Mudanças nem sempre são fáceis. Embora vivamos num mundo em constante mudança, onde quase tudo é provisório, mudanças sempre acarretam preocupações e ansiedades. Na vida eclesial, experimentamos com muito mais frequência o fenômeno da mudança. Pensando nisso, e também lembrando que algumas dioceses e congregações religiosas costumam transferir regularmente seus membros, ofereço aqui algumas ideias/sugestões. Embora este artigo enfoque com maior relevo as mudanças na paróquia, as sugestões também podem ser úteis para mudanças nas comunidades de base, na formação, nas missões e em outras atividades pastorais.
Ao mudar de uma paróquia para outra, é sempre importante que haja o diálogo entre quem está deixando e quem está assumindo a paróquia/ comunidade. Não é raro encontrar situações de ausência de continuidade entre o pároco que está deixando e o que está assumindo. Há muitos casos em que o novo pároco, ao assumir, faz questão de desmontar equipes já existentes e começar tudo de novo. Às vezes isso pode ser necessário, mas, na maior parte dos casos, isso pode representar um desrespeito ao povo de Deus. A seguir vou sugerir oito passos para uma boa transição entre os que partem e os que chegam.
1. Faça um arquivo das pastorais
O pároco que está deixando a paróquia deve fazer um relatório completo dos trabalhos existentes. Seria bom ter um arquivo completo das pastorais. Por exemplo: pastoral do canto, pastoral da criança, pastoral do batismo etc. Além desse arquivo de cada pastoral, um bom diálogo entre quem parte e quem chega seria muito útil.
2. Procure conhecer tudo e todos antes de mudar
Não é recomendável fazer mudanças bruscas na chegada. Uma realidade muito presente entre os novos párocos é decidir por mudanças bruscas nos primeiros dias, sem conhecer ainda o contexto da paróquia. Isso pode criar mal-estar entre os membros das diversas pastorais que não foram consultados.
3. Escute a todos
Ao chegar a um ambiente novo — paróquia, missão, formação ou outro —, é muito importante estar com os ouvidos, os olhos e a mente bem abertos para escutar, ver e sentir. Evite-se fazer juízo prévio de alguma pastoral ou pessoa nessas diversas pastorais. Procure-se formar a própria opinião, evitando que outros influenciem com ressentimentos e preconceitos. Além disso, não se pode esquecer que o trabalho pastoral é feito com GENTE, e não com “coisas”. Gente tem sentimentos, afeições, dignidade.
4. Não demita ninguém na chegada
Evitar fazer demissões durante o processo de transição. Antes de qualquer demissão é recomendável consultar a parte legal — consulte um profissional da diocese ou da congregação. Depois de conhecer bem a realidade, aí, sim, pode-se tomar atitudes firmes.
5. Faça a revisão dos arquivos
Conforme as coisas forem caminhando no trabalho pastoral, sejam revisados os arquivos das pastorais. É preciso ser profissional nisso, anotando nomes, telefones de pessoas-chave nessas pastorais. Assim, estará sendo preparada uma caminhada para o futuro.
6. Comunique-se com as lideranças
Comunicar-se ao máximo com as lideranças dos trabalhos pastorais. Às vezes há pessoas que não simpatizam muito com o nosso jeito, mas, mesmo assim, é preciso dar prioridade para essa comunicação. Às vezes é até aconselhável fazer reuniões individuais com certas pessoas-chave das pastorais.
7. Você é o animador
Nós (padres, religiosos) raramente imaginamos quanto os líderes sentem o nosso apoio. Mostrar pouco ou nenhum interesse por sua atuação pastoral é algo que os desanima. É muito importante ser um animador/pastor junto a eles.
8. Seja pastor, e não administrador
Algumas vezes há padres/religiosos que confundem o papel de pastor (pároco, vigário, superior, coordenador) com o papel de chefe ou de administrador. Já diziam os caboclos: “Quem tem chefe é índio!” (embora nem os ameríndios gostem desse rótulo!). Nós, padres e religiosos, não temos uma formação profissional para ser administradores, apesar de, às vezes, ser necessário assumir essa área em nossos trabalhos pastorais. Nós, como pastores, devemos priorizar o trabalho de animação pastoral, de assessoria e de apoio. Somos chamados a ser líderes, e não administradores, na pastoral. É importante saber delegar as atividades aos leigos, procurando trabalhar em conjunto, e não solitariamente.
Enfim, não podemos esquecer que o grande animador é o Espírito Santo. Nós somos apenas instrumentos do Reino e estamos no campo pastoral para servir (cf. Mt 20,23). Decisões práticas são necessárias para que as pastorais funcionem. Portanto, não sufoquemos o Espírito que dá Vida. O grande pastor, Jesus Cristo, é o modelo para nós (cf. Jo 14).
Pe. Joaquim Parron, CSsR