Carta do editor

Novembro-Dezembro de 2022

18º CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL
PÃO EM TODAS AS MESAS

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

No interior havia um homem que vendia pão. Era conhecido simplesmente como o Zé do Pão. Sua voz inconfundível ecoava todas as manhãs, quando o sol ainda nem tinha despontado, o povo trabalhador começava seus serviços, o café espalhava seu aroma e a passarada nas árvores, as galinhas no terreiro, o gado no curral faziam a festa, pela alegria do novo dia.

Zé do Pão, além do serviço que fazia, era quase como um relógio. As conversas das pessoas, referindo-se a algum ocorrido, geralmente diziam: “Foi na hora em que o Zé do Pão passou”; “Foi antes do Zé do Pão passar”; “Foi depois do Zé do Pão”.

Além disso, havia algo discreto e curioso escrito logo abaixo do balaio de pão: “O homem não vive só de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

O Zé dependia totalmente da venda do pão para o seu sustento e o de sua família, que não era pequena. Contudo, embora tivesse a venda do pão como única forma de sobrevivência, o seu letreiro expressava a existência de uma realidade maior, para além do pão.

Há um sentido na vida que supera a luta cotidiana para tão somente saciar o estômago. Mas, infelizmente, enquanto você lê este texto, uma multidão imensa de irmãos nossos, hoje, não têm o que comer e sua preocupação não pode ser outra, senão saciar esse flagelo que lhes corrói o estômago. “A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.” Essa frase, da escritora e favelada Carolina Maria de Jesus, define bem o tormento da fome.

O XVIII Congresso Eucarístico Nacional (entre os dias 11 e 15 de novembro de 2022 em Recife) suscita um clamor pela fartura e contra a fome. Cantar “Pão em todas as mesas” é dizer que os bens da terra, se partilhados, conseguiriam saciar a todos. “Repartiam o pão com alegria e não havia necessitados entre eles” (At 2,46). A celebração da Eucaristia nos ensina que a partilha é possível. Se os bens fossem bem administrados e distribuídos, ninguém passaria fome no mundo. Essa é grande lição eucarística.

O Brasil, por exemplo, é considerado o celeiro do mundo. A safra brasileira de grãos  se encaminha para um novo recorde; estima-se uma produção de mais de 270 milhões de toneladas. Em vista disso, não é contraditório que em nosso país haja tanta mesa vazia?

Certa vez, diante de uma multidão de famintos e com poucos recursos, os discípulos de Jesus inventaram desculpas para despedir a todos e deixar que cada um se virasse. Mas Jesus foi claro: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mc 6,37).

A Eucaristia aponta para uma realidade de sentido profundo: o alimento que não perece. Outrora, Deus saciou a fome do povo no deserto com o maná do céu. Jesus agora é o verdadeiro pão descido do céu, pão que sacia toda fome. Não só a fome do estômago, mas o vazio próprio da condição humana, tão fragilizada nestes tempos de fome, pandemia e guerra.

O exemplo do Zé do Pão nos ensina a olhar o mundo com um olhar de fé, de simplicidade e de confiança em Deus, a fim de superarmos nosso egoísmo e cobiça e ouvirmos sempre a palavra que sai da boca de Deus: Jesus Cristo mesmo, presente no meio de nós. A celebração do XVIII Congresso Eucarístico Nacional renove em nós a esperança de um novo tempo, aqui, enquanto peregrinamos, e a certeza de que, um dia, nos saciaremos no banquete eterno.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor