Publicado em janeiro-fevereiro de 2012 - ano 53 - número 282
Concílio da primavera na Igreja
Por Dom Angélico Sândalo Bernardino
No dia 11 de outubro de 1962, o papa João XXIII inaugurou o Concílio Vaticano II, que foi encerrado pelo papa Paulo VI, no dia 8 de dezembro de 1965. Estamos vivendo, de 2012 a 2015, as comemorações do cinquentenário desse evento que se tornou o maior acontecimento da Igreja no século passado. João XXIII fez o anúncio profético deste Concílio na festa da conversão de Paulo, 25 de janeiro de 1959, quando encerrava a Semana de orações pela unidade dos cristãos. O Concílio, dizia João XXIII, deve apresentar às pessoas do nosso tempo, íntegra e pura, a verdade de Deus, de tal forma que elas possam compreendê-la e abraçá-la espontaneamente. Deve provocar reformas e abertura da Igreja à realidade histórica. Ele antevia, através do Concílio, nova primavera para a Igreja, aberta ao diálogo com todos. Paulo VI na mesma direção defendeu um Concílio renovador da Igreja, os braços abertos, acolhendo a todos com misericórdia, compaixão, à maneira de Jesus! O anúncio do Concílio, é bom lembrar, foi feito em tempo marcado, na Igreja, por intensa participação, de modo especial, no Movimento Litúrgico, na Ação Católica, Movimento Bíblico-Teológico.
1. Novos tempos
Na comemoração do jubileu de ouro do Concílio, não se trata, simplesmente, de olhar para trás. Estamos em nova época. Nestes 50 anos, os ensinamentos do Concílio foram sendo concretizados com avanços e retrocessos. Desde o começo, hoje nem se diga, as pessoas preferiam o inverno à primavera. Precisamos abraçar as grandes intenções e ensinamentos do Concílio e concretizá-los nos novos parâmetros culturais em que estamos imersos, em verdadeira conversão pastoral, em mudanças de certas estruturas eclesiásticas boas no passado e ultrapassadas hoje. Essa imensa tarefa a ser levada avante no vigor do Espírito Santo deve envolver todo Povo de Deus, não podendo ficar somente a cargo de alguns setores da estrutura eclesiástica. Trata-se de lançar as redes, de fato, em águas mais profundas. João Paulo II afirmou: “Sinto, ainda mais intensamente, o dever de indicar o Concílio como a grande graça que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa” (Novo Millennio Ineunte, n.57).
2. De olho na bússola
Abraçando a recomendação de João Paulo II, perguntemo-nos: para onde aponta a bússola a nos orientar no avanço evangelizador agora? A preocupação marcante do Vaticano II foi de nos indicar caminhos para evangelizar o mundo de hoje. Como anunciar o Evangelho na nova época? O Concílio responde com duas palavras-chave: aggiornamento, sinônimo de renovação, atualização, rejuvenescimento da Igreja; diálogo consigo mesma, com outras Igrejas cristãs, com não cristãos, não crentes. Diálogo sinônimo de comunhão, corresponsabilidade, intensa participação. O Pe. José Comblin gostava de indicar sete palavras-chave, bebidas nas fontes conciliares, como urgências a serem colocadas em prática. São as seguintes: preocupação pela pessoa humana, liberdade, Povo de Deus, Colégio episcopal, diálogo, serviço, missão. Bento XVI convocou, para os dias 7 a 28 de outubro de 2012, Sínodo sobre a “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Colhendo os clamores do Povo de Deus, o Sínodo, para ser eficaz, precisa abraçar as indicações, palavras-chave do Concílio, e apontar, concretamente, as novas e urgentes reformas, para que discípulos(as) missionários(as) de Jesus com o coração repleto de ardor, santidade, possam levar avante a nova evangelização com novos métodos, novas manifestações.
3. Igreja, Povo de Deus!
O Vaticano II foi um Concílio pastoral-eclesiológico! Ele nos oferece duas Constituições sobre a Igreja. A primeira é dogmática e se denomina Lumen Gentium (Luz dos Povos), que nos apresenta ensinamentos sobre o que a Igreja é e sua missão. A segunda é pastoral e se chama Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), que nos fala a respeito da Igreja no mundo de hoje. “O essencial do Mistério da Igreja é que seja uma comunhão com o Pai por Jesus Cristo, no Espírito Santo, e que viva em comunhão fraterna. A Igreja é instrumento da salvação, da graça, que brotam do coração de Jesus morto e ressuscitado, para a vida de todos”.
O Concílio nos apresenta a Igreja como Povo de Deus! Essa atitude é muito importante e renovadora, pois evita restringir a missão profética, real e sacerdotal da Igreja somente aos Ministros Ordenados. Na Igreja, há profunda igualdade entre todos na dignidade de filhos(as) de Deus, na vocação à santidade, na missão; o que nos diferencia são as vocações, serviços, ministérios, carismas, dons. Todos somos Povo de Deus, discípulos missionários de Jesus, com a missão de evangelizar. “Por instituição divina, diz o Concílio, a Igreja é estruturada e regida com admirável variedade” (LG 32). E cita palavras do Apóstolo Paulo: “Pois como em um só corpo temos muitos membros, mas todos os membros não têm a mesma função, assim nós, embora sejamos muitos, somos um só corpo em Cristo, e somos membros uns dos outros” (Rm 12,4-5). Bispos e Padres, fazendo parte do Povo de Deus, são os “que postos no sagrado ministério, ensinando, santificando e regendo, pela autoridade de Cristo, apascentam a Família de Deus de tal modo que seja cumprido por todos o mandato novo da caridade” (LG 81).
Esta Igreja, Povo de Deus, proclama: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”(GS 1).
4. A Palavra de Deus
O Concílio Vaticano II, apontando para atualização, renovação, rejuvenescimento, da Igreja, se alimentou da Palavra de Deus. Iluminado pelo Espírito Santo, elaborou a Constituição dogmática Dei Verbum. “Deus invisível, na riqueza de seu amor, fala aos homens como a amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele”. O papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, nos recorda que Deus nos fala, comunica-se com a humanidade, através de sua Palavra, seu Filho, o Verbo de Deus que se fez Carne, Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria! Em Jesus, Palavra de Deus, o Pai falou e revelou tudo. Ainda, em seu amor, Deus nos fala através da criação, “o livro da natureza”. Fala-nos na História da Salvação. Enfim, é Palavra de Deus, atestada e divinamente inspirada, a Sagrada Escritura, Antigo e Novo Testamento.
Somos convidados a acolher a Palavra de Deus. Ao Deus que se revela, que fala conosco, devemos dar a resposta da fé, sempre com os olhos fixos em Jesus, a Palavra suprema, definitiva. Como diz a Conferência de Aparecida: “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça e transmitir este tesouro aos outros é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e ao nos acolher” (dAp, n.18).
5. Liturgia e vida
A Liturgia é contemplada, de maneira especial, pelo Concílio Vaticano II, na Constituição denominada “Sacrossanto Concílio”. Encontramos nesta Constituição os princípios gerais da reforma e do incremento da Liturgia, assim como considerações profundas sobre a Eucaristia e demais sacramentos. Ainda, ensinamentos sobre o Ofício Divino, o Ano Litúrgico, música e arte sacra. A vida cristã tem seu centro vital na Eucaristia. A celebração eucarística no domingo, Dia do Senhor, deve ser sempre mais valorizada. A Liturgia é a família de Deus em festa. É a celebração do Mistério de Cristo e, em particular, de seu Mistério Pascal, que é o centro da obra da salvação. A Igreja, Povo de Deus, que proclama e celebra sua fé, vida, é comunidade de culto e santificação. Na linha do Concílio, a Conferência de Aparecida proclama: “A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade. Neste banquete feliz, participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em Missa prolongada. Porém, todos os dons de Deus requerem disposição adequada para que possam produzir frutos de mudança. Especialmente, exigem de nós, espírito comunitário, que abramos os olhos para reconhecê-lo e servi-lo nos mais pobres. No mais humilde, encontramos o próprio Jesus. Por isso, São João Crisóstomo exortava: “Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda, enquanto fora o deixam passar frio e nudez” (DA 354).
