Carta do editor

Março-Abril de 2022

FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO: POR UM NOVO HUMANISMO INTEGRAL E UNIVERSAL

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Paulo Freire (1921-1997) ensinou que a educação é um ato de coragem e, por isso, um ato de amor, porque o amor é uma atitude do coração, este órgão pulsante em nosso peito que bate ininterruptamente desde quando ainda estávamos no ventre materno. Além da sua importância biológica, ele é fonte inesgotável de simbologia. Sua raiz etimológica é a mesma da palavra coragem. A fonte do coração é que nos impele a caminhar na vida com coragem.

Educar, portanto, exige de nós muita coragem. O ato de educar é a possibilidade de compreender o mundo. Essa compreensão é resultado da leitura dos livros e dos sinais dos tempos, o que exige de nós um pensamento complexo.

A filósofa Hannah Arendt (1906-1975), procurando entender os horrores provocados pelos regimes totalitários, observou que o fenômeno não poderia ser entendido por meio de conceitos tradicionais como esquerda e direita, por exemplo. De acordo com a pensadora, compreender significa encarar a realidade sem preconceitos e com atenção, e resistir a ela – qualquer que seja.

Nessa difícil tarefa, Arendt examinou a “corrente subterrânea” da história e investigou como e por que foi possível o surgimento de sistemas políticos que transformaram milhões de seres humanos em “objetos” sem valor. Uma resposta a essa inquietação é que a ideologia dos sistemas totalitários deixou as pessoas desprovidas de uma política eficaz que assegurasse o direito à liberdade. O conceito de liberdade é central na concepção política da autora.

Na obra Origens do totalitarismo, Arendt apresentou o resultado de sua tarefa de “compreender o impensável” e vislumbrar a possibilidade de uma eficiente ação política, capaz de impedir o reaparecimento de algo semelhante ao nazismo no futuro.

O pensamento arendtiano, fundado sobre a catástrofe da Segunda Guerra Mundial, caracteriza-se por uma busca pela dignidade da política. Isso ela fez sem se prender a uma única corrente de pensamento. A ação política, segundo Arendt, apresenta-se como a relação “entre-homens”: no espaço da convivência. São as pessoas mesmas que constroem esse espaço, na liberdade. Deixam suas próprias “marcas” no terreno da história: terreno dos acontecimentos. O contrário disso seria a perda total do “senso comum”, isto é, da capacidade de perceber o que se passa na comunidade.

Em nossos dias, com a implosão da pandemia do novo coronavírus e seus efeitos nefastos, o ato de compreender a realidade tornou-se ainda mais desafiador. Nesta edição de Vida Pastoral, nosso objetivo é lançar luzes sobre a complexa situação da educação. O papa Francisco tem insistido nesse tema e convoca os cristãos e as pessoas de boa vontade para empreender esforços em prol do que ele chama de Pacto Global pela Educação. A Igreja no Brasil, em sintonia com Francisco, promove a Campanha da Fraternidade deste ano com o tema “Fraternidade e educação” e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26).

Seja este tempo momento oportuno para dar razão de nossa fé (1Pd 3,15) e deixarmo-nos formar pelo maior educador, Jesus Mestre, e seu coração repleto de amor. Que sua Palavra nos fale ao coração e nos encoraje, de modo que nossos gestos tornem o mundo mais humano e solidário.

Boa leitura!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor