Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!
Verônica viveu regando vidas e morreu enquanto molhava as plantas do seu jardim no quintal de casa. Casa construída no alto, com frente para o nascente e visão para o belo açude Angico, no município de Quixelô, sertão do Ceará. O coração resolveu parar naquele dia do mês de março. Coração todo doado. Dedicou todo o amor ao cuidado. Cuidou da mãe, dona Cecília, que fez a páscoa anos antes. Cuidou do pai, senhor Joaquim, que também partiu anos depois. Professora e catequista, Verônica sabia do cuidado necessário com as palavras. Delicada, ensinava os pequenos desde a pegar no lápis de forma correta até a rabiscar as primeiras letras, soletrar, juntar as sílabas. Ela sabia que aprender é devagar, complexo e fascinante. Na catequese, ensinava-nos a decorar as coisas da fé. O verbo é bem este mesmo, “decorar”, porque guardávamos no coração o que aprendíamos. O “em nome do Pai”, o “pai-nosso”, a “ave-maria” e as rezas populares aprendíamos em roda, uma verdadeira ciranda. Verônica dizia as palavras e nós as repetíamos. Depois, cada um rezava até onde conseguia ter aprendido e, enquanto não decorasse aquela reza toda, não passava para outra. Rezar também era devagar, sem pressa. Certa vez, ela nos contou a história do êxodo do povo de Deus na Bíblia. Como tarefa de casa, ilustramos, do nosso jeito, os principais fatos daquela saga. Por isso, estudar daquele jeito não era só uma experiência do intelecto. Era do coração e do corpo todo. Aqui reside o valor precioso da oralidade, algo tão vivo e presente na cultura de nosso povo.
Tínhamos um respeito grande pela professora e catequista Verônica. E confiança. Lembro-me do meu espanto quando comecei a despertar o desejo de ser padre. Eu não tinha coragem de dizer em casa. Menino da roça, aquele desejo parecia impossível e quase um deboche. Criei coragem de falar à madrinha Verônica, como um segredo, uma confidência. Ela ficou maravilhada. Disse só palavras de incentivo e encorajamento. Prometeu rezar por mim e me ajudar no que fosse possível. Depois daquela conversa, saí de lá radiante. Aquilo foi epifania. O vento agitava as águas do Angico e eu remava a canoa para o outro lado, para casa. Parecia que, a cada remada, eu crescia de alegria. Alegria de um sonho possível. Um dia eu seria padre.
Essa memória afetiva é para dizer que este número de Vida Pastoral constitui também um tributo às catequistas e aos catequistas. No nome de Verônica, por assim dizer, está a multidão de mulheres e homens de nossa Igreja, de todos os tempos e lugares, que se desdobram para o serviço, tocam corações, transformam tantas vidas.
O papa Francisco, em sua sensibilidade pastoral e em sintonia com o Concílio Vaticano II, com a Carta Apostólica Antiquum Ministerium, sob a forma de “motu proprio”, institui o ministério do catequista, evidenciando, assim, a importância fundamental desse serviço na comunidade. Francisco resgata o que já está no coração da Igreja: a vocação batismal de todo cristão, leigos e leigas que se dedicam ao ensino das coisas sagradas. Nossa gratidão e reconhecimento às muitas “Verônicas” na Igreja que ensinam sobre a fé, não somente como transmissão de conteúdos, mas também como possibilidade de iniciação ao mistério de Deus. Mistério esse que toca nossa existência e a preenche de sentido.
O Senhor conta conosco para que reguemos, com entusiasmo e zelo, o jardim da vida e testemunhemos a alegria da Boa Notícia, a começar de nossa casa, igreja doméstica. Que este número de Vida Pastoral anime e inspire sempre mais sua vida e a vida da comunidade, para que sejamos “verdadeiras imagens” de Cristo, assim como o nome “Verônica” (verus + icon) quer significar.
Boa leitura!
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor