Carta do editor

Setembro-Outubro de 2022

Mês da Bíblia 2022: Livro de Josué
Terra de Deus, terra de irmãos
“O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes.” (Josué 1,9)

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

A Sagrada Escritura, desde o livro do Gênesis, põe em cena o tema da Terra Prometida. Na origem de tudo, após ter criado o céu, a terra, a água, as plantas, as árvores, os animais, o Sol, a Lua e o homem, “Deus plantou um jardim e pôs ali o homem que tinha formado” (Gn 2,8). A narrativa é toda poeticamente elaborada, com detalhes da ternura e do bem-querer do Criador para com o homem, a ponto de permitir-lhe nomear cada ser vivo, obra de suas mãos: “Foi o homem quem deu nome a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todas as feras do campo” (Gn 2,20). Na cena da criação da mulher, a reação do homem é de deslumbramento poético: “Esta, sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne!” (Gn 8,22). Portanto, isso tudo nos diz que o sonho de Deus para a humanidade, desde o início, é a felicidade plena. Mas veio o tombo. Trata-se do episódio do pecado original, com a expulsão do primeiro casal do paraíso (Gn 2-3). Ali houve uma quebra na relação entre Deus e o ser humano, e, por assim dizer, desde então há o desejo humano de retorno à harmonia, ao paraíso perdido ou à terra prometida.

De fato, Deus jamais abandonou a obra de suas mãos. Por isso, são muitos os episódios bíblicos em que ele renova a aliança, mediante seus escolhidos: de Noé a Abraão, passando por Moisés, Josué, os juízes e todos os profetas, até chegar a Jesus Cristo, a plenitude da realização das promessas divinas. De Gênesis ao Apocalipse, Deus toma a iniciativa de não perder nenhum dos seus. Por fim, a Terra Prometida é a Jerusalém celeste que desce à terra: “Esta é a morada de Deus entre os homens. Deus vai morar no meio deles. Eles serão seu povo, e o próprio Deus estará com eles. Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes” (Ap 21,3-4).

Olhando para nossas cidades e campos, vemos quanto ainda há de luto, de choro, de dor. O Brasil, no quesito agrário, é violento com os pobres desde sua origem. No dia em que Pedro Álvares Cabral despontou por aqui com suas caravelas, pisou pesado em nossas areias. O latifúndio, depois, tomou conta de nossa vastidão territorial. As tais capitanias hereditárias, promovidas pelo rei D. João III, no século XVI, abriram um fosso enorme. Dos nobres da confiança do rei se originaram os grandes latifúndios escravistas. De lá para cá, a posse da terra e, por consequência, das riquezas concentrou-se em poucas mãos: outrora na dos fidalgos portugueses, agora na dos grupos empresariais do agronegócio.

Os latifúndios mudam de nome, mas a estrutura perversa permanece até os dias atuais. Quem não se recorda da fila dos ossos em Cuiabá, em dezembro de 2021? Exatamente na capital do agronegócio, onde mais se produz carne no país, os pobres se humilhando por um pedaço de osso para saciar a fome.

Vida Pastoral, em parceria com o Centro Bíblico Paulus, agradece aos articulistas e colaboradores desta edição. Eis um subsídio para aprofundar o estudo do livro de Josué, texto escolhido para o Mês da Bíblia deste ano. Sua meditação nos inspire a voltar o olhar e o coração para o sonho de Deus: terra e vida para todos. No Brasil, os problemas relacionados à terra, no campo e na cidade, clamam aos céus. A multidão de irmãs e irmãos nossos vagando pelas ruas de nossas cidades e nos grotões do país é um grito pela Terra Prometida. A Palavra de Deus ilumine nossa vida e ação para que o Paraíso seja uma realidade desde já, afinal Deus nos criou para a alegria. É nossa missão enxugar as lágrimas e consolar o pranto de tantos.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor