Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!
Certa vez, dona Graça me perguntou ao final da missa:
– Padre, quem é esse Sínodo de que falam tanto e em toda celebração tem prece para ele?
A palavra “sínodo” saiu com certo esforço e faltando letras e sílabas. Tentei explicar que não se tratava do nome de uma pessoa e que “sínodo” quer significar uma comunidade toda que caminha junta, unida. Ela me olhou com olhar interessado. Para resumir e não me alongar, afirmei que o sínodo não era novidade, mas existia desde os inícios da Igreja.
– Sínodo é como era nas Santas Missões? – perguntou-me de olhos fitos.
– Como eram as Santas Missões? – provoquei.
– Ah, padre, naquele tempo em que acolhíamos missionários das outras comunidades e todos nos sentíamos missionários, a gente se reunia, combinava tudo, meditávamos a Palavra de Deus, celebrávamos a Eucaristia, nos organizávamos em grupos, fazíamos visitas, benzíamos as casas e os doentes. Padre, era uma semana intensa, com programação de atividades bem definida. Cedinho realizávamos procissões e, ao final, partilhávamos o café da manhã, rico em variedades, porque cada família trazia um prato; era uma fartura só, tudo era tão bonito e alegre.
– Pronto, dona Graça, é isso mesmo. Sínodo é parecido com as santas missões. A senhora tem toda razão.
Dona Graça sorriu feito aluno que ganha nota dez na prova.
Como se aproximava o horário do almoço, trocamos mais algumas palavras e nos despedimos. Pensei comigo: dona Graça, sem pretensão alguma, traduziu a Igreja do papa Francisco. Uma Igreja em saída, missionária. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49).
Tão bonito quando dona Graça expressa a alegria do encontro para planejar e viver a missão. O café partilhado é expressão da generosidade dos corações agradecidos. Faz-me recordar a infância nas Santas Missões, quando o povo simples entoava, festivamente e com todo fôlego, o refrão deste bendito: “Só nas Santas Missões nós temos uma festa bonita assim, um começo de lá do céu, onde a festa não tem mais fim”.
Alguém poderia dizer que isso é saudosismo. Dona Graça certamente diria que isso é sínodo.
Uma Igreja unida, festiva, preocupada com a casa, com a família, com a igreja doméstica. Benzer as casas e os doentes é expressão da graça de Deus. Tudo isso é a marca de uma Igreja simples, com os simples.
Uma Igreja que valoriza seus ritos e símbolos, sem apego às pompas, aos “panos”, nem às “rendas”. Uma Igreja que se aproxima dos fragilizados, dos pobres, dos pecadores. Uma Igreja próxima, impregnada de compaixão. “Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos” (EG 49).
Na fala de dona Graça, o clericalismo desaparece. Há, na verdade, uma comunidade viva e, nas entrelinhas, a compreensão de que todos os seus membros estão a serviço da alegria do Reino de Deus. A hierarquia não deveria ser outra coisa, senão a expressão da organização dos serviços e ministérios. O que se evidencia nas palavras de dona Graça é um caminho feito junto, e o resultado é a convergência, o colorido da colaboração de todos.
Dona Graça, de modo simples e conciso, expressou o que a Igreja deve ser: o céu no “já” da história, enquanto peregrinamos para o “ainda não”.
Desejamos que este número de Vida Pastoral nos ajude a viver a Igreja sonhada por dona Graça.
Boa leitura!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor