Atualidades

Papa Francisco e as direitas emergentes

06/03/2024

Mês de março é aniversário do pontificado do papa Francisco. Quem não se lembra de sua primeira aparição na varanda do Vaticano, em 13 de março de 2013, tão simples, vestes leves, olhar suave e sorriso discreto de um lado ao outro da face; com certo ar de espanto. “Rezem por mim”, foi o primeiro pedido do papa. Seu pontificado tem sido marcado por reformas e, por isso, Francisco tem enfrentado oposições dentro e fora da Igreja. O papa não arreda o pé e segue sonhando com uma Igreja Sinodal.

Prof. Dr. João Décio Passos

Livre-docente em Teologia pela PUC-SP. Professor no Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião na mesma universidade.

Eis o artigo:

O pontificado de Francisco entra para a história como um pontificado reformador e exercido em meio a agressivas oposições advindas de setores conservadores da sociedade mundial. Trata-se de uma dialética politicamente compreensível em conjunturas reformadoras, porém inédita no catolicismo, desde o Vaticano II e, sobretudo, inédita pela publicidade que vem adquirindo nos manifestos de prelados e teólogos até bem pouco defensores da fidelidade irrestrita ao romano pontífice. Não se trata apenas de uma ruptura de etiquetas católicas, mas de ruptura de um ethos pautado no consenso e na fidelidade eclesiais.

Para além das regularidades sociológicas do catolicismo, tem emergido uma nova frente de oposição ao Papa Francisco dentro e fora da Igreja, sem quaisquer escrúpulos eclesiais, políticos ou diplomáticos, sem territórios confessionais definidos e sem disfarces eclesiais que preservem a tradicional comunhão e fidelidade católicas. De fato, certas manifestações públicas chegam, em termos católicos, ao status de cisma, quando o Papa anterior, Bento XVI é evocado como autoridade e símbolo de Papa atual.

Pode-se verificar uma antipatia política mundializada em relação ao pontífice latino-americano, bem como estratégias que o desqualificam perante a opinião pública, como politicamente ingênuo e irresponsável (por suas críticas ao capitalismo), como imoral (liberalidade em relação aos casais de segunda união) e herético (por seus ensinamentos doutrinais). É bem verdade que as oposições internas são mais diretas e severas que aquelas externas. Prelados vêm a público com manifestos contrários ao Papa, buscando qualificá-lo de incoerência e incompetência doutrinal para o exercício da função. Supostamente falam tão somente em nome da pureza doutrinal, sem qualquer correlação com a conjuntura política mundial, embora seja possível, de fato, mapear pequenos conclaves e estratégias que aliam religiosos e políticos em um campo mais ou menos comum de confronto com o Papa reformador.

Perante esse quadro, é possível formular uma hipótese. São antipatias e estratégias internas e externas à Igreja que se cruzam, em última análise, numa confluência econômica, a partir de onde emerge uma nova (ou velha) direita política mundial com objetivos e estratégias comuns (Kahhat, 2019). Francisco tem sido visto como ameaça a interesses de grupos econômicos que sempre mantiveram alguns tentáculos no pequeno estado de que é chefe, mas também por se posicionar contra os interesses do capital improdutivo que domina o planeta e se afirma nesse momento de crise como único e imprescindível e com estratégias novas de defesa do bloco ocidental contra os demais inimigos. O que fugir dessa máxima será considerado como esquerda superada e comunista e como perigo mundializado à ordem hegemônica gestada a partir do norte ocidental. Munido de um capital fundamentalmente teológico, O Papa Francisco se encontra hoje no centro da discussão e estratégias políticas sobre os rumos do capital globalizado que mostra seus efeitos deletérios para o planeta, para as nações e, sobretudo, para os mais pobres.

1. A variável política Papa Francisco

Na história do ocidente, o papado esteve regularmente vinculado às geopolíticas que se configuravam nessa parte do globo, da defesa dos interesses dos territórios pontifícios à defesa da hegemonia de seu poder político perante os reinos e, até mesmo, perante os estados modernos. Ainda que seja esse um capítulo da diplomacia do estado do Vaticano, figura que se mistura de modo teologicamente confuso com a Igreja, embora de modo natural com as relações internacionais, as relações dos Pontífices romanos com as conjunturas políticas modernas – e, evidentemente, com as conjunturas e modelos econômicos – têm seguido uma regularidade visível: a política das boas relações, a postura de estado neutro e o discurso conciliador com os poderes estabelecidos e, por vezes, com os poderes dominantes. E uma aparente postura para além da esquerda e da direita costuma sustentar não somente os discursos diplomáticos dos representantes do minúsculo estado, como também condicionar os discursos e, até mesmo, os ensinamentos do magistério papal. Mesmo quando, desde a Rerum novarum de Leão XIII (1891), a crítica aos regimes econômicos se tornou regular na sequência das Encíclicas sociais, o tom predominantemente moral dos discursos nem sempre deixou transparecer as opções políticas subjacentes; de fato, com qualificada habilidade, essas críticas souberam conciliar uma crítica dos efeitos dos sistemas econômicos com a relação efetiva do estado pontifício com as nações e poderes políticos, mormente com as potências ocidentais. Esse tópico mereceria um exame detalhado, o que extrapola os limites do foco dessa reflexão.

Na verdade, a diplomacia vaticana, pode não somente dificultar uma postura profética da Igreja, como também expressar uma persistente ambiguidade: em nome da diplomacia se evita, muitas vezes, um posicionamento ético-político definido que termine por exigir um posicionamento dos Papas no exercício de seus magistérios. É precisamente nesse exercício que tem persistido até bem pouco a ginástica discursiva que evita o confronto direto e, evidentemente, o posicionamento político que desemboca nas opções tipificadas de “esquerda” e “direita” com suas propostas de modelos econômicos. A esse respeito há que frisar uma evidente exceção no posicionamento político explícito e militante de João Paulo II em relação ao regime socialista, de modo direto na área de domínio da antiga União Soviética. Não obstante seu magistério social politicamente equilibrado, não ocultou suas convicções, opções e estratégias contrárias ao regime socialista, o que muitas vezes se traduziu em boas relações com os líderes do capitalismo ocidental (Ezcurra, 1985). Ainda que se possa observar uma evolução da crítica ao modelo econômico capitalista nas encíclicas sociais1, o fato é que Francisco opera uma ruptura de paradigma em seus posicionamentos, na medida em que considera o regime como perverso em si mesmo e postula a necessidade de construir outro modelo que seja viável para a espécie humana e para as espécies vivas, como ensina na Encíclica Laudato Si’ (Bento, 2018, p. 509-523).

Esse quadro de regularidade diplomática, muitas vezes, determinante de uma “regularidade” teológica e pastoral dos ensinamentos papais tem se modificado nos últimos tempos. O Papa Francisco tem se posicionado, de fato, como nova variável na conjuntura político-econômica mundial, desde seu epicentro norte ocidental. Ao que parece inverte o método de atuação papal, quando a postura pastoral é que passa a direcionar a diplomacia e não o contrário, o que tem consequências no momento de proceder às críticas ao modelo econômico hoje hegemônico: posicionamentos que não fazem concessões aos efeitos e à lógica interna no regime capitalista. Os valores do Evangelho são imperativos primeiros, verdades inegociáveis política e diplomaticamente. Essa postura firme e clara sustenta o pensamento papal e dá o tom de seus discursos, inclusive nos momentos em que a diplomacia está diretamente envolvida. No exercício do ministério petrino, o pastor prevalece como identidade primeira das relações diplomáticas e das críticas sociais e políticas, mesmo quando se trata de exercício explícito de diplomacia. Em sintonia direta com Vaticano II, os valores evangélicos são adotados como fundamento ético das críticas sociais, políticas e econômicas que profere em seus documentos oficiais e discursos com linguagem simples e direta, como se pode conferir na Exortação Evangelii gaudium, 55-60 e na Encíclica Laudato Si’, 101-136.

Por conseguinte, para além de um modus operandi bastante regular dos bispos de Roma, o atual tem se mostrado original e perigoso para os projetos de uma frente política de ultradireita emergente no planeta a partir do norte do ocidente. O que tem ocorrido nesse papado que se pode falar em irritação e, até mesmo, em estratégia da direita política mundializada em relação ao Papa Francisco? Será ele mais político que os Papas anteriores? E para ficar mais complexa a questão: qual a relação das reformas franciscanas em curso com a conjuntura política mundial, retomada pela direita política? Parece claro que o estado do Vaticano com suas políticas internacionais, não explica o fenômeno atual que se torna cada dia mais público: Francisco constitui uma ameaça à ascensão ideológica e política de projetos conservadores, em suas expressões geopolíticas locais nos dois lados do atlântico e nos dois hemisférios do globo. Não se trata, evidentemente, de um confronto político direto, mas de um confronto ético, simbólico e ideológico de dois modos de ver o ser humano e as estruturas históricas colocadas a seu serviço nos projetos e modelos políticos concretos. A postura crítica clara e direta quando considera o sistema econômico mundializado, as estratégias de desenvolvimento, a cultura de consumo e as políticas de segurança dos países em relação a refugiados e migrantes, o posiciona na contramão de uma tendência política que se mundializa em projetos de viés autoritário que retomam padrões revisores do presente e do passado e se apresentam como frente salvadora da deterioração final do planeta (na verdade, ocidente e hemisfério norte). Francisco torna-se uma variável política incômoda e potencialmente desestabilizadora para as estratégias de poder dessa ultradireita emergente.

Por essa razão, Francisco está na mira de alguns donos do poder econômico mundializado com suas frentes políticas espalhadas pelo mundo. Trata-se de um expoente político mundial ameaçador dos valores ultraliberais defendidos pela nova direita que almeja salvar o ocidente da crise final e estabilizar o capitalismo financeiro como a única saída para a história. Para esses, o modelo clássico de democracia já se esgotou e, na verdade, ofereceu o germe de toda crise com seus valores centrados nas liberdades, direitos individuais e direitos sociais (Ranciére, 2014; Dardot-Laval, 2016, p. 379-402).

As reações da direita política mundializada ao Papa Francisco pode ser olhada em uma dupla direção: uma interna que revela um tradicionalismo católico renitente, crescente e atuante, uma externa que se articula com a interna de forma inédita para o ethos católico da comunhão e da fidelidade ao Papa que vigorou até recentemente. Ainda que se possam analisar as lógicas diferenciadas de cada uma das frentes, elas configuram uma dinâmica de afinidade conservadora que se dá entre tradicionalismo religioso e tradicionalismo político, mesmo sabendo tratar-se de posturas com origens geopolíticas distintas que publicamente professem credos diferentes. A composição é, em principio, estranha, mas se encaixa na lógica da chamada nova direita, mistura de “ideais do conservadorismo, do libertarianismo e do reacionarismo” com ingredientes de “eugenismo” e “segregação racial” (Carapanã, 2018, p. 34). O ingrediente católico conservador não somente cimenta esses ideais intolerantes como se mostra necessário para a construção de bases políticas da consolidação da direita na Europa. O resgate do catolicismo conservador enfrenta simbolicamente o catolicismo progressista capitaneado pelo Papa Francisco e oferece os fundamentos religiosos para a nova direita. Vale lembrar que essa confluência política não explica a totalidade das motivações que regem as oposições internas ao Papa Francisco. Outras variáveis próprias da endogenia católica e curial romana existem, mas não serão aqui abordadas, como os casos da carreira eclesiástica ou do lobby gay (Martel, 2019). O fato é que nenhum grupo social ou político pode apresentar-se como isolado do sistema-mundo atual em que se encontra inserido. A autonomia relativa dos subgrupos em relação a esse sistema não significa neutralidade, mas, ao contrário, que existem conexões necessárias a serem examinadas. A Igreja católica, além de um complexo grupo religioso, está vinculada a um estado, o que a faz peculiar nas tramas políticas do mundo globalizado. O Papa Francisco instaurou uma variável política nova no cenário global por seu viés pastoral nitidamente posicionado em favor dos excluídos e crítico não somente aos rumos do capitalismo atual, mas a sua lógica interna. Na sequência da Doutrina Social, mostra-se de modo claro uma crítica globalizada (radical) do capitalismo. Pode-se dizer que hoje a postura crítica de Francisco em relação ao capitalismo corresponde ao que foi a crítica de João Paulo II em relação ao regime socialista durante o seu pontificado. A crise globalizada (Castells, 2018) do modelo econômico tem recebido de Francisco uma crítica radical e sem negociações reformistas (Bento, 2018, p. 509-523). Mesmo que esta postura já tenha sido defendida pelos teólogos da América Latina desde o inicio da teologia da libertação, agora ela se encontra na boca do líder maior do catolicismo e de um dos lideres do ocidente. Trata-se, agora, de um sistema perverso não somente por suas consequências sociais (desigualdade e pobreza), por sua filosofia individualista (centrado no lucro sem medida), princípios neoliberais (autorregulação sem finalidades éticas e gestão do estado), mas de um sistema que deve ser refeito em seus princípios e estruturas. É preciso dizer não ao que ele produz, ao seu mecanismo e ao seu fundamento idolátrico (EG, 56-60).

2. O tradicionalismo católico e suas frentes

Como já foi exposto, o tradicionalismo católico tem nomes variados, se organiza em grupos igualmente variados e atua em algumas frentes comuns. Contudo, sua dinâmica é complexa: as tendências são organizadas e também dissolvidas pelo corpo eclesial, são nominais e anônimas, são militantes explícitos e disfarçados de fieis ao Papa, são indivíduos e grupos agregados nas redes sociais. O próprio Francisco detectou as diferentes formas de oposição às suas reformas no seu pronunciamento à Curia romana em 22/12/2016 (Passos, 2018, p. 69-71). Com efeito, é possível detectar causas comuns que perfilam essa frente tradicionalista como a luta intransigente contra o aborto, a negação do ecumenismo, a crítica à chamada “ideologia de gênero”, a afirmação do comunismo como grande inimigo da fé católica e, por conseguinte, a rejeição de toda crítica ao capitalismo, a negação da pluralidade religiosa e teológica, a defesa da moral objetiva, a simpatia por regimes autoritários e a afirmação de uma estética litúrgica de moldes tridentinos. Possuem, portanto, como traço comum uma visão eclesiocêntrica, uma postura exclusivista do cristianismo, e a intolerância às pluralidades modernas. Entendem a tradição como repetição de uma verdade de fé eterna, a doutrina como um sistema de ideias fechado e imutável, a moral como expressão da lei natural, a vivência eclesial como obediência à lei/autoridade, a espiritualidade como exercício individualizado e a mística como negação do mundo.

Mas, não se trata de um grupo social que, por se constituir de modo autorreferenciado, possa explicar-se por sua lógica interna, sem relações com a sociedade atual. Ao contrário, eles estão diretamente afinados com as expressões políticas de direita e de ultradireita que se articulam pelo mundo afora; são expressões religiosas que traduzem em seus códigos simbólicos essas tendências, em princípio secularizadas. Em termos weberianos, poder-se-á falar em afinidade eletiva entre as duas frentes, a configuração religiosa e a configuração político-econômica (Weber, 1996, p. 64). Uma afinidade eletiva expressa o encontro de configurações culturais distintas e, aparentemente distantes, mas que, concretamente, entram em uma dinâmica de confluência e de reforço mútuo (Löwy, 1989, p. 15).

As afinidades são explícitas nas posturas e nos discursos: preservação da ordem econômica e da sociedade de classe, afirmação do poder autoritário e da intolerância com as diferenças políticas, negação das ideologias e projetos de transformação social, negação dos direitos das minorias e dos sujeitos emergentes, afirmação de projetos políticos de uma retomada da cultura cristã ocidental, afirmação de um “modelo natural” de família e, por conseguinte, de um estado afinado a discursos e grupos religiosos. Com diferentes modos de adesão e por meio de distintos sujeitos individuais e coletivos, a frente católica tradicionalista, alinha-se a esse projeto político e revela alianças emblemáticas com o mesmo. O fato mais original é que não se trata mais de uma cruzada ideológica conservadora que opera somente na esfera dos discursos – hoje maximizados pelas redes sociais – mas que avança efetivamente com projetos de poder que assumem governos e postos governamentais pelo mundo afora. Na pretensa e, agora planejada, retomada pré e anti moderna da história se encontram e se afinam ativamente os distintos sujeitos que entendem a realidade como ordem natural (religiosa) estável e imutável que deve ser retomada e afirmada politicamente em novas formas de governo que superem os equívocos modernos.

3. Alianças e afinidades

Até algum tempo essa afinidade conservadora era restrita a grupos político-religiosos bem definidos, como no caso do movimento Tradição Família e Propriedade no Brasil, ou a Fraternidade São Pio X na Europa. Hoje, já não se trata tão somente desses grupos, por ora realinhados em novas denominações (no caso do Brasil: Arautos do Evangelho, Montfort, Administração Apostólica São João Maria Vianney), mas de uma variedade de expressões que demarcam presença nas redes sociais (caso do já conhecido Fratres In Unum e o caso mais recente da TV Nossa Senhora de Fátima), que se inserem em movimentos em princípio integrados na plena comunhão católica, como em certas tendências da Renovação Carismática Católica e de outros Movimentos leigos tradicionais. O posicionamento político naturalmente alinhado aos grupos políticos de ultradireita caracterizam esses grupos de um modo geral e parece integrar suas genéticas. As últimas eleições no Brasil ofereceram um laboratório emblemático dessa postura. O apoio explícito a Jair Bolsonaro esteve na pauta desses grupos e ainda permanece resistindo, não obstante os desgastes da figura do presidente e do governo de um modo geral. Todos eles são simpáticos aos ensaios delirantes de uma gestão religiosa (espécie de neoteocracia) que hoje se encontram em curso no governo, juntamente com todas as suas estratégias políticas de viés totalitário que negam direitos individuais e sociais como perversos ao bom funcionamento econômico do Estado.

Contudo, não se trata tão somente de uma conjuntura nacional. Essa frente político-religiosa se espalha e se configura mundo afora com suas idiossincrasias locais. Na América do Norte, o presidente Trump não é tão original quanto parece. A visão de que os EUA concretizam politicamente o povo escolhido por Deus para ser o seu juiz sobre o mundo e defender o ocidente de um inimigo iminente, com nomes variados (antigamente os comunistas, hoje os islâmicos), persiste como convicção na alma política norte-americana e, sobretudo, no partido republicano. Na Europa secularizada, defensora da pluralidade de manifestações e berço dos direitos humanos esses regurgitos pré-modernos soam mais inéditos, embora conquistem efetivamente espaços sociais e planejam postos de poder.

Mesmo que os cardeais e clérigos que criticam o Papa acreditem na intencionalidade unicamente doutrinal de suas críticas, elas não operam em um campo de neutralidade política; ao contrário, estão inseridas em um campo de batalha de projetos políticos no qual Francisco destaca-se como inimigo comum na cena global. Trata-se de uma figura do sul do planeta que enxerga e opera seu projeto de reforma da Igreja e de mudança da sociedade desde esse lugar geográfico, histórico e social (teológico e eclesial). Nesse caso, as distintas críticas, políticas e religiosas, somam-se em seus objetivos estratégicos de eliminação do mesmo inimigo: herege das doutrinas estabelecidas pelo sistema econômico mundial e pela mentalidade tradicionalista católica. Com consciência ou não da parte dos sujeitos, estaríamos diante de uma cena política usual de aliança estratégica, mesmo que temporária, em prol de uma causa urgente que supera as diferenças dos distintos sujeitos.

A aliança entre religiosos tradicionalistas e políticos de direita se encontra em marcha no ocidente. A ultradireita exibe um projeto redentor para crise econômica mundial e não titubeia em apresentar a religião como fundamento indispensável da operação. Entendem que é urgente resgatar a identidade cristã ocidental com seus valores e modelos de vida social e moral. Trata-se de uma frente que agrega diferentes grupos cristãos que, até bem pouco, não se entendiam: católicos tradicionalistas com pentecostais, no caso do Brasil. Na mesma lógica agrega judeus, católicos e protestantes fundamentalistas na América do norte ou, ainda, católicos conservadores e políticos não religiosos na Europa. Um macro ecumenismo ultraconservador que une as tradições mais distintas contra inimigos comuns. Quem aguardava quem na curva da história? O tradicionalismo católico recrudesceu com a eleição do Papa do fim do mundo (do sul do mundo) e rapidamente compôs uma frente contrária às reformas religiosas do novo Papa. Essa resistência aparentemente de natureza puramente religiosa (doutrinal e moral) toma corpo com o apoio direto das forças da direita política local e norte-americana. Políticos que jamais foram religiosos começaram a manifestar suas devoções. Deus salvará o ocidente das invasões dos bárbaros atuais! O ideólogo Olavo de Carvalho apregoa essa “evidência” histórico-astrológica e agrega adeptos que hoje ocupam o poder. O ministro do interior italiano apareceu empunhando um rosário em manifestação pela defesa das políticas de soberania da Itália (IHU 21/05/19). E o mais cômico se não fosse trágico: uma trindade plural e una reuniu-se em um bar em Roma para discutir estratégias de resistência às políticas adotadas por Francisco em relação aos imigrantes e refugiados. Trata-se de nada menos que o estrategista de Trump, Steve Bannon, do Ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini e o Cardeal norte-americano Raymond Burke. A unidade política se sobrepõe às diversidades pouco afinadas: a longa cauda de 6 metros do cardeal moralista intransigente e o norte-americano de três casamentos (IHU, 21/06/2018). O Papa Francisco seria uma real ameaça à integridade política da Europa e do ocidente. O Papa que ajudaria a empurrar o mundo para um fim catastrófico. Os três unos-distintos revelam, na verdade, uma real declaração de guerra ao Papa, da parte da direita mundializada, defensora do capitalismo comandado pelo império norte-americano e entrincheirado no norte do globo. Os poderosos donos do dinheiro não contavam com essa variável inconveniente, instalada no norte do globo e reforçada por uma dupla força politico-religiosa: o poder tradicional do papado e poder carismático de Francisco.

Os três estrategistas estão juntamente com outros cardeais e católicos milionários metidos em um megaprojeto de formação político-religiosa. O Instituto pela Dignidade Humana, já criado em 2008 em Roma, terá nova sede na histórica Cartuja de Trisulti, alugada pelo governo italiano. O projeto conta com o apoio do bilionário católico Nirj Deva que dirigirá o Comitê Internacional do Instituto e o Conselho Assessor é coordenado pelo Cardeal Burke. O Instituto abrigará uma Academia para o Ocidente Judaico-cristão que acolherá para 2020 duzentos alunos oriundos de movimentos nacionalistas europeus. Steve Bannon é o assessor especial que está preparando o currículo e selecionando os futuros alunos (Castells, Diálogos do Sul, 19/03/2019).

E é dentro desse mesmo campo de forças que o governo brasileiro pretendeu organizar um seminário sobre Amazônia em Roma por ocasião da realização do mesmo; tratava-se de um Contra-sínodo ao Sínodo da Amazônia que contaria com o apoio do piedoso Matteu Salvini e dos milionários católicos que têm atuado na defesa da Europa cristã. Antes, porém, havia reivindicado oficialmente participar do evento eclesial-episcopal. Se esse propósito mostrou sua inconveniência e saiu da agenda governamental, ele revela, entretanto, um significado de fundo: por um lado a relevância do religioso para as políticas de direita e, por outro, o medo das críticas as políticas econômicas, sociais e ecológicas atuais por parte das igrejas progressistas. De fato, a aliança do poder governamental atual compõe não somente um governo com forte base religiosa – igrejas evangélicas pentecostais e católicos integristas – mas com um fundamento religioso que se desloca de uma filosofia política para uma teologia política (Lilla, 2017) e uma real gestão religiosa do projeto governamental, não obstante subsista uma ordem institucional laica. Quem sabe não tenhamos ainda uma nova edição do Concílio de Niceia – na verdade em Washington ou Davos – convocado pelas autoridades políticas da nova direita para garantir a unidade do império cristão ocidental fragmentado? O novo dogma a ser definido seria obviamente a divindade do capitalismo ultraliberal. Ao que parece, não tem faltado Constatinos habilitados pelo mundo afora.

Milionários, nacionalistas, ultraliberais, fundamentalistas, tradicionalistas, moralistas, ritualistas… Homens do capital e cardeais da Cúria Romana. Eis a soma de perfis, projetos e sujeitos que formam, por ora, o front contra Francisco e que visa formar uma geração de cabeças bem-feitas para preservar a bolha econômica, política, cultural e religiosa do velho ocidente em crise. Como explica Löwy, na dinâmica das afinidades weberianas, ocorre precisamente um vínculo entre cosmovisão religiosa e interesses de classe, entre “doutrinas religiosas e formas de ethos econômico” (1989, p. 15).

Não obstante o uso ideológico da religião seja flagrante – e sem senso de ridículo perante as mentalidades modernas – trata-se de uma linguagem política fisiológica e estratégica de homens alinhados a uma frente de direita disposta a enfrentar seus inimigos fantasmagóricos (marxismo cultural, comunismo, islâmicos) e seus inimigos reais: na política a velha democracia liberal e, na cena mundial, o Papa Francisco, inimigo o mais visível e ameaçador. E, para o bem da verdade, nessa batalha ninguém está enganado ou pode passar-se por inocente. Os projetos e territórios estão bem demarcados. Nesse sentido, os personagens políticos são mais honestos que os cardeais por assumirem suas oposições sem desculpas teológicas; mesmo quando exibem suas devoções, o fazem em nome de um projeto econômico e político declarado; são ridículos por serem ultrapassados politicamente, mas não são dissimulados na medida em que explicitam seus projetos. De fato, a honestidade discursiva dos políticos de direita é desconcertante para os rituais modernos do poder instituído e, sobretudo, para o ordenamento jurídico do Estado laico e da sociedade plural. O fundamento religioso do poder é não somente assumido e expresso com naturalidade pelos políticos, como vai sendo naturalizado social e até juridicamente.

Os discursos teológicos anti-Francisco revelam não somente ressentimentos por parte de prelados que perderam suas carreiras e foram frustrados em suas pretensões de poder e de clérigos desinstalados da segurança dogmática e burocrática da Igreja autorreferenciada, mas também uma construção lógica e metodológica que ignora a percepção e a lógica do interlocutor, em nome de uma verdade absoluta e intocável; de uma teologia tão particular como qualquer outra, mas que se apresenta como única, universal e verdadeira, portanto, de uma postura teológica que se identifica imediatamente com a doutrina verdadeira e única. Está em jogo uma luta entre uma teologia da ordem estável e uma teologia que se renova a partir das fontes e a partir da solidariedade com as vitimas da história, sendo que cada uma delas oferece fundamentos para os projetos políticos distintos que visam conservar e transformar a ordem mundial.

O Papa Francisco desestabiliza ao mesmo tempo a ordem católica e teológica assentada no tradicionalismo dogmático e a ordem segura do planeta dominado pelas elites financeiras, ambas defensoras de uma identidade ocidental, agora ameaçada por inimigos perigosos a serem enfrentados. Nesta cena escatológica está em jogo crise versus solução, segurança versus insegurança, identidade versus diferença, autoridade versus anarquia, passado versus presente, enfim, redenção versus condenação. O perigo comum de desestabilização interna da Igreja e do planeta deve ser encarado de frente.

4. As estratégias ideológicas/teológicas

A ideologia pode ser definida como a estratégia pautada na luta de ideias, quando a luta física por alguma razão não é adotada. A luta das ideias tem suas estratégias, assim como as lutas corporais e bélicas. Todas têm um ponto comum: localização do inimigo e, em seguida, destruição do mesmo. O Papa Francisco já foi localizado como inimigo do império do capital ocidental logo cedo. Por certo, o colégio de cardeais que o elegeu não tinha a exata medida de seu projeto reformador; teriam visto na figura mística posicionada fora dos desgastados quadros da Cúria romana, um reformador moral e disciplinar da vida interna da Igreja católica. Mas, desde seus posicionamentos críticos em relação ao regime capitalista, suas afirmações sobre o imperativo da opção pelos pobres e suas posturas de sensibilidade e solidariedade com os excluídos, de modo particular com os refugiados políticos, não deixou dúvidas para os donos do poder econômico de que se tratava de uma figura mundial inoportuna à ordem por eles defendida. A lógica dos muros que fecha as fronteiras dos territórios políticos e econômicos não podia, de fato, suportar a lógica das pontes que rompe as distâncias e pede solidariedade.

O diagnóstico não é delirante: trata-se, de fato, de uma figura antitética à atual ordem econômica planetária; de um símbolo e um discurso que sustentam outra direção para a história nesse momento de crise planetária. Uma vez localizado o inimigo inequívoco e perigoso como eliminá-lo? A eliminação física parece ser inviável, embora não impossível. Ademais, Francisco reside em uma casa coletiva, o que dificulta qualquer abordagem solitária sobre sua pessoa. A eliminação política por meio de um golpe direto ou indireto não se encaixa na lógica do poder papal. Resta, unicamente, a eliminação por meio das ideias, o que na tradição católica tem seus caminhos conhecidos: a desqualificação das posturas e discursos da pessoa como heterodoxos e heréticos. A construção do discurso ideológico constrói o inimigo, o desqualifica e, por fim, o expurga do grupo (Thompson, 1999, p. 86-87). Esse tem sido um caminho adotado pela ultradireita, empenhada em salvar o ocidente da crise atual. Na verdade, esta postura constitui uma estratégia clássica da percepção dos regimes totalitários de direita: a divisão do mundo em dois grupos de grande inimigos que se confrontam e a afirmação como redentora da história e da humanidade (Arendt, 2000, p. 417).

Na parte católica, o Papa tem sido permanentemente desqualificado como incompetente em teologia, como heterodoxo e, ultimamente, como herege. Quem pode desqualifica-lo? Obviamente seus pares e, de preferência, cardeais, bispos e teólogos. É dos especialistas religiosos que poderão vir os discursos habilitados a desautorizar e destruir o grande inimigo. A cronologia das acusações contra Francisco já é extensa e conhecida de todos, vai da carta dos quatro cardeais de 2016 à carta dos teólogos de maio de 2018, sem falar das manifestações contra o Sínodo da Amazônia. As acusações do ex núncio, da América do Norte, Carlo Maria Viganò, delatam o mapa ideológico das oposições e das construções dos discursos de oposição. A tese é reiterativa: O Papa rompe com a tradição e trai a doutrina da Igreja (Politi, 2014). O subsolo é também comum: sujeitos eclesiais ligados à direta ou indiretamente ao regime do grande capital e, quase sempre, à geopolítica norte-americana com seus tentáculos diretos na Europa.

A frente da direita atual arma uma cruzada de defesa do ocidente contra os invasores e contra os perigos de uma crise insuperável do capitalismo mundializado. O resgate de valores do passado, de modo particular de valores religiosos (cristãos e católicos), é um dos recursos do capital político que se acumula nos discursos e práticas dessa frente. A máxima adotada: fora do passado não haverá salvação! E os valores da modernidade vão sendo superados; sem escrúpulos pululam nas bocas e bandeiras afirmações xenofóbicas, homofóbicas, machistas, fascistas etc. A violência, a morte e a negação de direitos fundamentais vão sendo naturalizados sem controles sociais e sem punições legais. Da parte católica, por certo, há que afirmar a ingenuidade útil de alguns e a maledicência consciente de outros empenhados no grande movimento. Alguns o fazem, por certo, em nome da fé. Porém, todos se encontram posicionados em um campo político conservador, ponto comum que faz confluir prelados e empresários, crentes e descrentes, autênticos e dissimulados. Se não se pode afirmar uma aliança maquiavélica explícita de todos os opositores de Francisco com a nova direita, pode-se observar, entretanto, como já foi dito, uma afinidade eletiva entre as duas posições: ambas empenhadas em preservar o poder do norte da invasão do sul, do ocidente da invasão do oriente, em retomar a identidade fragmentada do ocidente, em recuperar modelos de família supostamente deteriorados, em retomar uma base moral comum da sociedade e em afirmar o cristianismo como base da vida social, cultural e política do ocidente. Numa palavra, o mundo estável da tradição católica edificado sobre uma cosmologia antiga (filosófica e religiosa), administrado pelo poder hierarquizado e reproduzido pelas catequeses fundamentalistas, sustenta com autoridade teológica a ordem econômica mundial também estável, dogmática e inquestionável. Essa afinidade vai desenhando enfrentamentos e projetos que avançam em frentes diversas, mesmo quando não configuram grupos comuns e em adesões deliberadas e conscientes. O resgate da identidade ocidental-cristã perdida entre as sucessivas crises modernas atrai um espectro comum de cosmovisões e práticas tradicionalistas conservadoras. Ao menos enquanto durar a crise econômica global, essa afinidade vai provocar discursos e estratégias comuns e, por certo, políticas comuns. A Cúpula da demografia realizada em Budapeste em setembro passado revelou com grande nitidez o avanço mundial do projeto da ultradireita e a busca de alianças e estratégias mundiais em torno de uma agenda de defesa da tradição ocidental. Uma teologia política deu a base dos discursos feitos por líderes políticos e religiosos durante o evento. O pensamento tradicional cristão vem oferendo a base legitimadora para a reconstrução do mundo em crise, a possibilidade de cosmificação do caos, como diria Peter Berger (2003, p. 42-92).

A volta à identidade segura perdida no percurso turbulento dos tempos modernos recolhe sua legitimidade do passado idealizado como bom por si mesmo e redentor por si mesmo. A identidade ocidental definida salvará o mundo da dissolução final. A lógica de reconstrução identitária se expande em círculos concêntricos de soberania que se desenham do mais amplo ao mais localizado: ocidente que se fecha ao oriente, norte que se fecha ao sul, países ricos que se fecham aos pobres, bairros ricos que se fortificam contra os pobres. A última fortificação é o individuo seguro e satisfeito em seus desejos e indiferente a tudo e a todos. A construção de muros físicos e simbólicos traçam as políticas nacionalistas e soberanistas. O Papa Francisco tem sido uma ameaça concreta a esse ideário que ganha consensos culturais, formas políticas e, em certos casos, jurisprudência e codificações jurídicas.

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Quem é contra o papa do sul? Sujeitos do norte, residentes em qualquer lugar, que pretendem manter o domínio sobre o conjunto do planeta, em nome do monopólio imperialista do dinheiro que visa gerar dinheiro e hoje se organizam em uma nova frente salvadora da crise econômica mundial. Essa direita mundializada tem contado com parceiros ideológicos religiosos para enfrentar o inimigo imune a golpes regulares do expurgo político. Nessa luta concreta não são delirantes. Ao contrário, sabem do poder de fogo de um Papa no ocidente e do poder carismático de Francisco no momento atual. O Papa é uma liderança admirada e respeitada que precisa ser desmoralizada como condição fundamental para o avanço de um projeto mundial de salvação do planeta em persistente crise. A cruzada pela salvação do ocidente termina no religioso, na retomada de valores que deitam suas raízes na tradição cristã ocidental, mesmo que hoje essa tradição careça de qualquer unidade, como no passado pré-moderno. Para tanto, o movimento de resgate de um passado glorioso e perdido se mostra urgente e, por conseguinte, a guerra contra todos os que ousam discordar. O passado é visto como fonte de salvação para o presente e, por isso, é necessário não somente trazer de volta seus valores, visões e práticas, mas também recontá-lo com outra chave de leitura que justifique as estratégias políticas presentes.

Referências

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1 O magistério social de Papa João Paulo II é um exemplo dessa evolução, se considerarmos suas posições críticas sobre os efeitos perversos do regime capitalista baseado nos parâmetros do neoliberalismo, bem como a negação de uma pretensa hegemonia do mesmo após a queda do socialismo. Cf. Centesimus annus, 34-43.