Roteiros homiléticos

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 15 de outubro

Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj

“Ide por todos os caminhos e convidai para o meu banquete” (Mt 22,9)

  1. Introdução geral

A liturgia de hoje apresenta a salvação sob a metáfora de um banquete preparado por Deus para todos os povos. No idioma em que o texto foi escrito, há certa dificuldade para falar sobre os sentimentos, sobre o humor ou sobre os estados de espírito. Por isso se tomam emprestadas da linguagem cotidiana as metáforas que servem para expressá-los. A dor é representada pelo fogo (ou pelo gelo) que queima, pelas lágrimas ou pelo ranger de dentes. A alegria é simbolizada pelo banquete. Quando a Bíblia fala sobre o fogo eterno ou o banquete eterno, está apenas simbolizando os sentimentos de tristeza ou alegria infinita.

A refeição era o maior gesto de comunhão, e a liturgia judaica sempre usa o comer e o beber para falar do encontro de irmãos entre si e com Deus. Estar à mesa com alguém é fazer aliança com ele. Nos textos da liturgia de hoje, o banquete de Deus é para todas as pessoas, não apenas para Israel. Somos convocados para o banquete de Deus e somos enviados por ele para convidar todos para a mesa da nova aliança.

      II - Comentário aos textos bíblicos

  1. Evangelho (Mt 22,1-14): Vinde ao banquete

O evangelho acrescenta um aspecto novo ao texto de Isaías: trata-se de um banquete nupcial. “Núpcias” ou “casamento”, no idioma de Jesus, significam o mesmo que “aliança”. Assim, o texto quer dizer que todos são chamados a ingressar na nova aliança realizada em Jesus. Mas a resposta a esse convite nem sempre é positiva ou adequada, como se percebe nas atitudes dos candidatos.

Há quem recuse o convite apesar de nada ter-lhe sido exigido, mas, ao contrário, tudo ter-lhe sido oferecido. Essa atitude significa a rejeição ao amor e à gratuidade de Deus, muito comum na sociedade atual. Muitas pessoas não querem nem ouvir falar de Deus. Acham que tudo o que possuem é fruto do esforço pessoal. Deus nada tem a ver com isso. São incapazes de perceber o amor de Deus presente nelas mesmas e naquilo que as rodeia.

Há quem aceita, mas não usa a veste adequada, ou seja, não tem disposição interna para o seguimento de Cristo. Sua fé é desvinculada da práxis. Muitos cristãos querem viver a fé superficialmente, buscando apenas usufruir do que a religião pode lhes oferecer naquele momento. Uma vez satisfeita sua “necessidade”, esquecem-se de Deus. São pessoas que não têm vínculo real com a fé e suas exigências.

O convite a participar do banquete da nova aliança é feito a todos, sem distinções. Mas a adesão a Cristo requer uma resposta radical, que envolva a totalidade da vida. E nem todos estão dispostos a mudar sua “veste”. É por isso que “muitos são chamados, e poucos são escolhidos”: isso significa que o número dos que entraram na aliança é inferior ao dos chamados, por causa da superficialidade da resposta ao convite de Deus.

  1. I leitura (Is 25,6-10a): Diante de mim, preparas uma mesa

O texto menciona um banquete suntuoso que revela a grandiosidade e a generosidade de quem o oferece. Numa terra cercada por desertos, é de admirar um banquete de carnes gordas regado com vinhos finos. Trata-se não somente de uma ocasião de grande alegria, mas também de uma manifestação de abundância.

O banquete será oferecido no monte Sião, ou seja, em Jerusalém, capital da terra de onde mana leite e mel, quer dizer, da terra fértil numa região desértica. A menção do vinho merece mais atenção: “vinho fino” tem o mesmo sentido de “preservar”, significa que o vinho retém cor, cheiro e sabor apesar do tempo. Nesse banquete, será servido um vinho que ganhou qualidade ao longo do tempo. Significa uma nova aliança que plenifica a primeira.

No mesmo versículo é mencionado o “vinho depurado” ou refinado. Geralmente, esse termo é usado para os metais preciosos purificados no fogo. Aqui significa que os resí­duos do processo de fermentação foram retirados. Esses elementos também evocam a qualidade da nova aliança.

Nesse banquete oferecido a todos os povos, Deus se revelará de modo definitivo, pois o véu dos povos será retirado. Cobrir a face era uma maneira usual para expressar pesar (2Sm 15,30) ou a forma de uma moça se apresentar diante do noivo, para indicar que não se “conheciam”, ou seja, que ela era virgem. Esses dois sentidos estão no v. 7, referindo-se ao relacionamento entre Deus e as nações. Sem a revelação, os povos não conhecem a Deus e por isso estão mortos. É necessário retirar o véu e a mortalha para poder ter a comunhão proposta pelo banquete.

A destruição da morte e da dor faz pensar no futuro do reino definitivo. Trata-se de bem-aventurança anunciada também no Apocalipse: “Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos, e não haverá mais a morte” (Ap 21,4).

  1. II leitura (Fl 4,12-14.19-20): Deus tudo proverá em vossas necessidades

Enquanto não se dá a plenitude do Reino, quando já não haverá lágrimas, mas somente o banquete nupcial do Messias, a situação atual dos seguidores de Jesus é cheia de altos e baixos.

Paulo nos ensina a viver bem em qualquer situação, seja de penúria, seja de abundância. O apóstolo aprendeu, ou melhor, recebeu a instrução dessas situações de penúria e de fartura. Ele adquiriu sabedoria tirada dessas experiências que vivenciou.

Paulo sabe que a Deus tudo pertence e que Deus é rico em misericórdia. Por isso o apóstolo se mostra inteiramente confiante toda vez que passa por dificuldade. Ele confia na graça de Deus e, portanto, está preparado para passar por qualquer situação.

Contrária a isso é a atitude de muitos cristãos de hoje, que mantêm um relacionamento comercial com Deus. Se alguma coisa não vai bem, então Deus tem de lhes solucionar o problema. Essa atitude corresponde à veste inadequada mencionada no evangelho.

      III. Pistas para reflexão

Estamos no terceiro domingo do mês de outubro, mês dedicado às missões. O ano litúrgico corre para o seu final. As leituras estão exigindo cada vez mais o compromisso dos cristãos. Eis que o Rei se aproxima. É necessário convidar todos para o banquete, é preciso que cada um verifique se está com a veste adequada. É bom incentivar a assembleia para um compromisso maior. Todos somos convidados para o banquete, mas também somos enviados a convidar. Nossa práxis cotidiana, fruto de verdadeiro compromisso com Deus, é nossa melhor forma de evangelizar, mas não a única; é necessário ir “às encruzilhadas dos caminhos e convidar para a festa” (Mt 22,9) todos os que encontrarmos. Não podemos deixar de evangelizar porque temos muitos afazeres (v. 5).

Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj


Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj, é graduada em Filosofia e em Teologia. Cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE (MG). Atualmente, leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected]