Carta do editor

Novembro – Dezembro de 2018

A liturgia: comunicação do mistério da fé

Prezadas irmãs, prezados irmãos, graça e paz!

Considera-se a premissa de que a liturgia é celebração. Não uma celebração qualquer. É a celebração de um evento salvífico divino. A liturgia cristã é existencialmente teologia, porque é sempre a palavra de Deus conhecida na realidade e que adquire no rito sua dimensão simbólica. Por isso, não se trata de mero espetáculo teatral. Embora seja necessário que cada parte da liturgia (ritos) esteja em harmonia em seus aspectos formais, ela transcende todas as exterioridades, pois é a comunicação do mistério da fé, é o encontro de Deus com a humanidade.

O Concílio Vaticano II considera a liturgia como o “cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10). É na liturgia que se experimenta a ação salvífica de um Deus condescendente, que realiza gratuitamente a santificação humana. A humanidade, por seu turno, ascende respondendo à ação santificadora por meio daquele que é o único mediador, Cristo. Ele é o centro e o cume da liturgia cristã.

A obra da salvação é a encarnação. O Deus invisível em sua ação salvadora se faz visível em Cristo. Essa união se prolonga nos sacramentos. Desse modo, diz-se que os sacramentos são o invisível da salvação tornado visível pelos gestos sacramentais. A obra da salvação, portanto, tem a lógica da encarnação que se manifesta em Cristo, na Igreja e nos sacramentos (gestos da Igreja). Nesse sentido, a Sacrosanctum Concilium assegura que “Cristo está sempre presente em sua Igreja e, especialmente, nas ações litúrgicas” (SC 7).

Em Cristo, portanto, foi comunicada a plenitude do culto divino. É importante ressaltar que o culto divino é algo que Deus nos dá para fazer. Não estamos tentando agradar a Deus. É ele que nos concede adorá-lo e servi-lo. Nada é mérito nosso. Tudo é graça, fruto de seu projeto salvífico para o nosso bem e nossa salvação.

Disso decorre que sem mistério pascal não se entende a liturgia. Mistério pascal é toda a ação de Deus em nosso favor realizada em Cristo, cuja atualização é feita no sacrifício eucarístico. A morte e ressurreição de Jesus são o centro de nossa fé. No mistério pascal, estão inseridos também a ascensão e o pentecostes. Jesus foi ressuscitado pelo Pai, elevado à glória definitiva. O pentecostes, por sua vez, torna público esse mistério, pela ação do Espírito Santo. Assim, a morte e a ressurreição de Jesus atingiram a todos nós, de modo que o conteúdo da liturgia é o mistério pascal. A necessidade da liturgia é a necessidade da encarnação. Mas a expressão mistério pascal resume a obra da salvação, uma vez que a obra redentora de Cristo é o mistério pascal.

Assim, a liturgia é a celebração da vida e da fé dos cristãos. De maneira que não se limita a mera definição conceitual, mas requer compromisso efetivo daqueles que participam do mistério que celebram. A liturgia expressa a fé de modo evocativo, poético, simbólico; é arte que enche a vida de sentido e nos inunda do mistério, para além das rubricas, dos manuais frios. A liturgia toca a vida feito um poema que nos arrepia e faz nosso ser estremecer. A liturgia nos arranca da letargia e nos eleva, nos levanta, nos ressuscita. Ela possibilita, já aqui na terra, que os homens e mulheres que louvam o nome de Deus saboreiem o gosto das alegrias eternas. Na liturgia, o primeiro a atuar é Deus. Isso significa a prioridade da graça. Deus se dignou a descer até nós. Porque Deus se aproximou, nós podemos nos aproximar dele.

Feliz Natal e abençoado ano-novo!

Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp

Editor