Liturgia e Vida! Nossa atenção deve, essencialmente, estar voltada para o Mistério que celebramos. Através dos ritos, contemplemos, na fé, o Mistério do amor de Deus por nós. “Tenhamos sempre presente a advertência de Jesus, citando o profeta Isaias: “Este Povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (Mt 15,8). Nas celebrações, haja sempre muito respeito, dignidade, solenidade. Respeito às rubricas, mas nada de rubricismo! Nada de espetáculos, roupas repletas de rendas femininas em vestes de ministros.
6. Decretos e declarações
Além de suas quatro Constituições, o Concílio nos oferece nove Decretos e três Declarações que, nestes anos de intensa comemoração do Jubileu de Ouro, precisam ser considerados, aprofundados, em busca de novas perspectivas, avanços. São estudos a respeito do ministério e vida dos bispos, dos presbíteros, da formação sacerdotal, da vida religiosa, dos leigos no mundo, na Igreja, da Igreja missionária, do ecumenismo, do diálogo com não cristãos, da liberdade religiosa, da educação cristã, dos meios de comunicação social. Por sua urgência, algumas considerações sobre o ecumenismo, em que temos tido avanços e retrocessos. O Concílio Vaticano II colocou a unidade dos cristãos como um de seus objetivos principais. Ele nos quer católicos firmes na fé e abertos ao diálogo, acolhedores, sem fechamentos e jamais sectários. Cristo fundou uma só e única Igreja. Através dos séculos, em razão de lamentáveis acontecimentos, essa unidade foi se quebrando. No diálogo ecumênico, o Concílio nos recomenda constante renovação da Igreja, pois Cristo nos chama a perene reforma, à conversão da mente e coração; convoca-nos à oração comum entre as Igrejas. Exemplo positivo reside na Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos. Insiste no respeito mútuo, em projetos de aprofundamento bíblico, teológico e no campo social. No Brasil, o abençoado Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) abraça todos esses objetivos, sendo preciosa associação fraterna de Igrejas Cristãs!
7. Existimos para evangelizar!
O Concílio Vaticano II foi convocado, realizado, com o objetivo fundamental de desencadear, na Igreja, vigorosa convocação de todos para a missão evangelizadora. Paulo VI foi incisivo ao afirmar: “Os objetivos do Concílio Vaticano II se resumem, em última análise, num só intento: tornar a Igreja do século XX mais apta ainda para anunciar o Evangelho à humanidade do mesmo século XX”. Em significativos momentos da História, a Igreja reuniu todas as suas forças voltando-as à nova evangelização. Assim aconteceu no final do primeiro milênio, quando países da Europa foram re-evangelizados. O mesmo se diga do após Concílio de Trento. O Sínodo dos Bispos de 1975 teve como tema: “A evangelização do mundo contemporâneo”. O Sínodo que o papa Bento XVI convocou para 2012 quer “Nova evangelização para a transmissão da fé”. As Conferências dos Bispos da América Latina e Caribe foram na mesma linha, e a de Santo Domingo teve como tema: “Nova evangelização, promoção humana e cultura cristã” e a de Aparecida: “Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que nele nossos povos tenham vida”. Bento XVI e João Paulo II convidam a Igreja toda, em nossos dias, “à nova evangelização; nova no vigor, métodos e manifestações”. Bento XVI criou o “Pontifício Conselho para a nova evangelização”. A CNBB, por sua vez, no objetivo geral da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, proclama seu compromisso de “Evangelizar a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida (Jo 10,10), rumo ao Reino definitivo”. Mais, o Vaticano II abre de par em par as portas da Igreja para o mundo todo, abraçando a ordem de Jesus: “Vão pelo mundo todo, anunciem o Evangelho”. Na América Latina e Caribe, a Conferência de Aparecida nos convoca à Missão Continental, visando, em primeiro lugar, atingir os católicos afastados, levando-lhes, pelo testemunho de vida, a Palavra de Deus que salva, ilumina, conforta. Para que isso aconteça, a convocação de discípulos missionários é abrangente, com o compromisso de formação ampla, aprofundada, para todos. “Toda Igreja é convidada a assumir atitude de permanente conversão pastoral, que implica escutar com atenção e discernir o que o Espírito está dizendo às Igrejas” (dAp 2,29), através dos sinais dos tempos em que Deus se manifesta. “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”. “Daí nasce para a Igreja, na fidelidade do Espírito que a conduz, a necessidade de uma renovação eclesial que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais” (cfr. dAp 365 a 370). Infelizmente, a Conferência de Aparecida não apontou, concretamente, quais são as mais urgentes reformas de que temos necessidade!
8. Pesquisa: crescimento de Igrejas
A esta altura, julgo oportuno apresentar dados da pesquisa que propõe oito padrões de qualidade para a Igreja local (o resultado da pesquisa está relatado no livro: O desenvolvimento natural da Igreja, publicado pela Editora Esperança). Os estudiosos Christian A. Shwarz e Christoph Schalk fizeram, durante dez anos, em conjunto com a Universidade de Würzburg, na Alemanha, um levantamento em mais de mil Igrejas, em 32 países dos cinco continentes, com o objetivo de descobrir elementos que promovam ou não o crescimento de Igrejas, e chegaram à conclusão de que são oito os fatores principais:
1. Liderança capacitadora
2. Ministérios orientados pelos dons
3. Espiritualidade contagiante
4. Estruturas eficazes
5. Culto inspirador
6. Pequenos grupos, células familiares
7. Evangelização orientada para as necessidades concretas das pessoas
8. Relacionamentos marcados pelo amor fraternal
Interessante também o testemunho de um membro da Igreja Batista, presente à Conferência de Aparecida, como observador. Ao meu lado, em subcomissão, à certa altura ele confidenciou: “Tenho viajado pela América Latina toda e visitado muitas Igrejas da Reforma e também católica, constatando que as Igrejas que mais crescem, que têm mais vida, são as marcadas por estas quatro características: abraçam com vigor a pastoral bíblica, realizam vibrantes celebrações litúrgicas com intensa participação dos fiéis, convocam e formam leigos(as) para a missão, têm gestos de solidariedade para com os que sofrem.
9. Diálogo e reformas
O Vaticano II usou muito a palavra diálogo com a consciência de que estava realizando uma mudança radical. Atitude dialogante que se torna ainda mais urgente, nos tempos que correm, em que crescem a tentação e a prática do fechamento, do estrelismo, do centralismo, do autoritarismo. O diálogo exclui atitudes narcisistas, centralizadoras, autoritárias. Na concepção do Concílio, o diálogo deve substituir as relações de dominação e superioridade. Diálogo que exige fidelidade à Palavra de Deus e humildade para escuta atenta de quem age e pensa diferentemente, com honestidade, buscando a verdade. O Papa Paulo VI, durante o desenrolar do Concílio, escreveu no dia 6 de agosto de 1964, sua primeira Carta Encíclica justamente sobre o diálogo. Nessa carta denominada “Ecclesiam suam”, Paulo VI chama nossa atenção para o diálogo com todos, marcado com estas características: clareza, mansidão, confiança, prudência.
Neste espírito, é que ouso apresentar algumas sugestões de urgentes mudanças, pois, se não mudarmos atitudes, estruturas, linguagem, corremos o risco de não sermos entendidos no mundo de hoje, de falarmos para nós mesmos.
Antes, porém, de apresentar sugestões para mudanças de comportamento, de estruturas, em nossa Mãe e Mestra, a Igreja, convém recordar as condições para reformas bem-sucedidas, sugeridas pelo grande teólogo Yves Congar:
1. Primazia da caridade e da pastoral.
2. Manter-se em comunhão com o todo: nunca se deve perder o contato vivente com todo o corpo da Igreja.
3. Paciência e respeito para com prazos da Igreja.
4. Apostar na reforma como retorno aos princípios da Tradição, às fontes, à Bíblia, a Jesus.
Isto posto, vão algumas sugestões:
l. Reforma inadiável: urgência de sermos santos, de abraçarmos com entusiasmo o desafio-convite de Jesus: “Sejam perfeitos, como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Necessidade de trabalharmos por sólida espiritualidade, por mística verdadeiramente contagiante.
2. Urgência de Igreja “com fome e sede de justiça”, com autêntico protagonismo dos leigos.
3. Igreja intensamente ministerial, com viva participação de leigos e leigas exercendo ministérios, serviços, em decorrência da exigência do batismo e da crisma.
4. A paróquia é convocada a ser rede de comunidades articuladas, abraçando o Plano de Pastoral de Conjunto da diocese. (Não podemos esperar reformas em outros níveis, quando, nos campos de nossa competência, somos pouco criativos, omissos inclusive.)
5. Toda comunidade deve ter a possibilidade de participar efetivamente da Eucaristia. Para isso, ao lado de presbíteros celibatários, temos urgência de chamar homens casados, de comprovada vida cristã familiar, profunda vivência comunitária, competência profissional, para serem ordenados presbíteros. Milhares de comunidades estão privadas da Santa Missa dominical por falta de presbíteros.
6. Estudar e redefinir a missão, papel, da Nunciatura Apostólica. Não podemos continuar com a sistemática presente na nomeação, transferência de bispos. Não é possível, por exemplo, que dioceses fiquem por tanto tempo sem bispo diocesano.
7. Estudar com atenção, na prática de Jesus, o papel da mulher na Igreja. Nada de ficarmos amarrados a atitudes culturais, marcadas por intenso machismo com o qual Jesus não compactuou em seu tempo.
8. A comunhão e a participação são realidades preciosas, devendo ser respeitadas em todos os níveis da Igreja. A comunhão com o Papa é fundamental. A comunhão na Igreja toda é mandamento de Jesus. Contudo, precisamos respeitar os diversos níveis de decisão. Colocar tudo nos ombros da Cúria Romana é ceder a um centralismo que não mais funciona. Confunde-se comunhão com centralização, com cerceamento das atribuições que devem ser de responsabilidade das conferências episcopais, dioceses.
9. A Igreja nas metrópoles deve ter consideração especial. Uma diocese na metrópole não pode ser tratada pastoralmente, no governo episcopal, como pequena diocese do interior.
10. Estruturas e instrumentos de participação devem ser criados, valorizados. Conselhos de presbíteros, de leigos, de pastoral, de administração, entre outros, precisam funcionar com competência, liberdade de expressão. O instinto de autoafirmação, quando não colocado a serviço da verdade buscada em comunidade, descamba em autoritarismos, criando burocratas, não pastores.
11. O jurídico deve estar a serviço da comunhão, não o contrário. “O sábado foi feito para o homem, não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Em amplas áreas, vivemos o império do jurídico, esquecidos, na prática, de que “devemos ter diante dos olhos a salvação das pessoas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema” (Can 1747).
12. Os teólogos são merecedores de apoio, incentivo real. Necessitamos de nova linguagem para a transmissão da fé de modo apropriado.
13. Urgentes questões referentes a ética, matrimônio, sexualidade, natalidade, segundas núpcias e recepção da Eucaristia precisam de tratamento pastoral, teológico, sociológico, psicológico, afetivo, congregando o parecer, declarações, não somente de ministros ordenados, mas também, de leigos(as) que amam a Igreja, são peritos e vivem imersos na dura e complexa realidade.
ELE CAMINHA CONOSCO!
É maravilhoso constatarmos que o Senhor Jesus, fiel à sua palavra, caminha com sua Igreja, está no meio de nós! Seu Espírito nos une, vivifica, santifica, renovando a face da terra! Confiantes, vamos avante, de esperança em esperança, na esperança sempre!
* Bispo emérito de Blumenau,
participa da comissão da CNBB
para a celebração dos 50 anos do Vaticano II.
Dom Angélico Sândalo Bernardino