Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2023 - ano 64 - número 354 - pp.: 48-50

3 de dezembro – 1º DOMINGO DO ADVENTO

Por Izabel Patuzzo*

Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia!

I. INTRODUÇÃO GERAL

As leituras do tempo do Advento do Ano Litúrgico B nos convidam a entrar na dinâmica da missão salvífica de Jesus Cristo. Ele adentra a história humana para nos salvar pela gratuidade e misericórdia. Os temas-chave deste tempo litúrgico são a preparação para a vinda do Senhor, a necessidade de conversão, para sua acolhida no meio de nós, a alegria de sua chegada e a decisão de abraçar o caminho do discipulado.

A primeira leitura da liturgia deste domingo é tomada do profeta Isaías, aquele que, já em tempos antigos, falava da importância de preparar os caminhos para receber o Senhor. O encontro com o Senhor é o acontecimento mais importante de nossa vida, por isso nos cabe prepará-lo com empenho. O texto nos apresenta Deus como o Pai, o redentor que vem ao nosso encontro. Na segunda leitura, Paulo recorda à comunidade de Corinto que Deus é sempre presente na história do povo escolhido e em nossa vida. O apóstolo propõe uma atitude de vigilância, como condição para perceber os sinais da presença divina.

O Evangelho de Marcos proposto para esta liturgia faz parte dos últimos discursos de Jesus, convidando os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, confiantes que o Senhor vem. E, enquanto esperamos por sua vinda, cumpre-nos permanecer vigilantes, participando ativamente da construção do Reino de Deus.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. I leitura (Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7)

O texto de Isaías deste domingo pertence ao terceiro livro de Isaías. Esses capítulos fazem parte de um conjunto de escritos atribuídos a um profeta anônimo que exerceu seu ministério profético entre os séculos VI e V a.C. A leitura retrata a situação do povo escolhido depois do exílio da Babilônia, na etapa de reconstrução de Jerusalém. Portanto, sua mensagem destina-se a avivar a esperança dos desanimados.

O texto que nos é proposto, possivelmente composto por um discípulo do profeta Isaías, fala ao povo que recentemente retornou do exílio babilônico. O profeta apresenta a Deus um apelo, à luz da miséria em que se encontram. Diante de um cenário de pós-guerra, a população está desanimada, atribuindo a dura situação ao esquecimento de Deus. Por isso, a leitura mistura súplica e lamentação. O profeta apela para o Deus redentor, pedindo-lhe que desça do céu e olhe para a dura realidade do povo. As maravilhas realizadas por Deus no passado é que animam a súplica profética. Isaías lembra os benefícios que Deus já operou e põe toda a comunidade dos fiéis em atitude de penitência, pois a destruição foi obra da infidelidade do povo.

Em forma de oração, a leitura expressa uma atitude de humildade daqueles que, diante de Deus, se reconhecem como uma porção de barro nas mãos do oleiro, dispondo-se a serem remodelados por Deus. O pecador reconhece suas fraquezas e necessita do poder restaurador do Senhor. Por isso o profeta se dirige a Deus como o Pai redentor, pois está convencido das contínuas intervenções libertadoras do Senhor, que vem para salvar seu povo.

2. II leitura (1Cor 1,3-9)

O apóstolo Paulo chega a Corinto no decurso de sua segunda viagem missionária. Ele não trabalha sozinho, mas atua com sua equipe missionária – Silvano e Timóteo –, recebendo acolhida na casa de Priscila e Áquila. Como resultado dessa ação missionária da Igreja nascente, surge a comunidade de Corinto. Desde o início de sua pregação, o apóstolo diz que a existência cristã é marcada pela esperança da revelação do Senhor Jesus Cristo. Paulo consagrou-se inteiramente ao anúncio do Evangelho.

Corinto era uma cidade portuária muito próspera. Sua população era multicultural e multiétnica. Como um polo econômico emergente do mundo mediterrâneo do primeiro século, nessa cidade a riqueza e a prosperidade contrastavam com a miséria da maioria dos cidadãos. É nesse contexto que o apóstolo trata da esperança que anima os cristãos no aguardo da vinda do Senhor. Pela primeira vez, Paulo fala de carisma, palavra que define os dons que resultam da generosidade divina e são concedidos a todas as pessoas para o bem da comunidade.

Paulo desenvolve verdadeira catequese sobre os carismas, que são frutos do conhecimento, da sabedoria, mas na perspectiva cristã, e não da filosofia grega. O conhecimento supremo, na concepção paulina, é o de nosso Senhor Jesus Cristo. O apóstolo está convencido de que Deus cumulou a comunidade desses dons que vêm da sabedoria do alto. Por isso, os cristãos de Corinto escolheram caminhar na esperança da vida cristã, cujo sentido é orientar-se para o encontro final e definitivo com Cristo.

3. Evangelho (Mc 13,33-37)

No Evangelho deste domingo, Marcos apresenta a pregação final de Jesus, pouco antes de sua paixão e morte. É o terceiro dia em que ele se encontra em Jerusalém, ensinando seus discípulos e a multidão de ouvintes. Seu discurso caracteriza-se por uma linguagem profético-apocalíptica, carregada de símbolos. Sua mensagem destina-se a ajudar os discípulos a tomar decisões importantes diante das coisas que estão prestes a acontecer, as quais exigirão escolhas difíceis por parte daqueles que o seguem.

Jesus nos ensina a estar sempre de prontidão para sua vinda, pois essa hora pode pegar muitas pessoas de surpresa. Por conseguinte, ele pede uma atitude de constante vigilância nessa espera. Não se trata de vigilância inquieta, fundamentada no medo, mas de uma que consiste em andar nos caminhos que ele aponta.

Esperar o Messias enviado por Deus, que vem para salvar o povo, consiste em alimentar-se da fé, da certeza de que ele continuamente vem ao encontro da criatura humana. Todo aquele que abraça a fé cristã é chamado a viver na esperança do reencontro na alegria eterna, pois, de fato, sempre anda pela vida ao lado do Senhor. Nós o encontramos quando cumprimos os afazeres que ele nos confia, nas pessoas que amamos e servimos. A pequena parábola inserida no discurso fala da viagem, da partida do dono da casa, que é Jesus. Ao partir, ele deixou uma missão aos seus discípulos e espera que, na sua volta, os encontre vigilantes. Portanto, a espera do Senhor deve ser ativa, esperançosa, alegre, com a certeza de sua volta.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Ao iniciarmos este tempo de preparação para o Natal do Senhor, coloquemo-nos na presença de Deus, o sentido último de nossa existência e de nosso caminhar de discípulos e discípulas. Vivemos em tempos de reconstrução da esperança, pois as leituras deste domingo asseguram que o Senhor vem. Nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria, ao encontro do Senhor que vem. Não se trata de uma esperança vã, mas de uma certeza fundamentada na palavra do Senhor.

Em nossa longa tradição religiosa, o Advento caracteriza-se como tempo da espera do Senhor. Trata-se de um exercício anual de examinar em que medida estamos sendo vigilantes em nossa missão de batizados. Estar vigilante significa ter uma atuação ativa, compromissada com a prática do amor fraterno que Jesus nos ensinou.

Izabel Patuzzo*

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada - PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção. Doutoranda em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. em São Paulo. E-mail: [email protected]