Roteiros homiléticos

Publicado em novembro-dezembro de 2022 - ano 63 - número 348 - pág.: 52-55

11 de dezembro – 3º domingo do Advento

Por Izabel Patuzza*

Alegrai-vos!

I. INTRODUÇÃO GERAL

O 3º domingo do Advento é tradicionalmente chamado de domingo da alegria, porque as leituras fazem um convite a permanecermos alegres em vista da chegada próxima do Senhor, que vem para nos libertar.

A primeira leitura nos fala da promessa de salvação, a qual o profeta Isaías descreve como uma floração no deserto. A chegada de Deus é marcada por esse cenário de alegria. O Senhor vem para dar nova vida a seu povo, para libertá-lo do jugo a que estava submetido e conduzi-lo para a festa da liberdade, como fez outrora, quando Israel foi escravo no Egito.

A segunda leitura é retirada da carta de Tiago, dirigida aos cristãos que estavam vivendo na pobreza, em um contexto de muita exploração econômica por conta de toda uma política de colonização. O irmão Tiago convida os cristãos a não se deixarem levar pelo desespero, mas esperar com paciência e confiança no Senhor.

No Evangelho, João envia uma mensagem a Jesus da prisão, perguntando se ele é o Messias por quem estava esperando. Jesus responde, apontando para os milagres que realizou e convidando João e os outros ouvintes a chegar à sua própria conclusão. Mais adiante, Jesus elogia João por seu papel na preparação do caminho para o início de seu ministério. Por fim, diz que todos aqueles que trabalham para o Reino de Deus serão tão grandes quanto João e ainda maiores.

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. I leitura (Is 35,1-6a.10)

A primeira leitura deste domingo pertence ao gênero profético-apocalíptico. O profeta Isaías recorre a essa linguagem simbólica, descrevendo os últimos combates do Senhor Deus, particularmente com Edom, e a vitória definitiva do povo de Deus. O texto pode ser chamado de hino da alegria, destinado a reavivar a esperança e o ânimo daqueles que experimentaram o exílio. O motivo dessa grande alegria é que Deus fará justiça àqueles que foram conduzidos ao cativeiro.

O profeta aponta para os sinais da própria natureza; eles indicam que algo muito bom está para acontecer. Assim como, com a chegada de nova estação, a natureza se enfeita com a florada, assim deve ser com Israel, que se prepara para a ação libertadora de Deus. Na chegada da primavera, o deserto e o descampado são chamados a se revestir de flores e de vida abundante. As flores das mais variadas cores e espécies manifestam a intervenção favorável do Senhor. Esse cenário alegre é símbolo do que acontecerá com o povo. Deus vem para mudar a sorte de seu povo sofrido. Toda essa descrição da magnificência das plantas é a imagem da beleza, da glória de Deus, que em breve se manifestará, pois somente ele é capaz de fazer brotar vida onde há desolação e morte.

O profeta dirige palavras de ânimo e encorajamento à comunidade dos fiéis. O povo não deve baixar a cabeça diante da situação desoladora, mas se unir, seguindo o exemplo da natureza. E o resultado da ação transformadora do Senhor será que os cegos irão recuperar a vista, os surdos ouvirão e o coxo não apenas andará, mas correrá, saltará como um cervo; o mudo não só falará, mas irá cantar de júbilo. Esses são alguns dos sinais de que Deus transformará totalmente a sorte de seu povo, pois ele oferece vida em abundância para todos.

2. II leitura (Tg 5,7-10)

Na segunda leitura, Tiago exorta seus leitores-discípulos à espera paciente pela vinda do Senhor. As palavras iniciais: “sede, pois, pacientes” resumem toda a mensagem desse texto. Elas se aplicam não apenas a situações de injustiças e ultrajes, mas também a todas as provações do cotidiano. As menções às chuvas temporã e tardia são expressões veterotestamentárias que descrevem características típicas do clima da Palestina, às quais o agricultor estava habituado. Em sua mensagem, Tiago utiliza desse conhecimento da vida na Palestina para falar da espera paciente que os discípulos de sua comunidade devem ter diante dos sofrimentos pelos quais estão passando e também da espera pelo agir do Senhor, que muda os acontecimentos.

O convite a fortalecer os corações refere-se à esperança na parusia; isso é motivo de esperança em meio às tribulações presentes, pois o cristão se alimenta da fé em que o Cristo ressuscitado está presente na comunidade dos fiéis. Por isso, a exortação passa também pelas relações mútuas, tomando o exemplo daqueles que são bem-aventurados porque perseveram pacientemente. Isso implica que aqueles que temem a Deus conhecem, nas Escrituras, outros exemplos de pessoas que enfrentaram o sofrimento, como Jó e outras figuras do Antigo Testamento. Os sofrimentos não são a realidade final de nossa vida, pois Deus tem seu tempo, sua hora de revelar sua misericórdia. A perseverança cristã se baseia na convicção da misericórdia divina e na esperança da vinda do Senhor.

3. Evangelho (Mt 11,2-11)

A leitura do Evangelho deste domingo está em continuidade com o texto do domingo anterior, que nos apresenta a missão profética de João Batista. Na passagem de hoje, João deixa bem clara sua relação com o Messias (Jesus) ainda por vir, bem como seu papel de precursor para preparar os caminhos de sua chegada: “[...] aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu. Não sou digno de levar suas sandálias” (Mt 3,11). No contexto do Evangelho de Mateus, a passagem deste dia é seguida pelo batismo de Jesus por João, evento que é atestado em todos os quatro Evangelhos e parece ter marcado o início do ministério público de Jesus.

A narrativa informa que João Batista se encontra na prisão, por ordem de Herodes Antipas, e envia seus discípulos a Jesus com uma pergunta, reveladora de sua dúvida: Jesus é mesmo o Messias que o povo espera, ou ainda deve vir outro? Jesus responde aos emissários de João, apontando para as ações concretas que ele está realizando no meio do povo: os pecadores que se convertem são acolhidos no grupo de seus discípulos, os doentes recuperam a saúde, os marginalizados se tornam protagonistas do Reino, os leprosos são purificados e os surdos ouvem (agora a Palavra de Deus pode ser ouvida por todos).

A mensagem de Jesus a João sobre os sinais do Reino sendo realizados lembra a salvação descrita pelo profeta Isaías. Essa passagem é um lembrete de que o início da salvação já está misteriosamente presente, mas também ainda está para se cumprir. A salvação já está em nosso meio, manifestada nos atos milagrosos de Jesus e na Igreja. Contudo, ela também deve ser cumprida no vindouro Reino de Deus. Mesmo quando observamos nosso mundo atual, podemos encontrar vislumbres da obra de Deus entre nós. Ademais, ajudamos a preparar o caminho para o Reino de Deus por meio de nossas palavras e ações. Essa mensagem é realmente motivo de regozijo.

A leitura está dividida em duas partes: na primeira, o evangelista Mateus destaca a figura de João Batista, cuja missão é apontar o Messias enviado; na segunda, o próprio Jesus faz uma apreciação da missão profética de João. A resposta de Jesus aos discípulos de João é uma declaração de que ele, de fato, é o Messias que cumpre todas as promessas anunciadas a seu respeito pelo profeta Isaías. O evangelista indica que é preciso distinguir qual é a missão do Messias e qual é a missão de quem prepara o caminho (João Batista) para sua chegada. Em outras palavras, o discípulo nunca será igual ao Mestre; seu papel é apontar para Ele.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

O Advento se caracteriza pela espera da intervenção salvífica de Deus em favor de seu povo. No entanto, só percebe sua chegada quem está atento e disposto a acolhê-lo. Ele só pode intervir na vida daqueles que o recebem. É tempo de nos interrogarmos até que ponto estamos preparados e dispostos para sua chegada transformadora em nossa vida. Sua proposta de libertação encontra espaço em nosso coração?

Todo batizado é chamado a testemunhar o projeto do amor misericordioso de Deus. Sua salvação chega mediante um testemunho verdadeiro, quando lutamos objetivamente para tornar realidade a superação de todas as formas de discriminação, divisão, injustiça, violência e intolerância, de modo que a luz da esperança divina não se apague no coração das pessoas. Estamos dispostos a esse nível de comprometimento de fé?

As leituras deste domingo nos interpelam sobre a figura de João. Ele não foi um pregador midiático que buscava visibilidade. Suas dúvidas acerca do Messias eram uma interrogação presente no coração de muitas pessoas de seu tempo. Ele se dirige a Jesus com honestidade sincera. Sua atitude nos ensina que não devemos ter medo de nossas dúvidas, pois não caminhamos com certezas absolutas, mas nos cabe sempre procurar honestamente pela verdade que nos vem de Jesus Cristo.

Izabel Patuzza*

*pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica. E-mail: [email protected]