Carta do editor

janeiro-fevereiro de 2012

GraçaePaz!

Com essa edição concluímos a série “pastoral em novas perspectivas”. Percebemos nos e-mails enviados à redação que houve grande interesse pelo tema e por acompanhar a sequência dos artigos. É motivo de satisfação saber que estamos indo ao encontro dos anseios de nosso público leitor e ajudando em sua prática eclesial e social, o que é objetivo central da revista.

Como sabemos e como aprofundam com muita lucidez os articulistas que colaboraram nesta edição, jamais na história houve tantas mudanças e tantas novidades surgindo ao mesmo tempo e em ritmo acelerado, influenciando a vida das pessoas das famílias e das práticas religiosas. Cada articulista, na sua área temática, nos aponta pistas concretas de por onde e como caminhar nessa realidade.

Estamos entre 2012 e 2015 celebrando o cinquentenário de abertura (1962) e conclusão (1965) do Vaticano II. É preciso, como nos motiva Dom Angélico em seu artigo, abraçar fortemente as grandes intenções do Concílio e aplicá-las à realidade de hoje. Não se trata de, nos 50 anos do Concílio, voltar ao passado, mas caminhar para frente a partir da bússola que esse grande evento eclesial nos deu.

Em um mundo que progride, muda e evolui rapidamente, não podemos como instituição involuir, deixar de lado a primavera que foi o Concílio e preferir o “inverno”. Voltar a antigos costumes e liturgias, antigas práticas, vestes, autoritarismo, estrelismo, arrogância, moral que não dialoga com o mundo de hoje, maneira de formar comunidades ultrapassadas… refugiar-se na “sacristia” enquanto o mundo gira e nos desafia.

O artigo do pe. Nicolau Baeker aborda a questão da política hoje e do necessário profetismo cristão nesse âmbito. É muito comum ver pessoas rejeitarem esse tema e julgarem que a religião deva ser totalmente separada da política, deva preocupar-se apenas em salvar as almas e não se envolver em assuntos que digam respeito ao mundano e ao transitório. Entretanto, a separação entre alma e corpo está filosófica e teologicamente superada. A salvação é para a pessoa por inteiro, e não apenas para uma de suas dimensões. É impossível salvar a alma sem salvar também o corpo. Cristo, ao se encarnar, assume as realidades humanas por completo e não apenas parte. A espiritualidade por ele anunciada e vivida não era desconectada da concretude da vida. Pelo contrário, ele anunciava o Reino de Deus, vida em abundância para todos, que não se limitava a esse mundo, mas iniciava-se já aqui. Durante toda a sua vida pública, ele evidenciava as contradições entre o Reino e as realidades religiosa, política, econômica e social da época. A cruz foi resultado do processo de posicionamento político e religioso e do confronto com as autoridades estabelecidas nesses dois âmbitos.

Como seguidores de Cristo, não podemos abdicar do cuidado com tudo o que diga respeito à vida, e a política, como promoção da qualidade de vida para o povo, incluída. É necessário, no entanto, sermos diligentes quanto à política partidária. Não fazer simbiose com partidos e poderes políticos, assumir único partido. Mas isso, como expõe com clareza pe. Nicolau, não significa neutralidade política, pois, em qualquer democracia, existem partidos que dão sustentação às forças economicamente dominantes, excludentes e elitizantes. A nossa fé e o profetismo cristãos não nos permitem apoiá-los. Bem como, existem partidos que dão sustentação às forças economicamente solidárias, participativas e igualitárias, com quem o seguimento de Cristo nos estimula a somar forças.

Pe. JaksonFerreirade Alencar, ssp

Editor