Carta do editor

Março – Abril de 2019

Fraternidade e políticas públicas

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Jesus, em seu ministério, tinha em primeiro lugar os pobres e sofredores: “Ele sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados” (Prefácio da Oração Eucarística VI-D). Nisso consiste a prioridade do ministério pastoral do Nazareno. Daí ter de enfrentar, por diversas vezes, perseguições por parte da elite do seu tempo.

Ainda hoje, mesmo entre os que participam das pastorais, há certas controvérsias quanto ao entendimento dessa opção fundamental de Jesus. Há quem pense que uma concepção assim causaria revanche e divisões no seio da Igreja, opondo ricos e pobres. Há até quem acuse certos membros da Igreja de comunistas, de partidários e tantos outros adjetivos, o que em nada contribui para o anúncio da boa notícia.

Jesus, o enviado do Pai, acolhe a todos. No entanto, seus gestos misericordiosos e compassivos se poderiam comparar ao amor de mãe. A mãe ama os filhos igualmente. Contudo, dispensa atenção especial ao filhinho mais debilitado, aquele que tem a saúde frágil, por exemplo. A mãe sabe que ele precisa de cuidados exclusivos, não por ser melhor do que os outros, mas porque é frágil. Isso é bíblico. A Sagrada Escritura, do começo ao fim, pede atenção especial ao estrangeiro, à viúva e ao órfão, as categorias mais frágeis no contexto bíblico e que a comunidade tem o dever de assistir. É assim que Jesus faz: “Venham a mim, todos vocês que andam cansados e curvados pelo peso do fardo, e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28).

Desde o início da comunidade cristã, os seguidores de Jesus tinham isso muito claro. São Paulo Apóstolo, relatando a sua vocação de anunciar o evangelho aos pagãos, isto é, aos de fora nas “periferias geográficas e existenciais”, expressa: “E reconhecendo a graça que me fora concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis considerados como colunas, estenderam a mão para mim e para Barnabé, em sinal de comunhão. Assim, nos dirigiríamos às nações, e eles aos circuncidados. Apenas recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, o que aliás eu mesmo propusera fazer com todo o cuidado” (Gl 2,9-10).   

A mentalidade mundana, do poder e dos privilégios da fama, por vezes faz o jogo sujo de nos anestesiar diante de realidades que nos pedem atitude. O amor de Jesus, porém, não tolera inércia diante do outro humilhado na própria carne por ser pobre, migrante, encarcerado ou diferente.

Nesse sentido, esta edição de Vida Pastoral quer colaborar para a reflexão acerca do tema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e políticas públicas”. Trata-se de assunto de suma importância, que toca diretamente os problemas dos socialmente fragilizados em nosso país. As políticas públicas têm que ver com a promoção do bem-estar dos mais pobres.

No momento em que, tanto na esfera estadual como federal, novos atores assumiram cargos públicos, cabe-nos a vigilância e o empenho para que direitos conquistados com luta e às duras penas não sejam banidos por interesses outros que impõem fardos pesados aos pobres e trabalhadores. O artigo sobre a “teologia do Evangelho de Lucas” e os roteiros homiléticos também contribuem para que nossa fé seja viva e atuante. 

Cordialmente!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor