Carta do editor

Maio-Junho de 2025

A presença humana e divina de Jesus Cristo no mundo
Reflexões à luz dos 1.700 anos do Concílio de Niceia (325-2025) e dos 10 anos da Laudato si' (2015-2025)

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Jesus Cristo está na boca de muita gente. Se também está no coração, isso é outro assunto. Jesus é tema presente no cinema, na literatura, na mídia em geral. A favor ou contra, é inegável o interesse sobre sua pessoa. Ouve-se seu nome na praça, nas igrejas. São incontáveis as igrejas que carregam seu nome. Exalta-se o nome dele na tevê e no rádio. No entanto, o ambiente em que ele é mais badalado é na internet. No ambiente digital, há “Jesus” para todos os gostos. Fala-se dele nos reality shows, nos festivais de música. Aliás, nesses festivais agora não pode faltar o estilo gospel.

Não obstante, parece que falta o Jesus do Evangelho, que se encarnou no seio da Virgem Maria, se fez história, se tornou em tudo semelhante a nós, menos no pecado (Hb 4,15-16). Menos no pecado, porque Deus não compactua com aquilo que fere a dignidade de sua criação. O pecado desconfigura o projeto original do Criador.

Parece que está faltando o Cristo do Evangelho porque há uma atmosfera de ódio meio generalizada em nosso meio, de intolerância e dos mais variados preconceitos, instalados em discursos e práticas, também de pessoas que enchem a boca para dizer “sou cristão”. Talvez nós, que nos dizemos “crentes”, precisemos de mais esforços para “dar razão da nossa fé” (1Pd 3,15).

Para o Cristo do Evangelho, testemunhado pelos primeiros discípulos, não basta uma fé apenas de boca; faz-se necessária uma fé de coração, porque se exige coragem. Não por acaso, a palavra “coragem” tem a mesma raiz da palavra “coração”. Dar razão da fé, portanto, é adentrar a experiência do mistério, que é profundo. É como aquela cena do apóstolo Pedro, quando, de madrugada, viu Jesus caminhando sobre as águas e os discípulos todos assombrados. Então, Pedro pediu: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro caminhando sobre as águas” (Mt 14,28). Jesus permitiu. Pedro, porém, sentiu um vento forte, que certamente lhe estremeceu o corpo todo, e começou a afundar. A fé é um terreno escorregadio. À semelhança de Pedro, podemos afundar quando concebemos um tipo de cristianismo sem Cristo. Pedro começa a afundar por isso. Ele ainda tinha uma fé ingênua, ou talvez se deixasse levar por meras ilusões de um projeto pessoal e mundano. O bonito foi que Pedro gritou, pedindo socorro. Ele foi humilde. Coisa triste é gente que se diz cristã e tem postura de arrogância e prepotência, que se acha maior e melhor do que os outros.

Jesus estendeu a mão e segurou Pedro. Ele também nos estende a mão quando fracassamos na fé. Pedro representa a comunidade. Não se concebe acreditar em Jesus Cristo fora de um vínculo eclesial. A fé está vinculada à fé da comunidade, da Igreja. Hoje temos um problema candente: certo confronto entre o Jesus Cristo popstar – ou, para usar uma palavra da moda, o Jesus influencer – e o Jesus Cristo da fé. Nem sempre se fala corretamente de Jesus. O desafio é falar corretamente sobre ele. Precisamos da inteligência do mistério.

É o que se propõe esta edição de Vida Pastoral: abrir a inteligência ao mistério de Jesus, a exemplo dos discípulos de Emaús, para buscar compreender a pessoa de Jesus, o evento Jesus Cristo (Lc 24,13-35). A inteligência aqui também tem a ver com o coração. A inteligência do mistério de Jesus não pode ser desligada da prática dos cristãos, do autêntico discipulado.

Boa leitura e preparação, neste tempo especial do Jubileu da Esperança!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor