Graça e paz!
Este ano, o livro proposto pela CNBB para estudo e reflexão no mês da Bíblia é Jonas. O tema proposto é: “Jonas: conversão e missão”, e o lema: “Levanta-te e vai à grande cidade” (Jn 1,2).
Conversão, missão e anúncio na grande cidade são temas centrais no livro de Jonas. A história contada no livro não tem a intenção de documentar fatos reais, mas envolve elementos da realidade para, por meio da criação literária, admoestar e edificar. Jonas é chamado por Deus para anunciar a conversão na grande cidade de Nínive, que estava fora da fronteira de Israel. Vemos, no relato, sua resistência ao cumprimento dessa missão e sua pouca crença na conversão dos estrangeiros que lá viviam. Antes de converter os outros, ele mesmo precisou se converter, deixar o nacionalismo exclusivista. Somente após a agitação do mar, quando tentava fugir da missão, é que Jonas resolveu ir a Nínive. Após seu primeiro anúncio, é surpreendido pela rápida conversão de toda a cidade.
A historieta reflete o nacionalismo exclusivista do povo de Israel no pós-exílio, fundado na concepção de povo eleito e na visão de Jerusalém como o único lugar da manifestação de Deus. Tais noções surgiram no exílio da Babilônia, durante o qual foram importantes para a resistência às adversidades e para a preservação da identidade de povo de Deus. Com o fim do exílio, porém, os grupos que retornaram se basearam nessas noções para a legitimação de privilégios e de concentração de poder e para discriminações contra lideranças que ficaram na terra, pobres e estrangeiros. O que foi bom no exílio tornou-se fonte de exclusão. O conflito cresceu quando o contato com outras culturas aumentou.
A história de Jonas, iluminando essa realidade, tem a intenção de provocar a conversão. É um convite aos israelitas para aceitarem que Deus e sua misericórdia existem para todos e que a fé não deve impedir o diálogo com outras culturas.
Trata-se, então, de um texto muito antigo e muito novo. Hoje, continua havendo povos, religiões e grupos que se acham melhores ou mais escolhidos que outros. Continua havendo fechamento ao diálogo e barreiras geográficas e culturais. Na Igreja Católica, também há grupos e correntes que promovem essas mesmas atitudes. Estas podem ser distinguidas, por exemplo, nos que pensam que o catolicismo centro-europeu deve continuar sendo transposto para os mais diversos recantos do mundo, onde as pessoas teriam de viver a fé, a liturgia, a moral… da mesma forma que são vividas e pensadas na Europa. Há ainda, e às vezes em circunstâncias muito próximas de nós, a dificuldade em dialogar com outras culturas e mentalidades. Isso também é objeto de nossa conversão, assim como o é a possibilidade de anunciar Deus com êxito nas grandes cidades.
A história nos mostra que os períodos em que a Igreja melhor se desenvolveu foram aqueles em que ela manteve profundos contatos com outras culturas. Os maiores exemplos disso são a missão de Paulo e o diálogo estabelecido no período patrístico com a filosofia grega. De fato, as culturas que se fecham em seus próprios elementos e criações tendem a um desenvolvimento gradual ou retardado, ou até mesmo se “esclerosam” e “necrosam”, e as que entram em contato aberto com outras culturas e tradições tendem a um desenvolvimento acelerado.1 Não seria a estagnação ou o retrocesso do cristianismo na Europa, em parte, explicados por essas concepções?
Que todos nós e a Igreja, neste mês da Bíblia e no mês das missões, nos abramos à conversão para a qual o livro de Jonas nos impele.
Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp
Editor