendo como bispo-pastor de um rebanho que Deus me confiou, que a Igreja me confiou, e procuro levar adiante essa missão. Ela vai terminar quando eu fechar os olhos para este mundo. Mas há outro aspecto. Eu sou pastor, mas, ao mesmo tempo, sou defensor dos direitos humanos, porque entendo que eles têm sua motivação mais profunda no próprio evangelho. A gente não pode separar as duas coisas: luto pelos direitos humanos e, por outro lado, estou querendo anunciar o evangelho. Eu anuncio o evangelho e, ao anunciá-lo — “bem-aventurados os mansos, os pobres, os perseguidos, os aflitos” —, também defendo os direitos da dignidade das pessoas humanas. Tenho, porém, de admitir que não estou só nessa luta. Sempre me considerei um pastor que está trabalhando em equipe, com pessoas que defendem a mesma causa. Mulheres e homens tanto nas comunidades como nas obras religiosas ou os próprios padres que trabalham comigo. Eu tenho, digamos, a coordenação. Sou coordenador. Mas sozinho também não faço nada. Mesmo no Cimi, sou apenas presidente. Mas isso significa que tenho colaboradores que andam comigo, que também me aconselham, me assessoram e tomam a frente junto comigo. Não é fazer uma caminhada sozinho. Isso seria errado. Nós temos de lutar. Também não faço nada em favor de uma comunidade quando ela mesma não se dá conta de que tem de lutar pelos seus direitos. Eu não vou dizer: “Olhem, fiquem quietos aí, vou fazer a minha parte”. Não. Vou fazer junto, em favor deles, mas junto com eles e com elas.

 

VP — Outra situação que percebemos na região é a ausência e a indiferença do Estado. Percebe-se o sistema de coronelismo, fala-se até em consórcio do crime. Como é que o senhor se situa na relação com o Estado e nesse contexto tão desafiador?

Dom Erwin: Em outros cantos do mundo, e mesmo no Sul e no Sudeste do País, quando falo dessa situação, dessa realidade que o povo vive aqui, muitos me perguntam: “Mas isso não seria missão, obrigação, do juiz, da Promotoria ou do Ministério Público ou então do próprio Estado, do governador, dos deputados estaduais e tudo mais? Eu digo: é. É obrigação. Vivemos aqui em uma situação que chamo de terra sem lei, porque a única entidade, a única organização que ainda, muitas vezes, levanta a voz em favor dos menos favorecidos são as pastorais. Muitas vezes fiquei sozinho para denunciar certos crimes, certos fatos que aconteceram aqui em Altamira, em outros cantos desta prelazia. O único que denunciou e foi adiante e escreveu cartas para ministros, para governador. E por que fiz isso? Porque nenhuma entidade constituída, nenhuma instância do próprio governo, se mexeu. O que vou fazer quando vejo que meninas de 16 anos são abusadas e ninguém se mexe? Então, alguém tem de levantar a voz e dizer: “Olha, sou contra e denuncio esses abusos que acabam com a vida de pessoas humanas, com a dignidade da mulher, a dignidade da jovem”. Alguém tem de falar. Isso, em outros cantos, talvez não seja o caso, porque as instâncias governamentais estão funcionando. Mas para mim não é só a ausência do Estado. O que mais lamento ainda é a ausência da Justiça. A gente denuncia e dá o primeiro passo para processar alguém que cometeu o crime ou é um delinquente, mas depois tudo é arquivado e nada acontece. A pior praga que identificamos em nossa região é a impunidade. Alguém mata, abusa, agride, derruba e nada acontece. Ou, então, é solenemente condenado entre 33 e 76 anos e um ano depois está livre, desimpedido. Como pode um negócio desses? Aquele que hoje comete um crime sabe que, por mais bárbaro que o crime tenha sido, daqui a um ano e pouco ele já está em liberdade e é beneficiado em quantas lacunas que se encontram nas leis e no Código Penal deste país.

 

VP — O senhor conta com várias pessoas que trabalham na prelazia e são provenientes de outras dioceses. O que o senhor diz do Projeto Igrejas-Irmãs?

Dom Erwin: A Igreja-Irmã ou o Projeto Igrejas-Irmãs é uma arrancada, diria, da Igreja no Brasil, levando em conta dioceses e prelazias menos favorecidas, em termos tanto de pessoal como de recursos econômicos. Nos anos 1970, os integrantes da então presidência da CNBB — o saudoso dom Aloísio, dom Ivo, secretário, e dom Avelar Brandão, vice-presidente — deram um giro pela Amazônia e descobriram a situação calamitosa das prelazias e das dioceses. E sentiram-se como o bom samaritano. Sentiram-se tocados no coração: “Nós temos de fazer alguma coisa”. E aí surgiu essa ideia de Igrejas-Irmãs. A Prelazia do Xingu foi beneficiada pela igreja-irmã de Porto Alegre. Foi feito um acordo de intercâmbio entre as duas igrejas. A igreja mais bem situada, com melhores recursos humanos e econômicos, ajudaria essa igreja distante, em situação que é de dificuldade de toda ordem, isto é, carência de padres, religiosos, religiosas, leigos e leigas, seminaristas e, também, recursos. De certa maneira, deu algum resultado, mas lamento muito dizer que, em nível nacional, ainda não decolou o suficiente. O Sudeste e o Sul do País têm de se dar conta de que têm responsabilidade por essa Igreja que está na Amazônia. A gente não pode deixar isso simplesmente entregue a uma congregação missionária, a alguma congregação religiosa ou a algum bispo que está aí esperneando, lutando, pelejando para que possa sobreviver com sua diocese. Aqui, as distâncias são continentais. Eu sou o bispo da maior circunscrição eclesiástica do Brasil e, quem sabe, do mundo. A nossa prelazia abrange 365.000 quilômetros quadrados. É maior que a Itália. É do tamanho da Alemanha. É quatro vezes Santa Catarina, só para estabelecer uma referência, uma comparação com o Brasil. Eu, como bispo, não posso ir a determinado lugar só quando há 5.000 pessoas. Se na cabeceira de um rio, se no fundo de uma [estrada] vicinal existem apenas cinco famílias cristãs, elas merecem do mesmo jeito a visita do bispo, da irmã, de quem quer que seja. Nós não podemos nos guiar apenas pelas estatísticas do IBGE. E aí nós precisamos de gente. Não quero fazer comparação, mas, vendo a estratégia de outras comunidades cristãs que sempre estão aí na frente, percebo que nós ficamos sempre atrás. Quando chego a uma comunidade nova de migrantes, os pastores já estão lá faz tempo. Até que nós cheguemos e consigamos nos estabelecer e deslanchar o processo comunitário, já é tarde. E muitas pessoas que vêm de outros estados se sentem desenraizadas, abandonadas, e reclamam. Já que não temos condições de assistir essa comunidade, simplesmente passam para outra denominação. Isso me toca profundamente o coração. Como resolver isso? Nós temos de lutar pela conscientização e sensibilização missionária neste país. Isso já começa nos seminários. Os seminaristas devem saber que eles, mesmo sendo padres diocesanos, têm de estar abertos também para uma missão além-fronteira. Além-fronteira da sua própria diocese. Chegamos ao ponto em que é impossível viver como Igreja no Brasil, olhando somente para a própria torre da igreja. Nós temos de ultrapassar a fronteira, e acho até que não se trata de uma vocação sadia se o futuro padre exclui terminantemente a possibilidade de ir, pelo menos por alguns anos, a outra diocese, a outra prelazia, a outra região, para prestar seus serviços missionários. No que diz respeito a padres, sempre sonhei, sobretudo de uns tempos para cá, com uma possibilidade que poderia ajudar. Por que não inventaram em nosso querido Brasil um tipo de Fidei Donum? Padres Fidei Donum, diocesanos, que se põem à disposição de seu bispo, o qual pode entrar em contato com bispos que têm grande escassez de sacerdotes para oferecer a colaboração dos padres por alguns anos, fazendo convênio. Depois retornam, revezando com outros. Esse intercâmbio seria aquilo que nós entendemos por espírito missionário, que deve nortear, orientar as nossas dioceses. Um bispo do Sul — dom Paulo Moretto, de Caxias do Sul — disse que, se nós só disponibilizarmos padres no dia em que todas as nossas paróquias estiverem provisionadas, então nunca chegará o dia de nós enviarmos um padre, porque sempre surge nova necessidade em nossa diocese. Nós enviamos, às vezes até com o coração sangrando, um bom padre que prestou serviço nesta diocese a outro canto. Digo que a esperança é a última que morre. Tenho essa esperança de que o Brasil ainda vai acordar para a Amazônia. O que percebo, quando convidado para proferir palestras a respeito da Amazônia, é que o povo tem muita facilidade de dizer: a Amazônia é nossa. E é! Não há dúvida. Por outro lado, temos de demonstrar isso no chão concreto, através de iniciativas. Eu me sinto responsável por esta Igreja que está aqui porque é meu país. É minha Igreja que se estabeleceu e se criou e floresce neste chão brasileiro.

 

VP — O senhor é missionário e assumiu por muitos anos a presidência da Dimensão Missionária da CNBB. Que sugestões o senhor deixa para as dioceses, paróquias e congregações religiosas para que se tornem realmente missionárias?

Dom Erwin: A palavra-chave é sempre desprendimento. Eu tenho de ver um pouco a minha situação de congregação, de diocese, de obras. Temos de procurar saber o que o Espírito diz à sua Igreja hoje. O saudoso papa Paulo VI dizia que Cristo aponta para a Amazônia. Essa expressão do papa continua atualíssima. Nós hoje estamos no foco do mundo, e o Brasil não pode se esquecer disso. Concretamente, como poderia se encaminhar ou engendrar uma ajuda missionária ou uma iniciativa missionária a partir de outras dioceses do Sul e do Sudeste do País? Mais uma vez insisto: o espírito missionário deve se criar na infância missionária. Onde há essa iniciativa da infância missionária, a gente deve lembrar que estamos num país continental e existe uma área enorme, que perfaz a metade do território, que está sempre sendo considerada em uma perspectiva de província. Metade do país parece que não é país. E também metade da Igreja, em termos de superfície, parece que é uma Igreja de segunda categoria. Então se deve pôr na cabeça dessa menina, desse menino, que isso faz parte da infância missionária, tão bem conduzida pelas Pontifícias Obras. Deve-se alimentar esse espírito. Depois, no seminário, obrigatoriamente ter aula de missiologia. E missiologia não é apenas a respeito da África e da Ásia. É também a respeito das situações missionárias em nosso país. Não é possível que um rapaz prestes a ser ordenado padre não entenda, nunca tenha ouvido falar das necessidades e da missão, da nossa missão, aqui na Amazônia. Estou falando a respeito dos padres, mas vamos falar de congregações religiosas. Eu fiquei, nos anos 1970, encantado com a iniciativa de diversas congregações religiosas do Sul que se estabeleceram aqui. Fecharam casas lá porque acharam que a urgência era muito maior aqui do que em trabalhos desenvolvidos lá em áreas que o governo deveria manter. Então, fecharam casa, colégio, hospital e mandaram as irmãs para cá. Há diversas congregações religiosas. Às vezes, as dioceses prenderam os padres, não os deixaram partir, mas há congregações religiosas do Sul que vieram para cá, para o Xingu e para outros cantos da Amazônia, e até hoje continuam. E não estão se queixando por não terem vocações. Aqui ainda há vocações, graças a Deus. Mas o leigo e a leiga, como se situam aí, nessa situação? Às vezes, a gente fala em Igreja e só pensa em padres, religiosos, religiosas e por aí vai. Não, há a leiga e o leigo. Um casal leigo que pode oferecer, vamos dizer, um tempo, uns anos em favor de uma igreja local na Amazônia, será bem-vindo. Só que aí a coisa se torna um pouco diferente. A diocese de origem vai ter de assumir. A gente não pode simplesmente dar uma bênção a um casal com dois filhos que vai agora trabalhar três anos em uma diocese da Amazônia e entregá-los ao bispo local. Porque o leigo tem também direito à sua segurança previdenciária, ao seu seguro, aos seus recolhimentos, e ele não pode ficar desamparado. Então, a diocese, ao enviar o casal leigo, assume as responsabilidades diante das leis para que esse casal seja amparado. O bispo vai definir o que ele vai fazer. Os padres podem ser enviados solenemente pela igreja local e de origem religiosa ou pela sua congregação. Por que não enviar também, com toda a solenidade, um casal leigo que diz: “Olha, vou dar três anos da minha vida a essa diocese, na profissão que exerço, e vou trabalhar junto com as famílias em uma periferia de cidade e fazer o que posso fazer”? Isso em sintonia com a igreja local, tanto a de destino como a de origem?

 

VP — Uma mensagem!

Dom Erwin: Eu agradeço a cada um, a cada uma que já se empenharam e se empenham neste sentido do espírito missionário, de ir realmente, de sair da sua terra para prestar esse serviço. Abraão, quando escutou de Deus a palavra, saiu da sua terra. A gente se esquece que uma palavra assim é uma bênção. Então, cada um, cada uma que sai da sua terra para prestar serviços em outra igreja — não apenas para prestar serviços, mas para viver a sua vida cristã, dar testemunho de sua fé, de sua paixão pelo evangelho em outra terra —, ele e ela têm de ser uma bênção para onde são enviados. Peço a Deus, todos os dias, que esse espírito missionário aumente, essa paixão pela causa do reino se torne cada vez mais inflamada. Que cada vez mais possamos dar testemunho da nossa vocação. Ou a Igreja é missionária, ou deixa de ser católica. A Igreja é destinada a todos os povos, mas também a todas as situações, a todas as línguas, raças, povos e nações. E não é só um e outro que são chamados. Cada cristão, cada cristã têm, mediante o batismo, o sacramento da crisma, esse chamado, ou têm um germe dessa missionariedade no coração. Basta a gente cultivar a mente e semear no coração de cada um.

Ir. Cecília Tada, cmst